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sábado, 8 de julho de 2017

Deu a louca no Ministro Luis Roberto Barroso surta de vez e defende “redução dramática do Estado brasileiro”

(Foto: Divulgação Insper)

“Não existe uma solução fácil ou barata, mas nós vamos ter que reduzir drasticamente o Estado brasileiro de uma maneira geral”, declarou Luis Roberto Barroso, em debate de que participou, há pouco mais de uma semana, no Insper, instituição presidida por Marcos Lisboa.

Logo adiante, Barroso dá uma pirueta e diz que “uma das partes mais importantes da agenda para o futuro é a educação”. E finaliza: “O ensino público de qualidade, desde a pré-escola até o médio, vai fazer a revolução social no Brasil.”

Como será possível fazer uma revolução social com um ensino público de qualidade e, ao mesmo tempo, reduzir drasticamente o Estado brasileiro?

Os organizadores do evento não perguntaram isso a Barroso, então não podemos resolver esse mistério que solucionaria a maior parte dos problemas da humanidade: como reduzir “dramaticamente” os Estados e ao mesmo tempo fazer “revolução social” com serviços públicos de qualidade nas áreas da educação, saúde, segurança, pesquisa, tecnologia, energia, etc.

Como não quero acreditar que um ministro do STF seja tão leviano a ponto de falar por falar, ou de externar banalidades idiotas apenas para agradar ao público de ocasião, em geral bacanas, empresários, membros da classe média alta e executivos de mídia, suponho que Barroso deve ser o pensador vivo mais brilhante no mundo hoje. Como tal, deveria se tornar secretário-geral da ONU.

Intriga-me realmente de onde Barroso tirou sua conclusão de que é preciso “reduzir dramaticamente o Estado brasileiro”.

Que eu saiba, ele é um jurista, e não um especialista em finanças públicas.

Barroso poderia consultar a Wikipédia. Lá tem um ranking do tamanho do funcionalismo público em relação ao total de empregos no país.

A média da OECD, que reúne as nações mais desenvolvidas do mundo, é de um funcionalismo público correspondente a 21% dos empregos totais do país.

Dentre as nações desenvolvidas, os Estados Unidos têm a menor taxa de empregos públicos na relação com o total de empregos: 14,6%, um percentual abaixo de quase todos os países europeus.

Alemanha, por exemplo, tem 15,4%.

Os países socialmente mais avançados do planeta, na Escandinávia, tem percentuais de funcionalismo público acima de 30% sobre o total de empregos no país.

Na Suécia, os funcionários públicos representam cerca de 30% do total de empregados.

O Brasil fica lá embaixo no ranking de empregos públicos no total de empregos, com apenas 12%.

Bem, talvez Barroso tenha usado, como fez em Londres, dados falsos de José Pastore. Ou de Flavio Rocha, dono da Richuelo…

Entretanto, o que me parece incrivelmente cruel é que Barroso, um milionário que, além de sua fortuna privada, é um servidor público posicionado lá no alto da cadeia alimentar, com o salário mais alto de todo o funcionalismo, é formado numa universidade do Estado, é professor de uma universidade do Estado, diga uma coisa dessas num momento em que o desemprego bate recordes no Brasil.

O que ele quer? Dar argumentos para que gestores públicos mal intencionados, como os que ocupam o Planalto hoje, promovam demissões em massa?

É muita iresponsabilidade!

Ou seria mau caratismo?

***
Um comentário paralelo: o Insper é presidido por Marcos Lisboa, um ultra tucano que já foi secretário da Fazenda no governo Lula, sobre quem eu fiz algumas pesquisas na internet, a fim de entender como ele pensa.

Encontrei uma observação sua muito pertinente (bem mais do que qualquer coisa que Barroso jamais tenha dito, por exemplo).

Como tucano querido, Lisboa é constantemente consultado por caciques do partido em momentos difíceis. Após o impeachment de Dilma, Lisboa foi chamado para uma reunião do PSDB, que discutia a conveniência de ingressar no governo Temer. O economista então alertou-os que “só um governo respaldado pelo voto teria força para aprovar medidas drásticas que, na visão dele, consertaria a economia do país”.

As “medidas drásticas” que, na minha visão, consertariam o país, são evidentemente opostas às de Marcos Lisboa. Acho que o Estado precisaria ser ampliado. O sistema tributário precisa passar por uma revolução. Judiciário, MP e Polícia Federal precisam ser controlados socialmente pela população. O sistema de comunicação precisa ser democratizado. Lisboa, para mim, é só mais um fanático neoliberal, um cabeça de planilha, que não entende nada de história, política, tampouco de coisas elementares como… segurança alimentar.

Entretanto, Lisboa acha que “somente um governo respaldado pelo voto” pode fazer qualquer coisa. Eu concordo com isso, embora acrescentando que não basta um governo eleito. É preciso um governo que, mesmo após ser eleito, continue dialogando com a população. Que a consulte permanentemente. Não adianta enganar o eleitorado dizendo que vai fazer uma coisa, eleger-se e depois fazer outra.

GGN