"Tudo é colonial na colônia. Tudo é subdesenvolvido
no país subdesenvolvido" (Roland Corbisier).
“O Brasil só tem dois partidos: o de Tiradentes e o de
Joaquim Silvério dos Reis” (Barbosa Lima Sobrinho).
Minhas amigas, meus amigos, me perdoem se vocês não têm idade
inferior a algo em torno de 25 anos. Se desejarem acompanhar as ideias aqui
expostas, muito bem, confio no interesse, no pulsar jovial de seus corações e
de suas formas de enxergar a realidade brasileira.
Mas, faço a advertência de que esse texto é direcionado aos
adolescentes e aos jovens adultos. Convenhamos, nós, que temos especialmente
idade superior a 40 anos, fracassamos. Rotundamente. Hoje o País se depara,
sobretudo, com a pior geração de líderes já produzida. A menos imaginativa e
menos ciosa com os interesses nacionais e populares. A mais impotente e
incapaz, em múltiplas áreas de atuação, no Brasil. A mediocridade predomina. O
País está entregue, avassalado, por toda sorte de interesses mesquinhos e de
personagens antinacionais.
Por isso, tomando como inspiração oportunas e sábias palavras
há muito proferidas por Leonel Brizola aos jovens, somente vejo na juventude
possibilidades de organização e manifestação futura de indignação com o
processo de destruição e desintegração nacional, de incremento da dependência,
do colonialismo e do subdesenvolvimento no País. Isso, também, por que a
juventude depende, diretamente, dos rumos da Nação.
Infelizmente, o ruído, a espuma e a enganação proliferam. De
modo que é completamente compreensível o estado de estupor, passividade e
desalento em que se encontra o Povo Brasileiro. Ademais, uma sociedade civil
invertebrada é o que prevalece em nossos dias.
A título de exemplo, o próximo dia do Trabalhador terá
showmício e sorteio de produtos industrializados pela Força Sindical, “doados”
por seus amos das empresas multinacionais. Terá também, pela CUT, muitas
lamúrias políticas impotentes e oferta de cestas básicas para os desempregados.
Só não teremos mais a CLT do remoto tempo do Dr. Getúlio Vargas, nem propostas
e ações em defesa dos trabalhadores e do País. O movimento sindical, entre
tantos segmentos da chamada sociedade civil organizada, está rendido e inerte.
Meninas e meninos, isso por que praticamente todos/as – na
esfera político-partidária ou em entidades associativas – somente pensam em
eleições, posições e boquinhas. A acomodação dá o tom do nosso tempo e mesmo
aqueles/as que deveriam se organizar e agir contra o aumento da subserviência
do Brasil aos interesses estrangeiros e de seus capitais, bem como contra a
escravização da maioria e o fim do direito de oportunidades e expectativas de
futuro para a juventude, esses e essas nada fazem. Nem querem fazer.
O sistema político-partidário e demais instituições de poder,
privado e público, estão todos carcomidos, apodrecidos. São todos incapazes de
ouvir e representar, minimamente que seja, os anseios e as preocupações do Povo
Brasileiro. Do sistema nada se pode esperar de bom. Dito isso, quero fazer
alguns apontamentos que possam servir para a sua reflexão e o seu debate.
Somente vocês, jovens, podem dar o primeiro e grande passo de contestação
efetiva contra a violação de direitos e a promoção da indignidade e da
colonização aberta do Brasil.
1. O momento que vivemos nada tem que ver com combate à
corrupção. O capitalismo, especialmente, periférico e subordinado, sem
soberania consistente, é por natureza corrupto. Corrompe o interesse público e
o voto por meio da grana das grandes empresas, nacionais e gringas. As leis e
os governos são feitos para elas.
2. Experimentamos uma nova e grave etapa de colonização do
Brasil. A ditadura civil-militar instalada em 1964 entregou a indústria para os
gringos. Nos anos 1990 e depois, todos os governos estimularam, direta ou
indiretamente, a maior participação do capital estrangeiro na economia
nacional, controlando o setor de serviços. O golpe de 2016 teve e tem em vista
entregar o que resta dos principais meios de riqueza, trabalho e produção,
também para os gringos: terras, energia, infraestrutura e mais serviços
públicos para o grande capital internacional.
3. Isso significa dizer o seguinte: tudo que for necessário em
termos de conhecimento e trabalho mais exigente em formação, vem e virá mais
ainda de fora do País. Todos os equipamentos e máquinas serão comprados,
adquiridos de fora.
4. O efeito, que já se apresenta, é a desnecessidade completa da
oferta de educação, principalmente pública e nos ensinos médio e superior. Para
a juventude brasileira, cada vez mais, abre-se o horizonte – para os filhos dos
trabalhadores marginalizados, subempregados e desempregados aumenta – da
inexistência de expectativas e chances de emprego e trabalho criativo. Somente
as formas de emprego mais rudimentares e, com menos direitos, são e serão
oferecidas. Muitos jovens, desde o ensino fundamental, há muito se perguntam:
para que estudar? Essa pergunta irá se estender por mais setores da nossa
juventude.
5. Colonização significa que o País não deve ter conhecimento,
cultura, tecnologia, nem destino próprio. Trata-se apenas de um objeto gerador
de riquezas para fora.
6. O que domina a política, os meios de comunicação, a justiça e
o empresariado brasileiro é o entreguismo. Trata-se de uma abjeta maneira de
ver o Brasil, tratando o seu Povo como incapaz e incompetente para desenvolver
suas próprias coisas, equipamentos, saber, produtos etc. Tudo o que é de fora é
que se valoriza e se vê como competente e bom. Com isso, tem que submeter a
sorte do Povo Brasileiro e os rumos e as riquezas da Nação aos interesses do
capital estrangeiro. Há bastante tempo Raul Seixas deu sua contribuição para
desmascarar o entreguismo, como se vê na música abaixo.
7. Todos esses grupos e personagens que hoje se dizem
“patriotas” – Bolsonaros, MBLs, Vem pra Rua etc. – batem continência e defendem
os interesses estrangeiros. Tudo contra o Brasil, já que são entreguistas de
marca maior. Não são poucos os que chegam a ser beneficiados com dinheiro de
fora, para agir contra os interesses nacionais e do Povo Brasileiro. São
vendilhões da Pátria. Querem te enganar.
8. Todos os grandes partidos abertamente liberais e
conservadores são entreguistas: DEM, PSDB, PMDB etc. São todos colonizados que
representam os seus amos estrangeiros e, com isso, conseguem muito dinheiro
para viver de modo suntuoso.
9. O PT tentou conciliar os interesses mínimos do Povo
Brasileiro – não passar fome e ter emprego, em especial – com o entreguismo. Os
seus governos duraram pouco e demonstraram que essa equação não dá certo. Corresponde
a um partido incapaz sequer de alertar e mobilizar o Povo Brasileiro contra os
inimigos da Pátria. Entregou o governo calado e pretende se acomodar ao poder
vigente. Mais confunde do que auxilia na compreensão do significado terrível do
golpe, deixando despreparado e inerte o Povo Brasileiro. A prisão de Lula é só
mais uma demonstração da passividade do PT frente ao processo de colonização do
Brasil. O ex-presidente deveria buscar asilo político, para denunciar ao mundo
o que se passa na Pátria. Rendeu-se por nada.
10. PDT, PSB, PC do B, Rede etc., outros partidos chamados de
centro-esquerda são mais ou menos parecidos, no essencial, com o PT.
11. Em boa medida, as pequeninas esquerdas, particularmente
organizadas em partidos, sobressaindo o PSOL, não entendem o Brasil. Assim como
as direitas entreguistas – grosseiras ou light – são também
colonizadas. As direitas pensam com a cabeça da cultura política dos Estados
Unidos. As esquerdas, em elevado grau, têm sempre um Foucault embaixo do braço.
Enxergam o Brasil com os óculos da Europa. Esquecem que o País, diferentemente
dos europeus, tem que lidar com um sistema duplo de dominação: as burguesias e
os ricos de fora e de dentro do País.
12. As faixas burguesas internas se organizam, hoje, para retirar
mais das classes médias e trabalhadoras, já que há um aumento na apropriação da
riqueza nacional pelo capital internacional. Desse modo, são duas bocas
parasitárias, e não uma (como entre os europeus), que o Povo Brasileiro se vê
forçado a sustentar. Nesse sentido, as esquerdas partidárias,
significativamente, são, como o PT e correlatos, impotentes e alienadas.
13. O capitalismo, enquanto forma de organização e distribuição
da produção de bens, serviços e rendimentos, dotado de um mínimo de soberania
nacional, somente pode ser mantido se existirem burguesias com alguma
preocupação e interesse nacional. Na inexistência desse tipo de burguesia, só
resta um capitalismo subordinado às potências estrangeiras, com o maior grau de
exploração do Povo, já que as burguesias de dentro agem apenas como defensoras
de interesses estrangeiros.
14. Esse é exatamente o caso do Brasil hoje. Todos os grandes
empresários defendem colocar uma apertada coleira no pescoço da pequena
burguesia – assalariada ou pequena proprietária de algum negócio – e dos
trabalhadores, tratando-os pior do que cachorros.
15. Essas burguesias jogam contra o Brasil e atuam para a
colonização pelos gringos.
16. O nacionalismo é a defesa dos interesses nacionais. Hoje o
nacionalismo brasileiro só pode representar os interesses combinados da pequena
burguesia e dos trabalhadores, humildes ou bem remunerados. Desse modo, o
nacionalismo precisa ser articulado com o socialismo, entre outros motivos, na
exata medida em que deve proteger os interesses nacionais e populares e desenvolver
tecnologias e indústrias próprias (encerrando o controle que vigora nas mãos
das multinacionais). Isso se o País quiser ter condições de manter e melhorar a
educação, oferecer oportunidades de vida e trabalho para a maioria da
população.
17. Mantendo-se o capitalismo, somente restará o aumento da
colonização, da subalternidade nacional frente aos interesses estrangeiros e o
desalento e a falta de esperanças para o Povo, sobretudo a juventude.
18. O Brasil deve superar uma síndrome que se assemelha a um
distúrbio psiquiátrico chamado “transtorno dismórfico corporal”. Muitos,
especialmente os detentores do poder econômico e político, acreditam e difundem
a imagem e a ideia distorcida que somos um País medíocre, sem recursos, sem
capacidade, pequeníssimos.
19. Muito pelo contrário, acreditem, somos grandes e temos muitas
possibilidades. Possuímos imensas riquezas naturais, grande número de pessoas
qualificadas e que querem se qualificar, portadoras de capacidade criativa e
engenhosa para desenvolver a economia, conhecimentos, produtos, máquinas e
equipamentos. Gigantesca capacidade de autossustentação: técnica, econômica,
cultural.
20. Mas, precisamos controlar e ter o domínio sobre as nossas
riquezas. Precisamos nos valorizar. Manter, aqui mesmo, os frutos do nosso
trabalho e o dinheiro obtido com o consumo da nossa grande população. Para
isso, temos que investir em nós mesmos e acabar com as inúmeras regalias
concedidas às burguesias de dentro e de fora, que mal pagam impostos e crescem
– até o gigantismo de algumas multinacionais – com o dinheiro aqui obtido e
enviado para os seus países e contas secretas.
Existem muitos outros problemas que poderiam ser mencionados.
O espaço não comporta e já me estendi demais. Peço apenas reflexão e ousadia
para organizarem-se e mobilizarem-se. Sem a juventude de vocês e já com certas
preocupações tipicamente pequeno burguesas da idade e da vida profissional,
mesmo assim, cerraria fileira, como tantos outros mais velhos e com muito
prazer, em suas potencias e necessárias ações patrióticas. O futuro de vocês
depende dos rumos do País. Mas, o Brasil precisa, e muito, de vocês.
Roberto Bitencourt da Silva – é historiador e cientista
político.
Do GGN