(Foto:
Divulgação Insper)
“Não existe
uma solução fácil ou barata, mas nós vamos ter que reduzir drasticamente o
Estado brasileiro de uma maneira geral”, declarou Luis Roberto Barroso, em
debate de que participou, há pouco mais de uma semana, no Insper,
instituição presidida por Marcos Lisboa.
Logo
adiante, Barroso dá uma pirueta e diz que “uma das partes mais importantes da
agenda para o futuro é a educação”. E finaliza: “O ensino público de qualidade,
desde a pré-escola até o médio, vai fazer a revolução social no Brasil.”
Como será
possível fazer uma revolução social com um ensino público de qualidade e, ao
mesmo tempo, reduzir drasticamente o Estado brasileiro?
Os
organizadores do evento não perguntaram isso a Barroso, então não podemos
resolver esse mistério que solucionaria a maior parte dos problemas da
humanidade: como reduzir “dramaticamente” os Estados e ao mesmo tempo fazer
“revolução social” com serviços públicos de qualidade nas áreas da educação,
saúde, segurança, pesquisa, tecnologia, energia, etc.
Como não
quero acreditar que um ministro do STF seja tão leviano a ponto de falar por
falar, ou de externar banalidades idiotas apenas para agradar ao público de
ocasião, em geral bacanas, empresários, membros da classe média alta e
executivos de mídia, suponho que Barroso deve ser o pensador vivo mais
brilhante no mundo hoje. Como tal, deveria se tornar secretário-geral da ONU.
Intriga-me
realmente de onde Barroso tirou sua conclusão de que é preciso “reduzir
dramaticamente o Estado brasileiro”.
Que eu
saiba, ele é um jurista, e não um especialista em finanças públicas.
Barroso
poderia consultar
a Wikipédia. Lá tem um ranking do tamanho do funcionalismo público em
relação ao total de empregos no país.
A média da
OECD, que reúne as nações mais desenvolvidas do mundo, é de um funcionalismo
público correspondente a 21% dos empregos totais do país.
Dentre as
nações desenvolvidas, os Estados Unidos têm a menor taxa de empregos públicos
na relação com o total de empregos: 14,6%, um percentual abaixo de quase todos
os países europeus.
Alemanha,
por exemplo, tem 15,4%.
Os países
socialmente mais avançados do planeta, na Escandinávia, tem percentuais de funcionalismo
público acima de 30% sobre o total de empregos no país.
Na Suécia,
os funcionários públicos representam cerca de 30% do total de empregados.
O Brasil
fica lá embaixo no ranking de empregos públicos no total de empregos, com
apenas 12%.
Bem, talvez
Barroso tenha usado, como fez em Londres, dados falsos de José Pastore. Ou de
Flavio Rocha, dono da Richuelo…
Entretanto,
o que me parece incrivelmente cruel é que Barroso, um milionário que, além de
sua fortuna privada, é um servidor público posicionado lá no alto da cadeia
alimentar, com o salário mais alto de todo o funcionalismo, é formado numa
universidade do Estado, é professor de uma universidade do Estado, diga uma
coisa dessas num momento em que o desemprego bate recordes no Brasil.
O que ele
quer? Dar argumentos para que gestores públicos mal intencionados, como os que
ocupam o Planalto hoje, promovam demissões em massa?
É muita
iresponsabilidade!
Ou seria mau
caratismo?
***
Um
comentário paralelo: o Insper é presidido por Marcos Lisboa, um ultra tucano
que já foi secretário da Fazenda no governo Lula, sobre quem eu fiz algumas
pesquisas na internet, a fim de entender como ele pensa.
Encontrei
uma observação sua muito pertinente (bem mais do que qualquer coisa que Barroso
jamais tenha dito, por exemplo).
Como tucano
querido, Lisboa é constantemente consultado por caciques do partido em momentos
difíceis. Após o impeachment de Dilma, Lisboa foi chamado para uma reunião do
PSDB, que discutia a conveniência de ingressar no governo Temer. O economista
então alertou-os que “só um governo respaldado pelo voto teria força para
aprovar medidas drásticas que, na visão dele, consertaria a economia do país”.
As “medidas
drásticas” que, na minha visão, consertariam o país, são evidentemente opostas
às de Marcos Lisboa. Acho que o Estado precisaria ser ampliado. O sistema
tributário precisa passar por uma revolução. Judiciário, MP e Polícia Federal
precisam ser controlados socialmente pela população. O sistema de comunicação
precisa ser democratizado. Lisboa, para mim, é só mais um fanático neoliberal,
um cabeça de planilha, que não entende nada de história, política, tampouco de
coisas elementares como… segurança alimentar.
Entretanto,
Lisboa acha que “somente um governo respaldado pelo voto” pode fazer qualquer
coisa. Eu concordo com isso, embora acrescentando que não basta um governo
eleito. É preciso um governo que, mesmo após ser eleito, continue dialogando
com a população. Que a consulte permanentemente. Não adianta enganar o
eleitorado dizendo que vai fazer uma coisa, eleger-se e depois fazer outra.
GGN