E
o pobre Weintraub despediu-se da vida pública tentando desesperadamente abraçar
Bolsonaro que manteve-se frio, calado e inerte que nem uma bóia furada, com
receio de afundar com o náufrago.
A
imagem mais significativa nesses tempos de balbúrdia foi a foto do Ministro da
Educação Abraham Weintraub agarrado a Jair Bolsonaro, como quem segura uma bóia
em alto mar. E Bolsonaro inexpressivo e calado como uma bóia.
Os
olhos súplices de Weintraub pareciam dizer: não me abandone, não me abandone. O
pedido não era em relação a Bolsonaro, mas à fé cega de que poderia cometer
todas as impropriedades impunemente e que agora se esboroa, a ponto de ter que
fugir do país com receio de ser preso.
É
o mesmo sentimento avassalador que coloca em pânico Youtubers
bolsonaristas, arruaceiros, brigões de rua, especializados em se reunir em
bando e agredir os mais fracos, mas temerosos da ação da polícia.
De
repente, foram alçados a uma posição em que o chefe do chefe da polícia se
tornou o chefe do bando, liberando geral para promover badernas impensáveis sem
serem incomodados. E eles, os valentões de rua, passaram a replicar o estilo
baderneiro na política nacional, sem receio de serem incomodados pela polícia.
Xingando,
arregimentaram seguidores; xingando, alguns se tornaram parlamentares. Eleitos,
continuaram moleques de rua, sempre confiando no guarda-chuva protetor do chefe
do chefe da policia.
Weintraub
fez caminho inverso. Trabalhou por décadas no Banco Votorantim. Lá, tentava se
destacar dos colegas exibindo uma mini-erudição que, em todo caso, era superior
a dos colegas, que só se importavam com números. O banco quebrou, sim, por
erros enormes cometidos no financiamento de veículos. Foi salvo por uma
sociedade providencial com quem? Com um banco público, o Banco do Brasil. Com a
crise do banco, a auto-estima de Weintraub foi para o ralo. E, para levantá-la,
recorreu ao mago dos egos, Olavo de Carvalho, cuja pregação tem o condão
miraculoso de convencer qualquer imbecil que sua imbecilidade, no fundo, é uma
genialidade incompreendida.
Entrando
no Ministério da Educação, Weintraub seguiu uma estratégia comum aos que sofrem
de baixa auto-estima. Aplicou o estilo que Joaquim Barbosa – muito
mais erudito e sério que ele, saliente-se – praticava no meio
jurídico: quando estiver com os amigos de praia, mostre sua erudição; quando
estiver com os eruditos, exponha seu estilo de garoto de praia. Um juiz formal,
ou um especialista em qualquer tema sério, dificilmente terá equilíbrio para
discutir no campo destinado aos garotos de praia.
Foi
assim que Weintraub decidiu aplicar a retórica de rua no MEC. Lá, poderia enfim
ter sua revanche da vida. Não precisaria mais puxar o saco de chefes, se
submeter às regras de convivência com colegas, perder o sono com sua falta de
competência, com sua incapacidade de entregar resultados. Bastaria cultivar uma
pessoa – Jair Bolsonaro – e atender ao seu baixíssimo grau de exigência: entregar
bazófias, ataques ao marxismo cultural, extravagâncias e ataques à mídia, e
nada mais lhe seria cobrado.
A
reunião ministerial do dia 22 de abril foi a grande celebração nacional do
puxa-saquismo. Houve uma disputa surda entre os inacreditáveis Onyx Lorenzoni,
Pedro Guimarães, presidente da Caixa Econômica Federal, e Weintraub, para ver
quem melhor agradaria o chefe, quem levaria o troféu puxa saco de ouro.
Guimarães usou um
discurso imbatível.
Primeiro,
atacou com a ira dos justos os PMs cariocas que estavam prendendo pessoas que
desrespeitavam o isolamento, um dos temas preferenciais de seu chefe. Depois,
trouxe um fato patético, o amigo cuja filha foi transportada no camburão, o
lado familia contra o Estado, outro tema preferencial do chefe. Finalmente,
chegou ao cerne do discurso que sensibiliza as bestas-feras do supremacismo
branco: mexeu com minha família, leva tiro. Alguém mexeu com sua família?
Ninguém. Mas poderiam ter mexido. E se poderiam ter mexido, eu poderia pegar
uma de minhas 19 armas e poderia sair à rua atirando, sem me importar com minha
vida. A chamada bazófia sem risco, típica do Barão de Munchausen.
Pode
declaração maior de amor a Bolsonaro? Família, anti-isolamento, armamento
contra as instituições.
Inferiorizado
pelo versão tupiniquim de “os brutos também amam”, Weintraub precisava de uma
saída de maior rompante. E aí o diabo lhe soprou no ouvido e ele saiu com a
frase célebre dizendo ser necessário prender “aqueles vagabundos” do Supremo.
Falou, blasfemou e olhou indagativo para Bolsonaro, perguntando com os olhos:
“me saí melhor que o Pedro?”.
Aí,
descobre que o chefe do chefe da Polícia estava blefando, que não tinha o poder
que alardeava, por isso não poderia oferecer a proteção que prometia.
E
o pobre Weintraub despediu-se da vida pública tentando desesperadamente abraçar
Bolsonaro que manteve-se frio, calado e inerte que nem uma bóia furada, com
receio de afundar com o náufrago, e imaginando que os próximos presos poderão
ser seus filhos.
Do
GNN