Em 17 de abril de 2016, enquanto o Senado Federal
se preparava para consumar o golpe parlamentar que cassou Dilma Rousseff, este
Blog anteviu o que resultaria daquele ato insensato, antidemocrático e
literalmente criminoso.
“(…) O que os golpistas
esquecem é que o eleitorado majoritário que está eventualmente posicionado
contra Dilma espera que tudo se resolva por milagre no exato momento em que ela
deixar o poder.
Só um imbecil acredita que, com o país
convulsionado, a economia vai se consertar assim. Quando o povo descobrir que
lhe venderam uma mentira, ficará furioso, sobretudo porque a queda de Dilma se
fará acompanhar de retirada de direitos.
Por fim, a saída de Dilma dará discurso a
Lula e ao PT. E como Lula ainda é extremamente popular mesmo com toda
artilharia que vem sofrendo, sua candidatura para 2018 será fortíssima, com ou
sem golpe (…)”
Como este Blog vem dizendo há muito tempo, basta deixar que a direita
governe que ela mesma tratará de se afundar politicamente. Foi previsto aqui
que isso ocorreria simplesmente porque, em 11 dos 13 anos de governos petistas,
o salário aumentou todo mês e a pobreza, a desigualdade e o desemprego caíram
todo mês.
Nesse aspecto, o período que vai de abril de 2016 até agora operou
importante mudança na mentalidade dos brasileiros. E as razões são as
seguintes:
1 – A maioria do povo descobriu que era mentira da mídia, dos movimentos
de rua de direita e dos partidos políticos sócios do golpe que bastava tirar Dilma
da Presidência que tudo se resolveria.
2 – A maioria do povo descobriu que os maiores acusadores do PT, os
tucanos, não apenas são hipócritas como autores de muita roubalheira.
3 – A maioria do povo descobriu que a perseguição contra Lula
empreendida por Sergio Moro e o Ministério Público Federal objetiva apenas
impedi-lo de devolver justiça social aos brasileiros, razão pela qual, segundo
o Datafolha, o PT já começa a crescer e a recuperar a popularidade perdida e
Lula está cada vez mais forte e menos rejeitado.
4 – A maioria do povo descobriu que há uma guerra dos ricos brasileiros
contra os pobres e crê que estão usando o poder usurpado pela direita para
retirar direitos sociais e trabalhistas históricos. O povo percebe que
Temer é uma espécie de Robin Hood com sinal trocado.
Até um tempo atrás tudo isso era apenas uma previsão, uma percepção.
Agora, porém, pesquisa Datafolha realizada entre os dias 21 e 23 de junho com
2.771 pessoas de todas as regiões do Brasil confirma o que se intuía.
O Datafolha mostra que cresceu o apoio da população a ideias
identificadas com a esquerda do espectro político e esse apoio agora sobrepujou
o avanço das ideias de direita que, segundo o instituto de pesquisas, explodiu
em 2013.
Essas premissas acabam de ser confirmadas por pesquisa Datafolha que
mede a inclinação ideológica no país. As perguntas elaboradas buscam demarcar
as diferenças entre convicções associadas à direita e à esquerda, em temas
econômicos e comportamentais.
Com base nas respostas, os eleitores são agrupados em uma das cinco
posições da escala ideológica (esquerda, centro-esquerda, centro,
centro-direita e direita).
O gráfico do Datafolha divulgado na pesquisa e reproduzido abaixo mostra
a disparada das opiniões de direita entre 2013 e o dia do fechamento da
pesquisa em 23 de junho de 2017.
Na comparação com o levantamento anterior do Datafolha, feito em
setembro de 2014, nota-se uma maior sensibilização do brasileiro a questões que
envolvem a igualdade, possível reflexo da crise econômica e do alto desemprego
que atingem o Brasil.
Subiu, por exemplo, de 58% para 77% a parcela que acredita que a pobreza
está relacionada à falta de oportunidades iguais para todos. Já a que crê que a
pobreza é fruto da preguiça para trabalhar caiu de 37% para 21%.
Essa notícia é extraordinária e arrasadora para uma direita insana que,
para derrubar Dilma, contou com o apoio de uma maioria esmagadora e pobre da
população que só tem a perder com o golpe e com as reformas neoliberais de
Temer e do PSDB e que, agora, está descobrindo que ao apoiar o golpe jogou
contra si mesma.
Na mesma edição da Folha, análise do diretor do Datafolha, Mauro
Paulino, explica por que Lula e Bolsonaro vêm crescendo tanto nas pesquisas.
Segundo Paulino, a população voltou a se dividir em duas correntes
simétricas, 41% à esquerda, 40% à direita e 20% no centro, a exemplo do que se
observava em 2013, após as manifestações de junho.
A agenda antissocial de um governo impopular que vem se dedicando a
reformas em setores nevrálgicos e se vê envolto em denúncias da Lava Jato se
reflete na opinião pública sob a forma de ameaças a direitos conquistados, diz
o diretor do Datafolha.
Ele ainda afirma que se valoriza o papel do Estado como agente
facilitador para o desenvolvimento econômico e para socorrer empresas
nacionais. E que a tal “meritocracia”, tão presente no debate de 2014, está
sendo colocada em xeque no ambiente de crise e desemprego crescentes.
Diante disso, Paulino afirma que, agora, “parte da população volta a
ficar sensível ao discurso de inclusão do petismo, o que explica o crescimento
de preferência pelo partido e a liderança de Lula nas pesquisas”.
E para explicar a disparada de Lula nas pesquisas desde que foi levado à
força para depor no ano passado, a opinião praticamente unânime entre os
eleitores de esquerda e de direita é a de que, no Brasil, a Justiça trata os
ricos melhor dos que os pobres.
Ora, ao ver que só petistas se dão mal na Justiça enquanto que
direitistas como os ex-presidentes do PSDB Aécio Neves e Eduardo Azeredo são
tratados como reis, o povo começa a perceber que os petistas é que estão ao seu
lado.
A pesquisa ainda afirma que o único político que cresce ao lado de Lula
é Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e que isso ocorre porque ele vende o discurso de
extermínio de “bandidos” como solução para uma criminalidade que ainda vai
crescer até a eleição do ano que vem devido ao caos social e econômico.
Contudo, Bolsonaro tem um limitador importante. A população pobre, que é
majoritária no país, é vítima da truculência de uma polícia preconceituosa que
atira primeiro e pergunta depois se a pessoa for negra e pobre. O apoio de
Bolsonaro aumenta entre os mais ricos, que estão abandonando tucanos, demos e
afins pelo ex-militar defensor da ditadura.
Sergio Moro certamente irá condenar Lula proximamente. Não condenou
ainda porque está assustado com a reversão de suas condenações pela segunda
instância. Já percebeu que se condenar Lula com base apenas nas delações terá
sua sentença reformada pelo TRF4.
Contudo, Moro não tem alternativa. A melhor oportunidade de condenar
Lula é na questão do tríplex, na qual os investimentos da mídia, dos tucanos e
da Lava Jato foram gigantescos. Se absolver o ex-presidente, ficará
desmoralizado.
Moro não sabe o que fazer. Se condenar Lula só com os indícios fracos
que tem, ele não só será absolvido em segunda instância como crescerá ainda
mais rápido nas pesquisas. A sentença que Moro dará sobre Lula nos próximos
dias o tornará candidato imbatível em 2018. Condena Lula de uma vez, Moro! Você
vai elegê-lo para um terceiro mandato.
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