É
visível a olho nu que Jair Bolsonaro definha politicamente, e basta observar as
suas perdas ali onde era um território inexpugnável dos seus fanáticos: as
redes sociais.
Nem
mesmo com a ação de robôs seus seguidores conseguem levantar qualquer ostagem a
seu favor, nestes dias. A avalanche causada pelo seu dolce far niente praiano
em maio às maiores chuvas já registrada na Bahia soterrou-os no Twitter.
Mas
porque os esquálidos aspirantes a “Terceira Via” não crescem, alimentados com
os fragmentos em que vai se desmanchando o bolsonarismo?
As
duas pesquisas mais amplas divulgadas em dezembro, a do Ipec (ex-Ibope) e o
Datafolha indicam que, dos que votaram em Bolsonaro no segundo turno de 2018 e
não vão repetir o voto, 22% e 26%, respectivamente, escolhem votar em Lula,
enquanto Moro fica com meros 10% dos arrependidos.
Um
arrependido notório – e morista pessimista – dá uma pista em sua
coluna de hoje, em O Globo. Merval Pereira admite que não haverá “voto útil
antipetista”, a grande esperança dos nanicos ex-bolsonaristas para crescerem
eleitoralmente.
Bolsonaro
une a maior parte dos que votaram nele para se livrar do PT na direção
contrária, transformando o antipetismo que o levou ao poder numa reação que
poderá levar Lula à Presidência logo no primeiro turno, pois se mostrou durante
seu desgoverno uma solução pior que aquela que ele representava quando foi
eleito. A anticorrupção, grande motor para levá-lo à eleição, já não se mostra
suficiente para evitar o PT, pois o bolsonarismo transformou-se num nicho
radicalizado que não justifica um voto útil contra Lula ou a esquerda.
Aliás,
pano rápido, anuncia férias para digerir o bolo amargo que a história serve a
gente como ele.
Há
parte da razão, não obstante, no que ele diz. Parte, mas não o essencial, e que
Merval não pode dizer: todos eles carregam na testa o estigma de terem sido
responsáveis pela eleição do atual presidente.
O
eleitor, claro, pode arrepender-se do seu voto sem prestar contas, mas não o
político, ainda mais o que assume a pretensão de dirigir o país.
Tijolaço.