Em
geral evito entrar nesse bangue bangue de personalizar críticas. Mas Joel
Pinheiro da Fonseca, da Folha, agride qualquer norma de honestidade
intelectual.
A
sofisticação de um polemista se mede por sua capacidade de dar uma
interpretação criativa a fatos de conhecimento geral. Tanto na esquerda
quanto na direita há bons exemplos de polemistas corretos e talentosos. O que
os une é a capacidade de não adulterar os fatos, de conseguir lutar no campo
das ideias, as narrativas, mesmo quando caminham pelas estradas inóspitas de
fatos reais adversos.
Com
Joel, não. Se os fatos prejudicam as ideias, que se mudem os fatos.
A
última coluna de Joel, Carnaval Político (clique
aqui) é escandalosa não apenas um atentado ao bom senso, mas à inteligência
dos leitores, por adulterar fatos de conhecimento geral.
A
razão é simples. Recentemente investiu contra o politicamente correto,
considerando como uma censura às manifestações populares. De repente, explode a
maior manifestação popular dos últimos anos, o desfile da Tuiti. Como encaixar
esse tiro contrário na sua retórica?
Diz
ele, sobre o desfile da Tuiuti:
A
política está sambando na avenida. Não consigo me lembrar de um escola ridicularizar um
presidente de maneira tão direta quanto a Paraíso do Tuiuti fez com o vampiro
neoliberalista, cuja reforma trabalhista seria uma reedição da escravidão.
Discordâncias políticas e econômicas à parte, é sinal de liberdade de expressão
que se possa falar mal do governo Temer publicamente sem receio de intimidação;
algo que definitivamente não era o caso sob Dilma.
Dilma
é a presidente que foi chamada de filha da puta por colegas de Joel,
encastelados em camarotes especiais no estádio do Corinthians. Foi alvo de
todas as ofensas imagináveis, de memes na Internet a manifestações de rua, de
críticas políticas a manifestaçoes da pior misoginia.
Os
únicos manifestantes ameaçados, e que apanharam da Polícia Militar, foram os
que saíram à rua contra o impeachment. Há 18 rapazes e moças sendo
criminalizados pela Justiça paulista pela intenção de participar de uma
passeata contra o impeachment. Coincidentemente, sendo julgados por uma juíza
de sobrenome Pinheiro da Fonseca.
O
Conselho Nacional da Justiça puniu juízes que foram a manifestações contra o
impeachment, enquanto o site da Ministério Publico Federal enaltece uma certa
procuradora, por ter sido a recordista de assinaturas pelas 10 Medidas,
conseguidas durante as passeatas, das quais ela era participante assídua e
entusiasmada. Está lá, na biografia pública da moça em pleno site do MPF-SP,
colocando como grande feito de sua carreira de procuradora o recorde na
obtenção de assinaturas pro-10 medidas.
Como
é possível tamanha distorção dos fatos em um jornal que se pretende sério?
O
Brasil que todos conhecemos é aquele em que uma exposição de arte foi proibida
em Porto Alegre e montou-se um carnaval com outra, acusando os autores de
pedofilia.E tudo isso partindo de grupos ligados a Joel. Procuradores
conservadores entraram com denúncias em várias cidades tentando proibir
reuniões até em campus acadêmicos. E o que diz Joel:
Ao
lado da politização expansiva e bem-humorada vem também uma nova política da
repressão. Não é o governo, mas movimentos da esquerda identitária que ameaçam
reprimir a alegria e a criatividade popular na hora de pensar fantasias. A
causa que os move é banir fantasias que ofendam membros de minorias. Da noite
para o dia, fantasias tradicionais (índio, muçulmano, japonês, nega maluca e
até mulher) foram proscritas.
Joel
é de uma família de figuras públicas, todos com posição político-partidária.
Mas todos ganharam o respeito, inclusive dos adversários, porque batalham no
campo das ideias, sem recorrer a mentiras evidentes.
Como
jornalões se pretendem o porto seguro contra fake news abrigando articulista
desse nível?
Do GGN