A
desmoralização internacional do país, pelo governo Bolsonaro, não tem
implicações apenas morais. A respeitabilidade centenária do Itamarati está
sendo corroída por um Ministro aloprado. Há uma reorganização internacional da
economia, mudanças radicais no modelo de industrialização, o embate feroz entre
dois gigantes – Estados Unidos e China =, políticas protecionistas sendo
implementadas pelas maiores economias, e a única estratégia brasileira é um
acordo com Israel que unifique as religiões cristãs permitindo a volta do
Salvador.
As
definições de política comercial de um país começam pela análise dos
indicadores de comércio para, a partir deles, montar as estratégias comerciais,
que vão desde acordos bilaterais até a promoções comerciais. É uma política que
exige pleno conhecimento dos interesses nacionais e dos interesses dos
parceiros, para se obter os melhores acordos.
Quando
se compara a complexidade das políticas comerciais com as conversas de Jair
Bolsonaro com Donald Trump ou com os arrufos fundamentalistas do chanceler
Ernesto Araújo, percebe-se que o país está totalmente fora do jogo.
De
qualquer modo, uma análise da balança comercial permite identificar estratégias
óbvias, que serão retomadas assim que os fanáticos se apearem do poder.
O fator China
A
China é um parceiro comercial importante, país com quem o Brasil ostenta o
maior saldo comercial, de US$ 30 bilhões no acumulado de 12 meses até abril de
2019, e com crescimento consistente desde outubro de 2015.
É
de longe o maior saldo comercial e o maior destino das exportações brasileiras.
Confira o acumulado de 12 meses até abril.
Mesmo
assim, a pauta de exportações brasileiras para lá é extremamente pobre, sendo
basicamente de produtos primários. Enquanto as importações brasileiras da China
são de produtos de alto valor agregado.
Comparativamente,
a pauta de exportações brasileiras para os Estados Unidos é muito mais
diversificada, com preponderância de produtos semimanufaturados de ferro,
manufaturados, máquinas e aparelhos de terraplanagem. Enquanto as importações
brasileiras são de produtos de baixo valor agregado além de uma gama relevante
na categoria de “demais produtos”.
Aliás,
quando se analisa a pauta de exportações de manufaturas brasileiras (os
produtos de maior valor agregado) percebe-se a relevância dos mercados vizinhos
da América do Sul.
É
só conferir a pauta de exportações para a Argentina.
As estratégias
A
partir daí, governos inteligentes teriam um corredor pela frente para definir
as estratégias de políticas comerciais.
Com
os Estados Unidos, por exemplo, haveria a necessidade de acordos que blindassem
os produtos brasileiros da alta de tarifas de importação anunciadas pelo
governo Trump. Em vez disso, Bolsonaro se contentou com a promessa vaga,
talvez, quem sabe, de apoio de Trump ao ingresso do Brasil na OCDE. Qual o
ganho que o país teria com esse ingresso? Nenhum.
Em
relação à China, há um interesse estratégico pelas matérias primas brasileiras.
Mas que isso, pela exploração dos mercados de energia, de alimentos e minerais.
Em outros tempos, governos mais inteligentes se valeram da disputa de hegemonia
entre nações para conseguirem grandes saltos no desenvolvimento brasileiro.
Vargas conseguiu a Companhia Siderúrgica Nacional e os planos da Comissão Mista
Brasil-Estados Unidos.
Em
um momento de profundas transformações tecnológicas, com os gigantes chineses
de tecnologia buscando alianças no Ocidente, uma estratégia inteligente poderia
arrancar concessões relevantes, ou da China ou dos EUA. Em um mundo em que os
maiores países, como Estados Unidos, China e Alemanha, montam políticas
industriais visando fortalecer a produção interna, a burrice diplomática só tem
olhos para o acordo final com Israel, que abriria espaço para o fim do mundo e
a salvação das almas.
Não
se trata apenas de excentricidades de circo. Mas de um atraso que vai se
consolidando, enquanto se tolera a manutenção do imbecil coletivo no governo.
GGN