Sede do Denarc: de vez em quando aparece um homem da lei na
rede do crime
O tráfico de drogas em São Paulo explodiu nos últimos vinte
anos no Estado de São Paulo depois que uma organização criminosa assumiu o
comando das cadeias e, de dentro do sistema penitenciário, passou a controlar o
comércio de drogas nas ruas.
A operação policial realizada na casa do filho do
ex-presidente Lula em Paulínia, Marcos Cláudio, na região de Campinas, mostra
por que isso aconteceu: a falência da policia de segurança pública na unidade
mais rica da federação.
Realizar busca e apreensão na casa de alguém com base em
denuncia anônima revela mais do que a disposição para perseguir a família de
uma liderança política.
Revela inépcia, e nisso se inclui o juiz que autorizou medida
tão agressiva com base em denúncia anônima.
A jornalista Rose Guglielminetti, comentarista de política da
Band de Campinas, informa que os policiais não encontraram o que
procuravam, mas não saíram de mãos vazias.
Talvez para não perder a viagem, apreenderam documentos, CDs
e DVDs que estavam no local.
“O conteúdo não foi informado pela polícia, que entrou em
contato com a Polícia Federal”, diz a jornalista, em seu blog.
Seria até cômico, não fosse trágica tamanha lambança. Em
qualquer cidade do Brasil, não é difícil saber onde acontece o comércio de
drogas.
Na comunidade de Paraisópolis, por exemplo, nas imediações do
Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, a venda de drogas é praticamente livre,
principalmente nos fins de semana, quando acontecem os bailes funks.
Há 20 anos, era possível entrar e sair da comunidade sem
problemas. Hoje, durante a noite, existem olheiros em cada esquina e a ordem do
tráfico é para que os carros circulem com faróis baixos.
Eu era repórter na TV Globo quando um policial experiente que
havia trabalhado na Departamento de Entorpecentes (Denarc) me contou como o
tráfico em São Paulo cresceu com a participação de policiais pagos pelo Estado
para combater a venda de drogas.
“Um teste de pureza nas drogas nunca é feito. Se fosse feito,
se descobriria que a cocaína apreendida é sempre de baixa qualidade”, contou.
E por quê?
Porque a polícia especializada, quando faz uma grande
apreensão, trata de separar metade da droga apreendida para recolocar no
mercado. A metade que sobre é misturada com outros produtos e apresentada à
justiça.
“Se são apreendidos 200 quilos, vão ser apresentados 200
quilos, só que metade foi retirada e, pelos meios que os policiais conhecem,
recolocada nas ruas”, afirmou.
É por isso que um dos postos mais cobiçados pelos policiais
de São Paulo, depois da polícia fazendária, é o departamento de narcóticos.
Ali a oportunidade de negócios é enorme.
De vez em quando, aparece um delegado em algum escândalo,
como do chefe do setor de inteligência, delegado Clemente Calvo Castilhone
Júnior, preso em 2013 sob acusação de vazar informação sobre investigação
aos traficantes.
Ou do delegado Everardo Tanganelli Júnior, investigado pelo
Ministério Público Estadual por suspeita de enriquecimento ilícito e lavagem de
dinheiro. Em 2008, ele tinha salário de R$ 8,5 mil e patrimônio declarado de R$
4,5 milhões, o equivalente hoje R$ 7 milhões.
Se a polícia de São Paulo quer mesmo combater o tráfico,
precisa ter vontade para enfrentar aqueles que estão mais próximos, e quando
receber alguma denúncia anônima investigar antes de pedir ao juiz um mandado de
busca e apreensão.
No conforto dos gabinetes, salvo exceções respeitáveis, os
magistrados autorizam qualquer coisa. Se for contra um filho de Lula, então, é
a certeza de sair com a ordem judicial, para devassar e escrachar.
Mas, com o tempo, essas ações contribuem para desmoralizar
ainda mais uma instituição vista sempre com muita desconfiança.
Do DCM