O advogado e
o grampo admitido por Moro: Constituição rasgada.
O advogado
que teve o sigilo telefônico quebrado em 2006, na origem da investigação que
resultou na Lava Jato, disse hoje ao DCM que a operação não resiste a uma
verificação séria de legalidade.
“Interceptaram
uma conversa minha com um cliente, o que é a violação de um direito
constitucional, e investigaram José Janene, que era meu cliente, sem terem
poderes para isso. Janene era deputado federal e quem tinha que investiga-lo é
o Supremo Tribunal Federal”, afirmou o advogado Adolfo Gois, de Londrina, na
primeira entrevista que concede sobre o caso.
Gois advogou
para Janene durante muitos anos, inclusive quando o deputado federal foi
acusado de envolvimento no mensalão, em entre 2005 e 2006.
O advogado
defendia os parentes e funcionários de Janene acusados de envolvimento com a
lavagem dos recursos de caixa 2.
Nas
conversas sobre esses fatos que o advogado teve com funcionários de Janene, a
Polícia Federal descobriu que Alberto Youssef era doleiro do deputado federal.
Mas, em vez
de remeter o caso para o Supremo, continuou a investigar.
Investigou,
mas ninguém foi julgado.
“Toda hora,
chamavam meus clientes para depor e eu não sabia que estava sendo grampeado.
Soube em 2016, quando o advogado de Paulo Okamotto (presidente do Instituto
Lula) me procurou para falar sobre o inquérito lá de trás. Ele tinha tido
acesso a alguns documentos da Polícia Federal que eu não tinha visto, e encontrou
os relatórios que mostravam as minhas conversas com meus clientes”, afirmou.
O advogado
também considera muito estranho como os inquéritos foram parar nas mãos do juiz
Sérgio Moro.
“Quem
cuidava desses inquéritos era outro juiz, o doutor Nivaldo Brunoni, e eu nunca
entendi como saíram da mão dele e foram para as de Sérgio Moro, que, aliás, nem
era um juiz tão brilhante assim. Mais tarde é que ele virou uma unanimidade
nacional, e eu vi que ninguém teve coragem de verificar o que ele exatamente
fez para assumir a investigação toda”, declarou.
Segundo
Adolfo Gois, não havia nenhuma relação dos fatos investigados em 2006 com a
Petrobras.
“Era o
mensalão”, insiste.
Os clientes
dele não foram denunciados, e ele deixou o caso depois que Janene morreu, em 2010.
“Em 2014,
vejo que o Sérgio Moro começa a prender todo mundo e descubro que estava
relacionado com a investigação lá atrás. Como ele fez isso? É só analisar os
documentos para ver que forçaram a barra para que ele se tornasse o juiz
competente para todos os casos. Pela lei, não podia assumir tudo isso”,
afirmou.
“Mas eu acho
que a culpa maior nem é dele. É das instâncias superiores, que não tiveram
coragem de barrar o que Moro vinha fazendo – só agora é que algumas decisões do
juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba começam a ser revistas, como a que
absolveu João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, que havia sido condenado por
Moro sem provas.
No meio
jurídico, circulou a informação de que o juiz Sérgio Moro divulgaria hoje a
sentença no processo em que o ex-presidente Lula é acusado de receber um
tríplex da empreiteira OAS como propina por contratos da Petrobras.
Até agora,
nada.
Mas a
expectativa é que a sentença saia a qualquer momento, e o juiz condene o
ex-presidente, embora não haja uma única prova de que o apartamento do Guarujá
pertença a Lula ou a sua família.
Pelo
contrário.
As provas
existentes no processo mostram que o apartamento nunca deixou de pertencer à
empreiteira.
E Lula é
credor de mais de R$ 200 mil da OAS e de sua antecessora no empreendimento, a
Bancoop, valor que Marisa Letícia, mulher do ex-presidente, pagou por uma cota
do condomínio.
O que leva à
expectativa de condenação é o envolvimento demonstrado por Moro no processo e
as declarações que já deu, sendo identificado como adversário de Lula.
Moro e Lula
foram retratados na capa da revista Veja como atletas de luta livre, preparados
para um confronto no ringue.
É a
percepção pública da Lava Jato: Moro x Lula.
Se deixar de
condenar o ex-presidente, Sérgio Moro passará a imagem de que perdeu a luta.
Se condenar,
como é provável, ficará bem com seus seguidores, mas sairá com a imagem
queimada no meio jurídico.
Passado esse
ambiente de vale tudo, quando as instâncias superiores do Judiciário se
dispuserem a analisar os abusos cometidos, o advogado Adolfo Gois é uma
personalidade a ser chamada.
“Tenho
muitos documentos, juntados no processo, que mostram que Moro nunca poderia ser
o juiz da Lava Jato”, afirmou.
DCM