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domingo, 23 de abril de 2017

A Globo e seu destempero obsessivo por querer Lula preso

Para entendermos o que está sendo jogado é preciso dar mais de atenção ao ex-ministro Antônio Palocci.

Colocar Lula atrás das grades é uma obsessão não só do juiz Sérgio, mas também – e prioritariamente – das Organizações Globo. A delação fajuta do empreiteiro Leo Pinheiro, da OAS, vem ocupando espaços preciosos nos principais telejornais do conglomerado da família Marinho. Entre os dias 19 e 22, o PT e o ex-presidente mereceram quase três horas na programação global.

O massacre não se limitou aos meios eletrônicos, o jornal O Globo, na edição de sábado (dia 22), cravou em um editorial de meia página que “Lula é o chefe” de uma organização criminosa.

As tênues evidências apresentadas pelo delator Pinheiro foram apontadas como provas absolutas no jornalão dos Marinhos. São: o registro de que um carro do “Instituto Lula” teria se deslocado seis vezes, entre os anos de 2012 e 2014, ao Guarujá (cidade onde foi construído o tal tríplex) e a agenda pessoal do empreiteiro, na qual foram anotados encontros dele com o ex-presidente e seus familiares.

Qual a razão de tamanho massacre? Impedi-lo de voltar nos braços do povo em 2018? Talvez, essa não seja a única razão. Para entendermos o que está sendo jogado neste tabuleiro de delações e vazamentos é preciso dar um pouco mais de atenção ao movimento feito pelo ex-ministro Antônio Palocci no depoimento que prestou ao juiz Moro, no último dia 20. 

No levantamento so dite Poder360, uma das provas da perseguição das Organizações Globo a Lula está no tempo destinado no Jornal Nacional a falar mal do ex-presidente

Sem pedir qualquer benefício da delação premiada, ele se prontificou em fazer novas revelações de como se processaram as contribuições de campanhas de outras empresas através do chamado “caixa 2”. Presume-se que ele estaria pretendendo falar como o sistema financeiro costuma se relacionar com os partidos políticos. Mas, não é só isso.

Palocci e muita gente boa que passou pelo Ministério da Fazenda e pelo BNDES sabem como os Marinhos conduziram negociações que os salvaram da bancarrota, no início dos anos 2000. Em 31 de marco de 2002 o balanço divulgado pelas Organizações Globo (Globopar) acusou uma dívida externa do grupo de 2,6 bilhões de dólares. Dos quais 2,2 bilhões em moedas estrangeiras.

O editor Mauricio Dias, numa reportagem publicada sobre a portentosa dívida dos Marinhos, na primeira semana de novembro de 2002, na revista “Carta Capital” – “Vênus Endividada” -, anotou um episódio hilário e enigmático ocorrido naquela época. O desavisado apresentador Fausto Silva no seu programa dominical deixou escapar que a crise na Globo era tamanha que “estamos usando papel higiênico dos dois lados”.

O Sistema Globo que sempre se posicionou fortemente contra qualquer tipo de moratória, chegou a suspender o pagamento das suas dívidas por 90 dias. O que gerou, na época, pressões fortíssimas por parte de seus credores nos Estados Unidos. As agências internacionais de classificação – como a Standard & Poor – reduziram a nota da Globo de “B” para “CC”. Ou seja, devedor de alto risco.

Para sair do buraco e se livrar dos tribunais norte-americanos onde foi impiedosamente processada por seus credores, a Globo contou com o ombro amigo do governo federal – e, em especial do BNDES – que lhe emprestou a juros de pai para filho mais de US$ 1,3 bilhão. Operações iniciadas no mandato de Fernando Henrique Cardoso e concluídas na era Lula.

No seu depoimento ao juiz Moro, Palocci deixou uma frase solta que os leigos não entenderam muito bem. “Às vezes, os governos são obrigados a ajudar empresas a se recuperarem”.

Será que o “Verdugo de Curitiba” estaria interessado em ouvir o que Palocci teria a revelar da maneira como a sua grande aliada – a Globo – conseguiu sair do atoleiro financeiro com préstimos públicos?

Neste texto, não estamos nem tratando do rumoroso caso de marotas operações contábeis praticadas, em 2009, pela Globo no qual um débito fiscal de mais R$ 2 bilhões se transfou em créditos de R$ 300 milhões. Uma confusão tão cabeluda que registra até o desaparecimento do processo na Receita Federal.

Impedir que um notório inimigo (já deixou de ser adversário) chegue ao poder em 2018, parece virou um caso de vida ou morte para a família Marinho. O popular “interesse nacional” que vá às favas!

A verdade é que a prática vergonhosa do “lawfare” (uso da Justiça com objetivos políticos) e a manipulação escandalosa da informação pela grande mídia não estão conseguindo, no Brasil, produzir os efeitos desejados. Lula, para desespero geral, tem crescido nas intenções de voto para a campanha presidencial de 2018.

O cidadão que revela que votará no ex-presidente no ano que vem também brada pela moralização do País.  Dá a impressão de ser um contrassenso.  Mas, não é. Para sorte de Lula, a formação da opinião pública no País – e no resto do mundo – já não segue os primados do século passado. Tanto os meios eletrônicos quanto os impressos vêm perdendo audiência, credibilidade e robustez financeira. A Internet se encarregou de tomar isto deles.

Os exaustivos 32 minutos diários de ataques ao Lula no “Jornal Nacional” ou os furibundos editoriais em “O Globo” têm conseguido repercussão entre aqueles que sempre foram contra o PT e tudo que se declare de esquerda.

Só ampliarão sua penetração quando passarem a fazer jornalismo de verdade. Alimentar-se sempre de vazamentos dados na boca pelos procuradores e pelo juiz Moro não é jornalismo. Chama-se: “correia de transmissão”.

Golpes de manchetes e editoriais raivosos não serão suficientes para transformar Lula em réu. Monocraticamente, o juiz Moro terá que prestar esse favor aos seus padrinhos do PSDB e da Globo. Nem que para isso também mande às favas a imparcialidade e a verdade.

P.S: Para quem quiser ter mais detalhes sobre as agruras globais na área financeira aqui vai o link da deliciosa matéria publicada, em 2002, por Mauricio Dias, na Carta Capital: “Vênus Endividada

Do GGN, por Arnaldo César

sábado, 22 de abril de 2017

A visão neocolonial e antipopular da Globo, a favor do agronegócio

Dia 21 de abril. Feriado nacional e data comemorativa em homenagem a um dos grandes símbolos nacionais, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Um dos líderes da Inconfidência Mineira, que questionou abertamente o estatuto colonial imposto pelo colonizador português.

Consagrada e justa homenagem a um herói da Pátria que, após ser enforcado no Rio de Janeiro, ainda teve o corpo esquartejado e exibido na principal praça da belíssima Ouro Preto. Era um dos personagens que portava condição social mais baixa entre os inconfidentes. O ódio de classe do poder contra os Libertadores da Nação perdura até os nossos dias.

É contra a sua memória e a do seu significado simbólico, ou seja, a libertação e a soberania nacional, que as Organizações Globo persistentemente atuam. Décadas a fio. É pela submissão do Brasil, exatamente ao que Tiradentes combatia, que a Globo age.

No mesmo dia reservado à memória do grande Tiradentes, a TV Globo a conspurcou veiculando o seu espúrio comercial "Agro é pop, agro é tech", renitentemente anunciado após o golpe de 2016.

Em tom laudatório, dizia o anúncio que a "cana de açúcar faz sucesso há 500 anos". Uma visão de Brasil e um ideal de país flagrantemente colonizado. Mais subserviente ao poder do capitalismo internacional e às suas estruturas internas associadas impossível.

Durante boa parte do período colonial brasileiro a cana de açúcar representava item principal da exploração econômica em benefício do colonizador. A monocultura que a todo e qualquer tipo de atividade econômica diferente procura(va) inibir.

Mesmo passando por longa e agonizante fase de decadência, como bem demonstram as clássicas obras de José Lins do Rêgo, nos anos 1930/40, o poder das oligarquias da cana era – e ainda é – incontrastável nas regiões de produção do artigo primário.

Não é gratuito que as Ligas Camponesas, um dos incipientes movimentos sociais organizados pela reforma agrária e contrário à intensa exploração dos trabalhadores rurais, nos anos 1950/60, tenham tido como ambiente de origem precisamente o universo canavieiro, dos estados de Pernambuco e Paraíba.

Em tempos mais recentes, a degradação e a hiperespoliação dos trabalhadores pelos fazendeiros da cana de açúcar são fatores que revelam a inexistência de qualquer identidade supostamente “tech” ou “pop” para a produção canavieira.

Segundo artigo acadêmico produzido por Maria Aparecida de Moraes Silva (publicado na coletânea “Riqueza e miséria do trabalho no Brasil III”, organizado por Ricardo Antunes e publicado pela editora Boitempo, 2014), o cenário é desolador.

Apenas no estado de São Paulo, entre os anos de 1999 e 2005, cerca de 9000 trabalhadores ficaram incapacitados por mais de 15 dias, devido ao trabalho nos canaviais. No mesmo intervalo de tempo, aproximadamente 400 trabalhadores sofreram danos que os levaram a uma incapacidade permanente.

Conforme as palavras da própria autora, doutora em Sociologia e professora da Unesp-Araraquara, “a realidade dos trabalhadores em muito se distancia daquela retratada pelos ideólogos desse setor produtivo – Estado, meios de comunicação (...). Nos canaviais paulistas, a superexploração causou 23 mortes [no período considerado], supostamente por exaustão, além de muitos casos de escravidão, denunciados por várias entidades”.

Ainda de acordo com Maria Aparecida, a atividade canavieira “é permanente” em função do uso de “trabalhos temporários ao longo do ano, algo que contribui para aumentar os lucros das empresas, pois diminui os gastos com direitos trabalhistas”.

A produção canavieira, ainda hoje, em tempos superficialmente distantes da era colonial, possui expressiva participação nas exportações brasileiras. Segundo dados disponibilizados pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, o açúcar está incluído entre os dez principais itens da balança comercial brasileira.

Acompanhando outros produtos primários de relevância na pauta de exportações, a cana de açúcar é retrato do caráter neocolonial, não apenas da subalternidade do país na divisão internacional do trabalho, como do poder político das oligarquias rurais latifundiárias.

O que a Globo defende com o seu pseudojornalismo e com os seus anúncios publicitários, que exaltam o agronegócio, é nos chumbar em uma asquerosa e aviltante condição colonial. De maneira associada, tende a preconizar o modelo de regime de trabalho canavieiro como exemplo de “modernização” das relações trabalhistas no país.

Evidentemente, um retrocesso que não apenas rasga as leis do trabalho, duramente conquistadas pelo Povo Brasileiro nos anos 1930, com Getúlio Vargas, como também nos leva(rá) ao distante século XVII. Perto da Globo o símbolo pátrio de Tiradentes revolta-se e precisa consistir em inspiração para a superação dos nossos sombrios e reacionários tempos.


GGN, Roberto Bitencourt