Foto: João
Roberto Ripper
As
atividades visam denunciar a escalada de conflitos que ocorrem no estado
paraense, como a chacina de Pau D’Arco.
Ao longo
desta segunda-feira (19), movimentos populares do campo e de direitos humanos
realizam diversas atividades, em Belém (PA), para denunciar a escalada de
violência no campo no estado, como a chacina de Pau D’Arco, no sudoeste do
estado, quando nove posseiros e a presidenta do sindicato de trabalhadores
rurais do local foram
assassinados pela polícia, no mês de maio.
Pela manhã,
representantes das organizações se reuniram no Palácio dos Despachos, sede do
governo estadual, com o vice-governador do Pará, Zequinha Marinho, e
autoridades da área de segurança pública, para debaterem o assunto.
A
presidenta da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri) no
Pará, Ângela Lopes, disse que a violência que assola o campo paraense está
relacionada a questões estruturais da lógica fundiária do Brasil, como a
alta concentração de terras.
"Eu não
quero mais trabalhar nos problemas pontuais. A gente precisa trabalhar as
estruturas. Quando falo de estrutura, falo de lei, de medidas. Que o governador
Simão Jatene (PSDB) possa ser um aliando nessa mudança estrutural", cobrou
a sindicalista.
Os
movimentos denunciam o fato de apenas 8% dos proprietários acumularem 69% das
terras do estado. Junto a isso, há o alto índice de grilagem de terras
públicas, a expansão do agronegócio e o fato do Pará liderar os casos de
trabalho escravo e de maior desmatador da Amazônia.
Segundo
dados trazidos pelas organizações, nos últimos 15 anos a área plantada de
soja para exportação aumentou 15.000%, enquanto a área destinada à
produção de alimentos despencou. Para eles, a solução para estes problemas
estariam relacionados à democratização do acesso à terra e o reconhecimento de
direitos territoriais dos povos do campo e comunidades tradicionais.
Durante a
audiência, advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Marabá, José
Batista, questionou quais as medidas que o estado irá tomar em relação aos
familiares das vítimas dos últimos conflitos. Ele lembrou ainda que o
Pará "é conhecido nacionalmente e internacionalmente pelos conflitos
agrários. O estado irá se adiantar quanto a isso ou teremos que acionar a
Justiça? O que será feito?", indagou.
Segundo
dados da CPT, dos 307 assassinatos registrados nos últimos 21 anos, poucos
foram os casos levados a julgamento, sendo que a maioria dos inquéritos não
foi sequer concluída e nenhum mandante encontra-se preso.
Também presente
na reunião, o ator Osmar Prado disse ser "desagradável vir ao Pará em
um momento tão trágico" e relacionou o aumento dos conflitos no campo
com a atual situação do Brasil. "Os desdobramentos que
ocorrem estão relacionados ao contexto político. Quando se
destituiu uma presidenta legitimamente eleita, abriram-se as portas para os
desmandos", avaliou.
Além da
audiência pública no Palácio dos Despachos, os movimentos ainda realizam dois
seminários no auditório do Sindicato dos Bancários e um ato político em defesa
da democracia e contra a violência no campo, que acontece no centro da capital,
às 18 horas.
As atividades
estão sendo organizadas pelo Comitê Paraense de Combate à Violência no Campo e
as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo.