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domingo, 4 de agosto de 2019

AS PERDAS DO BRASIL COM OBRAS PÚBLICAS ENTREGUES A ESTRANGEIROS, POR LUIS NASSIF

A discussão econômica raras vezes consegui avançar além da visão primária dos cabeções. Vamos analisar o recente acordo com EUA de permitir a livre participação de empreiteiras americanas em licitações de obras púbicas brasileiras.
Bolsonaro e a síndrome do americano bonzinho
A cobertura econômica na mídia brasileira continua restrita a bordões sobre livre mercado. E a discussão econômica raras vezes consegui avançar além da visão primária dos cabeções.
Um dos vícios centrais dos cabeças de planilha é a incapacidade de entender realidades complexas, isto é, aquelas que têm mais de uma variável.
Vamos analisar o recente acordo em andamento com os Estados Unidos, de permitir a livre participação de empreiteiras americanas em licitações de obras púbicas brasileiras.
Todos os argumentos centram-se na vantagem que haveria no preço. E nenhuma análise sobre as chamadas externalidades do projeto – a maneira como poderá afetar setores.
Sobre o preço
Paulo Guedes montou um modelo simples de beneficiar as estrangeiras: estrangular a capacidade e o custo de financiamento do BNDES.
Em geral, as empreiteiras americanas disputam obras em outros países com apoio da USAID (Agência dos EUA para Desenvolvimento Internacional), ou do próprio Federal Reserva (o Banco Central americano), a custos mínimos.
Há inúmeras denúncias sobre a corrupção da USAID nas obras de vários países, como Afeganistão e Iraque. Mas deixa para lá. Segundo a Lava Jato o pais mais corrupto do planeta é o Brasil.
O que importa é analisar um diferencial pouco analisado por aqui nas concorrências internacionais: o custo do financiamento.
Suponha dois competidores, que tem o mesmo grau de eficiência na construção. Um deles obtém financiamento a uma taxa de 6% ao ano; outro, a taxa de 1% ao ano (provável custo dos financiamentos da USAID).
Em 15 anos, o diferencial de desembolso deles será da ordem de 43%.
Para competir com a empreiteira estrangeira, o nacional teria que reduzir seu preço em 30%.
Justamente por isso, os financiamentos do BNDES eram essenciais para a expansão das empreiteiras brasileiras no exterior, até serem criminalizados por procuradores do Distrito Federal e Rio de Janeiro.
Aliás, se um procurador americano ousasse fazer o mesmo nos EUA, seria imediatamente expulso para alguma republiqueta latino-americana, por exemplo, o Brasil.
No acordo com os EUA, bastaria a inclusão de uma cláusula assegurando o acesso de todos os competidores ao financiamento. Simples assim. Mas obviamente não será feito, já que o futuro advogado dos interesses brasileiros junto aos EUA será Eduardo Bolsonaro.
As externalidades positivas
A profunda ignorância brasileira impede qualquer análise sobre as chamadas externalidades – isto é, os aspectos não diretamente relacionados com o fato em si – e o que o Brasil perde entregando s obras públicas a empresas estrangeiras.
Há externalidades diversas entre uma obra construída por empresas brasileiras ou aquelas entregues a competidores internacionais.
Qualidade de emprego – os melhores empregos ficam na sede da companhia.
Cadeia produtiva –  o desenvolvimento de fornecedores. Empreiteiras são montadoras que, em geral, privilegiam os fornecedores de seu próprio país.
Mercado externo – empreiteiras são agentes de entrada de outros produtos nacionais no exterior.
Segurança nacional – o país demanda desenvolvimento de tecnologia de segurança, de satélites, aviônica, obras em áreas críticas (como o pré-sal). E as empreiteiras são parceiras estratégicas.
Desenvolvimento tecnológico – No Coppe jaz um projeto de veículo leve sobre levitação. A parceria para financiamento e implementação era de uma das empreiteiras abatidas pela Lava Jato.
Vamos a uma pequena tentativa de mensurar cada externalidade positiva, conferindo-lhe um peso.
Na tabela, um exemplo hipotético, de orelhada. Mas mostra, grosso modo, como deveria ser uma licitação de obras públicas, levando em conta as externalidades.
Nesse exemplo, mesmo com um preço 20% inferior à nacional, ainda assim as vantagens das nacionais, nas externalidades, compensaria com sobre o diferencial.
Entregando as obras a empreiteiras norte-americanas (ou europeias), sem nenhuma restrição, as perdas do país serão amplas e disseminadas.
Mas haverá ganhos para os Guedes e Bolsonaros da República. Afinal, a imbecilidade tem pátria. E está ao sul do Equador.
Do GGN

quarta-feira, 5 de junho de 2019

GUEDES VAI IMPLODIR O FUNDAMENTALISMO DE BOLSONARO, POR LUIS NASSIF


Aliás, o pecado fatal de Bolsonaro não é acreditar no terraplanismo, mas em Paulo Guedes.
Trata-se do mais expressivo depoimento de autoridade econômica de que tenho notícia, uma transparência ingenuamente exemplar, comprovando que a prioridade de Paulo Guedes jamais foi a de tirar o país da recessão, mas valer-se da destruição criadora da economia para impor suas preferências ideológicas..
Os desdobramento da recessão estão aí, aos olhos de todos: índices explosivos de desemprego e desalento, crescimento não apenas da economia informal mas do poder econômico das organizações criminosas, ampliação do ódio, exacerbação da intolerância, e todos os sintomas das doenças graves que germinam em economias sem perspectiva. No plano político, queda acentuada de popularidade do governo, crise fiscal, desmantelamento da educação, saude, meio ambiente.
Mas o que diz o ilustre neto do ilustre Campos
1. O avião tem duas turbinas, uma do setor público, outra do setor privado. Queremos parar a turbina do setor público para o setor privado ocupar o espaço.
2. Aí descobrimos que a recessão é decorrente da paralisação da turbina do setor público.
3. Mas, em vez de reativar os gastos públicos, vamos manter o aperto, manter as taxas reais de juros elevadas porque a maneira do setor privado ocupar o espaço público é ter segurança no desemprenho futuro da inflação. Se houver confiança, automaticamente o capital privado ocupará o espaço do setor público.
E emendo: se o avião cair, Bolsonaro que se vire.
Ou seja, tenho o diagnóstico sobre a crise, o caminho óbvio para destravar a economia – aumentando os gastos públicos -, mas vou manter tudo onde está porque meu objetivo final não é recuperar a economia, mas tirar o Estado definitivamente do jogo.
Qual o mérito da entrevista de Campos Neto? Expor de maneira crua a irresponsabilidade e os objetivos finais do modelo Guedes. Guedes não está minimamente interessado em recuperar a economia. Seu objetivo final é aproveitar a crise para destruir da maneira mais rápida o “inimigo”, o Estado. Pouco importa o custo econômico, social e político.
Aliás, o pecado fatal de Bolsonaro não é acreditar no terraplanismo, mas em Paulo Guedes. Seu governo será abreviado pelas estratégias de Guedes que, ao final, voltará para seu habitat, o mercado. E é até possível que, nas noites mais alegres, conte histórias escabrosas sobre a maneira como engabelou um presidente fundamentalista e e fundamentalmente ignorante.
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GGN

terça-feira, 4 de junho de 2019

DEZ TRUQUES DO MERCADO PARA JUSTIFICAR O FRACASSO DE SUAS POLÍTICAS, POR LUIS NASSIF

O mesmo ocorrerá com a reforma da Previdência. O Congresso vai entregar uma parte da reforma e a economia continuará em profunda recessão. A alegação futura do mercado será a de que a reforma não foi suficientemente radical.
Para Platão, os sofistas rejeitavam a verdade e relativizavam a realidade resumindo o universo a partir, somente, de seus aspectos fenomenais.
Truque 1 – o conceito de interesse nacional.
Trate como antinacional toda medida econômica que não beneficie seu grupo. Esse truque existe desde a República Velha. O custo das políticas de sustentação do café era tratado como benefício para o país. O custo de políticas econômicas para outras regiões, como sendo contra o interesse nacional.
Truque 2 – o conceito de populismo.
Com todos seus equívocos, a vantagem da democracia é permitir que o interesse geral se sobreponha aos interesses particulares. É a única força que induz governantes a implementarem políticas universais em áreas essenciais.
Historicamente, populismo se referia a medidas de alcance imediato visando conquistar eleitores, sem nenhuma preocupação com a construção do futuro.
Com o tempo, todas os recursos que voltam ao cidadão, na forma de serviços, mesmo os essenciais, passaram a ser tratados como populismo.
O ápice dessa manipulação foi o brilhantíssimo ex-Ministro da Educação Cristovam Buarque afirmando que Lula abriu inúmeras universidades federais com propósitos eleitorais.
Truque 3 – o sucesso e o truque da defasagem.
Um governante adota uma série de medidas desastrosas, que impede a economia de crescer. Entra outro governante que toma uma série de medidas reativando a economia. O discurso passa a ser que o primeiro se sacrificou, trabalhando com responsabilidade, para que o segundo levasse a fama.
É histórico. Campos Salles renegociou a dívida externa brasileira, irresponsavelmente ampliada por Ruy Barbosa, em condições ultrajantes. Com o país quebrado e, portanto, em condições de negociar deságios, aceitou todas as imposições da Casa Rotschild. E ainda levou na comitiva de beija-mão jornalistas que reportaram os elogios do banqueiro à seriedade do futuro presidente. Ou seja, no seu beija-mão a Donald Trump, Bolsonaro teve antecedentes ilustres.
Depois, Rodrigues Alves fez um governo vitorioso. A história, segundo o mercado, foi de que a virtude maior foi de Campos Salles, preparando o terreno para seu sucessor.
Do mesmo modo, Fernando Henrique Cardoso implementou uma política monetária ruinosa, que jogou o nível de endividamento público e privado nas nuvens, provocou a estagnação da economia, comprometeu o ganho de mercado obtido com a estabilização da moeda. No período em que adotou uma política econômica pró-ativa, Lula conseguiu índices de crescimento inéditos, em plena crise global.
Mas o sucesso de Lula é atribuído ao trabalho prévio de FHC.
Truque 4 – o fracasso e o truque da defasagem
O segundo governo Dilma Rousseff foi um desastre. O pacote Joaquim Levy afundou ainda mais a economia, quebrou as pernas políticas do governo que, a partir dali, foi sufocado pelas pautas-bombas do Congresso. Ponto.
Entre Henrique Meirelles, pelo governo Temer, Paulo Guedes, pelo governo Bolsonaro, e mantem as mesmas políticas restritivas anteriores. Ou seja, tudo passou a ser de sua estrita responsabilidade, mesmo tendo apoio expressivo do Congresso.
Depois de quedas do PIB, a recuperação costuma ser rápida, porque há capacidade instalada a ser ocupada. No entanto, até hoje não ocorreu a recuperação da economia brasileira, configurando o mais longo período sem recuperação da história.
Mas a culpa continua sendo da Dilma.
Truque 5 – o golpe da lição de casa.
Foi aplicado sistematicamente, de Pedro Malan a Henrique Meirelles, com a contribuição luxuosa de Antônio Palocci e Joaquim Levy.
Consiste em impor um conjunto de medidas amargas – para os outros -, acenando com o pote de ouro no final do arco íris. Se tirar o leite das crianças, a aposentadoria dos idosos, se reduzir os direitos trabalhistas, se reduzir os gastos com saude e educação, a economia voltará a ser pujante e todos ganharão.
Começa o ano com tais promessas. Chega-se ao final com os sacrifícios impostos e nada de aparecer o pote de ouro. Alega-se, então, que o sacrifício foi insuficiente e toca a apertar mais ainda o torniquete em cima da rapa.
Como garantia o sábio Ministro Luis Roberto Barroso: se a legislação trabalhista tirar os torniquetes sobre as empresas, haverá abundância de emprego. Mudam-se as regras, o emprego cai por conta da recessão e a informalidade explode, por conta da nova legislação.
Truque 6 – o golpe do fim do mundo.
Utilizado desde tempos imemoriais. Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil. Ou o Brasil acaba com esses velhinhos que sugam a Previdência, ou esses malandros que teimam em ficar doentes para conseguir o auxílio-doença, ou eles acabam com o Brasil.
Imposto sobre grandes fortunas? Não, porque é de difícil aplicação. Sobre ganhos financeiros? Não, porque irá desestimular os investimentos. Contenção da engenharia fiscal dos grandes grupos? Não, porque embotará o empreendedorismo.
Truque 7 – a impossibilidade do impossível
Analise-se o pacote Joaquim Levy-Dilma. Aplicou simultaneamente choque tarifário, choque monetário, restrição de crédito, corte drástico de despesas prometendo a quadratura do círculo: se cortar toda a demanda, haverá o equilíbrio fiscal e instantaneamente os investimentos voltarão para a economia.
O resultado óbvio seria: se cortar toda a demanda, com a economia em queda, acelerará a queda do consumo. Com isso não haverá a volta do investimento, mas a queda vertiginosa da atividade econômica.
Alegação do mercado: o ajuste não foi suficientemente severo.
O mesmo ocorrerá com a reforma da Previdência. O Congresso vai entregar uma parte da reforma e a economia continuará em profunda recessão. A alegação futura do mercado será a de que a reforma não foi suficientemente radical.
Truque 8 – o truque do denominador
O país tem uma receita fiscal de 100 e uma dívida pública de 50. Aí, implemento uma política recessiva que derruba a receita em 10%. E uma política de juros que custa 6% ao ano. Mantidos todos os demais fatores, em apenas dois anos a relação dívida/PIB passará de 50/100 = 50% para 56/90 = 62%. Mas, aí, explico que a culpa do déficit foi das despesas.
É o que acontece com todos os cálculos de déficit primário e déficit da previdência. O déficit seria menor se as políticas econômicas não tivessem derrubado a receita.
Truque 9 – o truque da relação causal no déficit
É primo irmão do Truque 7. O país tem 100 de receita e 100 de despesa primária, portanto orçamento primário equilibrado. Aí derruba a receita que cai para 90. As despesas continuam as mesmas. Dir-se-á que a causa do desequilíbrio são as despesas.
Truque 10 – o golpe da identidade contábil
Os manuais de economia costumam recorrer a identidades contábeis para medir os fatores econômicos. Uma das identidades consiste em estimar que o gasto privado corresponde ao total produzido, menos o gasto público. É apenas uma medida.
Por ser apenas uma conta não leva em consideração, por exemplo, que gasto público significa ganho privado. Se o governo paga salários, ou contrata serviços, ou adquire bens, esse dinheiro será injeção na veia das empresas privadas, que produzem bens de consumo, bens de investimento e serviços. Se corta o gasto público, automaticamente diminui a renda privada.
Mas os cabeções sacam impavidamente a identidade contábil e garantem que bastará cortar o gastos público para o lugar ser imediatamente ocupado pelo setor privado.
Truque 11 – a falsa eficiência
Parte do pressuposto de que se um gasto é mal aplicado, basta corta-lo para melhorar a eficiência do serviço. O SUS (Sistema Único de Saúde) é um milagre brasileiro, porque consegue determinado nível de universalização pagando merreca pelos procedimentos médicos. A lógica dos cabeções é simples. O aumento da eficiência de qualquer serviço, especialmente os serviços públicos, depende de modelos gerenciais, implementação eficiente, criação de indicadores. Para os cabeções a lógica é outra. Se um serviço não é suficientemente eficiente, basta reduzir seu orçamento que a eficiência aparece.
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GGN

sexta-feira, 31 de maio de 2019

O PIBINHO DE PAULO GUEDES, POR LUIS NASSIF

Em pouco tempo, comandando o superministério que lhe foi conferido, Guedes conseguiu jogar fora até os 6 meses de bônus que acompanha todo início de governo.
O PIB do 1º trimestre é responsabilidade total de Paulo Guedes, o Ministro da Economia. Em pouco tempo, comandando o superministério que lhe foi conferido, Guedes conseguiu jogar fora até os 6 meses de bônus que acompanha todo início de governo.
Os dados divulgados pelo IBGE mostram uma queda de 0,5 ponto no PIB estimado do trimestre. Os setores que subiram têm pouca repercussão no PIB. Os que caíram, tem muita: indústria extrativa, de transformação e de construção.
O quadro é pior quando se compara com os dados do país pré-crise. Em relação ao 1º trimestre de 2014, há uma redução de 5% no PIB, 3,1% no consumo das famílias, 1,3% no consumo do governo e de trágicos 27,8% da Formação Bruta de Capital Fixo.
Entre as maiores quedas, há 31,4% na construção, 13,7% na indústria de transformação, 12,9% na indústria total.

Não há o menor sinal da vida da parte de Paulo Guedes, mesmo se estando a poucos meses de um apagão nas contas públicas – amarradas pela Lei do Teto.
Está semana, um grupo de empresários esteve com Carlos Costa, o preposto de Guedes para o que era o Ministério de Desenvolvimento, Investimento e Comércio Exterior. Pediram planos, novidades, alguma iniciativa visando estimular a indústria. A resposta foi que Guedes colocou toda a responsabilidade nas costas do Banco Central, e não quer nenhum subordinado interferindo no assunto.
O BC não toma nenhuma medida para destravar o mercado de crédito, para conter os spreads, que estão em alta, para limpar o nome dos milhões de consumidores jogados no limbo por uma crise sistêmica.
A gestão de política econômica, assim como de uma empresa, não pode se restringir à Tesouraria: a fixação exclusiva no déficit público. Guedes se comporta como o cirurgião que leu os livros sobre o corpo humano, mas só sabe utilizar antibióticos. Ante qualquer outra restrição trava e fica esperando a pneumonia – a frustração da reforma da Previdência – para recorrer aos antibióticos.
Há algumas decisões que exigem o enfrentamento dos próprios fantasmas, que seria o caso de gastos públicos em investimento, seja pela venda de parte das reservas ou pela autorização para uma aumento da dívida pública.
]Há os bancos públicos podendo estimular a oferta de crédito e a redução dos spreads bancários. Ou então, montar um programa nacional para resolver a questão da inadimplência e das restrições de crédito de pessoas físicas e jurídicas.
Mas Guedes não veio para resolver problemas, e sim para se esconder atrás de bordões ideológicos.
É incapaz de acelerar os programas de concessões, as PPPs, menos ainda  criar frentes de trabalho para contornar um desemprego desesperador.
As decisões de investimento não dependem apenas da maior ou menor rigidez fiscal de um país. Dependem de demanda, da confiança na estabilidade política e social, da crença na vocação de crescimento, nas redes de apoio aos desassistidos sabendo que, sem elas, haverá o crescimento exponencial da criminalidade, em um  país já dirigido por um aliado de organizações criminosas.
Mas não se exija de Guedes nenhum pensamento mais sofisticado sobre ambientes econômicos, políticos e sociais adequados para o desenvolvimento.
Em algum momento, cairá a ficha do próprio Bolsonaro sobre os riscos políticos provocados pela incapacidade abismal de Guedes de tomar qualquer atitude pro ativa.
GGN

segunda-feira, 15 de abril de 2019

FORAM OS ECONOMISTAS, NÃO OS BOLSOMINIONS, QUE ATROPELARAM A RAZÃO, POR LUIS NASSIF

Grandes grupos nacionais naufragaram com CEOs genéricos, da Sadia à BRF, o Unibanco e, agora, a Vale do Rio Doce. E, no plano internacional, a desmoralização do modelo de gestão do pai de todos os genéricos, Jorge Paulo Lehman.
Tenho escrito alguns artigos sobre a praga do CEO genérico – o sujeito que só trabalha em cima do conceito de corte de custos e de aumento da rentabilidade da empresa no curto prazo.
Grandes grupos nacionais naufragaram com esses tipos, da Sadia à BRF (a tempo, os sócios trocaram um genérico por um do setor), o Unibanco e, agora, a Vale do Rio Doce. E, no plano internacional, a desmoralização do modelo de gestão do pai de todos os genéricos, Jorge Paulo Lehman.
O universo de uma empresa passa por inovação, segurança, desenvolvimento de novos produtos, atenção às mudanças no mercado. Mas o CEO genérico é focado exclusivamente na busca de resultados de curto prazo. O que importa é a distribuição de bônus a cada trimestre e o corte de custos.
Narrei aqui o deslumbramento de executivos da Sadia, quando o conselheiro Vicente Falconi descobriu um método de economizar água na lavagem dos uniformes; ao mesmo tempo em que se descuidava de uma norma básica de gestão: o departamento incumbido de analisar riscos de operações financeiras estava diretamente subordinado ao diretor financeiro, incumbido de correr riscos de operações financeiras. A Sadia quebrou, mesmo economizando a água da lavagem dos uniformes. Assim como no setor público, é o Executivo maior que dá a orientação geral, o enfoque a ser seguido pelos subordinados. Quando o enfoque é unicamente melhorar a rentabilidade, a empresa mata seu futuro; como mataria se o enfoque fosse o de aumentar os preços a qualquer custo.
Quando se subordina toda política econômica ao Ministro da Fazenda, o resultado é o mesmo. A partir de Paulo Haddad (o último Ministro da Fazenda com conhecimento do funcionamento da economia real), nenhum dos Ministros posteriores tinha a menor noção sobre a relevância das políticas científico-tecnológicas, do apoio à pequena e micro empresa, dos programas de treinamento profissional do sistema S, das estratégias comerciais, dos modelos de financiamento de longo prazo, do impacto do câmbio apreciado sobre a atividade industrial.
E sequer sobre as correlações entre os setores da economia. Por conta da preponderância massacrante da análise econômica de mercado, o Brasil criou uma ciência econômica aplicada tão irracional quanto os argumentos de bolsonaristas nas redes sociais. Assim como o CEO genérico, o analista de mercado quer saber apenas a influência dos eventos econômicos sobre as cotações de mercado.
O jogo do micro preto
Montou-se um jogo perverso, no qual os grandes gestores criam questões ilusórias para provocar a alta dos mercados. Por exemplo, se a reforma da Previdência for aprovada, o mercado explode. Aí, com a ajuda preciosa do jornalismo econômico-financeiro, vai alimentando as expectativas. Se um fenômeno internacional provoca a alta do dólar, eles explicam que ela se deveu ao menor esforço do governo em aprovar a reforma. E vai-se em frente com um jornalismo subdesenvolvido.
Quando está perto do fato (ou da aprovação ou rejeição da reforma), o primeiro time vende seus ativos no pico e começa a alimentar o discurso negativo. O mercado despenca e o jogo recomeça. E para onde eles vão, a mídia vai atrás.
Nesse loucura, perdeu-se qualquer noção de correlação econômica.
A ciência-demência da economia
A melhor definição para o jogo de manipulação da ciência foi Olavo de Carvalho, em um artigo dos anos 90 intitulado “Ciência e Demência”.
Dizia ele que o intelectual se torna respeitado e conhecido devido a uma determinada teoria que abraçou. A teoria se torna tudo para ele, seu ganha pão, sua fonte de prestígio. Aí, ele começa a observar a realidade, e o que vê na bate com a teoria que aprendeu. Mas, como ele é um intelectual, ele desenvolve uma nova teoria para provar que aquilo que ele está vendo não existe.
Desde que comecei a questionar dogmas acadêmicos, ainda nos anos 80, me surpreendia com esse padrão de auto-defesa de escolas acadêmicas.
Lembro de uma defesa da indústria nacional infante, e o economista amigo me fuzilando: “Você se tornou um mercantilista!”. E eu apenas queria ver a solução de um problema da industrialização brasileira. Ou, fazendo a defesa do mercado de capitais como forma de reciclar, para a economia real a acumulação financeira do período anterior. “Você se tornou um neoliberal!”.
Esse conjunto de slogans em nada fica a dever ao padrão de argumentação dos bolsominios no Twitter. Na verdade, a perda de foco na análise dos fatos foi uma praga antiluminista que atingiu todos os setores das ciências humanas, da economia ao direito – nesse campo, o maior estimulador desse antirracionalismo foi o Ministério Luis Roberto Barroso, do STF, tornando a decisão jurídica uma interpretação aleatória do que supostamente pensa a opinião pública.
O melhor exemplo da ciência-demência foi fornecido, recentemente, por Edmar Bacha, em um artigo em que tentava rebater argumentos de André Lara Resende sobre gastos públicos.
Bacha pegou um tema específico: o peso dos juros no déficit público nominal (deficit primário +  juros). Disse que não era 7,5%, mas 3,5%, “logo, os juros têm que seguir abaixo da expectativa de crescimento do PIB”.
Qual a relação de causalidade? Nenhuma. Mas o argumento tornou-se padrão e Bacha se vê autorizado a repetir em qualquer ambiente.
O grande Dionísio Dias Carneiro, economista neoclássico, lá pelos anos 90 definiu bem o novo jogo que se armava, em torno da era das planilhas eletrônicas:
O jovem economista junta duas séries, sem nenhuma correlação, e tira conclusões taxativas sobre elas.
É o que ocorre nas políticas de estímulo à demanda. A raiz de todos os males atuais está na queda da demanda: queda de emprego e de renda, endividamento das empresas e famílias, queda da arrecadação fiscal, inviabilização das concessões rodoviárias e de aeroportos – obviamente com a contribuição fundamental da Lava Jato, destruindo a engenharia nacional.
No entanto, todas as soluções apresentadas passam por restrições de demanda visando criar um suposto choque de expectativas positivas. Se o empresário acreditar que a reforma da Previdência será bem sucedida, ele voltará a investir. Mesmo que todas as decisões tenham sido no sentido de contrair ainda mais a demanda.
Mas vender para quem? E a troco de quê investir se a crise gerou capacidade ociosa? 
Analise no gráfico o conjunto de medidas tomadas desde Joaquim Levy com a intenção de recuperar a demanda:
elevação da taxa real de juros – antidemanda;
corte drástico nos gastos – antidemanda
PEC do teto – antidemanda
redução dos programas sociais – antidemanda
travamento do crédito – antidemanda
esvaziamento do BNDES – antidemanda.
É evidente que há limites para os gastos públicos. Mas esses limites são dados pelo nível de preços ou pelas contas externas. Se uma economia está bombando, a receita fiscal também estará bombando, o nível de desemprego está caindo, a renda está subindo. Chega um momento em que poderá ocorrer um super-aquecimento, gerando inflação.
Justamente por isso, a política econômica é muito mais arte do que ciência, muito mais conhecimento do mundo real – isto é, da maneira como os agentes econômicos irão reagir às decisões de política econômica – do que as suposições contidas nos manuais. Qual a dosagem ideal de aumento nos gastos públicos que provoque um aumento da receita fiscal superior ao gastos efetuado? Não há manual que resolva essa questão. Mas qualquer norma de bom senso, qualquer análise dos fundamentos da economia, sabe que, quando a economia cai, cortes fiscais aceleram ainda mais a queda. Nem essa lição básica a política econômica brasileira aprendeu. É por isso que todo ano começa com uma projeção de crescimento que vai se diluindo à medida em que o tempo passa. A fé move montanhas, mas não ressuscita PIB fuzilado pela política econômica.
O Brasil tornou-se uma sociedade irracional. E a culpa não foi dos Bolsonaro. Eles apenas saíram às ruas, quando uma suposta elite intelectual abriu as portas das jaulas.
GGN