O Neoliberalismo não é uma escola de economia e sim um ciclo
de relançamento das ideias da Escola Classica como reação aos excessos do
Estado do bem estar que se seguiu à Segunda Guerra, o Neoliberalismo foi então
entendido como um contraponto às ideias intervencionistas de Keynes iniciadas
antes da Guerra e implantadas na Europa no pós guerra.
Esse ciclo se iniciou com o Governo Thatcher no Reino
Unido em 1979 e teve seu fim na crise financeira dos EUA de 2008. O ciclo
neoliberal afetou de forma diferente alguns paises emergentes. Nos EUA o
neoliberalismo teve pouco espaço porque esse Pais nunca foi um Estado de bem
estar social e toda sua economia sempre foi privada MAS teve um efeito na
desregulamentação do mercado financeiro promovida pelo Presidente Reagan sob influencia
de Margaret Thatcher que assumiu uma Inglaterra que no pós guerra
teve implantado o mais amplo Estado de Bem Estar Social a partir do governo
trabalhista de Clement Attlee em 1945 e das ideias de seu ideólogo, Lord
Beveridge, pai do conceito do Welfare State.
Processos parecidos com diferenças pontuais foram implantados
na Europa continental.
Tanto no Reino Unido como no continente , especialmente
na França e Italia, as grandes empresas de serviços públicos e
transportes, além da siderurgia e petróleo, eram estatais, a economia
inglesa era 55% estatal. A partir do governo Thatcher quase tudo foi
privatizado e a economia sob controle estatal foi desregulamentada.
Foi essa desregulamentação que criou as bases para a crise
financeira de 2008. Antes dela e por causa da crise de 1929, os bancos
americanos não podiam sair de seus Estados e em alguns Estados só podiam ter
agencias em sua cidade sede. Os bancos comerciais não podiam ter ligação com
bancos de investimentos e nenhum deles com seguradoras e nem com corretoras,
tudo deveria ser bem separado. Reagan acabou com todas essas “paredes” e deixou
misturar tudo, o que facilitou a criação dos títulos “subprime”, raiz da crise
de 2008. Essa crise foi emblemática para o fim da crença de que o mercado resolveria
seus próprios problemas e que o Estado deveria se afastar do mercado para não
atrapalhar.
O neoliberalismo pregava o “Estado mínimo” e tinha mesmo um
desprezo pelo Estado porque considerava o mercado um ente superior ao Estado em
moral e eficiência.
Por essas ironias do destino o laboratório onde foi gestada a
crise do subprime foi a firma GOLDMAN SACHS, que inventou esse titulo de
mercado, a mesma Goldman Sachs que inventou o acrônimo BRICs e onde foi
montado (através do Institute of International Finance) o bordão
CONSENSO DE WASHINGTON, que soou como musica aos economistas
tucanos do Brasil, o grupo que ao implantar as ideias neoliberais no Brasil em
1994 afastou como se fosse entulho o pensamento desenvolvimentista brasileiro,
uma escola de pensamento criativa, inovadora com sólidos fundamentos teóricos à
qual o Brasil deveu na segunda metade do Seculo XX o MAIOR INDICE DE
CRESCIMENTO DO PLANETA, entre 1945 e 1975, 7% ao ano em media. Os “economistas
de mercado” de 1994 implantaram politicas mal copiadas do centro neoliberal que
produziram no Brasil, de 1994 a 2017 um serie de fracassos de politica
econômica e de baixo crescimento que desembocaram na atual recessão.
No caminho as politicas neoliberais liquidaram com boa parte
da indústria brasileira que em 1994 produzia 23% do PIB e hoje mal chega a 9%
do PIB. A liquidação da indústria nacional não foi a única obra do
neoliberalismo à brasileira. Na sua conta também estão o desemprego
estrutural, a rebaixa de salários e da renda real da população abaixo da
classe media alta, um plano de pais bom para 30 milhões de pessoas, com o
abandono dos demais brasileiros.
E não se diga que nos anos do Governo do PT essa politica não
prevaleceu. O PT fez uma aliança tácita na AREA ECONOMICA FINANCEIRA com o mesmo
grupo de economistas de mercado que vinha do governo anterior, economistas
esses que comandaram o Banco Central desde então, apenas a tinta do governo do
PT era de esquerda, o pulmão era neoliberal.
Esse conjunto de cardeais, títulos, rotulos e slogans
do neoliberalismo de almanaque forma jogados ao mar pela crise dos
subprime de 2008 que levou à quebra um dos mais sólidos e tradicionais
bancos americanos, Lehman Brothers e que SÓ não quebrou outros gigantes
como o mega CITIGROUP e a maior seguradora dos EUA, AIG, bem como a maior
empresa industrial daquele Pais, a GENERAL MOTORS, porque o Tesouro dos
EUA salvou esses símbolos do capitalismo privado com o apoio financeiro
imediato de US$780 bilhões através de uma programa criado em três dias, o TARP,
por iniciativa do Presidente Obama, que nunca foi adorador do mercado como
ideologia de Governo mas por uma ação inteligente o salvou.
O resgate pelo Estado do capitalismo americano e global
dissolveu em ácido o neoliberalismo dos anos 70 e 80, não só pelo CHEQUE DA
SALVAÇÃO emitido pelo Tesouro dos EUA como pelo fato incontestável de que a
crise de 2008 foi causada exatamente pelo neoliberalismo que patrocinou
a desregulamentação dos mercados pelo Presidente Reagan, que era
uma das metas do neoliberalismo, a outra eram as privatizações.
O neoliberalismo de Hayek foi sepultado pelos escombros de
2008, a noticia todavia não chegou ao Brasil e muito menos ao grupo de
ECONOMISTAS TUCANOS que dominam a governança da economia brasileira desde o
Plano Real, pode-se também chama-los de “economistas de mercado”, praticamente
todos nascidos no mesmo ninho da chamada “equipe do Real” , cuja alma mater é a
escola de economia da PUC Rio e que que desde então se entrincheiraram no
Banco Central mesmo nos governos petistas, é um GRUPO COESO E ARTICULADO,
quando não estão em Brasilia estão em Washington no FMI ou no Banco Mundial,
como estão os dois últimos hierarcas econômicos do Governo Dilma, Joaquim Levy
e Alexandre Tombini, cada nomeado puxa outros da mesma patota para o
“locus” onde se senta, seja no BC, no BNDES, na Casa das Garças, na FIRJAN, na
FGV, no BID, no Banco Mundial, no FMI, na Secretaria de Politica Economica do
MF.
Um exemplo marcante no governo Dilma foi a nomeação
para diretor de assuntos internacionais do Banco Central de Tony Volpon,
banqueiro de investimentos residente no Canada há muitos anos, um ultra
neoliberal em pleno governo da ala esquerda do PT.
OS ORFÃOS DO NEOLIBERALISMO
A questão dos grandes acidentes de percurso do neoliberalismo
foi tão grave que desmontou as premissas ideológicas de sua construção
intelectual nascida na celebre conferencia de Mont Pelerin, na Suiça, em plena
guerra, 1944, e no livro O CAMINHO DA SERVIDÃO, de Hayek, que via o mercado
como um ente sempre superior ao Estado na organização da economia. Na realidade
a pregação de Hayek , apresentada como novidade, já era uma reciclagem da
Escola Classica que TINHA FRACASSADO MISERAVELMENTE na crise de
1929, de raízes muito parecidas com a crise d 2008, excessos de mercados
desregulados e falta de limites pela soma descontrolada de ganancias dos
operadores privados, ninguém controlando o todo.
O mercado, ao contrario da tese dos classicos, NÃO se
auto regula, não tem como evitar crises, estas historicamente SÓ SÃO RESOLVIDAS
PELO ESTADO, é a lição da Historia.
A crise de 1929 teve reverberações geopiliticas, sob
seus escombros nasceu o nazismo na Alemanha e criou-se o terreno para uma
doutrina antagonica à Escola do livre mercado, aquela que encontrava no ente
Estado as ferramentas para organizar a economia em uma COMBINAÇÃO de mercado e
Estado, cada um com sua parte MAS sob a regência geral do Estado, portanto na
premissa de que O MERCADO NÃO SE AUTO REGULA. Já na crise de 1929 e seus
desdobramentos cataclísmicos nos anos 30 se comprovou o erro da ideia de que o
MERCADO DEIXADO LIVRE FAZ TUDO de bom na economia. Simplesmente não faz.
A hsitoria das crises econômicas mostrou que só o Estado tem
o poder e as ferramentas para desatar crises econômicas, algo que não se admite
na recessão de hoje no Brasil, a equipe econômica e seus arautos na mídia creem
que o próprio mercado vai acabar com a recessão.
O noliberalismo de Hayek, que é do pós Guerra, tentou fazer
rebrotar aquilo que levou à crise anterior de 1929, foi tomado como algo novo
quando era apenas uma tentativa de remontagem, um refogado aproveitando matéria
prima vencida pela Historia, usando de ideias velhas e derrotadas
anteriormente. As recicladas ideias de Hayek não pegaram logo depois da
publicação do CAMINHO DA SERVIDÃO em 1945 mas rebrotaram no fim dos anos 70 e
deram origem a uma roupa de brechó reformada, o “neoliberalismo”, incorporado
no cardapio das universidades americanas como doutrina politica charmosa
acoplada a seu instrumental monetário, o monetarismo de Friedman, também uma
reciclagem de outro monetarismo derrotado, o de Irving Fischer, maior
economista americano dos anos 20 que a duas semanas da crise de Outubro
de 1929 disse alto e bom som que “ não havia risco algum de crise no horizonte”,
crise essa que explodiu na sua cara e destruiu sua reputação e a de primeira
Escola monetarista. Friedman reciclou o monetarismo de Fisher, bancado pelo
Citibank, uma longa historia que narro em 900 paginas de meu ultimo livro, o
monetarismo nasceu nas entranhas do Citibank, na época maior banco do
mundo, o CITI bancou a campanha e a a revista de divulgação de
Friedman e suas múltiplas conferencias que divulgaram o credo monetarista por
todos os EUA, virando a tese da moda dos anos 90.
O rescaldo das politicas neoliberais e seu instrumento, a
globalização financeira, foi de um lado a concentração do capital pela
permissividade de fusões e aquisições e como contrapartida o desemprego, a
precarização do emprego e o rebaixamento de salários em todo o mundo, a começar
pelos EUA, com a criação de uma classe media com renda estagnada ou rebaixada
há 20 anos, isso gerou Trump como vingança anti-sistema, um sinal
de revolta de uma classe media empobrecida pela destruição da indústria
americana via globalização.
A resultante histórica desse quadro é o populismo politico
com salvadores da pátria, em 1933 foi Hitler na Alemanha e assemelhados em
outros paises.
O NEOLIBERALISMO NO BRASIL
As ideias do neoliberalismo chegaram ao Brasil, como tanta
coisa ruim, através de cursos em universidades americanas. Uma geração de
economistas, muitos com bolsa pagas pelo governo brasileiro, estudou em
escolas de economia nos EUA nos anos 80 e 90 e trouxe na bagagem de volta
uma fanática crença nessas cartilhas neoliberais. Muitos desses economistas
formaram o núcleo da chamada “equipe do Real” de 1994 e desde então, SEM
INTERRUPÇÃO, comandam a politica econômica brasileira. A base de seu comando
foi a infiltração no Banco Central, os governos petistas nunca
honraram economistas desenvolvimentistas e se amarraram nos neoliberais
acreditando que assim comprariam a simpatia do mercado.
A entrega da politica econômica de forma “porteira fechada”
ao comando dos neoliberais nos governos do PT fez com que de 1994 até hoje o
Brasil está submetido a essas politicas mesmo depois de sua desmoralização
completa nos EUA e no resto do mundo, aqui a noticia da batalha onde o
neoliberalismo foi vencido, a “batalha de Nova York” de 2008, não chegou na
academia, no governo e na mídia. Todos acreditam que abraçando o neoliberalismo
ficam “moderninhos”. A prova é uma nova onde privatizações quando a
privatização saiu de moda no mundo inteiro bem como caiu na vala das teses
amaldiçoadas o “ajustismo fiscal à la grega”, condenado até pelo Fundo
Monetario Internacional como simples e má solução para um problema
complexo que exige mais inteligência do que fidelidade à cartilhas.
Cerebros de primeira ordem como o Premio Nobel de Economia de
2015, o escocês Sir Angus Deaton e o presidente da maior consultoria
empresarial do mundo, Mc Kinsey & Co. o canadense Dominic Barton chamam a
atenção pela queda da qualidade de vida de 70% dos habitantes dos paises ricos
,chamados de “órfãos da globalização “ e chamando a atenção pelos efeitos
maléficos da globalização para a grande maioria dos habitantes do planeta.
OS CUSTOS SOCIAIS DO NEOLIBERALISMO
Chegamos nesse ponto a uma avaliação dos benefícios do
neoliberalismo e de sua ferramenta operacional, a globalização comercial
e financeira. Enquanto para as corporações globais há um inegável aumento de
eficiência através do processo de integração das cadeias produtivas, seu
custo social junto aquela maioria da população que não participa desses ganhos
mostram o neoliberalismo global produzindo estragos e abalos na
sobrevivência de grande maioria das populações. Pergunta-se então, qual o ganho
MACRO dessa politica econômica para o conjunto da população ? Ou seja, quais as
consequências sociais do neoliberalismo?
De que adianta aumentar os lucros das corporações e a
concentração de renda se no rastro do processo se produz mais pobreza nos que
ficaram para trás? A existência de bilhões de “órfãos da globalização” explode
os custos sociais que ao fim são custos macro de cada Pais e de cada sociedade
e no conjunto, do planeta. O ganho é particular mas os prejuízos são
públicos.
Então para que 500 grandes corporações ganhem mais pela
eficiência da globalização, 6 bilhões de pessoas ganham menos e geram no
conjunto maiores gastos públicos pelo desemprego e consequente
depreciação do capital humano de um Pais por desgastes físicos e mentais, pelo
desajuste nas famílias , pela perda de habilidades e conhecimentos para quem
fica desempregado por muito tempo, pela pressão sobre os sistemas públicos de
saúde.
pelo aumento exponencial da criminalidade, da droga, do
suicídio, pelo desalento dos jovens que não conseguem o primeiro emprego mesmo
após graduados em boas escolas.
A conta final é negativa para os paises que acolheram o
neoliberalismo e a globalização, INCLUSIVE PARA OS EUA E REINO UNIDO,
inventores do neoliberalismo global.
O processo NÃO TROUXE LUCROS ás populações na conta final.
Mais brinquedos eletrônicos acompanhado de menos empregos e piora da qualidade
e da renda dos empregos restantes.
Melhorou a vida dos CEOs, dos advogados de
compliance,dos banqueiros de investimento, dos gestores de fortuna, à
custa da rebaixa da qualidade de vida da maioria da população.
Logo ao fim da Segunda Guerra um operário americano ganhava o
suficiente para manter uma boa casa, um carro novo, sua esposa não precisava
trabalhar e seus filhos tinham expectativa de ganhar mais que os pais. Hoje o
operário americano, quando tem emprego, não consegue ter e manter uma boa casa,
muitos moram em trailers, sua esposa precisa trabalhar para ajudar
a sustentar a família e a perspectiva de vida de seus filhos é pior do que a de
seu pais. Quem ganhou com a globalização?
Esse DESARRANJO SOCIAL nos EUA produziu Trump, na Inglaterra
o BREXIT, no resto do mundo produzirá populismos, salvacionismos e
aventureirismos de vários tipos e matizes.
Não é uma ideia apenas minha, pensadores de varias culturas
chegaram mesma conclusão, Sir Angus Deaton, Dominc Barton, Thomas
Pikety e muitos outros chegaram à mesma conclusão, o neoliberalismo produz
ganhos para poucos e perdas para muitos.
No entanto o Brasil, que sempre foi inovador em ideias
econômicas, prefere afundar com uma politica econômica neoliberal medíocre e
derrotada do que usar a inteligência para aproveitar seus imensos
recursos naturais, preferimos a velhice medíocre de uma politica econômica
fracassada do que as ideias inovadoras que sempre foram um característica do
Brasil.
Infelizmente há uma tendência na psique brasileira de adotar
modismos acriticamente, há pouca reflexão pensante nos núcleos de poder, muitos
acham que se valorizam parecendo modernos, mesmo quando o moderno por eles
imaginado jé está no arquivo e aquilo que parece moderno já é na verdade
um mundo ultrapassado.
Hoje os conflitos globais de todos os tipos levam a um novo
protagonismo do Estado na economia e na sociedade, só o Estado e a
centralização do poder pode resolver conflitos agudos, o desemprego e o
desarranjo social no Brasil é um dessas mega conflitos que exigem mais Estado
atuando, não é a bolsa de valores que vai resolver o drama social.
Do GGN