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segunda-feira, 19 de junho de 2017

No Pará, artistas e movimentos sociais se reúnem contra a violência no campo

Foto: João Roberto Ripper


As atividades visam denunciar a escalada de conflitos que ocorrem no estado paraense, como a chacina de Pau D’Arco.

Ao longo desta segunda-feira (19), movimentos populares do campo e de direitos humanos realizam diversas atividades, em Belém (PA), para denunciar a escalada de violência no campo no estado, como a chacina de Pau D’Arco, no sudoeste do estado, quando nove posseiros e a presidenta do sindicato de trabalhadores rurais do local foram assassinados pela polícia, no mês de maio.

Pela manhã, representantes das organizações se reuniram no Palácio dos Despachos, sede do governo estadual, com o vice-governador do Pará, Zequinha Marinho, e autoridades da área de segurança pública, para debaterem o assunto.
A presidenta da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri) no Pará, Ângela Lopes, disse que a violência que assola o campo paraense está relacionada a questões estruturais da lógica fundiária do Brasil, como a alta concentração de terras.

"Eu não quero mais trabalhar nos problemas pontuais. A gente precisa trabalhar as estruturas. Quando falo de estrutura, falo de lei, de medidas. Que o governador Simão Jatene (PSDB) possa ser um aliando nessa mudança estrutural", cobrou a sindicalista.

Os movimentos denunciam o fato de apenas 8% dos proprietários acumularem 69% das terras do estado. Junto a isso, há o alto índice de grilagem de terras públicas, a expansão do agronegócio e o fato do Pará liderar os casos de trabalho escravo e de maior desmatador da Amazônia.

Segundo dados trazidos pelas organizações, nos últimos 15 anos a área plantada de soja para exportação aumentou 15.000%, enquanto a área destinada à produção de alimentos despencou. Para eles, a solução para estes problemas estariam relacionados à democratização do acesso à terra e o reconhecimento de direitos territoriais dos povos do campo e comunidades tradicionais.

Durante a audiência, advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Marabá, José Batista, questionou quais as medidas que o estado irá tomar em relação aos familiares das vítimas dos últimos conflitos. Ele lembrou ainda que o Pará "é conhecido nacionalmente e internacionalmente pelos conflitos agrários. O estado irá se adiantar quanto a isso ou teremos que acionar a Justiça? O que será feito?", indagou.

Segundo dados da CPT, dos 307 assassinatos registrados nos últimos 21 anos, poucos foram os casos levados a julgamento, sendo que a maioria dos inquéritos não foi sequer concluída e nenhum mandante encontra-se preso.
   
Também presente na reunião, o ator Osmar Prado disse ser "desagradável vir ao Pará em um momento tão trágico" e relacionou o aumento dos conflitos no campo com a atual situação do Brasil. "Os desdobramentos que ocorrem estão relacionados ao contexto político. Quando se destituiu uma presidenta legitimamente eleita, abriram-se as portas para os desmandos", avaliou.

Além da audiência pública no Palácio dos Despachos, os movimentos ainda realizam dois seminários no auditório do Sindicato dos Bancários e um ato político em defesa da democracia e contra a violência no campo, que acontece no centro da capital, às 18 horas.

As atividades estão sendo organizadas pelo Comitê Paraense de Combate à Violência no Campo e as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo.

Do GGN

sexta-feira, 26 de maio de 2017

As mentiras envolto a carnificina humana do Pará

Paulo Fonteles Filho*: Mentiras sobre o massacre no Pará começam com um “arsenal” de armas de caça; telejornal “que não tem lado” fez press release nojento.

A postura da Globo, está comprovado, é a de quem não tem lados. Ali Kamel, no artigo em que criticou colunista da Folha de S. Paulo.

As mentiras do general e a curva do “S” de Temer e Jatene.

“Eu entendo que não eram trabalhadores rurais. Eles estavam armados”.

(General Jeannot Jansen, Secretário de Segurança Pública do Pará)

Sim, general, eram trabalhadores rurais os chacinados em Pau D’arco, sul do Pará.

Não eram quadrilheiros, bando de malfeitores ou criminosos de índole vil, como corrupiões zangados.

Era gente, general.

No corolário da tragédia anunciada desta Amazônia tão espoliada e ultrajada cometes, caro Jeannot Jansen, mais um tosco crime contra a consciência social de nosso povo, o da mentira.

E a mentira não tem só pernas curtas, ela, sobretudo, alimenta a impunidade.

A primeira mentira é a do confronto, de que os ocupantes da fazenda Santa Lúcia teriam recebido agentes de segurança do estado à bala.

Um escarcéu vergonhoso tentou ser montado com a apresentação de armas de caça, numa região onde todo camponês tem sua vinte.

O que não for espingarda de caça sugere mais um “plantio” das carabinas, conhecemos bem essa prática.

A segunda mentira, histórica, é de que os trabalhadores são “invasores”.

No alvorecer pérfido das explicações governamentais uma profunda ignorância — será? — sobre as últimas cinco décadas na Amazônia e todo processo que a penetração do capital ensejou na maior — e mais abandonada — região do país.

Aqui, a grilagem corre solta com o apoio da polícia, cartórios, judiciário, governos e políticos picaretas.

O Pará, segundo os registros cartorários, tem quatro vezes o seu tamanho.

A família Babinski, supostamente proprietária da fazenda Santa Lúcia, é denunciada por transformar terra pública — que deveria servir para assentar pequenos agricultores — em pasto privado, com direito a jagunços, decisão judicial, proteção do generalíssimo e meganhas de dedos mais que quentes.

A terceira mentira é a própria descaracterização do perímetro da chacina.

Como, em sã consciência, policiais experientes devassam o local e só apresentam os mortos em Redenção? Essa turma não assiste CSI?

Um engodo macabro vai se enredando e a mentira dança com as botas do satanás.

Nessas horas sinto saudades do Ariano Suassuna.

Todos sabemos — ou deveríamos saber — que o Pará é um reino de grileiros, latifundiários, pistoleiros e gatos do trabalho escravo.

Há décadas que ostentamos os mais infames números e continuamos no topo do ranking da violência no campo.

Muitos acadêmicos e jornalistas já escreveram sobre isso e os movimentos sociais, por décadas, têm denunciado que a disputa de terras — sempre violenta contra os empobrecidos do campo — é a expressão cruenta da fronteira amazônica.

Mas não interessa se trabalhadores viram defuntos, apenas neste mês de maio 17 foram mortos em solo paraense. Não é mesmo?

Hoje, exatamente hoje, um dia após a chacina, 35 trabalhadores rurais foram presos em Canaã do Carajás (PA) sob acusação de esbulho e formação de quadrilha.

Em meio à crise política no país, marcada pelo golpe midiático e desmonte dos direitos sociais e trabalhistas, o episódio em Pau D’arco confere ao ilegítimo Temer e ao tucano Jatene – a cada um – uma curva do “S”.

Tal curva foi onde 19 trabalhadores foram mortos em 1996, em Eldorado dos Carajás, numa ação da PM paraense.

O impostor que ocupa o Palácio do Planalto tem sob seus ombros a responsabilidade de ter extinto à Ouvidoria Agrária Nacional e, com isso, sedimentou o caminho de retorno aos violentos conflitos no campo brasileiro, como são os casos de Colniza (MT) e Pau D’arco (PA).

A Ouvidoria, criada no governo de Fernando Henrique Cardoso, era um espaço de observatório, denúncia e apuração de situações de violência no espaço rural.

Liderada pelo corajoso e incansável Dr. Gersino José da Silva Filho era, sobretudo, um instrumento para a redução e pacificação das contendas fundiárias.

Temer é no mínimo um irresponsável, leviano. Isso sem falar na extinção, também, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, voltado à agricultura familiar e aos pequenos lavradores do país, além da aliança de alcova com o velho latifúndio, hoje travestido de agronegócio.

Mas, pro crime ser perfeito, tem que ter o dedo do Simão.

Há muitos anos que a Comissão Pastoral da Terra (CPT) ousa colocar a questão das terras do Pará em pratos limpos.

Aqui, o governo tucano celebrou acordos para vender terras públicas — à preço de banana — para poderosos grupos econômicos, como é o caso do banqueiro Daniel Dantas.

Essas denúncias são de 2012.

O que verdadeiramente depõe contra o Tucanistão do Norte e seus dirigentes é a umbilical relação com os poderosos do campo, dentre elas a Federação da Agricultura do Estado do Pará (Faepa), conhecida organização dos grandes proprietários rurais no estado.

Tal entidade nos lembra a União Democrática Ruralista (UDR) na década de 1980.

Nós, que sabemos o que é a viuvez e a orfandade não podemos permitir que mais essa chacina — e as mentiras envoltas em discurso oficial — possam seguir impunes, como centenas de casos de trabalhadores rurais mortos no campo paraense nas últimas décadas.

Justiça!

*Paulo Fonteles Filho é presidente do Instituto Paulo Fonteles de Direitos Humanos e militante do Partido Comunista do Brasil.


OBSERVAÇÃO: O telejornal que não tem lado, o Jornal Nacional, fez uma reportagem vergonhosa, nojenta, sobre o caso. A reportagem conseguiu culpar os mortos num “confronto” que não teve um policial sequer arranhado. A “reportagem” ouviu duas autoridades paraenses e nenhum parente das vítimas. O telejornal que não tem lado é exibido numa emissora que, incrivelmente, faz parte da associação do agronegócio! Duvida? Clique aqui. Ou aqui, no site da Abag, a Associação Brasileira do Agronegócio.

Viomundo