A 49a. Fase da Operação Lava Jato jogou os holofotes da
Polícia Federal para Delfim Netto, poderoso no passado, hoje quase um zumbi.
Não significa que não deva responder por crimes que tenha
praticado.
Mas esta investigação não será justa se não apresentar em
todos os seus contornos o papel do empresário Joel Malucelli, dono de uma
empreiteira que participou do esquema de corrupção que, segundo a Lava Jato,
superfaturou a construção da usina de Belo Monte. O consórcio de empreiteiras é
teria pago propina para Delfim Netto.
Até aqui, o nome de Malucelli tem sido preservado, o que é
altamente suspeito, já que, em Curitiba, é conhecida a sua amizade com o juiz
Sergio Moro. O primeiro a tratar dessa relação foi o empresário Mário Celso
Petraglia, que foi presidente do Atlético Paranaense.
Em 2014, Petraglia compartilhou em sua página no Facebook uma
nota que associava Malucelli e Sergio Moro. Dizia a postagem:
– Segundo informações de pessoas próximas à Operação Lava
Jato, o informante do Juiz Federal Sérgio Fernando Moro nas investigações seria
Joel Malucelli, suplente do Senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
Segundo Petraglia, Malucelli já era tratado de senador pelos
amigos. A razão é que, pela articulação em curso, Malucelli assumiria o senado
na hipótese de Aécio vencer as eleições.
É que o empresário amigo de Moro é suplente do Álvaro Dias,
na época cotado para ministro num hipotético governo do PSDB.
É o que explicaria o avanço da Lava Jato contra o PT, Lula e Dilma,
que teve seu apogeu no vazamento distorcido de um depoimento de Aberto Yousseff
— uma espécie de doleiro de estimação de Moro —, às vésperas da eleição.
Com o vazamento, Veja antecipou a edição em que Lula e Dilma
apareciam acima do título com a informação falsa de que Yousseff teria dito que
os dois sabiam do esquema de corrupção na Petrobras.
Apesar do golpe baixo, Aécio perdeu, mas a Lava Jato
continuou mais poderosa e o que aconteceu todos sabem: Dilma caiu, num ambiente
político contaminado pelos vazamentos cada vez mais frequentes dos processos
sob condução de Moro.
A postagem de Petraglia não está mais em sua página no
Facebook e ele acabou implicado em uma denúncia antiga, tirada dos arquivos da
Polícia Federal, que se transformou em um processo por lavagem de dinheiro, na
Vara de Moro. Nada a ver com a Lava Jato, mas com outras ações do ex-presidente
do Atlético Paranaense.
Petraglia não fala sobre o episódio (eu o procurei em
Curitiba), mas registros da denúncia que apontou a ligação de Moro com
Malucelli ainda estão disponíveis na rede social.
O grupo Malucelli, com um patrimônio avaliado em R$ 2
bilhões, possui mais de 40 empresas, atuando desde a construção pesada até
meios de comunicação, intercalando usinas hidrelétricas, sistema financeiro,
futebol entre outros.
Malucelli é dono de emissoras de rádio, da TV Bandeirantes em
Curitiba e Maringá, além de ser banqueiro e empreiteiro , com participação em
diversos pedágios no Paraná.
É proprietário do Paraná Banco e, em 2008, constituiu a
primeira resseguradora privada do Brasil. O Grupo J. Malucelli foi, por meio de
sua seguradora, a pioneira na emissão de apólices pela internet.
A Band News, uma de suas emissoras, teve acesso em 2006 a uma
cópia de grampos de conversas telefônicas e ambientais que mostravam
Moro em conversas constrangedoras
Em uma delas, conversando com o amigo e advogado Carlos
Zucolotto Júnior, Moro quebra o sigilo de uma investigação ao comentar a prisão
de algumas pessoas envolvidas em denuncia de crime de colarinho branco — um
desses presos é negro e Moro fez referência à cor de sua pele com um
vocabulário que, se a conversa fosse vazada, comprometeria sua imagem de homem
educado. Zucolotto ligou para dizer que Moro estava famoso, e ouviu os
comentários desairosos do amigo.
Mas a Band News não divulgou o grampo. Os jornalistas
envolvidos na cobertura dizem que não foi por pressão de Malucelli. Teria sido avaliação
dos próprios profissionais, que não quiseram divulgar as conversas em razão da
origem clandestina das escutas.
O empresário, entretanto, não é do tipo que dá carta branca a
seus subordinados. Em outro episódio, ele mandou embora jornalistas que fizeram
a cobertura crítica da tentativa de mudança do sistema de previdência da
Assembleia Legislativa.
A lei acabou não aprovada. Mais tarde, um dos jornalistas
demitidos acabou descobrindo que Malucelli perdeu muito dinheiro com essa
derrota. Seu banco, o Paraná, é que administraria o fundo de previdência que
seria criado.
Malucelli continua poderoso no Estado. Ele é presidente do
Podemos, o partido a que o senador Álvaro Dias se filiou depois de deixar o
PSDB.
Com 4 anos de seu terceiro mandato consecutivo, que vai até
2022, Álvaro Dias é pré-candidato a presidente da República. Tem chances
mínimas de se eleger, mas pode ocupar um espaço que o leve a um ministério em
2019. Com isso, Malucelli poderia se tornar senador e transformar em realidade
o desejo dos amigos.
A Lava Jato, até agora, não tem sido obstáculo a seus planos.
P. S: Há na rede social uma foto em que
Moro aparece com Malucelli. É de maio de 2015 e foi publicada na coluna
de Cícero
Cattani. Ele diz:
O juiz Sérgio Moro foi a figura mais assediada durante a
festa de comemoração pelos dez anos da Abrabar-PR (Associação Brasileira de
Bares e Restaurantes), no bar Santa Marta, na noite de segunda-feira.
Cumprimentado pelas autoridades presentes pelo trabalho que realiza a frente da
Operação Lava Jato e muito solicitado para selfies, ele assistiu ao show do
cantor Fagner, principal atração da festa, num camarote acompanhado da mulher,
Rosângela, e alguns amigos.
Na foto, o juiz federal Sérgio Moro (de camisa preta)
com o deputado estadual Ney Leprevost, o empresário Joel Malucelli (ambos à
esq.), o Ouvidor Geral de Curitiba, Clóvis Costa (de camisa branca), o cantor
Fagner e o presidente da Abrabar-PR, Fabio Aguayo (com a placa na mão), na
festa pelos dez anos da entidade no bar Santa Marta – Pedro Mariucci Neto.
GGN