Campanha de José Serra em 2010 - Foto: Arquivo/Divulgação
Não era apenas o ex-diretor da Dersa (Desenvolvimento
Rodoviário S/A), Paulo Vieira de Souza, reconhecido como o operador de propinas
do PSDB e também chamado de Paulo Preto, o único tucano que mantinha milhões em
contas ocultas na Suíça. O ex-deputado, ex-presidente do PSDB do Rio de Janeiro
(1993) e empresário Ronaldo Cezar Coelho admitiu que recebeu 6,5 milhões de
euros para atuar na campanha de José Serra à Presidência em 2010. Mas os
montantes de todo o esquema poderiam ultrapassar R$ 43,2 milhões.
A informação não é de agora, mas o nome do empresário estava
mantido em sigilo. O correspondente Jamil Chade, do Estadão, revelou ainda em
abril o teor do depoimento do empresário à Polícia Federal, admitindo o
recebimento da quantia. Agora, as autoridades suíças repassaram todos os
documentos e detalhes sobre as contas do empresário para integrar a
investigação, que avança em segredo de Justiça, contra o financiamento da
campanha de José Serra em 2010.
Essa cooperação do Brasil com a Suíça vem sendo mantida desde
2014, a comando do procurador-geral do país europeu, Michael Lauber. Em um
primeiro momento, estava na mira o ex-diretor da Dersa. No caso relacionado a
Paulo preto, provas bancárias também foram enviadas pelos investigadores
suíços, apontando R$ 113 milhões em contas ocultas no país.
Na investigação do considerado operador do PSDB a entrega das
provas ocorreu de maneira espontânea pela Suíça, não partindo de um pedido do
Ministério Público Federal brasileiro. Até então, Paulo Preto tentava evitar
esse envio de comprovantes, desde 2017, o que foi negado pela Suprema Corte da
Suíça há dois meses.
Por outro lado, os investigadores suíços informaram ao
repórter Jamil Chade que ambos casos não são uma continuidade, mas apurações
separadas. Apesar da relação de Paulo Preto com caciques tucanos, como o
próprio José Serra, a investigação do empresário Ronaldo Coelho é direta para
acusar irregularidades e esquema de corrupção envolvendo o financiamento de
campanha de Serra ao Planalto, em 2010.
De acordo com os cálculos dos suíços, que bloquearam ativos
em contas identificados no país desde 2017, as quantias chegariam a R$ 43,2
milhões, o "equivalente a mais de 10 milhões de francos suíços, valor
total pago em uma base de corrupção entre 2006 e 2012", informaram as
autoridades daquele país.
Deste total, alguns repasses ocorreram no valor de R$ 6,25
milhões e outros atingindo 3,75 milhões de euros, entre os anos de 2009 e 2010.
A resposta dada pelo empresário sobre essas quantias foi que estes depósitos
teriam relação aos gastos de aviões que ele emprestou para a campanha do PSDB à
Presidência há oito anos. E o dinheiro seria um "reembolso" do
partido pelas viagens a jatos.
Mas os todos os documentos e comprovantes das quantias foram
enviadas agora pela Suíça ao Brasil, para que os procuradores brasileiros
prossigam com a investigação sobre o financiamento supostamente ilegal da
campanha de José Serra. Ao repórter, o tucano não respondeu.
GGN