Mostrando postagens com marcador governo bolsonaro. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador governo bolsonaro. Mostrar todas as postagens

sábado, 17 de agosto de 2019

XADREZ DE BOLSONARO E O CONFRONTO FINAL COM AS INSTITUIÇÕES, POR LUIS NASSIF

Jair Bolsonaro se tornou uma jamanta sem freios em uma ladeira. A cada dia que passa vai acelerando, avançando todos os sinais, cometendo todas as impropriedades.
Jair Bolsonaro se tornou uma jamanta sem freios em uma ladeira. A cada dia que passa vai acelerando, avançando todos os sinais, cometendo todas as impropriedades.
Ele assumiu com uma estratégia óbvia de abrir espaço para a zona cinzenta da economia, terreno onde trafegou em todo seu tempo de deputado irrelevante.
A mediocridade com que atua vai expondo cada vez mais essa estratégia, deixando nítido a ameaça que representa.
Ao mesmo tempo, à medida em que é confrontado com o desafio de governar, se enreda nas contradições de seu governo, na falta de discernimento e de respostas, o que com que faz com que recorra cada vez mais ao seu repertório de escatologia e a intervenções indevidas em todos os campos do Estado.
Essa escalada acelerou enormemente a hora do confronto final com as instituições.
O governo Bolsonaro funda-se em três figuras públicas: Paulo Guedes e seu pretenso anarcoliberalismo; Sérgio Moro e a suposta bandeira anticorrupção; e Bolsonaro como avalista dos dois. Os três estão sob fogo cerrado.
É hora das instituições começarem a se preparar para o confronto final, que se dará em prazo muito menor que o previsto. Bolsonaro se transformou definitivamente em um risco para o país.
Peça 1 – o desmanche da economia
Não há a menor possibilidade de a economia se recuperar sob Paulo Guedes. Ele se move exclusivamente por uma ideologia manca, de pretender o fim do Estado em todas as frentes, sem apresentar uma política liberal consistente como alternativa.
A estratégia das expectativas sucessivas, em torno das reformas, já não surte efeito. As projeções de crescimento do PIB estão cada vez mais minguadas. A insistência cega em segurar os investimentos públicos e em acatar ferreamente a Lei do Teto ameaça paralisar o governo a partir do próximo mês. Seu único foco é o desmanche do Estado, a ponto de gastar parte do orçamento na compra de parlamentares, para aprovação da reforma da Previdência.
O único setor atendido é o mercado, com a expectativa de entrada de capital externo para fusões e aquisições, não para novos investimentos.
Peça 2 – agravamento da crise internacional
Há nuvens cinzas na economia internacional, com agravamento das guerras comerciais, retraimento das economias centrais, perda de dinamismo do comércio internacional.
De um lado se tem um comando econômico despreparado – Paulo Guedes e Roberto Campos, o Neto. De outro, um presidente desatinado, isolando o país do mundo e ameaçando as exportações brasileiras com o desmanche das políticas ambientais e da preservação da Amazônia.
Não se sabe quem é mais sem noção, se Bolsonaro agredindo os principais parceiros comerciais do Brasil, ou se Paulo Guedes não entendendo a complementariedade da economia argentina com a brasileira.
De qualquer modo, Guedes não conseguiu operar uma política anticíclica sequer com o quadro externo favorável. Em mar encapelado, ficará mais perdido ainda.E essa perda de rumo se acentuará com o isolamento do Brasil de todos os fóruns internacionais, da União Europeia ao Mercosul, e a subordinação cega a Donald Trump.
Peça 3 – a guerra contra as instituições
Bolsonaro abriu guerra contra praticamente todas as instituições, promovendo interferências inéditas especialmente nos órgão de fiscalização e investigação.
Já se indispôs com procuradores, ao desconsiderar a lista tríplice para a Procuradoria Geral da República; com a Polícia Federal, ao pretender intervir na superintendência do Rio de Janeiro e desqualificar um delegado exemplar; com a Receita Federal, com intervenções indevidas; e com o Supremo ao prometer um candidato “terrivelmente evangélico” e expor sua estratégia de sufocamento das instituições.
Nada indica que irá conter o ímpeto. À medida que os problemas se multipliquem, mais descontrolada será sua reação. E cada vez fica mais claro que as intervenções visam não apenas blindar Bolsonaro de operações suspeitas passadas, das ligações com milícias, mas também de operações em andamento, que guardam muito semelhança com as atividades do crime organizado.
Peça 4 – os riscos com o crime organizado
O crime organizado atua em áreas preferenciais para lavagem de dinheiro:
Tráfico de drogas.
Comércio de armas.
Controle territorial e venda de material para construção clandestina.
Mercado de lixo.
A área de maior expansão do crime organizado é o comércio ilegal de lixos tóxicos.
A expansão do comércio ilegal de lixo demanda locais com baixa fiscalização para descarte das cargas tóxicas de outros países, submetidos a legislações e fiscalizações mais rígidas. O envolvimento de empresários do lixo com o governo Bolsonaro, e o desmonte da fiscalização ambiental, cai como uma luva nesse acordo, podendo colocar o Brasil como local ideal para descarte de lixo tóxico.
Confira as seguintes matérias sobre o tema, que mostram como o Brasil caminha para se tornar a peça central de descarte de lixo tóxico, na cadeia internacional do lixo:
Por outro lado, tem-se um Ministro da Justiça, Sérgio Moro, subserviente a Bolsonaro, sem conhecimentos básicos sobre política de segurança e cego aos avanços do crime organizado na administração pública.
Além disso, o aprofundamento das analises do dossiê Intercept exporá definitivamente a hipocrisia do arco de abusos da Lava Jato, incluído aí o Ministro Luis Roberto Barroso e autoridades de tribunais superiores.
Peça 5 – o embate final
Uma visão míope do papel da regulação fez com que os primeiros movimentos de Bolsonaro fossem aplaudidos, como sinal de combate à burocracia. A cada dia fica mais nítido que a intenção de Guedes e Bolsonaro não é racionalizar os procedimentos burocráticos, mas abrir espaço para a zona cinzenta da economia.
Entende-se ai os embates com a Receita, o COAF, a Polícia Federal e o enquadramento da Procuradoria Geral da República.
Hoje em dia, há os seguintes setores ameaçados pelos desatinos de Bolsonaro-Guedes
O sistema científico-tecnológico. A interrupção das bolsas do CNPq provocará o êxodo imediato das principais vocações de cientistas brasileiros para o exterior.
A estrutura de universidades públicas, sendo desmontada por propósitos de negócio (Guedes) e ideológicos (o inacreditável Ministro da Educação).
As exportações do agronegócio, comprometidas pelas bazófias em relação ao meio ambiente.
As intervenções nos sistemas de controle.
E não há sinais de que Bolsonaro irá recuar.Nos próximos meses, casos Marielle, Queiroz, acordo de Itaipu ganharão espaço maior na mídia. Espera-se que, desta vez, não falte coragem e espírito público aos Ministros do Supremo Tribunal Federal.
Do GGN.

domingo, 2 de junho de 2019

UMA GRANDE MENTIRA AINDA SUSTENTA O GOVERNO BOLSONARO, POR JANIO DE FREITAS

Com a perspectiva cada vez mais clara do fracasso no crescimento, bolsonaristas do poder econômico começam a se assustar.
Bolsonaro entre os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (direita), e Senado, Davi Alcolumbre (esquerda). Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil.
O governo Bolsonaro, e outras estruturas de poder que lhe dão algum apoio, segue para a derrocada. O silêncio do eixo olavista dentro do governo, por toda a última semana, representa a primeira dissensão verdadeira “entre os generais reformados do governo e Bolsonaro”. Estas são avaliações de Janio de Freitas na coluna deste domingo (02), na Folha de S.Paulo.
Até antes da semana passada, a tolerância do presidente Bolsonaro em relação aos insultos de Olavo de Carvalho feitos contra os generais Villas Bôas, Santos Cruz, Hamilton Mourão e mesmo aos militares em geral era explícita. Nos últimos sete dias, porém, finalmente houve um silêncio por parte da trupe olavista, incluindo do próprio presidente.
“Não podendo ser um dos limitados à comunicação privada, Bolsonaro refluiu as suas provocações e a falta de senso, também como efeito das cobranças e conversas afinal mais responsáveis no Planalto”, destaca Janio.
“Passou a semana buscando eventos em que se mostrasse simpático, quis entrevistas, culminando com o espetáculo do enlace a que atraiu dois incautos”, completa o articulista se referindo ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, e ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Na terça-feira (28), o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, articulador do governo no Congresso, disse que os presidentes da República, Câmara, Senado e STF, após uma reunião, haviam concordado em assinar um pacto pela governabilidade do país. Mas ao longo da semana, a proposta gerou mal-estar entre os representantes dos poderes e seus representados.
“O primeiro [Dias Toffoli] não tem como comprometer por sua conta, em pactos ou no que seja, os demais magistrados do Supremo Tribunal Federal. Até os desvalorizou no tal pacto político com Bolsonaro em nome do tribunal. O outro [Rodrigo Maia], sonhando sempre com a Presidência, pensou subjugar às pretensões do Executivo a independência do Legislativo ditada pela Constituição. Ambos demonstraram mais presunção pessoal do que noção dos limites de suas funções”, analisa Janio.
O colunista pontua que o silêncio da trupe bolsonarista ligada à Olavo de Carvalho, cessando os ataques contra os militares, e o anúncio do Planalto em construir um pacto com os demais poderes, apenas buscaram “falsificar a índole do governo”. Mas, quando o cenário parecia apontar para a harmonização das forças, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, protagoniza episódios revelando o real caráter do governo bolsonarista: autoritário e néscio.
“A construção ou, no nosso caso, a salvação do regime medianamente democrático precisa de quem o defenda. À falta de oposição organizada e incisiva, estudantes coadjuvados por professores entregam-se com altivez a esse papel. Weintraub é quem os incita”, reforça Janio se referindo à última nota oficial publicada pelo MEC, no dia 30 de maio, ameaçando professores, estudantes e pais por participarem e divulgarem manifestações contra o governo.
Nesse cenário, Janio destaca a postura dos meios de comunicação. Todos “clamam sem cessar por melhor sistema de ensino, sua única ou maior bandeira de benefício com amplitude absoluta”, porém, ao mesmo tempo, “recorrem a métodos conhecidos para depreciar as manifestações contra o corte de 30% dos recursos do ensino superior público”.
“É o famoso tiro no pé. Há informações sobre esforços de organização para manifestações várias, já em junho, de outros segmentos prejudicados”, completa o articulista. A tendência de novos atos contra o governo, prossegue, “é o esperado de um país que se degringola”.
“Ao se completar apenas o quinto mês de governo, os 3% de crescimento neste ano, previstos antes da posse pelo novo ministro da Economia, já estão reduzidos à faixa do zero vírgula”, continua.
Enquanto isso, o governo e setores financeiros aponta as mudanças da Previdência como a grande chave para retomar o crescimento da economia. Nada mais descaradamente enganos que isso, dada a complexidade da economia.
“Estamos vivendo dentro de uma grande mentira. Não há sinal de que os militares do governo se inquietem além das bagunças da trupe bolsonara”, pontua Janio. Os bolsonaristas econômicos já começam a demonstrar preocupação.
“Por ora, pacificam-se na sua catedral, a Bolsa. Não falta muito, porém, para que se sintam premidos a liberar as palavras ainda retidas em ambientes restritos, como fizeram em ocasiões passadas. Sem que isso permita, necessariamente, vislumbrar uma saída saudável de dentro da grande mentira”, conclui Janio. Para ler sua coluna na íntegra, clique aqui.
Do GGN

NÃO É JUSTO, NÃO É DECENTE E NÃO É LEAL À CONSTITUIÇÃO!, POR EUGÊNIO ARAGÃO

"Entristeço-me com o pouco caso que se faz com o heroico apoio de forças democráticas ao STF, quando seu presidente pactua sorridentemente com aqueles que querem seu ocaso".
Participação de Toffoli em pacto conduzido por Bolsonaro gerou críticas de juristas que defenderam o STF de ataques de seguidores do presidente - Marcos Corrêa/PR.

O atual governo é chefiado por um cidadão que ganhou as eleições presidenciais na base da mentira, da agressão e da recusa de debater. Seus correligionários promoveram, ao longo de sua campanha, ataques virulentos ao Tribunal Superior Eleitoral, sua presidente e seus ministros. Colocaram sob suspeita a imparcialidade da Corte e sua capacidade de organizar um pleito sem fraudes. Depois, empossado Jair Bolsonaro, meteram-se – inclusive a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann – a pedir o fechamento do STF, a exigir o impedimento de seu presidente e, dentre outros, do ministro Gilmar Mendes. Acusaram-nos de corrupção, sem qualquer prova robusta e vilipendiaram a reputação do judiciário.
As forças democráticas do país reagiram de pronto na defesa das instituições. Juristas, esforçados em preservar a Constituição e o Estado Democrático de Direito, subscreveram documento de apoio à Corte Suprema e o entregaram solenemente a seu presidente, demonstrando repúdio aos ataques covardes dos que, circulando em torno do chefe do governo, queriam a destituição de seus magistrados.
Vemos com surpresa, agora, o mesmo presidente do STF, que foi atacado, aceitando “pactuar” com o cidadão eleito pelo engodo, comprometendo-se com a pauta mui controversa de seu governo. E ainda chamam isso de “Pacto Republicano”, quando o eleito não tem pejo de dizer que se sente feliz ao ver a Corte estar “de seu lado” e posa a fazer “coraçãozinho” com as mãos, juntamente com a mesma Joice Hasselmann que queria o fechamento do Supremo, ao lado… pasmem…! sim, do presidente do STF, tão arduamente defendido pelos juristas democratas!
O “elogio” do chefe de governo, a atribuir descaradamente parcialidade ao tribunal mais alto do país, não sofreu qualquer nota de crítica ou de desmentido por sua assessoria de comunicação social. Pelo contrário: no dia seguinte, a imprensa divulga amplamente a fotografia com um presidente do STF risonho em tal deplorável companhia. E, para não deixar dúvida de que a conversa com o presidente do país foi muito produtiva, anuncia-se a retirada de pauta da discussão, em controle concentrado de constitucionalidade, da descriminalização do uso de cannabis sativa – maconha – exigida por parte da sociedade e combatida pelo governo atual, em sua agenda conservadora e moralista.
Encerrada a peça de teatro de mau gosto, noticia-se, mais, que Jair Bolsonaro recebe visita do Corregedor Nacional de Justiça na companhia de seu filho investigado na justiça do Rio de Janeiro, senador Flávio Bolsonaro. Por certo, não para trocarem receitas de bolo ou para conversarem sobre como anda o tempo em Brasília.
Essas atitudes tornam inevitável, também, lembrar de episódio protagonizado pela ex-presidente do STF, em que, ao charlar com empresários num almoço, avisara que não pautaria as ações de controle concentrado sobre a extensão da presunção constitucional de inocência, porque o ex-presidente Lula “não deveria receber tratamento diferenciado”. A declaração assume renovado significado quando o juiz que o condenou sem provas, apenas por convicções,  se torna ministro da Justiça do governo do presidente que ficou feliz de ver a Corte Suprema “de seu lado”, ao mesmo tempo em que o relator de habeas corpus impetrado em favor de Lula no mesmo tribunal não vê razões para declarar a suspeição do juiz governista, mesmo diante de tanta evidência de parcialidade.
Lembremos que o ex-presidente Lula, prospectivamente vencedor das eleições presidenciais de acordo com todas as pesquisas de voto, foi impedido delas participar pelo TSE, única causa que permitiu Jair Bolsonaro ser vitorioso e nomear ministro de estado, o juiz que condenou seu adversário, para excluí-lo do pleito.
O que pensar desse imbroglio todo? Será que os protagonistas judiciais não percebem o quanto de sua credibilidade está em jogo com suas encenações públicas? Não seria mais aconselhável, nos tempos tão conturbados que experimentamos, com tanta hostilidade à Constituição Cidadã de 1988, atitude mais discreta, mais soberana dos magistrados?
Confesso-me, como jurista, como professor de direito, como membro aposentado do Ministério Público e, hoje, como advogado, perplexo com o papel a que pessoas que nos devem conduta ilibada se prestam. Entristeço-me com o pouco caso que se faz com o heroico apoio de forças democráticas ao STF, quando seu presidente pactua sorridentemente com aqueles que querem seu ocaso.
Esses tempos de pós-verdade são estranhos demais para alguém como eu, que tem orgulho de ter valores claros como a justiça, a lealdade, a decência e a fidelidade à Constituição e ao Estado Democrático de Direito que esta fundamenta.
É curioso que Lula, hoje preso (sim, hoje preso, Sr. Ciro Gomes, injustamente preso – e não me chame de “babaca” por isso), quando presidente da República, nunca foi personagem desse tipo de tentativa (bem sucedida?) de cooptação do Poder Judiciário; cooptação, esta, que promove um verdadeiro “golden shower” sobre a Constituição brasileira. Tratou as instituições com o respeito, com o decoro que lhes é devido, zeloso por submeter-se à sua independência e por preservar a harmonia entre os poderes.
O que consola é estar do lado certo da história. Nós democratas, ainda acreditamos no Brasil e na sua resiliência para superar tantos cruéis desafios. Louvamo-nos na carta do Santo Padre que, reconhecendo a profunda injustiça que se promove contra um condenado sem provas, encoraja Lula – e a todos nós – a resistir. Resistir com a Lei do nosso lado. Resistir com a esperança que não esmorece. Resistir com a certeza de que lutar é preciso para garantir a nossos filhos e netos um país melhor, mais livre, mais democrático, mais tolerante, mais plural e, sobretudo, mais consciente de seu papel histórico e de seu lugar no mundo.
Não há “papelão” de magistrados que nos fará perder a fé nessa luta. E, como acreditamos no ser humano, acreditamos, também, que magistrados, que todos respeitamos e defendemos no seu papel constitucional, saberão por a mão na consciência e mudar de atitude. Para o bem do Brasil e de todas e todos nós!
Eugênio Aragão é subprocurador geral da República aposentado, professor de Direito da Universidade de Brasília (UnB). Foi ministro da Justiça e integra a equipe do escritório Aragão e Ferraro Advogados.
Do GGN

segunda-feira, 8 de abril de 2019

XADREZ DO FATOR HAMILTON MOURÃO, POR LUIS NASSIF

No fascismo italiano e espanhol, nazismo e golpes militares na América Latina, a onda foi irreversível. Com o avanço institucional do país, o clima de ódio deveria cansar.
Peça 1 – a onda da pacificação
É curioso como ocorrem as grandes inflexões na opinião pública. Cria-se uma onda que engole o mundo político, midiático, libera a besta das ruas, promovendo os surfistas que conseguem cavalgá-la e afogando os que são apanhados no contrapé.
Há casos em que a onda é tão forte que se torna irreversível. Foi assim com o fascismo italiano e espanhol, com o nazismo, e com os golpes militares na América Latina. Mas, na maior parte das vezes, dependendo do maior ou menor avanço institucional do país, o clima permanente de ódio cansa e as ondas refluem. Se não tem forças para completar o ciclo, e instaurar uma ditadura fascista, esvazia-se com o tempo.
Nesses grandes movimentos tectônicos, um bom governo teria enormes dificuldades para atender às expectativas criadas pelo imaginário. Mas quando a cara do governo passa a estampar cada vez mais a bocarra e a incompetência dos Bolsonaro, tem início uma nova onda, pequena no início, mas crescendo rapidamente, e que será hegemônica dentro de algum tempo: a busca de saídas para o país através da conciliação nacional.
Passado o pico do ódio, haverá um refluxo até que reste só a besta, a legião selvagem dos bolsonaristas, a 15 a 18% da população.Jornalistas Livres@J_LIVRES#SP Av. Paulista.
Três covardes, três vermes, três machos escrotos, três defensores de @jairbolsonaro e Sérgio Moro atacam selvagemente uma garota que apenas não concorda com eles. #lulalivre#fascistasnãopassarãovideo: Chico Prado
Peça 2 – a reorganização das forças hegemônicas
Na maionese bolonariana têm religiosos fundamentalistas, alucinados antiglobalistas, aventureiros empresariais. Mas, para os jogos de poder, o que conta forças políticas e econômicas. Entre elas, o antilulismo continua sendo peça central: na mídia, no mercado, no Judiciário e nas Forças Armadas.  Portanto, o próximo capítulo ainda será uma tentativa de reorganização dessas forças.
As guerras políticas internas (assim como as guerras reais) têm dois tempos: o das batalhas e o da consolidação da conquista. Dos estudos de Sun Tzu, sobre a arte da guerra, aos de Montesquieu, sobre a ascensão e queda do Império Romano, há uma literatura ampla mostrando a diferença fundamental entre a postura na guerra e a postura na vitória.
Terminada a guerra, a principal preocupação dos vitoriosos é desarmar os espíritos, mostrar senso de justiça, atrair os derrotados, mantendo seus poderes sob controle, mostrar-se justo, não tentar impor seus valores e costumes sobre os adversários. E há um conjunto de lições sobre as estratégias militares. Nunca se mostre como você é: se está forte, tente se apresentar como enfraquecido; se está fraco, mostre-se forte; nunca explicite o que você pensa, implemente A dando a entender que você quer fazer B.
É interessante comparar a conduta do general Hamilton Mourão com a do governador paulista João Doria Jr.
Dória conseguiu cavalgar duas ondas. A primeira, na prefeitura de São Paulo, apresentando-se como gestor antipetista. Quando o eleitorado da capital se deu conta de que não era gestor, a onda do antilulismo estava em plena ascensão, especialmente no interior, catapultando-o ao governo do Estado. Com isso, passou a apostar desmedidamente na sua intuição. E tenta repetir, para a próxima rodada, o mesmo discurso das rodadas anteriores.
Os romanos tinham um hábito interessante contra esses deslumbramentos. Sempre que um general voltava vitorioso da guerra e fazia a caminhada da vitória pela cidade, ao seu lado ia um escravo que murmurava: “Não se esqueça que você é humano”.
Dória persiste no discurso de guerra, perpetrando mesquinharias, como impedir que o MST (Movimento Sem Terra) faça sua reunião anual (para venda de produtos orgânicos) no Parque da Água Branca, ou cortando recursos para cultura, ou estimulando a violência policial. Está pensando em chegar mais longe olhando pelo retrovisor e pretendendo disputar os 18% do eleitorado. Fosse politicamente mais inteligente, haveria uma avenida aberta à sua frente, como contraponto civilizado a Bolsonaro.
Essa avenida – da busca da conciliação, como maneira de consolidar a direita – está sendo trilhada pelo general Mourão, seguindo à risca e com inteligência os manuais de estratégias militares.
Apresenta sempre o contraponto racional contra as maluquices de Bolsonaro, impedindo as loucuras do Ministro das Relações Exteriores, corrigindo as bizarrices perante o público interno e externo. É evidente que, ao corrigir o presidente, não pretende desfazer suas tolices, mas expô-las.
Vai além, com reconhecimento da necessidade de propostas de união nacional, aproximação com diversos setores sociais, a importância da diversidade, do meio ambiente, o entendimento sobre o que é uma economia moderna etc.
É possível que tenha descoberto as virtudes da democracia e do pluralismo, é possível que apenas esteja aplicando um dos princípios da estratégia militar de não se mostrar como é. De qualquer modo, é quem está crescendo sobre os escombros do bolsonarismo.
Nos próximos meses, Mourão se tornará cada vez mais ponto de convergência de empresários, políticos e mercado, desencantados com Bolsonaro. Quando a aliança estiver madura, não será necessário conspirar, nem dar golpe de gabinete para se desfazer de Bolsonaro. Basta aguardar as conclusões de uma das investigações em curso sobre suas ligações com as milícias, e contar com o desmanche de sua base política, obra do inacreditável Onix Lorenzoni.
Parte 3 – o fator Lula
Impressiona o fato de que, sendo prisioneiro político, impedido até de dar entrevistas, Lula consegue unificar a esquerda com suas mensagens. Aliás, o fato de ter se transformado em preso político unificou a esquerda, consolidando sua liderança até sobre os partidos mais novos, que cresceram em cima do desgaste do PT e da falta de arejamento do seu alto comando.
De qualquer modo, o desafio político consiste em ampliar o leque de alianças, abarcando o centro democrático e a centro-direita. Mas o PT tem encontrado dificuldades, com Lula preso.
Tem um candidato, Fernando Haddad, com penetração junto a muito setores progressistas e empresariais anti-PT. Mas a própria manutenção da prisão política de Lula impede avanços maiores, visando a conciliação nacional.
De qualquer modo, o PT vive um paradoxo. Não pode abandonar o protagonismo, junto às esquerdas, para não perder o bonde com a redemocratização – como ocorreu com o velho PC. Por outro lado, esse protagonismo impede o avanço das negociações e dificulta a montagem de uma frente ampla democrática.
A libertação de Lula seria o grande sinal para se começar a desenhar a paz nacional. Mas o STF (Supremo Tribunal Federal) permanece acuado e sem coragem de retomar o caminho da institucionalidade.
Com tudo isso, o jogo político continuará sendo jogado entre bolsonaristas e a direita mais racional, com o prestígio crescente de Hamilton Mourão.
Do GGN

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

BASTARAM 45 DIAS PARA BOLSONARO PROVAR QUE NÃO TEM CONDIÇÕES DE GOVERNAR O BRASIL. POR RICARDO KOTSCHO

Está na hora de falar português claro, com todas as letras: o capitão reformado Jair Messias Bolsonaro já provou, apenas 45 dias após a sua posse, que não tem a menor condição de governar o país por quatro anos.
O batalhão de  generais que ele levou para o governo já sabe disso.
Eleito presidente da República sem participar de debates, sem apresentar qualquer plano concreto de governo, apenas atacando os adversários e repetindo bordões imbecis nas redes sociais, era uma caixa preta levada pelo voto ao Palácio do Planalto para derrotar o PT.
Agora, que o país vai descobrindo, a cada dia mais assombrado, de quem se trata, não adianta repetir que “é preciso torcer para dar certo porque estamos todos no mesmo avião”.
Não tem como dar certo. Bolsonaro vai pilotando a esmo, sem qualquer plano de voo, desviando das nuvens pesadas em meio a tempestades que ele mesmo e seus celerados filhos não cansam de provocar.
Os militares que o apoiaram sabiam muito bem quem era o capitão reformado pelo Exército aos 33 anos por atos de indisciplina, não podem alegar inocência.
Bastava consultar seu prontuário no breve tempo em que serviu ao Exército.
Mesmo sabendo o risco que corriam, foi a forma encontrada pelos militares e seus aliados daqui e de fora para voltarem ao poder, apenas 34 anos após o fim da ditadura.
Definido pelo general Ernesto Geisel como “mau militar”, Bolsonaro passou sete mandatos escondido no baixo clero da Câmara, sem fazer nada que preste, e resolveu ser candidato apenas por capricho para combater seus inimigos reais ou imaginários.
Fez da campanha eleitoral uma guerra, imitando arminhas com as mãos, e ameaçando fuzilar a petralhada.
Uma vez no poder, continua sua guerrilha nas redes sociais, sob o comando do filho Carlos, mais conhecido por Carlucho, o 02, chamado pelo presidente de “meu pitbull”.
Ao retornar a Brasília nesta quarta-feira, depois de passar 17 dias internado num hospital em São Paulo, recuperando-se da terceira cirurgia, sem passar o cargo para o vice, em quem ele e os filhos não confiam, Bolsonaro encontrou um banzé armado no Palácio do Planalto.
O 02 resolveu detonar pelo twitter o secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno, dono do cofre da campanha do PSL, denunciado por variadas falcatruas com a verba do fundo eleitoral.
Em mais uma entrevista à Record, Bolsonaro apoiou o filho e resolveu carbonizar o seu ministro mais próximo, dando uma ideia do clima no Palácio do Planalto.
Bebianno, que deve saber demais, não pediu demissão nem foi demitido até a hora em que escrevo este texto.
Como devem se sentir agora os outros auxiliares do presidente, que nem conhecia a maioria deles, e foi montando seu ministério meio a olho, catando o que de pior encontrou em cada área?
Este já é de longe o pior ministério da história da República. E vai governar com o pior Congresso e o pior Supremo Tribunal Federal que já tivemos.
Com a revelação do laranjal de candidatos bancados com dinheiro público, desviado para gráficas fantasmas, sabemos agora como foi montado o esquema da “nova política”, que levou uma manada de cacarecos para Brasília.
Antes que se pudesse imaginar, eles já estão se engalfinhando por nacos de poder no governo e no Congresso, num clima de desconfiança generalizada, todos andando de costas para a parede.
Twitter, WhatsApp, Facebook, tudo isso pode ser muito bom e bonito para eleger um presidente pelas redes sociais, mas é impossível governar com um celular na mão, sem ter a menor ideia do que se pretende fazer para enfrentar os gravíssimos problemas sociais e econômicos do país.
A impressão que me dá é que Jair Bolsonaro não esperava ganhar a eleição quando se lançou candidato e agora já deve estar arrependido de ter vencido.
De crise em crise, de recuo em recuo, de trombada em trombada, a caixa preta desse circo de horrores vai sendo aberta para espanto do mundo civilizado.
Das duas uma: ou os generais vão tutelar o ex-capitão por mais quatro anos ou o país enfrentará uma crise institucional sem precedentes.
A primeira providência deveria ser tirar os celulares das mãos dos Bolsonaros.
Vida que segue.
Parte inferior do formulário
GGN

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

XADREZ DA ARMADA BOLSOLEONE*, POR LUIS NASSIF

 * Uma referência não muito sútil ao filme O Exército de Brancaleone.
Talvez o exemplo histórico mais próximo seja o da Torre de Babel. São grupos de pessoas de várias procedências preparando-se para tomar o poder. Ou “O Rato que Ruge”, que conta a tomada de Nova York por um pequeno país, que tinha apenas a pretensão de ser derrotado para ser auxiliado, mas encontrou Nova York em blackout.
Só dentre os “olavetes” (discípulos do filósofo Olavo de Carvalho) há quase dez grupos independentes entre si, que mal se conhecem. Tem mais tendências que os trotskista dos anos 70.
Há os seguidores do padre Paulo Ricardo, reacionário de mão cheia, que juntou uma legião de padres para apoiar a campanha de Bolsonaro.  Há os olavetes que detestam evangélicos e olavetes que detestam católicos. O segundo grupo segue evangelicamente os ensinamentos do mestre, que os proíbe criticar o Papa, mas os estimula a desancar a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
São os mais ideológicos, acreditam piamente no liberalismo amplo e irrestrito e no destino manifesto de Bolsonaro, de ser um Donald Trump tropical.
Aliás, para o grupo, é Deus no céu, Olavo na terra, e Trump no mundo. Deu um trabalhão para o general Heleno convencer o pessoal que não bastava pensar como Trump para agir como Trump: era necessário dispor de um exército como o dos EUA e uma economia como a norte-americana para invadir outro países. E parem com essa bobagem de pensar em invadir a Venezuela!
Pararam.
Vão ser os primeiros a serem engolidos pela real polítik. No início tinham a ilusão de que, pelo fato de Olavo ter fornecido os três grandes motes da campanha – o kit gay, a Venezuela e a liberação das armas – ele seria o grande ideólogo de Bolsonaro. Mas o capitão está mais para os ecos de Olavo – tipo Lobão e Danilo Gentile – que para formulações mais complexas.
Há os youtubers, é claro. E uma profusão de deputados recém-eleitos sem a menor informação sobre o que significa o trabalho parlamentar. Ninguém conhece ninguém. Dia desses, em uma das reuniões dos grupos de trabalho, passou um senhor de terno e gravata e imediatamente vários recém-eleitos pediram que trouxesse água. Não era garçom, mas um deputado bolsonariano.
A única bandeira que os une é a do antipetismo e os gritos de guerra de manter Lula preso ou eliminado. Não há consenso nem mesmo no campo das ideias reacionárias. Por exemplo, como fazer com evangélicos que defendem aborto? Tem que tirar. Mas como?
O único grupo articulado é o dos militares da infraestrutura, comandados pelo general da reserva Oswaldo Ferreira, com a cabeça desenvolvimentista de Ernesto Geisel. Eles têm acesso direto e irrestrito a Bolsonaro e já se constituem em um facho de racionalidade em meio ao caos.
Se fortalecerão mais ainda depois que caiu a ficha de Bolsonaro – e da legião estrangeira que o cerca - sobre o enorme erro de entregar o Ministério da Justiça de porteira fechada para o juiz Sérgio Moro. Especialmente depois que seu modelo, Donald Trump, demitiu sumariamente o Procurador Geral de Justiça, por não concordar com suas ações. Bolsonaro criou um Ministro indemissivel. O que acontecerá quando ele quiser colocar na cadeia algum aliado estratégico de Bolsonaro?  E houve quem saudasse o convite como um lance de genialidade de Bolsonaro.
O exemplo de Trump, desde o início atacado pela justiça e pela mídia, consolidou em algumas alas de olavetes a crítica à Lava Jato e ao partido da justiça.
Muitas das batatadas, Bolsonaro deve aos seus gurus internéticos. Já as correções nas declarações estapafúrdias, os fachos de racionalidade – como voltar atrás na questão do Mercosul, do Meio Ambiente ou da embaixada em Jerusalém – são atribuídas aos conselhos dos militares.
Dia desses, no entanto, houve a maior saia justa. O general Oswaldo fez uma longa explanação sobre a necessidade de investimentos nos diversos modais, o ferroviário, o rodoviário, o portuário, o fluvial. Quando ousou dizer o óbvio – nos locais em que não houver investimento privado, será necessário aportar investimento público – foi apartado pelo príncipe Luiz Phillippe de Orleans e Bragança, que teve um xilique, acusando-o de estar sendo influenciado por ideias comunistas.
Partiu dos militares a sugestão de criar uma Casa Civil da Infraestrutura, sob o comando do general Oswaldo, diretamente ligada à Presidência, para coordenar os Ministérios dos Transportes, Minas e Energia e Telecomunicações.
Um ponto de convergência geral, aliás, é a constatação de que o astronauta Marcos Cesar Pontes – nomeado Ministro da Ciência e Tecnologia – é alienígena que vive no mundo da lua. No início, impressionou pelo domínio do inglês. Depois, caiu a ficha que o inglês servia apenas para o astronauta dizer tolices em duas línguas.
Outra decepção foi com o superministro da Economia Paulo Guedes.
No início, os olavetes, os militares, os youtubers, todos apostavam na genialidade de Guedes. Agora,  passaram a vê-lo como um trapalhão. Primeiro, quando foi afrontar o presidente do Senado, Eunício de Oliveira, demonstrando ignorância em relação ao be-a-bá do orçamento: o orçamento de um ano é aprovado no ano anterior. Ou seja, o primeiro orçamento de Bolsonaro depende da atual composição do Congresso. Por isso não é de bom alvitre afrontar o presidente do Senado.
Depois, quando falou que o Banco do Brasil seria comprado pelo Bank foi America. Guedes não tinha a menor ideia de que um dos aliados mais influentes de apoio a Bolsonaro, o pessoal que garantiu o financiamento privado de campanha por todo o país  – o agronegócio – não vive sem o Banco do Brasil.
Depois que Guedes passou a se desdizer tanto quanto o capitão, as diversas alas bolsonarianas desiludiram-se. Os olavetes deram-se conta da terrível realidade de que o ex-deputado não é  muito letrado nem intuitivo. Não é um um ideológico racional, formulador. Foram, então, atrás da mediação dos filhos, até cair na real de que os filhos só sabiam mesmo detonar aliados pelo Twitter. Foi o que ocorreu com o infeliz que se apresentou como marqueteiro de Bolsonaro, foi desmentido pelo filho, demitido da equipe de transição e, como bom marqueteiro, anunciou que deixava a equipe para se dedicar a trabalhos voluntários na equipe que o dispensou.
Balaços pelo Twitter é o de menos. Internamente, há uma guerra de dossiês. Basta alguém sugerir um nome para o governo para meia hora depois aparecer um dossiê contra o candidato, em geral apresentando pelo vice-presidente, general Mourão.
Foi um dossiê que derrubou a candidatura a vice do príncipe de Orleans e Bragança, um sujeito ultraconservador, mas de pensamento articulado – que fez a cabeça de Bolsonaro com a brilhante constatação de que o início do fim do país foi a Constituição de 1988. Ah, e o golpe da Proclamação da República.
A candidatura do príncipe soçobrou devido a questões pessoais menores que, em nenhum outro ambiente, seriam motivo para vetos. O que menos pesou foi o fato de, na juventude, ele ter sido skinhead. É mesmo uma cambada bestial.
GGN