O ministro Luís Roberto Barroso, do STF,
aparece fazendo palestra no Brazil Forum, neste sábado (13), em Londres.
Com seus modos elegantes e sabido, apontou dois grandes problemas do
país. Marajá falando de Marajá, sem contar as palestras que vendem os
magistrados e que são desobrigados a declarar, assim é bom demais.
Ele
comentou que o Brasil, sozinho, é responsável por 98% dos processos
trabalhistas em todo o planeta – o país tem 3% da população mundial.(…)Depois
comentou que 4% do PIB brasileiro é gasto com o custo do funcionalismo público,
com o que procurou indicar o alto custo do Estado.
Não se vai tirar a razão do Dr. Barroso, um homem fino e sofisticado.
É verdade que o Brasil tem um imenso número de processos trabalhistas.
Mas o Dr. Barroso talvez pudesse informar que há empresas que são verdadeiras
indústrias de lesões de direitos, em parte porque -como são as maiores de
seus setores – confiam que nem todos irão reclamar ou só irão faze-lo
depois de demitidos. Caso contrário, perdem a vaga e lá não voltam nunca
mais.
Alguns exemplos para ajudar a clarividência do Dr. Barroso, recolhidos
do insuspeito Estadão: “os cinco maiores bancos do País – Banco do
Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú/Unibanco e Santander – respondem a cerca de 130
mil processos. Do total de R$ 17,4 bilhões pagos em ações trabalhistas em 2015,
R$ 5,6 bilhões vieram dessas instituições.”
Repetindo e destacando: quase um terço das indenizações trabalhistas
foram pagos pelos cinco bancos, os mesmos que apuram, a cada trimestre, lucros
bilionários. Talvez o problema esteja em que na Justiça do Trabalho não se
encontre a “moleza” que ocorreu no Carf com o Itaú, que escapou “grátis” de uma
autuação de R$ 25 bilhões.
Sabem quem é a campeã de ações, entretanto?
Sim, a robusta Volkswagen, com a marca de 30 mil processos trabalhistas
em um ano.
Ainda que se possam pinçar casos de exagero, será que não passa na
cabeça de Sua Excelência que, mesmo com isso, o que existe é uma cultura
empresarial de desrespeito a seus empregados ou, como agora preferem chamar,
colaboradores?
Do segundo mal, o excesso no funcionalismo público, é inacreditável que
o Dr. Barroso, que ganha mais de R$ 50 mil mensais (R$ 33,7 mil no STF e R$
17,3 mil como professor da UERJ.Embora seja também professor visitante da UNB,
não posso informar a remuneração) possa dizer isso.
Pois ele votou, não tem 20 dias, a favor de que a remuneração de
quem, como ele, tem mais de um cargo público possa superar o teto
constitucional, que a limita – mas já nem tanto – ao vencimento de Ministro do
Supremo.
Permita-me agora, Dr. Barroso, depois de tanta concordância com suas
teses, dizer algo diferente: o grande problema do Brasil é uma elite à qual o
senhor se integrou em unha e carne, que acha que o problema do Brasil são os
pobres que reclamam no único ramo do Judiciário que os ouve. E outros, com
muito mais luzes, que não praticam aquela máxima atribuída a Anatole
France: “Viva como aconselhas, diga o que fazes, faça o que dizes.”
Do Tijolaço