Diagnóstico
é de que o País não enfrenta um problema de expectativa, mas de má alocação de
recursos. Aqui, a bela entrevista escancarando a burrice nacional.
A
entrevista a Renata Agostini e Eduardo Rodrigues, do Estadão, de Adolfo
Sachsida, secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, é de
doer, de desanimar. Poderia ser saudada pela coragem de autocrítica. Mas apenas
reforça a sensação de que estamos sendo dirigidos, na política econômica, por
burros, ineptos, irresponsáveis, amadores. E não é de agora. Vem do período
Dilma, amplia-se no período Temer e prossegue no período Bolsonaro.
O
que diz Sachida?
Primeiro,
uma obviedade: “Só a Previdência não vai nos recolocar na rota das altas taxas
de crescimento”. Alvíssaras!
“Honestamente,
estamos numa situação tão ruim que só isso não basta mais. O PIB vai sair de 0,8%
e vamos para 1,6%? Continua sendo baixo. “Hoje esse 1,6% está quase um sonho
muito distante. Temos de agir para a coisa não ficar pior ainda”.
Pelo
menos há uma pessoa que acordou do sonambulismo de Paulo Guedes.
“Se essas medidas saírem em um ou dois meses,
ainda tem efeito. Mas, se formos começar em setembro, por exemplo, muito
difícil. Tem de ficar muito claro para todos: a economia brasileira não está
indo bem”.
Finalmente,
rompe o tabu e diz o óbvio.
O
economista, que apoiou Jair Bolsonaro desde muito cedo e ajudou o ministro
Paulo Guedes a montar o programa de governo, diz que a equipe econômica trabalha
hoje com o diagnóstico de que o País não enfrenta um problema de expectativa,
mas de má alocação de recursos.
Aqui,
a bela entrevista escancarando a burrice nacional.
As etapas da recessão
Temos
dois grandes problemas. Um fiscal muito grande. Outro é de má alocação de recursos.
Uma coisa que sempre tive dúvidas é se o que estava acontecendo no Brasil era só
um problema de expectativa ou se realmente era algo que ninguém estava olhando.
Todos falavam que era expectativa, que quando passasse o cenário eleitoral o
País voltaria a crescer.
Já
aqui na Secretaria de Política Econômica pedi para estudarem o problema. Em 2014,
a economia estava ruim. Em 2015, naquele ano horroroso, as empresas foram queimando
garantias. A empresa tinha, por exemplo, um terreno e vendeu para continuar
produzindo. Em 2016, já sem o terreno, ela vendeu os recebíveis do cartão de
crédito. Em 2017, a economia então não cresceu novamente. Aí, quando em 2018 a economia
ia voltar, o cara já estava fora do mercado, já havia fechado a empresa. Esse problema
foi identificado em outros lugares do mundo e começamos a trabalhar com ele
aqui.
Inacreditável!
Um dado óbvio, as etapas da economia do desaquecimento à recessão, que os doutos
economistas só se deram conta depois de identificado em outros países do mundo.
Bastava um mínimo de conhecimento da lógica empresarial, e um mínimo de
raciocínio microeconômico para entender os impactos desse desaquecimento
continuado.
O problema da má alocação
de recursos
Estamos
com um problema muito sério de má alocação. Tecnicamente é quando você, por
meio de uma política pública, direciona recursos para setores que não são os
mais eficientes. Exemplo: você direcionou R$ 2 bilhões para construir um estádio
de futebol em Brasília. Para que serve? Para nada. Só que tem outro problema:
todo ano tem de colocar R$ 40 milhões para mantê-lo. Mas há outro problema
ainda: tem shopping, centro de convenções ali? Não. Se eu quiser construir
qualquer coisa lá ainda tenho de colocar abaixo aquele estádio. Esse é o
problema de má alocação. Não é apenas que você gerou um erro no passado. É que
esse erro continua custando à economia todo ano.
Evidente
que houve muitos problemas de má alocação de recursos, especialmente com a
megalomania da Copa. Mas a crise de hoje nada tem a ver com isso. Desde 2015 o
problema é da não alocação de recursos, mas de cortes fiscais rigorosíssimos, continuados,
que acentuaram a queda da economia.
Como corrigir a má
alocação de recursos
Temos
de corrigir a má alocação. Temos de rever vários dos fundos que direcionaram recursos
para lugares que não dão retorno. Por exemplo, o FI-FGTS. Outro é o PIS/PASEP.
É
surreal! Diz que vai resolver o problema da má alocação de recursos desviando recursos
do financiamento à construção civil (FGTS) e do investimento do setor privado
(PIS/PASEP), liquidando definitivamente com qualquer veleidade de alocação de
recursos.
(…)
Porque no governo passado, o que acontecia era uma insistência do lado da demanda.
A economia está indo mal, então o governo gasta e estimula. Essa agenda está
fora e não será repetida. Não tem aumento de gasto público. Ah, mas a demanda está
fraca. Para corrigir um problema de má alocação de recursos, você tira de um setor
e coloca em outro (lugar). É corrigir a curva de oferta, melhorar a produção da
economia. Você gera, porém, um choque de demanda.
Do
lado da demanda, significa melhorar o salário mínimo e a política de subsídios.
A tal economia do lado da demanda, segundo esses gênios, consiste em tirar
recursos do investimento. E ir para onde? Para onde iriam esses recursos do
FGTS e PIS/PASEP. Se não vão para o investimento, irão para a demanda. Que mané
economia do lado da oferta é essa?
Sobre a mudança do
discurso
Infelizmente,
você só vai se dando conta do tamanho do problema quando entende a complexidade
dele. Quando corrigir o problema fiscal, principalmente da Previdência, vai entrar muito dinheiro. O que acontece é
que hoje o PIB brasileiro está estimado em 1% (para 2019). Está muito baixo.
Aprovar a Previdência vai, sim, nos trazer investimento e ajudar muito. Agora,
honestamente, estamos numa situação tão ruim que só isso não basta mais. Vai
sair de 0,8% e vamos para 1,6%?
São
os gastos mais onerosos de educação. O aprendizado desse pessoal custa pontos do
PIB! Quando começam a aprender, estão politicamente tão desgastados que são demitidos.
E o país tem que pagar novo curso para os seus sucessores, à custa do PIB.
Para onde irá a boa
alocação de recursos
Não
sei e não é a minha função saber. Esse é o erro do passado. Tenho de parar de tirar
dinheiro de alguns e colocar no campeão nacional. Na hora que eu parar com
isso, o dinheiro vai migrar naturalmente
para os setores mais eficientes. Essa é a estratégia do governo. Insisto: é a
economia do lado da oferta.
Não
se tem a menor ideia sobre o que seria a economia do lado da oferta. O sujeito cria
um slogan vazio e não sabe como rechear de teoria.
Sobre a promessa de zerar
o déficit público no 1º ano
A
gente tinha certeza do tamanho do desafio fiscal. Mas muitas vezes se comunicar
é mais difícil do que a gente pensa. Você acha que vai falar uma coisa e todo
mundo vai entender. Me parece que estava claro o seguinte: vamos vender uma
estatal. Daí alguém levanta a mão: mas isso não entra no primário! Então o que
estava na cabeça do ministro e na minha era que iríamos resolver o problema do
lado econômico. Agora, o detalhe é como
você endereça medidas econômicas. Essa é a nossa prioridade, tomar medidas que
façam sentido do ponto de vista econômico. O que acontece é que boa parte
dessas medidas não geram resultado primário na hora de contabilizá-las.
Do
GGN