Entre as
provas anexadas na delação premiada da esposa de João Santana estão:
senha de Wifi, passagem de avião, agenda onde consta "compromisso com a
tia", arquivo de Word e uma conta de Gmail de onde e-mails nunca foram
disparados.
Para tirar a
Lava Jato de seu encalço, Mônica Moura contou a seguinte história sobre
Dilma em sua delação premiada:
Episódio 1
Em novembro
de 2014, a então presidente teria sido avisada por José Eduardo Cardozo,
ex-ministro da Justiça, que a Lava Jato já sabia das contas de Eduardo Cunha na
Suíça e estava avançando rapidamente sobre a Odebrecht.
Dilma, preocupada
com o elo da Odebrecht com sua campanha, teria convocado Mônica Moura, que
estava de férias em Nova York, para ir ao Palácio da Alvorada, em Brasília,
discutir o assunto.
Mônica diz
que o assessor Giles Azevedo a buscou no aeroporto em um "carrinho
vagabundo" e, caminhando pelo jardim de Alvorada, Dilma teria perguntado
se a conta de João Santana no exterior era "segura". Mônica respondeu
que era, na medida do possível.
Dilma,
então, disse que elas precisavam conversar com mais assuidade, mas de maneira
segura. Foi quando, na presença de Giles, Mônica pegou o computador de Dilma e
criou a conta "iolanda2606@gmail.com". Iolanda foi o nome sugerido
pela petista, em referência à esposa do ex-presidente Costa e Silva. Elas
combinaram que fariam a comunicação pelo rascunho do Gmail, sem fazer mensagens
circular na web.
A prova
desse episódio, segundo Mônica, são: (1) uma ata criada por sua defesa com o
print do único rascunho que ficou salvo no Gmail (ver episódio 2), (2) a
passagem aérea que atesta o bate e volta de Nova York a Brasília, (3) a agenda
onde constou reunião com a "tia" e (4) o registro de que seu
computador pessoal gravou a senha do wifi do Alvorada (o que não significa nada
tendo em vista que o casal esteve lá a trabalho diversas vezes).
Aqui aparece
a primeira incongruência, ainda que de grau mínimo, entre o que Mônica contou
aos procuradores da Lava Jato e o que entregou como prova contra Dilma: o
endereço de e-mail correto seria "2606iolanda@gmail.com", diz a ata
registrada em cartório e anexada à delação.
A segunda
nebulosidade no depoimento de Mônica surge em função dessa mesma evidência.
Episódio 2
Mônica disse
que, ao longo de 2015, Dilma - que queria manter a comunicação frequente - só
enviou duas ou três mensagens "codificadas", mas sem teor alarmante.
Neste mesmo ano, em um dos encontros com os marqueteiros, Dilma teria pedido
que João Santana movesse sua conta da Suíça. Ele negou argumentando que isso
seria admitir o crime eleitoral.
Pulamos para
2016, quando o casal estava em campanha na República Dominicana.
Mônica disse
à Lava Jato que, em 19 de fevereiro, Dilma usou o rascunho do Gmail para deixar
a seguinte mensagem: "O seu grande amigo está muito doente. Os médicos
consideram que o risco é máximo. E o pior é que a esposa dele, que sempre
tratou dele, também está doente. Com risco igual. Os médicos acompanham dia e
noite."
"Médico,
aqui, era o Zé Eduardo Cardoso...", disse a delatora.
Essa e todas
as demais mensagens supostamente escritas por Dilma foram deletadas por Mônica
do Gmail. Ela só arquivou essa no Word porque, desesperada com seu conteúdo,
quis mostra a João Santana. O arquivo foi entregue à Lava Jato como evidência
(5).
Mônica disse
ao MPF que respondeu Dilma com uma mensagem mais ou menos assim: "Existe
alguma forma desses médicos nos ajudarem? O médico vai ajudar nosso
amigo?"
Mas, como se
vê no print acima, a mensagem foi outra: "Vamos visitar nosso amigo
querido amanhã. Espero que não tenha nenhum espetáculo nos esperando. Acho que
pode nos ajudar nisso né?"
Que seja
mais uma incongruência de peso menor.
A questão é
que a data que consta no rascunho (22 de fevereiro) não bate com os relatos que
vieram depois.
Mônica disse
que ficou nervosa porque Dilma não lia nem respondia o rascunho. "O
rascunho ficou lá o tempo todo, e ela não apagava." A delatora, então,
entrou em contato, por celular, com uma pessoa a quem chamou de Anderson, mas
não deixou claro se era assessor da Presidência. Anderson também não respondia,
então ela enviou mensagem e foi respondida pela esposa dele. Essas mensagens
foram preservadas e entregue como evidências (6).
Ocorre que,
segundo Mônica, Dilma ligou para um telefone fixo no escritório de João Santana
na República Dominicana, na noite de 21 de fevereiro, avisado que "foi
visto um mandado de prisão" contra o casal em cima da mesa de um agente da
Polícia Federal. Santana teria ficado desesperado e perguntado se nada poderia
ser feito. Dilma negou qualquer tipo de ajuda.
A questão é
que faz pouco sentido que Mônica tenha feito o rascunho do dia 22 se Dilma fez
a ligação no dia 21. Mesmo que o rascunho tenha sido feito antes do dia 22, por
que, então a delatora não deletou, como era de praxe? E se não foi a data em
que escreveu, por que foi conferir a mensagem no dia 22, após o telefonema de
Dilma?
Certo é que
a Operação Carajé foi deflagrada em 22 de fevereiro - com direito a um grande
"espetáculo" midiático, como citado no rascunho - e o casal chegou ao
Brasil para se entregar à Lava Jato, em Curitiba, no dia 23 de fevereiro.
Episódio 3
Ainda
houve um terceiro episódio relatado por Mônica Moura contra Dilma.
Em meados de
2015, pouco antes de ser preso, Marcelo Odebrecht teria levado Mônica a sua
residência, em um bairro nobre de São Paulo, para conversar sobre a Lava Jato.
Em síntese,
Marcelo fez um apelo para que Mônica convencesse João Santana a conversar com
Dilma, para que algumas provas da Lava Jato que vieram da Suíça fossem
anuladas. O argumento é público: a parceria teria ocorrido sem a participação
do Ministério da Justiça, como determina a lei de cooperação internacional.
"Marcelo queria que João conversasse com Dilma para que Zé Cardozo
entrasse com isso."
"Ele
[Marcelo] dizia que Dilma não ouvia ninguém, que diziam para ela que a Lava
Jato ia chegar nela e ela dizia que não tinha nada a ver com isso. Ela sempre
se esquivava", comentou Mônica.
Mônica diz
que João Santana se negou a entrar nesse assunto com Dilma. Mas a delatora
aproveitou uma oportunidade em que estava em Brasília a trabalho e abordou a
ex-presidente. Dilma tería dado uma "resposta ríspida". "Eles
são loucos, eu não posso me meter nisso. Não posso fazer nada. Como vou mexer
nisso?"
Não há, no
vídeo da delação, registro do que foi entregue para atestar a veracidade disso. Confira.
Do GGN