Entenda
o jogo de interesses que mobiliza um aparente bem-intencionado acordo de
cooperação internacional: todos os países e investigadores ganham, menos as
empresas brasileiras
Lava Jato durante a apresentação da "Car Wash", com procuradores suíços e dos EUA - Foto: Geraldo Bubniak / AGB
A
Lava Jato de Rodrigo Janot está de olho no ex-procurador suíço Stefan Lenz, que
se auto caracteriza como o "cérebro" das investigações no país sobre
o esquema de corrupção envolvendo a Petrobras e Odebrecht. Por não se sentir
reconhecido, financeiramente e por seus superiores, ele pediu demissão. Jornais
alemães e suíços acessados pelo GGN dão conta, ainda, que Lenz
poderia avançar nas investigações que fazem "estremecer políticos
brasileiros e, inclusive, levar à prisão o ex-presidente Lula da Silva".
A
frase foi reproduzida de uma reportagem no periódico alemão "Aargauer
Zeitung", em outubro do último ano, quando Lenz abandonava a sua equipe de
investigadores por aparentes conflitos internos. Lá, o investigador teria
criado inimizade
com o procurador-geral, Michael Lauber. E enquanto uma troca no grupo de
delegados da força-tarefa no Brasil foi vista como um desmanche das
investigações, o país europeu mostrou-se determinado a fortalecer as
investigações que tem como mira as empresas brasileiras.
Daqui,
a força-tarefa de Curitiba e o procurador-geral, Rodrigo Janot, não demonstram
preocupação com possíveis interferências de investigadores estrangeiros nas
irregularidades ou ilícitos dentro das companhias nacionais, ao contrário,
agradecem publicamente a mobilização de mais de uma dezena de pessoal, como
advogados, procuradores especialistas em corrupção e técnicos forenses no país,
exclusivamente para mirar a Petrobras.
Basicamente,
tudo o que hoje já foi também descoberto pelos investigadores brasileiros é de
conhecimento dos suíços. E a grande mobilização e esforço insistido pelos
suíços tem motivo: o Ministério Público do país (OAG) condenou a Odebrecht, em
dezembro do último ano, ao pagamento de mais
de 200 milhões de francos suíços, e permitiu a entrada dos investigadores
norte-americanos nas apurações, fechando uma parceria entre Suíça e Estados
Unidos que proporcionou a ambos países a maior multa já acertada na história da
corrupção mundial: US$ 800 milhões.
A
cooperação internacional no caso Odebrecht também rendeu aos investigadores
brasileiros. Foi graças a ela que, após um acordo de leniência com as
autoridades dos três países, a nacional Odebrecht foi obrigada a pagar US$ 2,39
bilhões ao Brasil, com a condição de deixar US$ 93 milhões aos Estados Unidos e
US$ 116 milhões aos suíços.
Neste
cenário de repatriação aos cofres brasileiros, com a exigência de que as
investigações no país europeu e norte-americano sigam, é que os suíços mandaram
um recado recente ao Brasil de que, se a Polícia Federal da força-tarefa está
sendo dissolvida, lá os trabalhos continuarão e com ainda mais investigadores,
ainda que o suposto "cérebro" tenha deixado a equipe.
Em
manifestação enviada ao Estadão, o procurador-geral suíço, Michael Lauber,
informou há poucos dias que estavam "confiantes de que, baseado em um
entendimento mútuo sobre a importância de combater crimes econômicos
internacionais e lavagem de dinheiro, a atual cooperação entre as autoridades
do Brasil e Suíça continuará a gerar resultados concretos". O escritório
de investigação do país anunciou ter ainda aumentado a equipe de investigadores
da força-tarefa contra a Petrobras e seus desdobramentos relacionados ao
Brasil.
A
mais recente notícia que se soma ao cenário é a de que o procurador-geral da
República brasileira, Rodrigo Janot, não apenas permitiu a entrada de
investigadores de outros países nos ilícitos de empresas brasileiras, como
também quer contratar o procurador suíço que diz ter mais revelações do esquema
e que se sentia desvalorizado no país.
Se
Lenz possibilitou o repasse de informações dos bancos suíços de diversos
investigados, incluindo políticos como o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB), e o ex-ministro Henrique Eduardo Alves, assim como de ex-diretores da
Petrobras, como Nestor Cerveró, por outro demonstra alimentar um interesse dos
investigadores nacionais: a validação de teses que poderiam ser consideradas
frágeis, sobretudo para a prisão de políticos como o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva.
Em
sua página pessoal, Stephan Lenz se diz especialista em "crimes do
colarinho branco" e com "bom trânsito" e "boas
relações" junto a "procuradores-chefes de todo o mundo, especialmente
na Europa, nos Estados Unidos, América do Sul e América Central".
"Mais ainda as valiosas relações com importantes representantes de
agências de investigação do Banco Mundial e do Banco Europeu de
Desenvolvimento".
Como
já é público, a Odebrecht, a Petrobras e diversas empresas brasileiras alvos da
Operação Lava Jato mantem negócios por diversos países em todo o mundo. O
pedido de Janot foi enviado à Advocacia-Geral da União para contratar Lenz como
um consultor e investigador independente para os interesses da PGR na Suíça.
GGN