Não temos mais crise no país, e sim a esbórnia, a
putaria, o salve-se quem puder. Michel Temer conseguiu misturar seus odores
putrefatos de criminoso comum com o fedor condescendente da maioria do
Congresso. Mas não é tanto isso que importa. Importam, sim, a exibição da
utilização abusiva da máquina pública para comprar votos com cargos de governo,
ministérios, emendas parlamentares, tudo para impedir a investigação criminal,
tudo apresentado pela indefectível Rede Globo como atividade política normal.
Afinal, o que é obstrução da Justiça? Não seria obstrução de
Justiça a compra de votos na Câmara para impedir a investigação dos crimes de
Temer denunciados pela Procuradoria Geral da República? Onde está a corporação
de juízes e de promotores, tão prontos a se insurgirem com veemência contra o
projeto de lei do abuso de autoridade, quando se revelam cinicamente
indiferentes ao crime que se comete contra o povo e contra a Nação nesse
espetáculo dantesco de carnificina de todos os valore s da República? Há maior
abuso de poder do que o feito por Temer na despudorada compra de votos na
Câmara?
A permanência de Temer é um risco para a Nação porque no
curto período que lhe resta ele pode vender a mãe para atender os interesses
das multinacionais do petróleo e da energia, como está acontecendo neste
momento com o pré-sal, ou os interesses do “mercado”, como é o caso da
Previdência. Nossa esperança é que a pequena rebeldia observada na Câmara
sinalize um limite para as ações da quadrilha do Planalto. Se isso acontecer, a
eventual saída, cassação ou impeachment são indiferentes. Nos
encontraremos com a quadrilha em 2018 com boas perspectivas.
A política, arte de organização dos homens e da Nação, é a
mais nobre das atividades. Mas quando ela cai nas mãos de quadrilheiros toda a
moral pública desaba. Roubar, agredir, matar, mentir, manipular, desconhecer
critérios de educação e perder o sentido de solidariedade, tudo passa a ser
lugar comum, ou normal. Nesse contexto, floresce o neoliberalismo - ou
simplesmente liberalismo (como costuma de corrigir o senador Roberto Requião)
-, quando se entende a liberdade como ausência de limites. A isso se contrapõe
a democracia, situação em que a sociedade, desde que ausente a manipulação da
mídia, estabelece os próprios limites. É essa liberdade democrática que está
sendo degradada na era Temer. Estamos no jogo duro em que as classes dominantes
e as elites dirigentes não tem qualquer limite na sua atuação, exceto o que se
pode esperar da incipiente rebeldia de parte da Câmara e do Senado ou o que
vier a ser imposto nas eleições dos próximo ano.
GGN