sábado, 30 de outubro de 2021

COMO SE PORTA UM BOBO PERDIDO NA CORTE, POR FERNANDO BRITO

“Perdidão” após a sair do auditório onde suportou a reunião da cúpula do G-20, em Roma, Jair Bolsonaro saiu foi procurar alguém que estivesse tão isolado quanto ele e achou.

Intrometeu-se na conversa entre o social democrata Olaf Scholz, favorito para ocupar o lugar de Ângela Merkel como premiê da Alemanha, e Recep Erdogan, presidente da Turquia ( pessoa de quem os governantes europeus procuram manter distância), ignorando o alemão, que ele, leigo em relações internacionais, nem sabia quem era.

Com o turco, foi ver se com “colava” a história de que “a economia [está] voltando bem forte”, que ele [Bolsonaro] tem um grande apoio popular, mas que “a mídia, como sempre, [o está] atacando.

Quando Erdogan lembrou que o Brasil possuía muito petróleo e perguntou pela Petrobras, o sem-noção aproveitou para desancar a principal empresa brasileira, dizendo, com ar desolado, que ela “é um problema” e que há muita reação à quebra de monopólios, embora não se saiba, infelizmente, de alguma reação mais forte a isso.

E, de quebra, fez questão de dizer, como se isso fosse agradar Erdogan, que enfrentou enormes dificuldades políticas com o poderoso exército turco, que, no Brasil, “um terço dos ministros [é de] militares profissionais”.

O presidente turco, nas imagens gravadas pelo jornalista Jamil Chade, do UOL, não demonstra qualquer simpatia a Bolsonaro e nem mesmo chega a mover o rosto ao ouvir as palavras do “Mito”, terminando a conversa “sem qualquer entusiasmo”, descreve o correspondente.

É impressionante o despreparo e a falta de jeito de Bolsonaro como chefe de Estado. Confunde a promoção do Brasil com a sua própria e não sabe sequer do que tratar. Por exemplo, da crise cambial que atinge violentamente os dois países neste momento.

Mas já acabou a parte chata da viagem de Bolsonaro, agora é só turismo.

Tijolaço.

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

BOLSONARO NÃO FAZ SÓ CAMPANHA. TAMBÉM FAZ TURISMO. POR FERNANDO BRITO

Se Jair Bolsonaro fosse um homem de sentimentos, bem se poderia dizer que sua visita à Itália pudesse ser dedicada a um “turismo sentimental”, para visitar a pequena vila de onde saiu, há 130 anos, seu bisavô paterno Vittorio Bolzonaro e uma passagem pelo Monumento de Pistóia, onde estiveram enterrados os corpos dos pracinhas brasileiros mortos na 2ª Guerra Mundial, há muito trasladados para o Brasil, onde repousam, desde 1960, junto ao Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro.

Da única agenda oficial que tem, quase nada se sabe: não se tem os registros das reuniões de amanhã do G-20, grupo dos países mais poderosos do mundo que, em tese, prepararia a Cúpula do Clima, que começa segunda-feira em Glasgow, na Escócia. Para lá, Bolsonaro não vai, segundo o seu vice, general Hamílton Mourão, para que não lhe joguem pedras.

Embora tenha sido outra coisa, esterco, o que jogaram às portas da prefeitura da vila de Anguillara Veneta, de apenas 4 mil habitantes e uma prefeita de extrema direita que resolveu homenagear o presidente brasileiro.

La dolce vita de Bolsonaro em Roma incluiu comer salame e um passeio ao lado de Carluxo pelo centro histórico de Roma e à famosa Fontana di Trevi.

Certamente, a cena não foi nada semelhante à do La Dolce Vita de Federico Fellini, onde a linda Anita Ekberg entra nas águas e convida Marcello Mastroianni a entrar também. Bolsonaro evitou qualquer encanto: nem a tradicionalíssima moeda jogou à fonte, como fazem milhares de visitantes, desejando voltar à cidade eterna.

Tijolaço.

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

LIRA NÃO TEM NÚMERO E ADIA PEC DOS PRECATÓRIOS. POR FERNANDO BRITO

Os votos obtidos nos requerimentos de retirada de pauta e de quebra de interstício regimental (prazo para uma matéria poder ser levada a plenário), menores que 260 votos levaram o presidente da Câmara a não colocar em votação a PEC dos Precatórios e, junto com ela, da quebra do “teto de gastos” constitucional.

Como precisa de 308 votos, era mais que temerário colocar a proposta em votação, faltando 50 votos para o mínimo para sua aprovação.

Possível, é. Mas não será fácil e véspera de feriadão não alardeia presença maior do que os 430 presentes ao plenário hoje.

É a segundo dia consecutivo em que Lira foge de colocar o texto em discussão e não é preciso ser nenhuma raposa política para ver que há uma sinalização de que a emenda constitucional não passa, salvo de for feita um imensa pressão sobre os parlamentares, o que não parece ser possível a esta altura.

Mesmo que a aprove por uma minoria muito tímida, isso vai repercutir no Senado, onde a situação do governismo é pior.

Sem ter um número seguro para a aprovação Lira insistirá em colocar a PEC em votação? Se o fizer, devolve a batata em chamas para Paulo Guedes: de onde tirar o dinheiro para o auxilio emergencial?

Há espaço, sim, mas isso deixaria o Governo sem espaço para as bondades eleitorais que planeja para 2022.

Há uma semana dava-se com o favas contadas a aprovação da pedalada dos precatórios na Câmara que, agora, tem possibilidades modestas de ser alcançada.

Não há duvida que é o cenário eleitoral que vai corroendo a fidelidade da base governista, porque a primeira lei humana – concedamos esta condição a nossos parlamentares – é sobreviver.

Tijolaço.

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Os caminhoneiros e os aprendizes de feiticeiro. Por Fernando Brito

Se há uma categoria de profissionais bolsonarista é, sem dúvida, a dos caminhoneiros.

Trata-se de uma situação para lá de estranha: são ao mesmo tempo trabalhadores e microempresários, misturados a empresários nada pequenos, os das transportadoras, donas de mais de 60% dos caminhões que circulam com cargas no país.

Todos eles estão insatisfeitos com a política de combustíveis e greve com a tolerância e até o apoio do patrão a gente costuma saber que “dá certo”.

O aumento de 9% do diesel que vige a partir de hoje é mais que suficiente para comer o reajuste do frete, semana passada, em 5,4%

Principalmente quando o “piquete de greve” é feito com caminhões de 20 toneladas.

Não é possível prever, pelo fato de serem dispersos, se os caminhoneiros atenderão ao chamado para uma paralisação de lideranças que misturam interesses profissionais e políticos, como é marca dos transportadores desde os protestos contra Dilma Rousseff, quando sofriam problemas muito menores do que os de hoje.

Mas há uma sucessão de pequenos protestos, em terminais e rodovias, que mostram um ânimo crescente em participar: mais da metade, 54% em todo o país. Mais do que o suficiente para causar uma baita confusão nas estradas.

As lideranças dos caminhoneiros foram “escanteadas” pelo bolsonarismo, que preferiu apostar em personagens “faxes” ou duvidosos, como este tal “Zé Trovão”, que acba de se entregar à Polícia, e em figurações feitas por frotistas ligados ao agronegócio, levando caminhões à Esplanada dos Ministérios, para o que virou o anticlímax do golpe, com a cartinha de Michel Temer.

Bolsonaro, até agora, não foi além de prometer o vale-diesel, que ainda não tem data nem forma para acontecer.

Está produzindo uma atmosfera de alta octanagem, e vai apressar a formalização de mais uma carga fiscal que não foi discutida com ninguém, mas apenas mais um coelho tirado da rota cartola de bondades governamentais.

Tarcísio de Freitas, ministro que seria o responsável pela área, provoca:

“O que aconteceu em 2018 não vai acontecer tão cedo. A turma que financiou 2018 tá fora. Nosso único desafio é não deixar bloquear rodovia. Se não deixar bloquear rodovia, com o excesso de oferta [de caminhões] que nós temos, se meia dúzia de caras pararem de trabalhar, qual vai ser o efeito pra nós em termos de mercado? Zero, nenhum.”

Então teve uma turma que financiou 2018 e que agora está fora? E isso garante que caminhoneiros de verdade não reclamarão dos prejuízos que estão tendo?

Repito, é difícil prever, mas que isso tem cheiro de confusão provocada por aprendizes de feiticeiro que invocaram as carretas para o golpe e agora que elas não bloqueiem rodovias em defesa de seus próprios bolsos.

Tijolaço.

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

BOLSONARO DIZ QUE INFLAÇÃO É CULPA DA CPI. POR FERNANDO BRITO

Em entrevista a uma rádio do Mato Grosso do Sul, Jair Bolsonaro esqueceu o bordão de que “é culpa do ICMS”disse que a CPI da Covid é responsável pelo aumento dos preços que está levando a inflação para acima dos 10%:

É um absurdo o que esses caras [senadores] fizeram, tem repercussão fora do Brasil. Prejudica nosso ambiente de negócios, não ajuda a cair o preço do dólar, leva uma desconfiança para o mundo lá fora,”Há um estrago feito por parte da CPI, que atrapalha todos nós. Isso reflete quando você fala em dólar, aumento de combustíveis”.

De novo, ele terceiriza a responsabilidade pelo quadro da economia, que vai dando sinais perigosíssimos de deterioração, como a revisão de expectativas para 2022 feitas pelo Itaú, já prevendo agora recessão (-0,5%) para o PIB do ano que vem.

É fogo na inflação o novo aumento da gasolina e, sobretudo, o do diesel.

Este, especialmente, tem o potencial de ser inflamável com a insatisfação dos caminhoneiros, nos quais, antes de implantada a já insignificante “bolsa” de R$ 400, sapecou-se um aumento de 9%, que representa, só ele, um valor maior no gasto médio com combustível de um transportador.

O movimento marcado para o dia 1° de novembro foi, sem dúvida, aditivado pela medida.

Mas, embora seja este o lado mais imediato e visível da insatisfação com o aumento dos combustíveis, que já alcança 70% no ano, é claro que a alta da gasolina vai erodindo o que resta de apoio a Bolsonaro na classe média, extremamente suscetível a este preço, pelo uso intenso de automóvel.

Há, também, o efeito no preço do frete e das mercadorias transportadas, inescapável, porque o setor de logística já estava operando “no talo”, por conta do custo do combustível.

Hoje, como previsível, a estimativa para a inflação passou dos 9% no Boletim Focus, do Banco Central (9,05% nas ultimas atualizações) e vai continuar subindo.

Com 5 dias para o final do mês, o aumento vai refletir na taxa de inflação de outubro e na de novembro, que não devem ficar próximas de 1%, cada uma.

É curioso que, ontem, Paulo Guedes, o morto-vivo, voltou a dizer que a economia “está voando”. Nos preços, ministro, nos preços.

Tijolaço.

domingo, 24 de outubro de 2021

MORO VAI APOSTAR NO DESMANCHE DE BOLSONARO? POR FERNANDO BRITO

Diz-se que Sergio Moro, no próximo dia 10, anunciará sua filiação ao Podemos, para candidatar-se em 2022, à Presidência ou ao Senado, pelo Paraná, caso opte por uma disputa “mais segura” eleitoralmente.

Porque, pelas pesquisas, o quadro que se desenha para ele está muito longe de oferecer qualquer segurança: índices de intenção de voto que variam entre 5% (Ipec, ex-Ibope), 7% (Ipespe) e um máximo de 10% (Genial/Quaest).

Pouco, para quem passou cinco anos na vitrine, como o homem mais bajulado do país.

É óbvio que os moristas, na sua grande maioria, foram bolsonaristas e os que permanecem sendo, em proporção semelhantes, deixaram de ser moristas, ao menos entre os segmentos de classe média.

Portanto, aumentar o número de eleitores de Moro depende, claro, de que ser reduzam em muito os bolsonaristas nestas camadas e que estes não sejam atraídos pelo extenso cardápio de candidatos da tal 3ª Via.

No povão é que não será a semeadura de Moro.

Moro, entretanto, prejudica em muito a candidatura Bolsonaro, dividindo votos conservadores na região Sul do país, onde estão 15% dos eleitores brasileiros e cria, no RS, Santa Catarina e Rio Grande do Sul uma imensa dificuldades para seus aliados, que terão de administrar suas fidelidades a dois candidatos a presidente inimigos entre si.

Moro, para desespero de seus áulico, está atrasado (se é que liga para isso) em articulações políticas e em “botar o nome na rua”.

Se é que vai botá-lo, porque até a megalomania pode ter limites.

Tijolaço.

sábado, 23 de outubro de 2021

A BATALHA ELEITORAL ESTÁ NO CAMPO DA ECONOMIA, POR FERNANDO BRITO

entrevista de Rodrigo Maia na Folha resume a esperança da chamada 3ª Via:

“Só tem um para sair do segundo turno, que é o Bolsonaro. O candidato que está no nosso campo da centro-direita bate no Lula para mostrar que é diferente, mas o adversário é o Bolsonaro, que entrou no nosso eleitor”.

É um resumo perfeito do resultado desastroso que, para a “direita convencional”, se veio construindo desde que o conservadorismo brasileiro mandou às favas os escrúpulos e embarcou numa jornada fanática e transtornada contra os governos de centro-esquerda que desembocou no bolsonarismo.

O desastre deste governo, diante do qual manteve, durante um longo tempo, a simpatia dos que o achavam um “selvagem, mas liberal” dissolveu a possibilidade de, por gosto, conviver com ele. Mas não a de, por necessidade, cederem à ideia de que uma convívio com a esquerda seria necessário para bani-lo da vida política.

O “nosso eleitor”, na definição de Maia, é, antes e acima de tudo, antiesquerda, ou antipetista, para usar a expressão que o ex-presidente da Câmara emprega em suas respostas.

Objetivamente, porém, a entrevista de maia assinala que o grande capital está perto de colocar os dois pés – e não apenas um – na canoa de um dos muitos candidatos que se apresentam como nem-nem.

Bolsonaro rompeu a única sacralidade que vinha desde o golpe de Temer e até de antes, como o argumento central do impeachment de Dilma Rousseff: o “teto de gastos” ou, em tradução prática, o estrangulamento dos gastos públicos.

Esta é a bandeira que ficou sem ter quem a empunhe.

Como todas as alternativas a Bolsonaro e a Lula apresentam números nanicos nas pesquisas de opinião, para hasteá-la do mastro do qual o atual governo a retirou (ou, ao menos, desceu a meio-pau) precisam demolir o Bolsonaro que construíram para, com “o nosso eleitor”, reconstruir a alternativa que tiveram – mesmo com derrotas – no PSDB, para que o “império da vontade” liberal seja restaurado.

Mas isso está longe de ser simples, porque o imenso leque de candidaturas que abriram não pode ser somado aritmeticamente e não é crível que todos venham a desistir em nome de um só deles e menos ainda que os eleitores façam esta migração.

E novamente Maia tem razão no diagnóstico do que é até agora uma fatalidade para a tal 3ª Via, permanecendo fraca esfacelada: “se o Bolsonaro seguir sendo o adversário dele, Lula vai poder jogar parado, não precisa se comprometer com ninguém”.

É isso: a centro direita brasileira adora cavar seus próprios abismos.

Tijolaço.

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

PACHECO, NO PSD, LOTA A 3ª VIA. COM CANDIDATURA OU ACORDO? POR FERNANDO BRITO

Com aquele jeitão de macarrão sem sal e sem molho, Rodrigo Pacheco anunciou, finalmente, a sua filiação ao PSD de Gilberto Kassab, outro político que faz da falta de tempero próprio o caminho – aliás bem sucedido – de tornar-se importante no cenário nacional.

Quinta-feira ele assina a ficha, saindo do ex-Dem, onde será sugerido como candidato a presidente, mais pelos dirigentes do partido do que por si mesmo.

Sua “campanha” será de “postura”, como lhe agrada, de presidente do Senado – papel que, aliás, antes de 64, era exercido pelos vice-presidentes, menos objeto da polêmica que os presidentes.

É ali que, com a escolha de relatores sem relação de submissão ao Planalto e funcionando como “tranqueira” ao trator legislativo (e governista) de Arthur Lira, vai marcar posição e, por isso, receber ataques do governo, o que o ajudará a sair do magro 1% que tem nas pesquisas, mas não o fará ir muito longe, com a postura fleugmática de lorde inglês de Passos de Minas.

Seu perfil, com semelhanças ao de José de Alencar, e o bom entendimento de Kassab com o ex-presidente Lula alimentam as expectativas de que possa haver uma preparação para que ele venha a ser o candidato a vice do ex-presidente.

Muito cedo para acreditar nisso, porque o PSD precisa de um pré-candidato para viabilizar suas pré-candidaturas a governos estaduais e pelo menos duas delas são complicadíssimas: a do ex-governador Geraldo Alckmin, em São Paulo, que deve se filiar ao partido, e a de Ratinho Jr, no Paraná, simplesmente intragável.

Mas uma aliança com as duas estrelas do partido em Minas Gerais, agora Pacheco e o prefeito de BH, Alexandre Kalil, seria forte cacife no segundo maior eleitorado do país, no qual Lula tem poucos nomes para compor chapa e o mesmo vale para todo o leque de candidatos da 3ª via. Bolsonaro depende da aliança eleitoral com o governador Romeu Zema (Novo), seu firme aliado desde 2018.

Pacheco, que fez uma trajetória na direita, talvez aí seja ajudado por aquela sensaboria a que no início apontei: sem sal e sem molho, tanto pode ser servido ao sugo quanto aos quatro queijos.

Tijolaço.

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

GUEDES PERDEU A VALIDADE, POR FERNANDO BRITO

Ele foi, até mesmo antes de consumar-se a eleição de Jair Bolsonaro, o superministro da Economia. Orgulho dos liberais, o homem que faria as reformas, que privatizaria, que atrairia investidores estrangeiros, que ia zerar o déficit fiscal já no primeiro ano de governo. Com superavits primários gigantescos: e R$ 1 trilhão em privatizações e outro trilhão vendendo imóveis da União, que enxugaria o funcionalismo (os “parasitas”) e privatizar a Previdência. Na pandemia, disse a que recuperação da economia seria em “V” e, há duas semanas, garantiu que a economia estava “voando”.

E o que ficou, de fato, de Paulo Guedes foi um desastre.

Não apenas da gestão incapaz de formular programas de recuperação econômica ou de simples gestão de um modelo que, embora sem rumo, fosse minimamente sustentável no curto prazo. Gritou, berrou, fez-se de “tigrão”, prometeu, uma vez após outra, o que não se mostrou capaz de entregar.

Há meses , virou um molambo, que aparece em lives e eventos de empresários e banqueiros, faz-se de sábio, acena com um futuro otimismo que vai se desmanchar no dia seguinte no desempenho sofrível do país.

Agora, porém, exigiu-se dele a capitulação humilhante, o ato de humilhação de “chutar o teto” do qual fazia-se o mais fervoroso defensor.

A debandada em seu ministério faz dele um personagem que, além de derrotado, é só. A saída de vários de seus auxiliares dos postos-chave do ministério se refletirá, amanhã, em outro dia de depreciação do real e de quedas na Bolsa.

Embora tenha garantido a sua permanência no cargo, Jair Bolsonaro merece tanta credibilidade quanto um cartola de futebol ao dizer que fica no cargo um treinador que acumula uma fieira de derrotas.

Paulo Guedes não tem mais nada a lhe dar, a não ser a humilhação pública a que se submete, o que não representa mais vantagem ao presidente, porque o ministro já não inspira confiança no empresariado, segmento que Bolsonaro ainda tem como apoio certo num embate com Lula.

Guedes é uma Coca-Cola sem gás.

Não serve mais e Bolsonaro espera que ele se dissolva, para encontrar a solução mais adequada para a sua substituição, seja por um outro nome que circule no meio do dinheiro (o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, é o rei deste pedaço) ou quem saiba jogar pesado neste campo, por sua fidelidade incondicional, e aí Pedro Guimarães, presidente da Caixa, é o personagem mais insinuante.

A troca não demorará muito, porque Guedes, ao apodrecer no cargo, apodrece o cenário econômico com os miasmas do que parecia ser.

 Tijolaço.

terça-feira, 19 de outubro de 2021

BOLSONARO SACODE MERCADOS PELO “AUXÍLIO” QUE NÃO VEIO, POR FERNANDO BRITO

Cancelado meia hora antes de seu anúncio solene no Palácio do Planalto, o lançamento do novo “Auxílio Brasil” foi deixado para não se sabe quando, embora tenha provocado estragos no mercado financeiro: dólar a R$ 5,58 – depois de ter alcançado os R$ 5,60 – e perda de mais de 3% na Bolsa de Valores, tudo foi cancelado e adiado sine die.

A conversa de que o adiamento deveu-se a dúvidas sobre como adequar a “furada do teto de gasto” à Lei de Responsabilidade Fiscal é para boi dormir, porque o programa poderia ter sido anunciado genericamente e esperar o detalhamento legal, nos próximos dias.

A provável razão é política, pois a equipe de Paulo Guedes é “tetista”, no sentido de teto, fervorosa, como o chefe, com a diferença que ele é antes tetista , no sentido de teta, acima de tudo.

Só que faz tempo que os simulacros de política econômica saíram de suas mãos e ele foi atropelado por um Centrão que fala a Bolsonaro que manter a teta é mais importante que manter o teto e é exatamente isso que ele quer ouvir.

Já Paulo Guedes prefere os autoenganos de dizer que “a economia está voando“, quando o que voa são a inflação e o câmbio.

É provável que logo saibamos dos bastidores desta crise que adiou os disparos das bombas V-2 que Bolsonaro prepara para sua blitzkrieg eleitoral. Como a equipe da Economia está louca para sair como “mártires da economia de mercado” degolados pela demagogia de Bolsonaro – há uma boa acolhida para todos eles no mercado financeiro – do que ficarem como cúmplices do desastre da incompetência deste governo, é provável que logo tenhamos inconfidências.

Já corre que o secretário especial do Tesouro, Bruno Funchal. já teria comunicado Guedes de que não aceita qualquer medida que libere de recursos driblando o teto de gastos, e certamente há outros que analisam o que será para suas carreiras ficarem como coveiros do teto de gastos.

O estrago, porém, já foi feito no mercado, que, mesmo depois do adiamento, quase nada recuou nos seus índices catastróficos. Não são bobos e sabem que Bolsonaro não pode recuar de seu número cabalístico de 400 reais. E que, para resistirem à pressão para que este valor seja ainda maior e chegue a mais pessoas, terá de brindar os deputados e senadores com mais emendas, para as quais não há dinheiro no Orçamento.

O Centrão, pela boca de Ciro Nogueira, já garantiu que o dinheiro será fora do teto e o mercado sabe que ele manda mais do que Guedes.

Mas calma que ainda não é tudo: há o embrulho dos combustíveis, no qual a Petrobras já acena com falta de abastecimento, os caminhoneiros prometem uma greve em que ninguém acredita para o dia 1°, e Bolonaro prometendo “resolver” o problema do diesel até o final da semana.

Tijolaço.

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

DE VOLTA À ILHA DAS FLORES, POR FERNANDO BRITO

No final dos anos 80, um ganhava as telas o documentário “ficção e realidade” Ilha das Flores, do hoje famoso Jorge Furtado, era um chocante retrato do Brasil arruinado pelos anos de ditadura e pelo desastre do Governo Sarney, no qual famílias disputavam com os porcos os restos de comida no “lixão” da Ilha das Flores, no Rio Jacuí, em Porto Alegre.

Mais de 30 anos, é este filme que vem a memória quando se vê as cenas de homens e mulheres retirando restos de comida da caçamba de um caminhão de lixo em Fortaleza.

A diferença é que a Ilha das Flores de hoje está aparecendo em todos os lugares: no Ceará, em Pernambuco, no caminhão de ossos do Rio, nas carcaças de peixe e frango do Mercadão de São Paulo…

No texto genial de Furtado, a leitura dramática de Paulo José diz que “o que coloca os seres humanos depois dos porcos na prioridade de escolha de alimentos é o fato de não terem dinheiro nem dono”.

Bem, se andamos um passo e estamos escolhendo os restos antes dos porcos, os brasileiros continuam sem dinheiro e sem ter quem cuide deles e lhes garanta o essencial para viver.

Não é possível compreender que, num país onde tanto se apela a Deus como provedor de soluções – que são humanas, não divinas – os homens que se arrogam em escolhidos divinos não terem uma palavra contra esta degradação humana, mais própria do Inferno.

Falta-nos a simplicidade magnífica do arcebispo e Prêmio Nobel da Paz, o sul-africano Desmond Tutu que, numa entrevista a Geneton de Moraes Neto, ao ser perguntado sobre “qual seria a primeira pergunta que o senhor gostaria de fazer a Deus, e tivesse a oportunidade de encontrá-lo cara a cara”, respondeu, sem titubear: “como é que o senhor tolera tanta injustiça e sofrimento”.

Tijolaço.

domingo, 17 de outubro de 2021

ADIAMENTO É UM PERIGO POLÍTICO PARA A CPI, POR FERNANDO BRITO

O adiamento da leitura e votação do relatório da CPI da Covid, que passou para a última semana do mês, é ruim sob todos os aspectos.

Não só revela que há divisões no bloco majoritário quanto à extensão das acusações que serão formuladas contra Jair Bolsonaro, seu ministros, seus filhos e outros personagens sombrios, como afeta a sua repercussão política das conclusões da Comissão, já fartamente conhecidas da população.

A falta de formalização dos resultados adia até as investigações que não serão previsivelmente retardadas pelo dócil Procurador Geral da República, Augusto Aras.

Há muitos outras que pertencem a foro estadual que devem começar ou avançar ainda neste final de ano e isso não é fácil diante dos dilatados prazos da Justiça e dos recessos judiciais do final do ano.

A grande vitória da CPI, em matéria política, foi alcançada pela revelação da conduta omissa e charlatã – esta até agora reiterada – do presidente da República. Deve-se evitar perdê-la no prolongamento exagerado que está acontecendo e que aqui já se havia apontado há um mês.

O mais provável, percebendo a resistência que não esperava, é que Renan Calheiros reduza o número de indiciados e que, em relação a Jair Bolsonaro, e ceda às pressões para que retirem-se as acusações por genocídio indígena, que não se revela apenas no combate falho à pandemia, mas em várias outras perseguições e violações a comunidades indígenas.

A superexposição de alguns senadores até há pouco desconhecidos também deve ser um obstáculo ao entendimento sobre o relatório, que procurarão em divergências e votos em separado (embora não contraditórios com o documento do relator.

Tijolaço.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

BOLSONARO CAI EM SEUS REDUTOS. A ECONOMIA É IMPIEDOSA, POR FERNANDO BRITO

Da leitura da extensa pesquisa Genial/Quaest, o que mais chama a atenção é a desagregação da base bolsonarista.

Hoje, apenas 52% daqueles que votaram em Bolsonaro no segundo turno de 2018 votariam outra vez no presidente, isto é, dois 58% que amealhou naquela eleição, teria hoje 30%, apenas.

Mas há mais dados, como os que reproduzo na ilustração: o salto na reprovação do seu governo nas regiões Sul, Norte e Centro Oeste, onde Bolsonaro é mais forte, foi acentuadíssima – 10, 18 e 13 pontos, respectivamente – o que vai muito além do que qualquer variação estatística pudesse explicar.

Igual é o crescimento da avaliação negativa em seu “reduto” evangélico”, que subiu sete pontos: de 35% para 42%. E, entre a população mais idosa (60 anos ou mais) também impressiona a queda: sua reprovação salta de 43% para 53%, passando a ficar no mesmo patamar das demais faixas etárias.

A razão disso é fácil de perceber quando se vê o comportamento entre os estratos de renda: a reprovação a Bolsonaro pula 10 pontos para cima.

É o resultado do agravamento da crise econômica: em três meses a parcela que indica a economia como o maior problema do país saltou de 28 para 44%. Ou 54%, se somarmos os 10% que apontam a pobreza e a desigualdade como principal preocupação.

69% acham que a situação econômica piorou e 62% creem que o governo não conseguirá domar a alta de preços.

O resultado disso é que a rejeição a Jair Bolsonaro alcançou um patamar altíssimo: 65% dizem que não votariam nele de jeito algum. contra 31% que admitem votar (20) ou “poder votar”(11).

A rejeição a ele vai se aproximando de ser o dobro da que teria Lula (38%), que tem muito mais certezas de voto (35%) e possibilidade de tê-los (18%), somando 53%.

Os candidatos mais fortas de dita “Terceira Via” – Ciro, Moro e Datena – seguem girando de um pico de 10% dos votos, muito abaixo dos 26% que Bolsonaro tem na média dos cenários testados e quatro vezes menos do que a pesquisa, na mesma média, indica que Lula teria: 45%, suficientes para vencer no primeiro turno.

Veja abaixo o gráfico da migração de votos entre o segundo turno de 2018 e as intenções de votos de hoje.

Tijolaço.

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

PROJETO DE LIRA SOBRE ICMS É SÓ PROPAGANDA. POR FERNANDO BRITO

A Constituição Federal é clara sobre a autonomia do Estados para fixar seus impostos sobre circulação de mercadorias e serviços.

Ela estabelece explicitamente a competência estadual e, nas poucas intervenções que nisso se pode fazer, o papel é do Senado, jamais da Câmara.

É fundamento do regime federativo e, portanto, cláusula pétrea.

Ao pretender criar uma base de cálculo arbitrária ( a média de longo prazo dos preços) ela atinge em cheio a liberdade de fixação de alíquotas dadas aos Estados.

Foi criada apenas uma chicana para não parecer uma violação do texto.: a alíquota é libre, mas a base de cálculo é rebaixada.

Ainda que não fosse, seria ilegal pela competência exclusiva do Senado em criar regras nacionais de coleta de tributos estaduais: o projeto da Câmara teria o vício de iniciativa.

Se (dificilmente) for aprovada no Senado, do STF não passa.

É mera manobra política, para dar uma demonstração de carinho a Jair Bolsonaro, que culpa os Estados pelo aumento dos combustíveis. E, talvez, deixar o STF como “malvado” que não permitiu baixar o preço do combustível.

Tijolaço.

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

EVANGÉLICOS PODEM TROCAR MINISTRO POR VICE, POR FERNANDO BRITO

Subiu um degrau a disputa pela aprovação de André Mendonça para a cadeira deixada vaga por Marco Aurelio Mello.

Jair Bolsonaro acusa Davi Alcolumbre de “estar jogando fora das quatro linhas da Constituição” ao retardar a votação da aprovação do seu indicado para o Supremo.

Mas, para quem deixou, durante três meses, Mendonça abandonado às feras senatoriais, a reação parece falsa e tardia.

Quem está brigando – menos por Mendonça e mais pela indicação de alguém ligado a pastores-políticos – são os líderes bolsoevangélicos que ameaçam com o inferno (e a não-reeleição) o senador do Amapá.

Alcolumbre dobrou a aposta e agora manda dizer que é capaz de segurar até 2023 a sabatina de Mendonça. O que, claro, não aconteceria, porque o novo presidente eleito teria o poder de retirar o nome bolsonarista e indicar alguém que julgasse mais conveniente.

O que, claro, não vai acontecer, porque o objetivo de Alcolumbre é “fazer” o novo ministro, provavelmente Augusto Aras.

O objetivo não é protelar a sabatina e o “vestibular” de Mendonça, mas assegurar a sua rejeição. O que, não duvide, agradaria a Bolsonaro.

Porque o senador sabe que há remotíssimas possibilidades de que Jair Bolsonaro retire o nome de Mendonça e promova um “racha” em sua base nos pastores evangélicos.

Mas levar a uma possível rejeição de seu nome, na Comissão de Constituição e Justiça ou no plenário expandiria para outros senadores (e candidatos)a “maldição” evangélica sobre seus nomes.

Isso, é claro, vai acabar em “negócio”, pela impossibilidade de todas as partes em impor suas preferências. Se é que são suas preferências, pois Mendonça parece mais o candidato do morismo, o que o deixa como suspeito entre os próprios bolsonaristas.

Cada vez mais se suspeita que não teremos um “ministro terrivelmente evangélico”, mas um candidato a vice “terrivelmente pastor”.

Tijolaço.

terça-feira, 12 de outubro de 2021

JURAS EVANGÉLICAS NÃO EMPURRARÃO BOLSONARO. POR FERNANDO BRITO

Diz a Folha que Jair Bolsonaro faz ofensiva para reforçar laços com evangélicos e ruralistas de olho na reeleição.

Má estratégia, porque se trata – perdão pelo mau uso de palavras tão elevadas – de “pregar para convertidos”, pois visa dois setores onde, mal e mal, o atual presidente já tem apoio, ainda que minguante entre os evangélicos, tamanho o horror que seus apelos e seus métodos provocam em pessoas com valores espirituais, ainda que não seja o caso de alguns de seus líderes.

E isso sai caro, porque a radicalização agroevangélica de Bolsonaro implica em tomadas de posição que afasta muitos mais do que podem atrair.

O agronegócio é muito menor do que aparenta com suas picapes e chapelões. Isso é uma classe média que orbita o verdadeiro negócio, que está enfrentando problemas causados pelo memsmo fator que o faz prosperar: o comércio exterior.

Já se abordou aqui o encarecimento dos insumos agrícolas: os fertilizantes são importados, em dólar, as máquinas agrícolas subiram até 40% de preço, em função de alta no aço e no dólar e a eletricidade e nos combustíveis pesou na conta das lavouras que dependem de irrigação.

Não parece haver terreno fértil para a ampliação da área plantada do bolsonarismo, até porque há limites de quantidade populacional que a limita.

Entra os evangélicos, segundo as pesquisas, Bolsonaro tem perto de 30% de apoio. Bem menos que os 40% que chegou a ostentar, no início do governo mas, ainda assim, um número expressivo.

Difícil, entretanto, de subir, porque – apesar da grita de Silas Malafaia e outros pastores – não se tem notícia de que essa perda tenha sido por uma defecção de seus líderes, mas de seus fiéis, atingidos, como todos os outros brasileiros – pela degradação da economia.

Ou até mais, porque se sabe que o recorte das classes de menor renda entre os evangélicos tende a ser mais forte que entre a população como um todo.

Bolsonaro não está carente de declarações de amor a ruralistas e evangélicos, ao contrário, ele as faz todo dia. Mas declaração de amor sem política de governo não leva a lugar algum.

O que o presidente não faz – alias, o que ele faz, além de provocações – não substitui o que se espera(va) dele entre estes grupos.

Tijolaço.

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

ALCOLUMBRE VENCE NO STF E MENDONÇA FRITA EM FOGO ALTO, POR FERNANDO BRITO

A decisão de Ricardo Lewandowski de que é assunto interno do Senado a marcação da sabatina de André Mendonça, até agora o indicado de Jair Bolsonaro para a vaga deixada por Merco Aurélio Mello no Supremo Tribunal Federal era juridicamente esperada – o STF tem a tradição de não interferir nas questões que juga interna corporis das casas legislativa, mas isso não as exime de provocar efeitos políticos.

Alcolumbre ganha fôlego para procrastinar o exame do nome terrivelmente evangélico na Comissão de Constituição de Justiça que preside e que tem, na sua composição, um cenário menos problemático para a aprovação do nome do ex-ministro da Justiça que aquele que existe no plenário do Senado.

Tempo para o ex-presidente do Senado esperar a troca de integrantes da Comissão e assegurar um resultado negativo, enquanto Mendonça terá de se sustentar com a solidariedade apenas formal de Bolsonaro e a dos “líderes” evangélicos Silas Malafaia e Marco Feliciano, para quem outro evangélico, mais “seu”, pode ser a indicação-solução.

O moralismo tolo de alguns senadores de oposição, que acham que Mendonça seria a chance da ressurreição do lavajatismo no Supremo é a última esperança de Mendonça, como se alguém pudesse ser defensor da honestidade quando não se peja de misturar religião e política e, pior, tornar-se aliado incondicional de Bolsonaro em troca de um posto elevado no sistema de Justiça.

Opa! O que digo eu? Não foi exatamente isso o que Sérgio Moro fez?

Tijolaço.

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

BOLSONARO, O “JOVENCIDA”, É CONTRA VACINA ABAIXO DE 20 ANOS. ASSISTA, POR FERNANDO BRITO

“Só” 3 mil jovens morreram na pandemia, 0,5 % das 600 mil mortes registradas entre os brasileiros.

O númeor é grande, embora a taxa seja pequena, mas muito maior que a da de vários países desenvolvidos.

Bolsonaro, porém, acha que não é preciso vacinar os jovens e, se vacinam isso “é negócio”, aqui e no mundo inteiro, onde jovens não são excluídos da vacinação.

Ficou claro a que se deveu a proibição ordenada por Marcelo Queiroga de vacinar adolescentes, revertida pela pressão dos governadores de vários estados.

Economia: os jovens são muitos para vacinar e poucos vão morrer.

Insignificantes, se cada vida pudesse ser precificadas – e a dos jovens, por serem mais longas no futuro, teriam preço muito maior.

Disse, no post anterior, que não está mais em questão Jair Bolsonaro ser um monstro.

Ele próprio o confessa.

Assista o video do portal Metrópoles e evite pensar em seus filhos e seus netos para não alimentar sua fúria.

Tijolaço.

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

BOLSONARO VAI DEPOR. PRA QUÊ? POR FERNANDO BRITO


Depois de um ano com o processo paralisado (por Luiz Fux) para discutir se o presidente da República deveria depor presencialmente ou por escrito no inquérito sobre se teria interferido na Polícia Federal durante a gestão de Sergio Moro no Ministério da Justiça, Jair Bolsonaro à beira da decisão, disse que irá depor.

Não tem a menor importância, porque, de lá para cá, ele já provou que interfere mesmo, e daí?

Pois não vazou documentos sob sigilo para reforçar sua cruzada sobre o restabelecimento da apuração manual dos votos, mandou afastar o delegado que denunciou crimes ambientais do ex-ministro Ricardo Salles? Não consegue travar todas as apurações da PF que têm por alvo sua família e seu círculo mais próximo?

Mas que não sejamos injusto. O queixoso Sergio Moro fez igual, e antes, quando era o todo-poderoso chefão da Lava Jato e dirigia, na prática, os trabalhos policiais.

Bolsonaro está num situação confortável e pode se dar ao luxo de um resultado de inquérito que o coloquem na situação de pressionar por mudanças na PF. Sempre poderá dizer que foi uma simples manifestação de crítica e não ordem. Vai dizer – e não sem razão – que Moro tratava a Federal como sua “propriedade” e não um órgão de governo.

Contará, para se sair bem, com a tolerância crônica do Procurador Geral da República. Se este claudicar, a maioria regida por Arthur Lira encarrega-se de fazer com que se suspenda a apuração e que o processo vá se juntar às dezenas que serão abertos se e depois de deixar a Presidência. Lá, nem fará volume, perto da montanha de culpas que lhe serão apontadas.

Aí está a questão: a menos de um ano da eleição presidencial, o único julgamento possível para Bolsonaro é o das urnas: o Judiciário e o Legislativo perderam todas as chances de fazê-lo e tolo é quem se ilude que isso ainda seja possível.

Tijolaço.

terça-feira, 5 de outubro de 2021

PENDURADO NO DÓLAR E NA INFLAÇÃO, GUEDES AGONIZA. POR FERNANDO BRITO

A desvalorização do real, impulsionada pela inflação e pelo câmbio era, até agora, um retrato de incompetência do governo e do chefe de sua política econômica, Paulo Guedes.

Agora, ao menos no discurso que se espalha na opinião pública, Guedes passa a ser pior que isso: é alguém que se beneficia, direta e pecuniariamente, como beneficiário dessa desvalorização.

Guedes, o inútil, passou a ser vilão, por mais que mercado e grande imprensa fazem um “abafa”, como se sua empresa de fachada no exterior fosse apenas “inconveniente”.

Ainda que tratada como “narrativa” da esquerda se torna mais ácida quando o dólar chega a R$ 5,48 e atinge máxima em cinco meses e isso coincide com uma brutal elevação do preço do petróleo, tornando iminente uma nova elevação do preço dos combustíveis e mais gás na disparada da inflação, pronta para deixar para trás a marca dos 10% ao ano.

Como se não bastasse o preço do botijão do gás de cozinha, atingiu o maior preço deste século em setembro, vendido a R$ 98,70 e a gasolina, o maior valor , em termos reais, desde fevereiro de 2003.

Etudo fica pior ainda quando se considera que se espera que o fim dos estímulos financeiros nos EUA e, talvez já no início de 2022, uma elevação da taxa de juros do Tesouro norte-americano, empurrando para cima os nossos, na vã competição para tornar atraentes os minguantes investimentos estrangeiros.

Paulo Guedes está pendurado por um fio, que ameaça ser cortado pelo o câmbio e pela taxa de inflação crescente e teimosa e apoiado por um suporte frágil de um mercado menos confia dele do que teme quem possa ir para o seu lugar.

Um ministro da Economia vive de credibilidade e, sem ela, não é difícil entender que, politicamente, Guedes está moribundo.

Tijolaço.

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

MÍDIA TENTA, MAS NÃO ADIANTA BLINDAR PAULO GUEDES PORQUE FOI CARIMBADO NA TESTA, POR FERNANDO BRITO

É inacreditável a tentativa de blindagem da grande mídia ao escândalo de Paulo Guedes, ministro da Economia, e Roberto Campos Netto, presidente do Banco Central, serem, ao mesmo tempo em que exercem suas funções públicas, dirigentes de empresas offshore em paraísos ficais no Caribe.

O Globo nem mesmo publica a notícia e deixa o assunto para sua subsidiária, o G1, que trata do caso como apenas um “conflito de interesses”, quando é, escancaradamente, uma violação da lei que rege o exercício das funções públicas (Lei 8.112, artigos 117 e 132). Agora, no final da noite, a Globonews limitou-se a destacar alguns trechos da Piauí.

O Estadão dá uma pequena chamada, dizendo que chefes de Estado são acusados de esconder milhões em paraísos fiscais e, em duas matérias, nem sequer cita o ministro e o presidente do Banco Central Brasileiro.

É isso o que chamam de “jornalismo profissional”? Deus me livre, viva o amadorismo, então.

Notem que são jornais que, nos editoriais, dizem-se em oposição a este governo e desancam a política econômica de ambos.

Mas não acham errado o dinheiro lá fora, em paraísos fiscais, mesmo depois do governo brasileiro ter feito, desde o governo Dilma e, até concluir-se no Governo Temer, um programa de repatriação de capitais no qual, pagando-se o imposto devido, fortunas guardadas lá fora poderiam ser legalizadas, em condições vantajosas, e trazidas para dentro do Brasil.

Só a Folha dá manchete, ainda assim para uma reportagem da revista Piauí, que integra seu grupo empresarial e, ao lado do Poder360, da Agência Pública e do site Metrópoles são aos brasileiros que estiveram num consórcio que reúne jornais do prestígio do The New York Times, Washington Post, The Guardian e dezenas de outros de credibilidade mundial.

Parece que Paulo Guedes escolheu bem o nome de sua empresa caribenha: Dreadnoughts, que significa encouraçado, os navios blindados que eram o terror dos mares até a 2a. Guerra Mundial, quando as grossas chapas de metal passaram a não vale nada diante do crescente poderio das bombas e foguetes.

Pois é também assim que a blindagem midiática será em relação a esta vergonha: inútil.

Paulo Guedes era, até agora, o ministro da inflação. Agora, é o ministro dos milhões no Caribe.

Tijolaço.