"É perniciosa a tentativa de transformar a Lava Jato na grande
panacéia nacional. Além de não tirar o País da crise, esse modo de conduzi-la,
como se tudo estivesse podre – como se os poderes constituídos já não tivessem
legitimidade para construir soluções –, inviabiliza a saída da crise", diz
o jornal Estado de S. Paulo, em editorial; agora que o golpe parlamentar de
2016 já foi consumado, a família Mesquita pede um basta.
"É
perniciosa a tentativa de transformar a Lava Jato na grande panaceia nacional.
Além de não tirar o País da crise, esse modo de conduzi-la, como se tudo
estivesse podre – como se os poderes constituídos já não tivessem legitimidade
para construir soluções –, inviabiliza a saída da crise", diz o jornal
Estado de S. Paulo, em editorial.
Agora que o golpe parlamentar de 2016
já foi consumado, a família Mesquita pede um basta.
A importância relativa da Lava Jato
É perniciosa a tentativa de transformar
a Lava Jato na grande panaceia nacional. Além de não tirar o País da crise,
esse modo de conduzi-la inviabiliza a saída da crise.
O pedido do procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, para que o ministro Gilmar Mendes, do Supremo
Tribunal Federal (STF), seja declarado impedido de atuar no caso envolvendo
Eike Batista é mais um exemplo de reação exagerada por parte do Ministério
Público (MP). Janot alega que a esposa de Gilmar Mendes integra banca de
advogados “que prestaria serviços” a Eike Batista, o que comprometeria a
imparcialidade do ministro.
Mais do que manifestar zelo pelo
cumprimento da lei, o pedido de Janot coaduna-se perfeitamente com a tentativa
de parte do Ministério Público de utilizar a Operação Lava Jato para denunciar
a generalizada podridão existente nas instituições nacionais. Tudo estaria
podre no País. Trata-se de uma manobra insidiosa, pois se utiliza de uma coisa
boa, como é a Lava Jato, para uma finalidade política no mínimo questionável e
certamente estranha às competências institucionais do Ministério Público.
Não é tarefa da Lava Jato denunciar as
instituições ou promover um movimento de repúdio aos poderes constituídos.
Cabe-lhe investigar com diligência todas as suspeitas e denúncias levantadas,
sem poupar nenhum criminoso nem incriminar nenhum inocente. É um trabalho
sério, que exige extremo cuidado e pode trazer, como já trouxe, muitos
benefícios ao País.
Por mais que impressione a extensão dos
crimes revelados pela Lava Jato, eles não legitimam, no entanto, que membros do
Ministério Público utilizem a operação para fins políticos, difundindo a ideia
de que tudo está podre, exceto – é o que parece afirmarem – o Ministério
Público, que seria, assim, o salvador da pátria.
A realidade não é bem essa. Nem tudo
está podre nem o Ministério Público é o suprassumo da pureza e da inocência.
Caso se lhe apliquem as lentes que alguns do MPF querem impor às outras
instituições, perde também ele imediatamente seu odor de santidade. Como
revelou o site Consultor Jurídico, a filha do indignado Janot é advogada e tem
como clientes, em diferentes casos na Justiça Federal e no Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a Braskem, petroquímica controlada
pela Odebrecht, a construtora OAS e a Petrobrás.
O caso mostra como é fácil avaliar
distorcidamente as situações, no intuito de produzir escândalos. É mais que
hora de agir com prudência e temperança. E isso, é preciso repetir, não é o
mesmo que insinuar – e muito menos garantir – impunidade ao crime e a
ilegalidades. Trata-se apenas de olhar as coisas com realismo.
A Lava Jato é muito importante e
produziu – e deve continuar a produzir – efeitos moralizadores. A operação não
é, porém, a salvação nacional. A prioridade é tirar o País da crise,
assegurando a retomada do desenvolvimento econômico e social, num ambiente
moralmente sadio. Reconhecer essa realidade não diminui a importância da
operação. Afinal, ela é uma persecução criminal. E a vida nacional vai muito
além da mera elucidação e punição de crimes cometidos por empreiteiras e
políticos, por mais importantes que sejam.
A Lava Jato não pode se converter, como
às vezes parece ocorrer, numa ideologia. Hoje Lula da Silva deverá ser ouvido
em Curitiba. Muita gente tem tratado esse depoimento como se fosse o momento
máximo de redenção nacional. Sem dúvida, o evento é importante para Lula da
Silva, já que o processo penal pode lhe render algumas consequências que ele
achava que jamais o atingiriam. A lei é para todos e, nesse sentido, a Lava
Jato tem um sentido pedagógico exemplar. Mas cada etapa dos processos da Lava
Jato não pode paralisar o País.
Sendo importantes, os atos da Lava Jato
não podem substituir a verdadeira prioridade nacional. Há uma profunda crise
econômica, social, política e moral, que precisa com urgência ser combatida.
Reconhecer essa hierarquia de valores não é um apoio velado à impunidade. É
simplesmente não fechar os olhos, por exemplo, aos 14 milhões de desempregados.
É não ignorar que, sem a aprovação das reformas em curso no Congresso, o
Tesouro estará exaurido em 2022 (ver abaixo o editorial Reforma ou
desastre).
É perniciosa a tentativa de transformar
a Lava Jato na grande panaceia nacional. Além de não tirar o País da crise,
esse modo de conduzi-la, como se tudo estivesse podre – como se os poderes constituídos
já não tivessem legitimidade para construir soluções –, inviabiliza a saída da
crise.
Do 247