Na
saúde, há dois discursos claros em jogo: o isolamento social x a varinha mágica
da cloroquina. Na economia, há uma enorme confusão.
No
ultimo dia 8 publiquei o “Xadrez
dos ensaios do próximo jogo político”. Lendo os comentários, percebi que
fui muito pouco claro na apresentação das hipóteses.
Haverá
dois grupos de digladiando politicamente: o campo bolsonariano, apostando no
caos e no terraplanismo; e a oposição, que necessariamente terá que escalar o
discurso racional.
O
Xadrez em questão se refere exclusivamente aos temas que deverão emergir nesse
arco racional de centro, centro esquerda ou centro direita, ao qual estão se
candidatando personagens da linha de frente do combate ao coronavirus – do
Ministro da Saúde a governadores de estado.
No
entanto, não dá para minimizar a força do terraplanismo. A estratégia conjunta
dos governos de ultradireita – tão concatenadas entre si, que comprovam a
existência de uma cabeça central, provavelmente Steve Bannon – é uma aposta no
pós-coronavirus.
O
coronavirus impõe uma guerra entre a racionalidade da ciência e o discurso
redentorista de cloroquina, gripinha e tudo o mais. Os fatos mostrarão cada vez
mais a lógica da ciência se impondo. O momento seguinte é o do enfrentamento da
crise econômica – que virá brava. E aí se entra no terreno da subjetividade
econômica.
Na
saúde, há dois discursos claros em jogo: o isolamento social x a varinha mágica
da cloroquina. Por aí se torna relativamente fácil separar a tribo dos
seguidores de Jim Jones (o pastor que levou seus fiéis ao suicídio) e o Brasil
minimamente racional.
Na
economia, há uma enorme confusão. Há um grupo de halterofilistas da economia,
que ganhou status no período pré-coronavirus e que continuam apegados ao jogo
de interesses simplórios-maliciosos do período anterior: mercado x Estado,
setor público x privado, isonomia entre perdas do funcionário público x privado
e outras patacoadas. São ideólogos que conquistaram espaço midiático no período
pré-coronavirus e não querem abrir mão em hipótese alguma de suas cloroquinas
conceituais. Serão tão nefastos no segundo tempo da guerra, espalharão tanta
confusão na opinião pública quanto o bolsonarismo no primeiro tempo.
Toda
a estratégia atual do terraplanismo é se preparar para o segundo tempo.
Afastado o fantasma do coronavirus, a crise do desemprego, da perda de renda
virá para o primeiro plano. E, aí sim, haverá espaço para as loucuras da
ultradireita, atribuindo a crise aos governadores e reforçando a ideia de um
governo autocrático-ignorante para superá-la. Se as loucuras de Bolsonaro, em
um caso claro como o do coronavirus, mobiliza seguidores-zumbis, imagine-se
quando se entrar no terreno confuso do receituário econômico, há muitos anos
contaminado no Brasil pelo jogo de interesses do mercado. Dai o formidável
empenho dos bolsonaristas em manter as hostes unidas para o segundo tempo do
jogo.
Depressão
sempre foi espaço aberto para salvadores da ultradireita com seus discursos de
ódio. E é mais fácil um camelo passando pelo buraco de uma agulha do que
aparecer no Brasil, nesse território inóspito e selvagem, uma vocação à altura
de Franklin Delano Roosevelt ou de um John Maynard Keynes.
Do GGN