
Nada
disso vem ao caso.
Vamos
nos ater ao despacho de Sergio Moro, um calhamaço de mais de 300 páginas (ver
íntegra aqui), que condena o ex-ministro a 12 anos de prisão.
É
mais um texto grotesco, cheio de adjetivos, comentários políticos oportunistas
e informações enviesadas.
Reproduzo
apenas um trecho:
841.
Não pode aqui evitar-se o contexto.
842.
O caso trata de macrocorrupção, envolvendo conta corrente geral de propinas
entre o Grupo Odebrecht e agentes do Partido dos Trabalhadores, com cerca de
duzentos milhões de reais acertados, cento e trinta e três milhões de reais
repassados e um saldo de propina do remanescente.
843.
Antônio Palocci Filho era o principal administrador da conta corrente geral de
propinas.
844.
Embora os valores tenham sido utilizados com variados propósitos, parte
substancial, inclusive a que é objeto específico da presente ação penal, foi
utilizada para fraudar sucessivas eleições no Brasil, contaminando-as com
recursos provenientes de corrupção.
845.
Segundo a planilha, isso teria ocorrido nas eleições municipais de 2008 e na
eleição presidencial de 2010.
846.
Dinheiro de propina administrada pelo condenado também teria sido utilizado,
segundo a planilha, para fraudar eleições no estrangeiro, em El Salvador em 2008
e no Peru em 2011.
847.
Outros valores teriam sido repassados até no mínimo 2014 com outros propósitos.
848.
Também destaque-se depoimento de João Cerqueira de Santana Filho, de que
repasses similares, administrados pelo paciente Antônio Palocci Filho, já
teriam ocorrido nas eleições presidenciais de 2006, embora não abrangidos pela
planilha referida.
O
despacho inteiro é cheio de abrobrinhas como essa, fundamentadas em fontes como
a “planilha” (ou seja, numa planilha da Odebrecht que, evidentemente, não é
prova de nada, até porque seu conteúdo se presta a qualquer tipo de
interpretação) ou como o “depoimento” de João Santana, o qual sabemos muito bem
como foi obtido: com tortura.
A
acusação de que Pallocci era o “principal coordenador da conta corrente geral
de propinas” é simplesmente surreal. Não se baseia em prova nenhuma.
Pallocci
talvez fosse um intermediário entre as doações, de caixa 1 ou caixa 2, da
Odebrecht, e o PT. Tudo o resto é especulação delirante de Sergio Moro.
O
MPF e Moro jogam com teorias de conspiração sem base em nenhuma prova concreta
e a mídia compra todas as histórias. É um jogo de cartas marcadas, que teve
início na Ação Penal 470, ao qual a sociedade brasileira assistiu impávida,
talvez ligeiramente perplexa, mas sem reagir. E aí criamos esse monstro.
A
condenação se parece com uma reportagem da revista Época: “o dinheiro da
propina administrada pelo condenado também teria sido utilizado, segundo a
planilha, para fraudar eleições no estrangeiro, em El Salvador em 2008 e no
Peru em 2011”.
Não
dá nem para acreditar: Pallocci é condenado por fraudar eleições em El
Salvador… É uma coisa surreal. Pallocci não tem interesse nenhum em El
Salvador, não é de El Salvador. Não fez nenhuma campanha em El Salvador. O
dinheiro da campanha não era dele.
Agora
está bem claro o que fez a Lava Jato. Pegou uma planilha da Odebrecht (cuja
veracidade contábil nunca foi comprovada), que tinha informações da empresa
sobre doações, legais ou clandestinas, a partidos políticos, misturou tudo,
temperou com muitos adjetivos e teorias mirabolantes e conspiratórias,
adicionou “depoimentos” sem provas de João Santana e Monica Moura, e pronto:
condenou e foi para a mídia gritar gol.
Ainda
na mídia, lemos que Sergio Moro reduziu brutalmente as sentenças de João
Santana e Monica Moura. A Lava Jato usa até mesmo as sentenças já decretadas
como forma de ameaça e tortura. Pode-se delatar depois de condenado, como fará
Pallocci, como esforço para mudar a pena. O que é, obviamente, uma distorção
total da delação premiada. E não precisa contar a verdade nem apresentar
provas.
Se
considerarmos que tudo isso acontece em meio a vazamentos desenfreados, que
servem tanto para fazer o jogo político como para acrescentar mais uma
chantagem ao réu, fica bem claro o tipo de acordo sujo está fazendo a justiça
brasileira.
Ainda
no despacho, Moro afirmou que as declarações do ex-ministro Antonio Palocci de
que ele “teria muito a contribuir” com as investigações “soaram mais como uma
ameaça”, do que “propriamente como uma declaração sincera de que pretendia
naquele momento colaborar com a Justiça”.
A
interpretação de Moro é simples: como Pallocci deixou no ar a possibilidade de
delatar a mídia e instituições financeiras, então isso é “ameaça”. Se o
ex-ministro deixasse bem claro que estaria a fim apenas de delatar o PT, Lula,
Dilma, etc, então isso demonstraria a sua boa vontade.
Não
adianta o réu fazer diferente e fugir do script. É preciso corroborar as
teorias de conspiração de Dallagnol e Moro. Caso contrário, qualquer colaboração
será vista como “ameaça”. Foi assim com Cunha, foi assim com Pallocci.
A
Lava Jato se tornou uma cloaca. Um antro sórdido de jogadas sujas, coordenado
por Sergio Moro.
Do
Cafezinho.