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segunda-feira, 17 de abril de 2017

O lado revolucionário de Jesus

(Defensor dos pobres e excluídos, Jesus certamente seria taxado de comunista se resolvesse voltar).

 “Amai ao próximo como a si mesmo”.

Você pode ser ateu, umbandista, agnóstico, católico ou professar qualquer outra religião. Mas se você sonha com um mundo diferente, mais justo, onde todas as pessoas tenham o direito de viver com dignidade, você também é um adepto do grande ensinamento de Jesus.

Afinal, é o amor pelo próximo que nos motiva a lutar contra a tirania, a injustiça e a desigualdade.

Para muitos historiadores, entretanto, o personagem histórico Jesus Cristo não foi somente um cara paz e amor que pregava o oferecimento da outra face como resposta à agressão, mas sim um militante revolucionário.
É o que defende o escritor norte-americano de origem iraniana Reza Aslan. Aslan fez mestrado em teologia na Universidade de Harvard e doutorado em história das religiões na Universidade da Califórnia.

Em seu livro “Zelota: a Vida e a Época de Jesus de Nazaré”, de 2013, o autor defende que o principal objetivo de Jesus era político e revolucionário: libertar a Palestina da dominação de Roma.

Alguns trechos desta entrevista de Aslan:
(Jesus) formou um movimento forte pelos pobres, doentes e marginalizados. Um movimento tão ameaçador aos religiosos e políticos do período que fez com que ele fosse procurado, preso, torturado e executado por crimes de sedição (organização de rebeliões, incitamento das massas), o único crime pelo qual alguém poderia ser crucificado sob a lei romana.
(…)
o fato é que o Jesus da história não era um simples pacifista que pregava a palavra de Deus, mas um líder revolucionário que desafiou o estado, não apenas ‘pregou’ para ele – e é por isso que o estado quis a sua morte.

O próprio Jesus não deixa muita margem para dúvida a respeito do caráter revolucionário de sua pregação, segundo o Evangelho de Mateus: “Não penseis que vim trazer paz à terra. Não vim trazer paz, mas a espada.”

Nos tempos sombrios em que nos encontramos, de golpes, injustiças, aumento da intolerância e explosão da desigualdade, é importante termos dentro de nós os dois lados, por assim dizer, de Jesus: amar ao próximo como a nós mesmos mas ter a consciência de que o amor não basta: não há libertação possível sem luta.

Do Cafezinho, por  Pedro Breier

segunda-feira, 19 de março de 2012

Da Bíblia à música de Jesus e Barrabás do Maranhão, história e realidade

Eles formaram a banda "Jesus, Barrabás e os Fariseus", mas depois se separaram; o iG promoveu o reencontro dez anos depois no Maranhão.
 Foto: Wilson Lima/iG Maranhão
Jesus e Barrabás se reencontram em São Luís
A história ou lenda, como defendem alguns, muitos conhecem. Segundo o Novo Testamento, Jesus e Barrabás foram presos e Pôncio Pilatos perguntou aos judeus, quem eles queriam que fosse libertado por ocasião da Páscoa. O povo pediu que o suposto assassino, Barrabás, fosse libertado. Jesus foi condenado, crucificado e morto.

Pelo Novo Testamento, Jesus e Barrabás tiveram destinos diferentes; o primeiro, inocente, morreu na Cruz; o segundo, assassino, gozou da liberdade e nunca mais foi visto.

Vinte e um séculos depois, Jesus e Barrabás se encontraram no Maranhão.
Jesus Marmanillo e Luís Carlos Barrabás Araújo se conheceram em 1998 quando estudavam no colégio Alternativo Maranhense. Filhos de classe média, os dois estavam no ensino médio e tinham a mesma idade. Mas não foi a relação bíblica dos nomes que aproximou os dois, mas sim gosto pelo rock. Jesus era fã de Metal e Barrabás, de punk.

Além da proximidade em relação ao gosto musical, os dois descobriram que eram vizinhos, no Cohatrac, bairro de São Luís. “Começamos trocando cds informações e escutando música. Quando percebi, estávamos andando juntos”, disse Jesus.

Um ano depois, Jesus e Barrabás formaram uma banda de punk. Barrabás era o guitarrista; Jesus, o vocalista. O nome escolhido para a banda foi: “Jesus, Barrabás e os Fariseus”. Depois, virou apenas “Jesus e Barrabás”.

Por andarem muito juntos na adolescência, ouviram piadas constantemente: “Jesus, Barrabás vai te matar!” ou “Barrabás, entrega Jesus!” ou ainda... “Jesus, te vinga de Barrabás”.

A dupla mesmo brincava com a situação. Eles encarnavam os personagens em festas. Uma vez, um pastor evangélico tentou converter Jesus.

Foi advertido por Barrabás, que disse ao pastor: ‘Você quer converter Jesus? É muita cara de pau. Vai procurar outro’. Foi super engraçado”.

Anos depois, no entanto, Barrabás converteu-se a uma igreja Evangélica e tentou fazer de Jesus uma de suas ovelhas. E o resultado: Jesus negou Jesus, como diriam os evangélicos na época.
Os dois entraram na Universidade Estadual do Maranhão (Uema) em 2001 e a amizade continuou. Os dois fizeram cursos distintos. Jesus, Geografia; Barrabás, História.
 Foto: Wilson Lima/iG Maranhão
Barrabás e a imagem de São José de Ribamar
Barrabás deixou a universidade em 2003 e foi conhecer o restante do País. Os dois acabaram se separando. Barrabás viajou para cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. Em 2005, passou a morar nas ruas do Centro Histórico de São Luís. Chegou a ser preso, por desrespeito à autoridade policial.

Jesus, que era considerado um rebelde, formou-se. Fez mestrado e doutorado em Ciências Sociais na Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

Hoje, Barrabás é artesão. Quer montar um grupo de tambor de crioula em São Luís e dá aula de cultura maranhense para jovens. Cristão, Barrabás montou um altar em sua casa com peças religiosas, inclusive uma réplica de, santo padroeiro do Maranhão. Jesus não tem religião. Não é devoto de santos e agora estuda para conseguir uma vaga como professor de universidade.

Após quase dez anos separados, eles voltaram a conversar na semana passada, quando o iGconseguiu unir Jesus e Barrabás. Os dois estão com 33 anos, idade em que Jesus foi morto.
 
Wilson Lima, iG Maranhão |