Os Funcionários
da OAS desmentem Léo Pinheiro sobre triplex ser de Lula
Enquanto Léo
Pinheiro afirma, como co-réu, que recebeu "orientação" para não
vender o triplex porque ele seria de Lula, engenheira que acompanhou reforma
disse que imóvel seria colocado à venda "para qualquer cliente"
Não é apenas
a possibilidade de Léo Pinheiro, ex-OAS, ter combinado com o Ministério Público
Federal o teor das acusações feitas diante do juiz Sergio Moro contra Lula, no
processo do triplex, que torna o depoimento questionável. Outro ponto
marginalizado pela grande mídia é o fato de que funcionários da OAS deram à
Lava Jato informações que conflitam diretamente com o que Pinheiro expôs em
meio a sua negociação por uma colaboração premiada.
Em setembro
de 2016, o GGN mostrou [leia aqui]
que pelo menos 7 testemunhas ouvidas pelos procuradores de Curitiba, no
processo em que Lula é acusado de receber um triplex da OAS como pagamento de
vantagem indevida, não conseguiram afirmar e tampouco apresentaram provas de
que o ex-presidente seja o destinatário ou dono do imóvel.
Três desses
depoimentos foram dados por engenheiros e arquitetos da OAS Empreendimentos que
acompanharam a reforma no triplex de perto. Inclusive, teriam presenciado as
visitas que Marisa Letícia e Lula fizeram ao local.
O GGN traça,
a seguir, um paralelo entre o que foi dito por esses funcionários e a versão de
Pinheiro sobre o caso, dada após mais de um ano de prisão.
DEPOIMENTO 1
Contextualizando:
Pinheiro disse a Moro que, em meados de 2009, foi procurado por João Vaccari
Neto, hoje ex-tesoureiro do PT, para falar de empreendimentos que a Bancoop
iria transferir para a OAS após uma crise financeira. Entre os projetos da
cooperativa estava um apartamento para a família de Lula no que viria a ser o
Condomínio Solaris, no Guarujá, litoral de São Paulo.
Pinheiro
disse que acertou com João Vaccari, anos depois, que o apartamento seria
reformado para atender solicitações de Lula e Marisa Letícia, e o valor
investido pela OAS seria descontado de um "caixa geral" que o grupo
mantinha com o PT para pagamentos de propina e caixa 2 eleitoral.
O co-réu
ainda disse que "foi orientado" a não colocar o apartamento à venda
porque "pertenceria a Lula". Por outro lado, a engenheira Mariuza
Aparecida Marques, responsável por fiscalizar a obra no triplex, disse à Lava
Jato que o imóvel estava disponível para compra por "qualquer
cliente".
No vídeo
abaixo, por volta dos 13 minutos:
Procurador:
De maneira objetiva, a senhora pode dizer se esse apartamento é de propriedade
de Lula ou algum familiar?
Mariuza: Eu
tenho acesso ao sistema da empresa para todos os clientes. Para mim, esse
apartamento é da OAS Empreendimentos. Ele não aparece com outro nome. Então,
para mim, o apartamento é da OAS.
Procurador:
A senhora soube que com as melhorias que foram feitas, [o triplex] poderia ser
destinado ao presidente?
Mariuza:
Sim, era colocado como uma melhoria para ser vendido.
Procurador:
Mas já direcionado a alguém?
Mariuza:
Para qualquer cliente.
Procurador:
Poderia ser um diretor da OAS?
De fato, a
OAS nunca entregou a chave do imóvel a ninguém. Inclusive, a defesa de Lula
encontrou documentos que mostram que a unidade foi dada como garantia em
pedidos de financiamento e, depois, no acordo de recuperação da OAS.
DEPOIMENTO 2
Léo Pinheiro
disse a Moro que os envolvidos diretamente na obra da reforma do triplex sabiam
que a unidade seria destinada a Lula.
Para atestar
isso, se agarrou à tese da força-tarefa da Lava Jato: o imóvel era de Lula
porque foi personalizado. E personalizações só ocorrem quando a compra foi
garantida. Além disso, saiu no jornal O Globo que o triplex era de Lula em 2010.
Logo, era "público e notório" que o imóvel era do petista.
O arquiteto
da OAS Roberto Moreira Ferreira, que também acompanhou as visitas de Marisa e
Lula ao triplex e ficou responsável pela reforma, negou que era de seu
conhecimento que o imóvel já era do ex-presidente.
No vídeo
abaixo, os investigadores aparecem perguntando se Lula tinha apartamento no
Solaris, ao que Ferreira respondeu: "Não que eu tivesse
conhecimento."
Ferreira
também sugeriu que a OAS Empreendimentos trabalhava na reforma como se
estivesse criando um apartamento modelo.
DEPOIMENTO 3 [veja aqui]
Um dos
funcionários da OAS apontado por vários entrevistados como parte do grupo que
liderava a reforma no triplex é o engenheiro Igor Ramos Pontes. Este disse à
força-tarefa que seu cliente no caso do apartamento no Guarujá era a OAS
Incorporadora, mas colocou Lula como potencial comprador da unidade.
A partir dos
23’30’’ do vídeo abaixo:
Lava Jato:
Quem pediu esse projeto específico foi seu chefe, Roberto Moreira. Ele informou
para quem?
Engenheiro:
Havia discussão de que o ex-presidente era, na prática, um possível comprador,
finalizaria a questão dele com a Bacoop com a compra dessa unidade, e que para
facilitar a venda, fariam como se fosse apartamento modelo, com algumas
modificações. Para ver se incentivava.
Lava Jato:
Então fizeram as mudanças para facilitar a venda ao ex-presidente?
Engenheiro:
É possível que sim, não sei afirmar.
Pontes disse
que orientou sua equipe técnica a não disseminar boatos sobre a propriedade de
Lula após a mídia começar a sondar o apartamento.
"Em
outras unidades, a gente recebia o contato direto do cliente. Nesse apartamento
especificamente, a unidade estava em nome da OAS Empreendimentos. Não tem
cliente. Não tem morador, nunca morou ninguém lá. Toda a demanda que vinha era
da OAS. Mas existem especulações, perguntavam se era do ex-presidente Lula ou
não. Eu dizia [à minha equipe] que não temos nenhuma informação sobre isso. E,
de fato, não temos."
Após duas horas de depoimento a Moro [confira aqui], Cristiano Zanin Martins, advogado de Lula,
confrontou Léo Pinheiro com a existência desses depoimentos de funcionários da
OAS. "Mariuza disse que o apartamento triplex não foi jamais destinado a
Lula", exemplificou.
Pinheiro
sentiu que seu depoimento estava sendo colocado em xeque, e rebateu com tudo o
que tinha: a cartilha do MPF.
"Primeiro,
estou aqui falando a verdade de tudo que conheço. Segundo, é público, saiu na
primeira página de jornal O Globo, em 2010 [que Lula tinha um triplex].
Terceiro, eu fui no apartamento com o presidente e sua família, duas vezes.
Quarto, esse apartamento é personalizado. Ele é diferente de todos que estão
ali. Eu não ia sair com isso para toda a empresa, para preservar o
presidente."
"Com
todo o respeito ao ex-presidente, mas o apartamento era personalizado, não é
decorado. Ele foi feito para uma família morar. Se o ex-presidente não
quisesse, teríamos um belo problema sobre o que fazer o apartamento porque ele
é muito personalizado. O valor da reforma feita é excessivamente maior do que o
apartamento. Isso é público e notório. Está nos autos."
Com
informações do GGN