Ministério
Público está se apequenando. Eu previ e adverti que iríamos chegar a esta
situação nefasta. Lamentável. Hoje encontramos textos, nos principais blogs e
sites da internet, expondo alguns membros do Ministério Público Federal a
críticas contundentes e mesmo ofensas antes inimagináveis.
Como diz o ditado popular: "estão
experimentando do próprio veneno". Buscaram os holofotes e a notoriedade
fácil, usaram o processo penal como forma de autopromoção e correram
freneticamente para as "famosas" entrevistas coletivas. Voluntarismos
e vaidades expostos publicamente.
Como se sabe, houve uma estratégia muito bem
estruturada para convencer a opinião pública de que os fins justificam os
meios, vale dizer, para combater a corrupção, temos de usar regras especiais,
temos de flexibilizar alguns direitos fundamentais da cidadania. Foram feitos
“acordos” com os principais meios de comunicação de massa para respaldo de suas
atividades persecutórias, algumas de legalidade altamente questionáveis.
Na
verdade, este sistema de publicidade saiu do controle e acabamos passando do
chamado “processo penal do espetáculo” para o “processo penal da humilhação”,
do qual foi vítima o saudoso reitor Luiz Carlos Cancellier, da Universidade
Federal de Santa Catarina. A sede de poder levou alguns jovens Procuradores da
República a tentar influenciar o nosso processo legislativo e até mesmo
julgamentos do STF. Deslumbramento total e ingênuo.
Ademais, o Ministério Público Federal busca
amplos poderes discricionários em nosso sistema de justiça criminal, chegando a
aplicar, em nosso país, institutos processuais e teorias jurídicas norte
americanas, totalmente incompatíveis com nosso sistema processual (civil
law), numa ousadia sem par.
Agora, quando as "coisas" começarem a ficar esclarecidas, estes Procuradores voltarão ao merecido anonimato, deixando sequelas indeléveis para a nossa Instituição. O Ministério Público virou um "monstro", amado por uns e odiado por muitos. Ele passou para um lado ideológico da nossa sociedade.
Agora, quando as "coisas" começarem a ficar esclarecidas, estes Procuradores voltarão ao merecido anonimato, deixando sequelas indeléveis para a nossa Instituição. O Ministério Público virou um "monstro", amado por uns e odiado por muitos. Ele passou para um lado ideológico da nossa sociedade.
Chegamos
ao ponto de o Conselho Superior do Ministério Público resolver legislar sobre o
Direito Processual Penal, criando um sistema processual paralelo ao que está
disciplinado no atual Código de Proc. Penal (veja a resolução 181/17). Através
de uma mera resolução, procura-se introduzir, em nosso sistema processual, a
insólita e temerária “plea bargaining”, própria do sistema da “common law”.
O
voluntarismo juvenil de alguns membros do Ministério Público, resultante, um
pouco, de falta de cultura e formação social e política, está
"afundando" esta importante Instituição. Não vamos perdoá-los, pois
dedicamos 31 anos para ajudar a consolidação de um Ministério Público
verdadeiramente democrático.
Lamentavelmente, o fanático corporativismo das
entidades de classe impediu que este nefasto rumo fosse objeto de debate e
crítica. Ao contrário, mal representado, o Ministério Público permaneceu cego a
esta realidade. Faço expressa ressalva ao nosso “Coletivo Transforma Ministério
Público", que jamais compactuou com este deletério estado de coisas. Eu
avisei. Eu adverti. Até tivemos Procurador da República preso preventivamente e
Procurador Geral da República em situações embaraçosas. Em breve, infelizmente,
teremos sequelas no plano legislativo. Acho que, mudando o que pode ser mudado,
o que dissemos sobre o Ministério Público vale também para o Poder Judiciário,
que caiu em total descrédito da opinião pública, graças ao seu desmedido ativismo
judicial. Afranio Silva Jardim, professor associado de Direito Processual Penal
da Uerj. Mestre e Livre-Docente em Direito Proc. Penal pela Uerj. Procurador de
Justiça (aposentado) do Ministério Público do E.R.J.
GGN