Peça central
do golpe parlamentar de 2016, que derrubou a presidente legítima e honesta
Dilma Rousseff, a Globo descobre agora que instalou na presidência da República
um dos maiores corruptos da história política do Brasil: ele mesmo, Michel
Temer; feito o estrago, a Globo pede a renúncia de Temer em editorial e já
trabalha para impedir que o povo brasileiro reencontre a democracia por meio de
eleições diretas; leia.
Depois de um editorial em sua edição impressa desta sexta-feira 19,
em que afirma haver "incontáveis motivos" para a saída de Michel
Temer, o jornal O Globo publica outro texto nesta tarde, sob o título: "A
renúncia do presidente".
O texto diz
que "a simples decisão" de Temer de receber o empresário Joesley
Batista no Palácio do Jaburu "de forma clandestina" "já
guardaria boa dose de escândalo. Mas houve mais, muito mais". Leia a
íntegra:
Editorial: A
renúncia do presidente
Um
presidente da República aceita receber a visita de um megaempresário alvo de
cinco operações da Policia Federal que apuram o pagamento de milhões em
propinas entregues a autoridades públicas, inclusive a aliados do próprio
presidente. O encontro não é às claras, no Palácio do Planalto, com agenda
pública. Ele se dá quase às onze horas da noite na residência do presidente, de
forma clandestina. Ao sair, o empresário combina novos encontros do tipo, e se
vangloria do esquema que deu certo: "Fui chegando, eles abriram. Nem
perguntaram o meu nome". A simples decisão de recebê-lo já guardaria boa
dose de escândalo. Mas houve mais, muito mais.
Em diálogo
que revela intimidade entre os dois, o empresário quer saber como anda a
relação do presidente com um ex-deputado, ex-aliado do presidente, preso há
meses, acusado de se deixar corromper por milhões. Este ex-deputado, em outro
inquérito, é acusado inclusive de receber propina do empresário para facilitar
a vida de suas empresas no FI-FGTS da Caixa Econômica Federal. O presidente se
mostra amuado, e lembra que o ex-deputado tentou fustigá-lo, ao torná-lo
testemunha de defesa com perguntas que o próprio juiz vetou por acreditar que
elas tinham por objetivo intimidá-lo.
Ao ouvir
esse relato do presidente, o empresário procura tranquilizá-lo mostrando os
préstimos que fez. Diz, abertamente, que "zerou" as
"pendências" com o ex-deputado, que tinha ido "firme"
contra ele na cobrança. E que ao zerar as pendências, tirou-o "da
frente". Mais tarde um pouco, em outro trecho, diz que conseguiu
"ficar de bem" com ele. Como o presidente reage? Com um incentivo:
"Tem que manter isso, viu?"
Não é
preciso grande esforço para entender o significado dessa sequência de diálogos.
Afinal, que pendências, senão o pagamento de propinas ainda não pagas, pode ter
o empresário com um ex-deputado preso por corrupção? Que objetivo terá tido o
empresário quando afirmou que, zerando as pendências, conseguiu ficar de bem
com ele, senão tranquilizar o presidente quanto ao fato de que, com aquelas
providências, conseguiu mantê-lo quieto? E, por fim, que significado pode ter o
incentivo do presidente ("tem que manter isso, viu"), senão uma
advertência para que o empresário continue com as pendências zeradas, tirando o
ex-deputado da frente e se mantendo bem com ele?
Esses
diálogos falam por si e bastariam para fazer ruir a imagem de integridade moral
que o presidente tem orgulho de cultivar. Mas houve mais. O empresário relata
as suas agruras com a Justiça, e, abertamente, narra ao presidente alguns
êxitos que suas práticas de corrupção lhe permitiram ter. Conta que tem em mãos
dois juízes, que lhe facilitam a vida, e um procurador, que lhe repassa
informações. Um escândalo. O que faz o presidente? Expulsa o empresário de sua
casa e o denuncia as autoridades? Não. Exclama, satisfeito: "Ótimo,
ótimo".
Não é tudo,
porém. Em menos de 40 minutos de conversa, o empresário ainda encontra tempo
para se queixar de um ex-funcionário seu, atual ministro da Fazenda. Diz, com
desfaçatez, que tem enfrentado resistência no ministro da Fazenda para
conseguir a troca dos mais altos funcionários do governo na área econômica: o
secretário da Receita Federal, a presidente do BNDES, o presidente do Cade e o
presidente da CVM. Pede, então, que seja autorizado a usar o nome do presidente
quando for novamente ao ministro da Fazenda com tais pleitos. O que faz o
presidente? Manda-o embora, indignado? Não, de forma alguma. O presidente
autoriza: "Pode fazer".
Este jornal
apoiou desde o primeiro instante o projeto reformista do presidente Michel
Temer. Acreditou e acredita que, mais do que dele, o projeto é dos brasileiros,
porque somente ele fará o Brasil encontrar o caminho do crescimento,
fundamental para o bem estar de todos os brasileiros. As reformas são
essenciais para conduzir o país para a estabilidade política, para a paz social
e para o normal funcionamento de nossas instituições. Tal projeto fará o país
chegar a 2018 maduro para fazer a escolha do futuro presidente do país num
ambiente de normalidade política e econômica.
Mas a crença
nesse projeto não pode levar ao autoengano, à cegueira, a virar as costas para
a verdade. Não pode levar ao desrespeito a princípios morais e éticos. Esses
diálogos expõem, com clareza cristalina, o significado do encontro clandestino
do presidente Michel Temer com o empresário Joesley Batista. Ao abrir as portas
de sua casa ao empresário, o presidente abriu também as portas para a sua
derrocada. E tornou verossímeis as delações da Odebrecht, divulgadas
recentemente, e as de Joesley, que vieram agora a público.
Nenhum
cidadão, cônscio das obrigações da cidadania, pode deixar de reconhecer que o
presidente perdeu as condições morais, éticas, políticas e administrativas para
continuar governando o Brasil. Há os que pensam que o fim desse governo
provocará, mais uma vez, o atraso da tão esperada estabilidade, do tão almejado
crescimento econômico, da tão sonhada paz social. Mas é justamente o contrário.
A realidade não é aquilo que sonhamos, mas aquilo que vivemos. Fingir que o
escândalo não passa de uma inocente conversa entre amigos, iludir-se achando
que é melhor tapar o nariz e ver as reformas logo aprovadas, tomar o caminho
hipócrita de que nada tão fora da rotina aconteceu não é uma opção. Fazer isso,
além de contribuir para a perpetuação de práticas que têm sido a desgraça do
nosso país, não apressará o projeto de reformas de que o Brasil necessita
desesperadamente. Será, isso sim, a razão para que ele seja mais uma vez
postergado. Só um governo com condições morais e éticas pode levá-lo adiante.
Quanto mais rapidamente esse novo governo estiver instalado, de acordo com o
que determina a Constituição, tanto melhor.
A renúncia é
uma decisão unilateral do presidente. Se desejar, não o que é melhor para si,
mas para o país, esta acabará sendo a decisão que Michel Temer tomará. É o que
os cidadãos de bem esperam dele. Se não o fizer, arrastará o Brasil a uma crise
política ainda mais profunda que, ninguém se engane, chegará, contudo, ao mesmo
resultado, seja pelo impeachment, seja por denúncia acolhida pelo Supremo
Tribunal Federal. O caminho pela frente não será fácil. Mas, se há um consolo,
é que a Constituição cidadã de 1988 tem o roteiro para percorrê-lo. O Brasil
deve se manter integralmente fiel a ela, sem inovações ou atalhos, e enfrentar
a realidade sem ilusões vãs. E, passo a passo, chegar ao futuro de bem estar
que toda a nação deseja.
Com informações do 247