Em conversa
interceptada pela Polícia Federal, o jornalista Reinaldo Azevedo dialoga com
Andrea Neves, irmã do senador afastado Aécio Neves, e classifica uma reportagem
da revista Veja, onde trabalha, como "nojenta"; ele se referia à
edição que trouxe Aécio na capa; no mesmo diálogo, ele também critica o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot; assim que a conversa foi
divulgada, Reinaldo pediu demissão de Veja e disse que o grampo violou um dos
pilares da democracia, que é o sigilo entre jornalistas e suas fontes: "Há
uma agressão a uma das garantias que tem a profissão. A menos que um crime
esteja sendo cometido, o sigilo da conversa de um jornalista com sua fonte é um
dos pilares do jornalismo", escreveu, em resposta ao portal BuzzFeed.
O jornalista
Reinaldo Azevedo teve uma conversa com Andrea Neves, irmã do senador afastado
Aécio Neves, interceptada pela Polícia Federal, informa o portal BuzzFeed. O assunto tratado são as acusações
contra Aécio contidas na delação da Odebrecht.
No diálogo,
ele classificou uma reportagem da revista Veja, onde trabalha, como
"nojenta". Ele se referia à edição que trouxe Aécio na capa, com o
título "A vez de Aécio", que traz a acusação do empresário Alexandre
Accioly, dono da academia Bodytech, de que emprestou uma conta em Cingapura
para Aécio receber propina da Odebrecht.
"Aí
aparece uma história maluca, que já tinha aparecido um mês atrás mais ou menos
naquele site BuzzFeed, dessa conta do Accioly em Cingapura. Que era, em
tese, o mesmo dinheiro da minha em Nova York, que é o tal dinheiro da [usina]
Santo Antônio. É essa coisa mágica, que ninguém consegue explicar, porque que o
Aécio poderia ganhar uma bolada desse tamanho numa obra que é do governo
federal. [...]", comenta Andrea na conversa.
Reinaldo
criticou também o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Ele dizia
que o Janot atacava Aécio por supostas pretensões de se candidatar ao governo
de Minas Gerais ou ao Senado.
Assim que a
conversa foi divulgada, o colunista pediu demissão de Veja e disse que o grampo
violou um dos pilares da democracia, que é o sigilo entre jornalistas e suas
fontes.
"Há uma
agressão a uma das garantias que tem a profissão. A menos que um crime esteja
sendo cometido, o sigilo da conversa de um jornalista com sua fonte é um dos
pilares do jornalismo", escreveu.
"A PF
não considerou indícios de crimes na conversa realizada entre o jornalista e
sua fonte, Andrea Neves. Mesmo assim, as gravações foram anexadas pela
Procuradoria-Geral da República ao conjunto de áudios anexados ao inquérito que
provocou o afastamento de Aécio e a prisão da irmã", diz a reportagem do
BuzzFeed.
Leia aqui o diálogo gravado e confira a íntegra da
resposta de Reinaldo:
"Pela
ordem:
Comecemos
pelas consequências.
Pedi
demissão da VEJA. Na verdade, temos um contrato, que está sendo rompido a meu
pedido. E a direção da revista concordou.
1: não sou
investigado;
2: a
transcrição da conversa privada, entre jornalista e sua fonte, não guarda
relação com o objeto da investigação;
3: tornar
público esse tipo de conversa é só uma maneira de intimidar jornalistas;
4: como
Andrea e Aécio são minhas fontes, achei, num primeiro momento, que pudessem
fazer isso; depois, pensei que seria de tal sorte absurdo que não aconteceria;
5: mas me
ocorreu em seguida: "se estimulam que se grave ilegalmente o presidente,
por que não fariam isso com um jornalista que é critico ao trabalho da patota.
6: em
qualquer democracia do mundo, a divulgação da conversa de um jornalista com sua
fonte seria considerado um escândalo. Por aqui, não.
7: tratem,
senhores jornalistas, de só falar bem da Lava Jato, de incensar seus
comandantes.
8: Andrea
estava grampeada, eu não. A divulgação dessa conversa me tem como foco, não a
ela;
9: Bem, o
blog está fora da VEJA. Se conseguir hospedá-lo em algum outro lugar, vocês
ficarão sabendo.
10: O que se
tem aí caracteriza um estado policial. Uma garantia constitucional de um
indivíduo está sendo agredida por algo que nada tem a ver com a investigação;
11: e também
há uma agressão a uma das garantias que tem a profissão. A menos que um crime
esteja sendo cometido, o sigilo da conversa de um jornalista com sua fonte é um
dos pilares do jornalismo".
Com
informações do 247