quarta-feira, 20 de julho de 2022

DIRETOR DE ÁREA DA CAIXA LIGADA AO ESCÂNDALO DE ASSÉDIO É ENCONTRADO MORTO

Sérgio Faustino Batista tem relação direta com o escândalo de assédio que envolve o banco – FOTO DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO.

Nesta terça-feira (19), Sérgio Ricardo Faustino Batista, diretor de Controles Internos e Integridade da Caixa, foi encontrado morto no edifício-sede do banco, na região central de Brasília. Apurações preliminares indicam tratar-se de suicídio.

O corpo foi encontrado na área externa do prédio por vigilantes que estavam de plantão. A ocorrência foi registrada pela Polícia Civil do Distrito Federal. A tragédia chama atenção porque a diretoria de Sérgio Faustino Batista tem relação direta com o escândalo de assédio que envolve o banco. 

Desde 2019, mais de nove ofícios relatando episódios de assédio e de intimidação contra servidores que ocupam cargos de gestores foram enviados à direção da Caixa. Nada foi feito até o momento, segundo a entidade. O ex-presidente da instituição, Pedro Guimarães, caiu após a publicação das denúncias. Ele deixou o cargo em junho deste ano.

Transtornos de ansiedade, depressão e síndrome de burnout seriam algumas das doenças desenvolvidas por funcionários em razão do suposto modelo de gestão adotado por algumas unidades da Caixa.

O diretor morto tinha 54 anos e seguiu no cargo mesmo após a mudança na presidência da Caixa. Ele assumiu o posto há pouco mais de seis meses. Funcionário de carreira, antes ele havia integrado a equipe que assessorava diretamente o gabinete de Pedro Guimarães.

DCM.

segunda-feira, 18 de julho de 2022

BOLSONARO IGNORA TCU E FECHA CONTRATO SUSPEITO DE R$ 450 MILHÕES EM LICITAÇÃO

O presidente Jair Bolsonaro em foto divulgada nas redes sociais – Reprodução/Instagram.

A Secretaria Especial de Comunicação do governo de Jair Bolsonaro passou por cima de uma investigação do TCU (Tribunal de Contas da União) e fechou contrato de R$ 450 milhões em uma licitação que estava sob apuração da corte por suspeita de favorecimento à empresa vencedora.

O ministro Weder de Oliveira, relator do caso no TCU, havia pedido a suspensão da licitação em que a Calia/Y2 Propaganda e Marketing teve as melhores notas para realizar serviços de publicidade sobre ações do governo.

A medida cautelar para interromper o processo havia sido tomada por Oliveira no último dia 15 de junho para que os indícios de irregularidades fossem apurados pelo tribunal com maior profundidade e que eventuais danos ao processo fossem evitados.

Porém, no dia 21 seguinte, véspera da sessão plenária em que a decisão seria submetida para confirmação ou não pelos demais integrantes do tribunal, representantes da Secom solicitaram reunião de urgência no gabinete do ministro a pedido da AGU (Advocacia-Geral da União), na qual lhe foi informado que o contrato já havia sido firmado no dia 25 de maio.

Nestes casos, não é possível aplicar multa ao órgão por descumprimento da medida porque a finalização da licitação aconteceu quando o tribunal ainda estava analisando as informações recebidas para então decidir se manteria ou não a suspensão do processo. Na sessão plenária, o ministro se queixou da atitude do governo. Disse que a Secom se omitiu por quase um mês em dar essa informação ao TCU, deixando que a Selog (Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas), unidade encarregada da instrução processual do tribunal, concluísse sua instrução sem estas informações.

A Secom sabia desde o dia 9 de maio que o certame estava sendo questionado pelo tribunal, mas não forneceu este dado ao processo durante as oitivas do TCU. O ministro acrescentou que tal “conduta reprovável não é usual, mas não é a primeira vez que ocorre”. Ele disse que, em outras oportunidades, outros relatores do TCU já reportaram situações análogas.

DCM

segunda-feira, 4 de julho de 2022

Movimentos e parlamentares buscam caminhos para evitar despejos em massa após as eleições

Remoções forçadas estão suspensas até 31 de outubro; alternativas ainda precisam ser elaboradas.

Gabriela Moncau Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

De acordo com a Campanha Despejo Zero, entre as pessoas ameaçadas de despejo no país, 97 mil são crianças e 95 mil idosos - Lucas Martins

Até 31 de outubro, de acordo com decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso formalizada na última quinta-feira (30), as remoções forçadas estão proibidas no Brasil. No documento, o magistrado argumentou que o país vive nova tendência de alta nos índices de mortes e contaminações da pandemia de covid-19. 

Comemorada como um fôlego diante do cenário de 569.540 de pessoas no país que, de acordo com a Campanha Despejo Zero, estão ameaçadas de perderem suas casas, ativistas ouvidos pelo Brasil de Fato avaliam que a decisão de Barroso se amparou, também, na intenção de evitar uma “convulsão social” num contexto de crise socioeconômica às vésperas das eleições. 

A prorrogação da suspensão das remoções forçadas ainda será julgada pelo conjunto do plenário do STF em audiência extraordinária, marcada para os dias 4 e 5 de agosto. A expectativa é que a maioria dos ministros acompanhem o voto do relator. 

Ainda que o façam, no entanto, fato é que a vigência da suspensão - tomada no âmbito da ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 828 e prorrogada três vezes - em algum momento vai acabar.  

“Com a progressiva superação da crise sanitária, os limites da jurisdição deste relator se esgotarão”, alertou Barroso na decisão. “Por isso, será preciso estabelecer um regime de transição para a retomada da execução das decisões suspensas por esta ação”, aponta o ministro. 

Propostas legislativas e um calendário de ações conjuntas entre movimentos sociais rurais e urbanos estão sendo preparados para tentar evitar que, passado o pleito, 142.385 mil famílias percam o teto em um contexto de alta da fome e da população em situação de rua.  

"Transição" 

Irene Maestro, ativista do movimento Luta Popular, destaca que a transição mencionada por Barroso indica uma avaliação de que “um processo massivo de despejos pode levar a um acirramento dos conflitos sociais”.  

Além de iniciativas legislativas em âmbitos estaduais e municipais, no Congresso Nacional estão tramitando dois Projetos de Lei (PL) sobre o tema. O PL 1718/2022, do senador Paulo Paim (PT-RS) prevê a proibição das remoções até 31 de março de 2023. O PL 1501/2022, da deputada federal Natália Bonavides (PT-RN), propõe procedimentos de permanência de famílias ameaçadas de despejo no território onde estão ou que entes da federação promovam políticas públicas para garantir, de forma alternativa, o direito à moradia.  

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) está preparando um ato normativo com protocolos mínimos para a realização de despejos. Procurado pelo Brasil de Fato, o órgão informou que a resolução será levada ao plenário no segundo semestre e que entre as propostas está a implantação, nos tribunais, do Grupo de Apoio à Solução Pacífica das Ações de Reintegrações de Posse (Gaspar).  

Sinuca de bico 

“A nosso ver, o principal é a garantia da proteção do direito das famílias, evitando os despejos, as violações e uma situação de agravamento das condições de pobreza”, salienta Irene, ao complementar que é preciso que o poder executivo se responsabilize por políticas públicas que atendam essa demanda. 

“Acontece que os poderes públicos municipais geralmente não têm políticas específicas que não estejam apoiadas em políticas estruturadas a nível federal. Mas durante o governo federal foi desconstruída a já insuficiente, problemática e contraditória política habitacional que existia nos governos anteriores”, afirma. “A realidade é que tem mesmo uma sinuca de bico para a construção de alternativas”, resume. 

“O fato é que as ocupações têm sido a construção dessa solução. São a retomada das terras que estão a serviço da especulação ou de grandes latifundiários rurais ou urbanos para construir bairros onde as pessoas tenham garantidas condições de vida dignas”, define Irene Maestro. 

Luta contra o tempo 

De acordo com Kelli Maffort, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), um calendário de lutas está sendo organizado. “O 25 de julho é uma data importante do trabalhador e trabalhadora rural, vamos fazer ações de solidariedade contra a fome, e além disso estamos em alerta sobre o 7 de setembro”, ilustra Maffort. Em sua visão, a data deve ser “para discutir um projeto de país e também o que significam os 200 anos desta suposta independência. É importante que a gente esteja alerta em relação às ameaças de golpe que estão em torno dessa data”. 

Lembrando das milhares de pessoas que foram às ruas em dezenas de cidades pelo despejo zero nos dias 17 de março e 21 de junho deste ano, Irene defende a importância de, até outubro, potencializar a unidade já construída entre os movimentos.  

“É uma base social muito precarizada, espoliada, que é quem mais sofre não só os impactos da pandemia em si, mas da crise econômica que se agravou nos últimos anos”, descreve Maestro. “E que tem um potencial explosivo para fazer ações inclusive mais radicalizadas para botar no centro do debate público o problema da moradia, que é brutal e histórico no nosso país”. 

BdeF: Thalita Pires.