Indício 1 – a
manipulação recorrente na véspera das eleições
Na véspera das eleições de 2014, a
revista Veja produziu uma matéria falsa, de capa, com supostas
informações de que Lula e Dilma teriam participado dos esquemas de propinas
para financiamento de campanha. Foi uma jogada articulada em que,
adicionalmente à revista, foram impressas e distribuídas milhões de capas da
revista.
Tratava-se claramente de um crime eleitoral. No jantar da
posse de Dilma Rousseff, compartilhei uma mesa com o Procurador Geral da
República Rodrigo Janot. Indaguei se não seria tomada nenhuma providência em
relação ao vazamento. Dois crimes teriam sido cometidos: o suposto vazamento de
uma delação mantido sob sigilo; e a manipulação da declaração.
Janot tirou o corpo, alegando que provavelmente o vazamento
foi produzido pelos advogados do réu. E ai? Cometeu crime do mesmo modo. O MPF
não iria apurar? O PGR mudou de assunto.
Há um histórico de manipulações midiáticas nas vésperas de
cada eleição. Relembrando as mais notórias
Sequestradoras de Abilio Diniz aparecendo nas fotos com
camisas do PT, enfiadas neles pela Polícia.
Armação da Lunnus, que acabou com a candidatura presidencial
de Roseane Sarney, envolvendo José Serra, procurador da República, delegado da
Polícia Federal e Globo.
Episódio dos aloprados nas eleições de São Paulo, envolvendo
Polícia Civil, José Serra e Globo e valendo-se do mesmo cenário, de notas
arrumadas em pacote servindo de fundo para a gravação.
Bolinha de papel, na encenação grotesca de José Serra, envolvendo
Serra e Globo..
Operações com estardalhaço na AP 470 e na Lava Jato, sempre
em fases decisivas do período eleitoral, aí mostrando a participação direta do
MPF e da PF, e não mais ações isoladas, como a da Lunnus.
Portanto, tem-se um padrão claramente definido, nas eleições
brasileiras, possível dentro de um ambiente de cartelização da mídia, de
criação de factoides visando interferir indevidamente nas eleições.
Indício 2 – os
factoides de 2018
Há dois factoides possivelmente sendo guardados para a reta
final das eleições: ou do 1º turno ou do 2º turno, tal a confusão de
possibilidades.
Um, é a undécima repetição da delação de Antônio Palocci,
agora pelo Ministério Público Federal do Distrito Federal, o mais partidarizado
depois de Curitiba. O STF (Supremo Tribunal Federal) já havia começado a
questionar o escândalo de delações declaratórias, sob pressão, sem a
apresentação de provas.
A Lava Jato cozinhou o “espertíssimo” Palocci em
banho-maria. Fê-lo dar declarações autodesmoralizantes, seguindo o script de um
brilhante roteirista curitibano – que incluiu até um “pacto de sangue” entre
Emilio Odebrecht e Lula na conversa. Palocci pagou na frente e não levou. Os
procuradores já tinham obtido o que queriam – manchetes jornalísticas contra o
adversário político
Agora, repete-se o jogo. Palocci entrega na frente,
procuradores e delegados atropelam os regimentos e divulgam para a mídia, o
CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) aceita de forma complacente e
atinge-se novamente o objetivo.
O segundo factoide é Adélio Bispo de Oliveira, o estaqueador
de Bolsonaro.
Há uma série de fatores que conduzem a narrativas opostas,
ambas perigosas:
Fator 1 – seu isolamento na cadeia,
inclusive longe do contato com seus advogados.
Fator 2 – ainda não se saber quem banca
os advogados e como apareceram no local em cima do fato.
Fator 3 – a atuação do delegado
Francesquini (maior representante da ala barra-pesada da PF) pretendendo
impedir entrevistas agora.
Fator 4 – a informação de que o juiz
autorizou entrevista de Adélio à revista Veja na 6ª feira anterior ao dia da
eleição.
Fator 5 – a primeira etapa das
investigações constatou que Adélio agiu sozinho, tem problemas mentais e todos
os indícios confirmam sua versão, a maneira como soube da visita de Bolsonaro a
Juiz de Fora, seu aprendizado com facas em açougues etc. Em suma, nenhum
indício de participação de outras pessoas. Mas, agora, anuncia-se o
encerramento da primeira parte da operação e a abertura de uma segunda rodada,
visando apurar a existência ou não de uma ação articulada.
A alegação do delegado Francesquini, para impedir a
entrevista agora, foi a de não permitir que Adélio fale alguma coisa que
prejudique Bolsonaro. Pode ser que sim.
Mas pode ser também para que não comprometa ou tire o impacto
da última entrevista, onde poderia apresentar outra versão, em desenvolvimento
até 6ª que vem, visando incriminar o PT e Lula. Do mesmo modo, o republicanismo
exemplar das investigações da PF, até agora, pode ser apenas uma estratégia de
despiste para o lance seguinte.
Em 2014, depois de intensa discussão, o Jornal Nacional não
bancou a capa da Veja.
Agora, se tem a mesma revista, esvaindo em sangue, com
dificuldades enormes em caixa, e com a possibilidade de interferir novamente
nas eleições.
Para a última edição antes da votação do 1º turno, a revista
tem dois materiais:
A delação de Antônio Palocci aos procuradores do Distrito
Federal. Esse material está há algumas semanas com ela. A demorar em divulgar
ou se prende a negociações com alguns dos atingidos (BTG Pactual) ou visando
soltar em cima das eleições.
Na 6ª feira, a entrevista com Adélio, sabendo-se da
histórica capacidade da revista de manipular fatos.
Junto a isso, uma grande dificuldade financeira.
As saídas possíveis
No seu período de presidente do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), o Ministro Luiz Fux ameaçou as fakenews com os dardos do
Olimpo. Envolveu ABIN, Polícia Federal, Ministério Público em uma equipe
destinada a combater “antecipadamente” os boatos. E garantiu que eleição que
fosse conquistada com notícias falsas seria anulada.
Deixemos as jactâncias de lado para analisar o que se
apresenta.
Há a possibilidade concreta de um
enorme fakenews espalhado pela mídia na véspera das eleições e,
portanto, sem dar condições para que sejam desmentidos.
Há sinais concretos de que o principal instrumento
de fakenews da última década, a revista Veja, está se preparando
para abordar dois temas potencialmente explosivos.
Nos últimos dias, Ministros do STF passaram a criticar
abertamente vazamentos e uso político das delações.
Para preservar um mínimo de seriedade dos tribunais
superiores e dos Conselhos corporativos, duas medidas se fazem necessárias:
1ª Medida – a Procuradoria Geral da República
(ah, bobagem!), digo o Conselho Nacional do Ministério Público expedir
uma notificação alertando para a proibição de divulgação de inquéritos ou
delações, insistindo na possibilidade de crime funcional qualquer vazamento com
implicações políticas.
2ª Medida – uma medida cautelar, impedindo a
entrevista de Adélio na 6ª feira, devido ao pouco tempo antes da votação para
que elas sejam checadas.
GGN