Imagine-se
a cabeça do Procurador Geral da República Rodrigo Janot ontem, sexta-feira.
Comportara-se
no acordo da JBS como o repórter com pouca experiência em jornalismo
investigativo, em cujo colo cai o furo do século. Afobado, tratará de publicar
o furo o mais rapidamente possível, com a ansiedade dos focas. E, na pressa,
abre a guarda com erros não essenciais que são utilizados para desmoralizar a
parte relevante da matéria.
O
“foca” Janot enfrentava problemas maiores. Nos processos criminais, erros na forma
podem anular o furo. E, por afobação, Janot cometeu inúmeros erros, quando a
JBS apresentou-lhe a possibilidade de dar o furo do século. E, agora, os erros
passaram a desabar sobre sua cabeça;
O
primeiro, a imprudência do ex-procurador Marcelo Miller, de pular do barco do
Ministério Público Federal para o da JBS – através do escritório Trench Rossi
& Watanabe – sem obedecer a prazos mínimos prudenciais. E a imprudência do
próprio Janot de não perceber as consequências disso.
Ali
foi a primeira rachadura, explorada por Michel Temer.
Em
cima da brecha aberta entra a Polícia Federal, irritada com a arrogância do
MPF, e disposta e provar o erro de não incluí-la nos acordos de delação. Passou
a demolir acordos de delação apressados fechados por um grupo mais interessado
em bater recordes mundiais de delações sem qualidade, do que concentrar em
delações fundamentais e fundamentadas.
Nessa
empreitada, a PF foi bater com arquivos da JBS, que o próprio Janot concordara
em manter sob sigilo não apenas do público, como das investigações.
A
costura mal feita entre Janot e a JBS se esgarçou rapidamente. E Joesley
Batista e seus advogados trataram de levar correndo outras gravações
diretamente ao STF, para não serem acusados de esconder informações e se
sujeitar a perder os direitos conquistados com a delação.
Os
movimentos seguintes de Janot foram de puro pânico.
Primeiro,
convocou uma coletiva, tentando pautar as manchetes da mídia, mencionando
supostas insinuações terríveis envolvendo Ministros das altas cortes. Divulgadas
as gravações, as únicas menções a atividades suspeitas eram sobre o procurador
Miller e o próprio Janot.
Mesmo
assim, eram conversas inconclusivas, insuficientes para consolidar uma
suspeita.
Mas
crescem as dúvidas sobre a delação. Jornais invocam a Lei da Transparência para
mapear as idas de Miller e dos advogados da JBS no prédio da PGR.
Além
do acordo de delação, começaram a ser esmiuçados os termos do acordo de
leniência, e descobertas concessões inéditas à JBS. Como a cláusula matreira
penalizando-a com uma multa de R$ 10 bilhões e, ao mesmo tempo, permitindo que
abatesse até 80% das multas pagas a outras instituições. O que, na prática,
reduz a multa a R$ 2 bilhões.
Também
se descobriu que um advogado-delator da JBS pôde atuar como advogado, tendo
como tal prerrogativas advogado-cliente para conversas sigilosas com o réu
Joesley.
Explodem
as críticas contra Janot.
Em
desespero, recorre ao Abre-te Sésamo, que abre as portas das cavernas da mídia,
acelerando denúncias contra Lula, Dilma, Gleise e o PT. E as portas não se
abriram. Avança com denúncias contra os senadores do PMDB.
Parte,
então, para o gesto de desespero: o pedido de prisão para Joesley Batista e o
ex-colega Miller, testemunhas e parceiros ou das irregularidades processuais
(procedimentos não observados no processo) ou mesmo ilícitos penais. Ele pede a
prisão preventiva de pessoas que poderão incriminá-lo meramente indicando que
houve participação sua na operação controlada em Temer, nas vantagens inéditas
conferidas à JBS e seus controladores.
Conseguiu,
ao mesmo tempo, se indispor com o eixo Michel Temer-Gilmar Mendes, o PT, o PSDB
e próprios setores da corporação, indignados com a deslealdade para com o
colega Miller.
Ontem
ocorreu a cena final.
O
douto Procurador Geral é flagrado em uma mesa de bar com o advogado de Joesley
Batista, Pierpaolo Bottini. Entra no bar de óculos escuros e de óculos escuros
permanece. Não há maneira melhor de chamar atenção do que óculos escuros na
parte fechada de um bar. Um dos perfis mais divulgados no ano, os cabelos
brancos que mais apareceram no Jornal Nacional, escondido num canto do bar com
óculos escuros para disfarçar.
Tira-se
a foto, envia-se para um site sensacionalista e descobre-se que o parceiro de
cerveja é o advogado Bottini.
Aí
o site pergunta a Bottini se o encontro havia sido ontem mesmo. E o advogado
diz que sim, que foi um encontro fortuito seguido de uma conversa civilizada,
porque a civilidade é essencial nas disputas jurídicas. E, civilizadamente,
manda Janot para o cadafalso.
Na
outra ponta, uma CPI sobre a Lava Jato, que promete ser tão arbitrária e
enviesada quanto a própria operação.
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GGN