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terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Brasil corrupto, ingênuo e autofágico! EUA corrupção legal e estratégica, por André Araújo

Os Estados Unidos sempre tiveram a pretensão de ser a polícia moral do mundo e, depois do surgimento da cultura do politicamente correto, o tom moralista subiu.
Mas, dirão parvos que pouco sabem sobre o que são ou como foram formados os EUA, lá não tem corrupção porque eles são muito severos quanto a isso, acham os bem pensantes dos cursos de “compliance”.
É preciso ser muito simplório para acreditar que os EUA são um país onde não há corrupção. Na realidade o suposto combate à corrupção FORA DOS EUA tornou-se um grande negócio para os americanos, um grande “business” de ensinar o “compliance”, a cultura de absoluta obediência a regras formais de moralidade, negócio que vai de vento em popa com grandes escritórios de advocacia lucrando na auditoria dessas regras moralistas, indicando inspetores fixos nas empresas apanhadas como corruptas ou então consultorias caríssimas dando aulas para provincianos basbaques com tanta sabedoria da lisura.
Com base nessa pretensa superioridade moral os EUA através de seu Departamento de Justiça, lançou sobre o planeta uma grande rede de pesca de ilícitos sobre os quais os Estados Unidos cobram pedágio através de multas e indenizações, tornando-se assim “sócios” de toda corrupção que acontece no planeta.
Estendem essa rede sob o pretexto de que os corruptos e corruptores usaram o dólar como moeda ou usaram o sistema bancário americano ou, se não acharem nada que os ligue aos EUA, porque usaram a internet, que é uma rede baseada nos EUA. Procuram um liame com os EUA para justificar um processo no Departamento de Justiça e assim cobrar uma indenização muitas vezes maior que o valor da propina, um negócio formidável.
Nem todos os países aceitam essa chantagem explícita, alguns onde há uma secular cultura de corrupção, como Rússia, China e Índia, o Departamento de Justiça nem tenta pescar porque serão rechaçados.
Há casos ocorridos dentro dos EUA, como ocorreu com a Siemens e Volkswagen, onde a jurisdição é incontestável. Já não há essa aceitação sobre fatos ocorridos fora do território americano, como propinas pagas por empreiteiras europeias, turcas e malaias na África.
No Oriente Médio, por tradição cultural de milênios, não se vende um cacho de banana sem pagar comissão, as empresas americanas são as maiores fornecedoras de tudo nas monarquias petroleiras, não pagam comissão?
Claro que pagam, mas com um disfarce, usam uma empresa local como “agente” e assim fica tudo limpo.
O maior de todos os agentes de americanos foi Adnam Kashoggi, intermediário de venda de aviões de caça à Arábia Saudita, ganhou em um ano 350 milhões de dólares de comissões, há uma biografia sobre esse personagem publicada nos EUA. Kashoggi morreu o ano passado, seu famoso iate NABILA, um dos miores e mais luxuosos dos anos 80, foi vendido a um certo Donald Trump, que deu a entrada (US$19 milhões)  e não pagou as prestações seguintes porque tinha quebrado. Kashoggi tentou reaver o barco mas Trump o escondia em vários portos para não entregar até que encontrou um outro comprador, o Príncipe Al Alweed, que  lhe permitiu recuperar a entrada paga. Kashoggi era tio de Dodi Al Fayed, o namorado da Princesa Diana que morreu com ela no acidente de carro em Paris.
OS CASOS DO BRASIL SÃO ESPECIAIS porque foram levados ao Departamento de Justiça por AUTORIDADES BRASILEIRAS, uma operação inexplicável à luz do mais elementar conceito de soberania, dar munição para o inimigo, como se o Estado brasileiro não existisse. Já escrevi aqui sobre esse tema em artigos especiais sobre essa situação.
Na base desse desatino está um Acordo de Cooperação Judicial de 2001, onde até hoje só os EUA levaram vantagem, nenhuma demanda brasileira foi atendida, por exemplo, o caso dos pilotos do Legacy que derrubaram um avião da GOL matando quase 200 brasileiros, estão livres e soltos nos EUA e o Brasil não consegue executar a sentença condenatória. Para isso o Acordo não vale nada mas para processar a PETROBRAS vale muito.
Enquanto nenhuma empresa americana foi atingida por esse Acordo, muitas empresas brasileiras, estatais e privadas , foram tosquiadas nos EUA com apoio de autoridades brasileiras com multas e indenizações de bilhões de dólares pagas para os americanos.
Empresas russas e chinesas nem são tocadas por esse método de espoliação. A razão é muito simples, os respectivos Estados as protegem e jamais as entregariam para serem processadas nos EUA.
O CASO SONAGOL
A petrolífera angolana SONAGOL é um ninho de bilionários. Sua ex-Presidente do Conselho, Isabel dos Santos, filha do ex-Presidente Jose Eduardo dos Santos, é a mulher mais rica da África, está no ranking da FORBES com 4 bilhões de dólares. A base da fortuna não tem como não ser a estatal SONANGOL. A corrupção é auto-explicavel, uma vez que a SONANGOL é uma estatal e Isabel dos Santos é filha de um líder comunista e de uma engenheira russa, não herdou nenhum negócio que a fizesse bilionária.
Além de Isabel dos Santos, que mora em Portugal, 8 ex-Ministros angolanos são bilionários, a raiz é a SONANGOL.
Não obstante esse ser um notório ninho de ladroagem, a SONANGOL nunca foi incomodada pelo Departamento de Justiça, que não viu qualquer problema em a petroleira americana EXXON assinar em 2016 um grande contrato com a SONANGOL para explorar a bacia do pré-sal angolano. É sabido que todos os contratos de venda de armamentos onde exista fornecedor americano e todos os contratos de petróleo fora dos EUA onde figure uma parte americana são submetidos ao compliance do Departamento de Justiça. O contrato EXXON-SONALGOL passou no compliance do rigoroso Departamento de Justiça, que não teve qualquer consideração com a PETROBRAS e a EMBRAER, que vão ter que pagar “pedágio” pesado ao DofJ, aliás a EMBRAER já pagou, uma conta várias vezes maior que a propina que pagaram fora dos EUA. Petrobras e Embraer não cometeram atos dentro do território americano mas pagam  indenizações ao Tesouro americano.
Portanto a “moralidade” americana é sempre relativa, depende do interesse americano no assunto.
O caso do Brasil é único, não há outros registros de processos contra  empresas latino-americanas, o Brasil caiu na rede porque houve entrega do prato feito por parte de autoridades brasileiras.
A HISTÓRIA DA CORRUPÇÃO NOS EUA
Os Estados Unidos foram a democracia mais corrupta do planeta por um longo período que vai de 1776 até a Segunda Guerra. As eleições americanas foram em grande parte fraudadas ou compradas por “máquinas” mafiosas, como foi a última eleição de Roosevelt onde a “máquina” Prendergast, que dominava a politica do Missouri, chefiada por Tom Prendergast, impôs um vendedor de loja de camisas, um certo Harry Truman, como Vice-Presidente e Roosevelt teve que aceitar porque precisava dos votos daquele Estado. A família Daley, de Chicago, domina as eleições no Illinois há quatro gerações. De origem irlandesa, opera uma máquina eleitoral de votos comprados que garantiu a eleição de John Kennedy em 1960. Um Daley já era prefeito de Chicago em 1955 e outro Daley foi prefeito em 2011, oligarquias politicas não são só no Brasil.
A política do Estado e cidade de Nova Tork foi a mais corrupta da história política dos EUA (muitos dizem que ainda é). Tammany Hall, o grupo do Partido Democrata que desde o século XIX até meados do Século XX controlou as eleições no Estado e na cidade  de New York, com o legendário cacique William Tweed. Um de seus prefeitos, o popular Jimmy Walker foi preso por corrupção, mas outro cacique, Al Smith, foi governador de New York várias vezes e indicado candidato à Presidência em 1928, perdendo para Herbert Hoover. A gangue Tammany Hall , expressão que é sinônimo de corrupção na história americana, só acabou com a eleição do Republicano Fiorello La Guardia como prefeito de Nova York, que acabou com o “esquema” Tammany Hall.
O mesmo eleitor votava dez vezes no mesmo dia e depois ganhava um jantar, imigrantes que chegavam eram retirados dos navios para votar e em troca o “boss” lhes dava a ambicionada carteira de identidade. O “boss” William Tweed vendia terrenos da Prefeitura e todas as obras eram superfaturadas, “caixinha” era recolhida semanalmente de botecos, cortiços e prostíbulos.
Nada, todavia, se igualava ao Estado da Lousiana. A máfia das máfias da politica americana! Um cacique (Huey Long)  dominou o Estado por anos, até ser assassinado em 1933. A política em New Orleans se fazia nos prostíbulos e nos botequins, dinheiro comprava cargos de juiz.
A CORRUPÇÃO HOJE
Os americanos, práticos como sempre, resolveram o problema da corrupção de uma forma lógica: legalizando-a. Onde tudo é legal não há processos por corrupção.
Veja os PAC-Political Actions Committee, pseudo comitês por uma causa. Querem fazer uma ponte no Estado de Arkansas? Cria-se um Comitê de Ação Política, as empresas podem doar à vontade, contra recibo dedutível no imposto de renda. A empreiteira que tem interesse em fazer a ponte doa, por exemplo, 5 milhões de dólares. Com esse dinheiro o PAC elege um deputado que no Congresso consegue verba para fazer a ponte, paga assim a doação da empreiteira, tudo limpinho, com recibo. Os PAC a cada ano recolhem bilhões de dólares, patrocinaram a abertura do Alaska à exploração petrolífera, com grande dano ambiental.
OS LOBBIES
Um mecanismo mais permanente é o “lobby”, mega setor de negócios, tem 2.000 escritórios e 110.000 funcionários em Washington.
Há um ranking das 50 maiores firmas de lobby de Washington, maior em muitos rankings anuais é a Squire Patton Boggs, com 1.600 advogados e onde são sócios vários ex-Senadores peso pesado, como Trent Lott.
A Patton Boggs foi fundada pelo Senador Tom Boggs, líder da maioria no Senado, já falecido. A firma já teve como clientes 60 países, como China, Angola e Equador (no governo bolivariano de Rafael Correa), seus maiores clientes são o Rei da Arábia Saudita e o Emir do Qatar, além da petrolífera angolana SONANGOL.
A Venezuela ao tempo de Hugo Chavez chegou a ter 16 firmas de lobby a seu serviço, hoje a família de Hugo Chavez tem lobista em Washington para segurar problemas da família com a Justiça americana.
Já na área empresarial as grandes corporações da indústria bélica, da indústria farmacêutica, da indústria do petróleo, usam intensamente o lobby para aprovar leis de seu interesse no Congresso, tudo a céu aberto e com nota fiscal, como tudo é legal não há corrupção.
Grandes figuras da politica abrem firmas de lobby como Henry Kissinger, ex-Embaixadores são quase uma certeza, voltam para casa e abrem escritório de lobby para atuar no Pais onde foram Embaixadores, como fez Anthony Harrington que opera com o Brasil após ter sido Embaixador em Brasília, é sócio da ex-Secretária de Estado Madeleine Albright, todos lobistas respeitados e bem pagos, ninguém vai preso por isso.
Em um caso concreto que conheço, Kissinger cobrou 30 mil dólares para dar um telefonema para um ex-Ministro que ele conhecia, apresentando uma multinacional.
O PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
Grandes corporações americanas colocam seus melhores talentos para fazer  planejamento tributário, visando pagar o mínimo de impostos.
Quase tudo o que lá fazem no Brasil seria crime.  A APPLE está sendo acusada de sonegação de US$ 15 bilhões, após ter mudado sua sede para a Irlanda para não pagar impostos nos EUA.
Uma das praticas das multinacionais mais antigas é “parquear” lucros obtidos no exterior em paraísos fiscais, um truque meramente contábil. A conta é manejada em Nova York, mas o endereço da conta é nas Ilhas Virgens ou em Curaçao, hoje existem US$ 1,7 trilhão de dólares de lucros de companhias americanas ESTACIONADOS FORA DOS EUA, para não pagar imposto ao Tesouro americano. Uma das justificativas da recente reforma fiscal de Trump e criar um inventivo para essa massa de dinheiro retornar aos EUA e ser lá investido.
Outro sistema de desviar lucros é através de “tradings” situadas fora dos EUA. No campo de petróleo, minérios e commodities agrícolas, mega tradings com DNA nos Estados Unidos, como GLENCORE, na Suíça, que fatura mais de US$1 trilhão por ano, VITOL com US$600 bilhões ano de faturamento e TRAFIGURA com US$500 bilhões, são usadas para gerar comissões fora dos EUA.
Dessas comissões se retiram propinas e agrados a governantes de países da África e do Oriente Médio.
Grande parte do petróleo da África e do Oriente passa por essas tradings no caminho do comprador final, no trajeto se gera uma comissão e dessa comissão se banca o que precisar for. A Glencore foi fundada pelo americano Marc Rich, condenado nos EUA a 30 anos de prisão e 300 milhões de dólares de multa por sonegação fiscal, fugiu para a Suiça,  nunca foi preso, ambas penas, a prisão e a multa, foram perdoadas pelo Presidente Bill Clinton no ultimo dia de seu governo.
Marc Rich e sua esposa Denise Rich foram grandes financiadores das campanhas de Bill Clinton, essa a razão do perdão. Clinton usou de seus poderes de INDULTO para cancelar qualquer punição a Marc Rich e sua esposa, liberando também sua entrada nos EUA, que estava proibida. Quando a imprensa questionou Clinton ele respondeu “Fiz porque podia fazer, a lei me autoriza”.
Depois os americanos vem nos dar lições de moralidade.
O MERCADO FINANCEIRO
Um aspecto extraordinário do teatro da moralidade vendido ao mundo pelos americanos é o que acontece em Wall Street. Na mega crise financeira dos subprimes em 2008 os ilícitos foram monumentais, fraude em cima de fraude, falsificação de balanços, a Goldman Sachs inventou um titulo lastreado em hipotecas fajutas que jamais seriam pagas e a Goldman sabia disso, depois empacotou as hipotecas e as transformou em títulos que vendeu a investidores, especialmente asiáticos.
As hipotecas eram criadas fazendo moradores muito pobres de bairros pobres comprarem casas sem pagar nada, bastando assinar contratos de hipotecas. Com esses contratos, foram milhões deles, se lastreavam esses títulos, centenas de bilhões de dólares, colocados no mercado mundial como se fossem papéis bons, era lixo vendido como coisa séria.
Como a Goldman sabia que nunca seriam pagos passou a apostar no “default”, no não pagamento dos títulos e ganhou duas vezes, na primeira colocação e na aposta contra a solvência do mesmo titulo que ela vendeu, a sacanagem em cima da sacanagem, banditismo financeiro, a bicicleta em cima do patinete.
O castelo todo desabou e o que aconteceu? O Tesouro americano, através do programa TARP (Troubled Asset Relief Program) salvou todo mundo a um custo de US$780 bilhões, NINGUEM FOI PUNIDO, os dirigentes do banco Lehman Brothers, o único que faliu porque não deu tempo de ser salvo, esses executivos retiraram do banco Lehman prêmios de boa gestão UMA SEMANA antes da quebra, no valor de 60 milhões de dólares. O que aconteceu? Nada, ninguém foi punido nem com inabilitação ou advertência.
Depois disso o Departamento de Justiça nomeia “inspetores” para ficar dentro da EMBRAER e da PETROBRAS (já estão lá e custam bem caro) para evitar que essas empresas brasileiras façam coisas erradas.
E os deslumbrados daqui batem palmas.
CORRUPÇÃO NA INDÚSTRIA BÉLICA
O chamado “matadouro do Pentágono” significa um dos maiores ninhos de corrupção na economia americana, a indústria de defesa. A famosa tampa de privada de 800 dólares, descoberta por uma comissão de investigação do Senado nos anos 90 era apenas a ponta de um lendário mar de corrupção em um orçamento de 600 bilhões de dólares anuais. Centenas de artigos em jornal e livros cobrem esse tema, basta pesquisar no Google sob “Corruption in the Defense Industry” ou “Corruption in the Pentagon”.
A corrupção se dá dentro dos EUA e especialmente fora, nas campanhas do Iraque e Afeganistão, onde a fiscalização sobre desvios é quase impossível dadas as condições locais. As duas campanhas e depois ocupação do Iraque custaram US$3 trilhões, a Halliburton, principal fornecedora da Petrobras no pré-sal, ganhou um contrato para fornecer desde lençóis até agua para beber, os soldados americanos não bebiam e nem cozinhavam com água local, TODA a água vinha do Texas em aviões-tanques, pode-se imaginar a fatura desse fornecimento, assim como toda a comida, cobertores, papel higiênico, banheiros químicos, tudo fornecido pela Halliburton, ligadíssima à família Bush.
Do Texas também é a lendária construtora Brown & Root, cujo lobista-mor era o ex-Presidente Lyndon Johnson.
No inicio de sua vida Johnson não tinha onde cair morto, ficou milionário com a Brown & Root, a empreiteira de 800 bases americanas fora dos EUA, inclusive as maiores como a base aérea de Darham, na Arábia Saudita, onde estão estacionados 26.000 soldados e aeronautas e onde funciona uma réplica de uma cidade americana completa.
No livro THE OCCUPATION OF IRAQ, de Ali A.Allawi, editora Yale University Press, há uma descrição detalhada da mega corrupção conduzida por americanos no Iraque ocupado, coisa de US$ 40 bilhões de dinheiro desaparecido durante essa ocupação. O autor não é qualquer um, foi o Ministro da Justiça e da Defesa do Iraque durante a ocupação americana, aprovado pelo Pentágono para ocupar esses cargos.
Allawi conta o caso de uma compra de 60 helicópteros soviéticos usados que estavam na Polônia, para o Exército do Iraque, compra intermediada pelo Exército americano, mas paga pelo Iraque. Nenhum helicóptero saiu do chão, era uma sucata imprestável, mas foi pago preço de semi-novo, o dinheiro foi depositado em uma conta em banco de Beirut e desapareceu em minutos, nunca mais se achou o rastro da empresa vendedora.
Os patrulheiros da moral de outros países não são nada santos mas os provincianos daqui tem uma admiração reverencial pelo “compliance” americano, é para rir.
O Brasil prefere outro caminho, tudo é proibido, os impostos são altíssimos, dinheiro para campanhas por empresas é proibido, todos são empurrados para a ilegalidade e dá-lhe inquéritos, viramos o País mais corrupto do mundo em cima de leis hipócritas.
Mas para muitos brasileiros os EUA são um Pais sério, como disseram comentaristas esportivos ignorantes das rádios brasileiras quando os americanos invadiram a FIFA para salvaguardar a lisura no esporte que eles não jogam, fizeram isso para o bem da humanidade.
GGN

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

O Marquês de Pombal e as eleições de 2018, por André Araújo

Sebastião José de Carvalho e  Melo,  Marquês de Pombal, foi o estadista português que restabeleceu a autoridade do Estado em Portugal, o que incluía o Brasil, Angola e Moçambique, Guiné, Goa e Macau. O Império estava  em processo de fragmentação de poderes como hoje está o Brasil. Pombal recentralizou o poder, colocou no seu lugar a nobreza e a Igreja, foi um poder respeitado,  temido, obedecido, de perfil autoritário, neutralizou a Inquisição e impediu que esse movimento derivado do Poder eclesiástico mandasse no Estado como vinha fazendo há dois séculos. Pombal em nome do Rei D.José I passou a governar Portugal como uma autoridade única e sem concorrência de outras.
Nesse sentido seguiu a linha dos grandes símbolos do Estado nacional moderno, Armand Louis du Plessis, o célebre Cardeal de Richelieu e Giulio Mazzarino, seu discípulo e continuador,  o Cardeal Mazarin, homens de Estado abaixo do Rei mas mais poderosos do que o Monarca de França, o primeiro grande Estado nacional de nossos tempos e modelo para os demais.
Richelieu, Mazarin e Pombal mostraram como é fundamental o poder central do Estado estar em mãos únicas e firmes, eliminando poderes concorrentes ao chefe de governo, os três enfrentaram a ferro e fogo a nobreza, que queria mandar no Estado acima do Rei.
O Estado centralizado promoveu a prosperidade e grandeza da França, as nações fragmentadas como a Alemanha e a Itália tornaram-se ingovernáveis e anárquicas até se recentralizarem tardiamente com Bismarck e Garibaldi e só depois disso prosperaram.
Pais algum se torna grande na fragmentação do poder, QUANDO TODOS MANDAM NINGUÉM MANDA, regra de ouro de milênios de História, estão à vista os desastres dos regimes fracos.
O Brasil está em processo de perigosíssima fragmentação com muita gente mandando e conflitando,  um novo Presidente precisa mandar ou será engolido pelos conflitos.
Países de todas as latitudes conhecem ciclos de fragmentação de autoridade à espera do Chefe que vai restaurar o poder central. Vargas em 1937 fez exatamente isso, ao queimar em praça publica as bandeiras dos Estados quis demonstrar que não existia mais o poder dos caudilhos locais, todos os governadores, agora chamados de Interventores, eram delegados do Presidente e subordinados a ele (só em Minas Gerais o titulo continuou como Governador).
O Brasil desde a redemocratização de 1946 não conheceu o nível de conflito de poderes que hoje fez regredir a governabilidade de um grande País ao nível de pequenos países tribais, cada tribo é um poder autônomo a litigar com os demais, o que leva o País ao caos.
O Judiciário passou a contestar continuamente o poder do Executivo com revisão sistemática de medidas administrativas, sobre as quais dá a ultima palavra e também invade o Poder Legislativo criando regramentos de atribuição do Congresso eleito, o único que pode votar leis.
A Policia Federal opera por contra própria baseada numa autonomia que ela mesmo se atribui. O Ministério Público atua como quarto poder quando não existe tal poder no modelo clássico do Estado de Direito, tanto que Pais algum tem Ministério Público com total autonomia. Nos EUA todos os procuradores federais são nomeados pelo Presidente sem mandato e sem concurso e podem ser demitidos a qualquer momento pelo Presidente sem motivo.
Não há no horizonte sinal de fim desse ciclo de fragmentação que desponta em um crescendo de anarquia institucional e a transferência do poder de legislar para os Ministros do Supremo, ao mesmo tempo que o Executivo não tem mais poder de iniciar obras públicas sem aprovação prévia do Tribunal de Contas da União, hoje também desgarrado do Congresso e atuando com uma autonomia que se auto concedeu como se fosse um poder judiciário autônomo e sem contrapeso, inclusive imune a investigações sobre seus próprios malfeitos.
A fragmentação do poder faz com que importantes decisões judiciais que afetam o Brasil sejam tomadas em cortes dos Estados Unidos como se isso fosse algo normal, enquanto o Departamento de Justiça em Washington se arroga jurisdição sobre empresas e cidadãos brasileiros relativa a atos praticados entre brasileiros no Brasil e em terceiros países, aceitando o governo do Brasil docilmente tal jurisdição extra territorial e até colaborando com ela. Enquanto isso o projeto econômico do Brasil é traçado e manejado de Nova York sendo as opiniões dos fundos e agências estrangeiros os regentes que decidem a economia brasileira, maneja de fora para dentro como se o Brasil fosse o antigo Congo Belga do Rei Leopoldo.
O Marquês de Pombal foi Primeiro Ministro de 1750 a 1777, 27 anos de despotismo esclarecido com enormes realizações, como a grande reforma na educação, a reconstrução de Lisboa após o terremoto de 1755, a expulsão dos jesuítas que dominavam a instrução, tornando-a leiga e sob controle do Estado,  desenvolvimento da indústria, regulamentação e grande impulso à produção de vinhos, transferência da capital do Brasil de Salvador para o Rio de Janeiro, refletindo a mudança do eixo econômico no Brasil Colonial. Pombal foi também um dos elos fundamentais na construção do Brasil, tinha uma visão geopolítica sofisticada e via no Brasil um grande destino quando poucos em Lisboa tinham esse alcance de alta politica.
Pombal tinha sido antes Embaixador em Londres, era excelente diplomata. Sem seu quarto de século de férreo governo em Portugal o Reino poderia ter sido tomado pela Espanha, o poder antes dele estava fragmentado entre o Rei, a nobreza (que o detestava) e a Igreja, Pombal concentrou o poder no Rei e sob o manto real governava em nome do Monarca.
Com a morte do Rei assume sua filha Dona Maria, depois conhecida como “A Louca”, que detestava Pombal. Acabou seu cargo e poder com a morte do Rei D.José I, mas Pombal deixou um Estado em boa ordem, o que permitiu a bem sucedida transferência da capital do Império para o Rio de Janeiro em 1816, quando do Brasil também se governava Angola e Moçambique.
Pombal casou duas vezes, ficou viúvo cedo, com a  segunda esposa, a Condessa de Daun, nobre austríaca, teve cinco filhos e sua descendência até hoje leva o titulo do Marquesado de Pombal e Condado de Oeiras, é a família Carvalho de Lorena e Daun. Recentemente o atual Marquês de Pombal ganhou uma batalha jurídica em Lisboa junto ao Tribunal da Relação para impedir que terceiros usassem a marca Conde de Oeiras em vinhos de mesa.
Pombal foi um grande estadista, um exímio praticamente da politica, com visão e projeto. Suas realizações foram fundamentais para o destino de Portugal e do Brasil, que nos sirva de exemplo, o Brasil tem raízes no despotismo esclarecido desse grande governante.
O próximo Presidente do Brasil só governará se recentralizar o Estado, hoje disperso entre Ilhas de poder auto concedido que geram um conflito permanente e irresolvível, caberá ao novo Presidente em fundamental aliança com as Forças Armadas recuperar o poder perdido pela Presidência sem o qual nenhum grande Estado cumprirá seu destino. Que a inspiração do Marques de Pombal, tão ligado à nossa Historia, nos sirva de inspiração e guia.
GGN