terça-feira, 31 de agosto de 2021

‘TELEFONE NO RIO’ DE JEFFERSON SÓ COM POLÍCIA CÚMPLICE, POR FERNANDO BRITO

O Brasil virou surreal.

Dez dias depois de pedir a soltura de Roberto Jefferson, alegando que ele estava dentro dos limites da “liberdade de expressão”, a Procuradoria Geral da República requer o seu indiciamento por incitação ao crime, por seus vídeos armado.

Mas o ex-deputado dos instintos primitivos, certo que de que nada lhe acontecerá, diz à polícia, nos seus depoimentos, que o telefone celular de onde disparava petardos assim nas redes sociais está no fundo do Rio Paraibuna, porque pediu “a um transeunte” que lá o atirasse, na iminência da prisão.

Ninguém que estivesse passando pela rua, é claro, obedeceria ao pedido de Jefferson que fizesse aquilo e este telefone teria sido recolhido com meia hora de investigação no local.

É evidente que a Polícia Federal, salvo honrosas exceções, está aparelhada pelo bolsonarismo, ao ponto de Alexandre de Morares partir para medidas extremas como a substituição de delegados federais em inquéritos sob sua responsabilidade.

Aconteceu com ela o mesmo que com o Ministério Público: a corrupção do lavajatismo destruiu sua autonomia e a transformou num pântano ideológico da direita mais abjeta.

Jefferson não teve “japonês” nem cenas humilhantes como as impostas Lula e aos presos de Moro. Ninguém deveria tê-las, mas estes tiveram, sob aplausos da mídia nacional.

Mas está evidente que se está protegendo um esquema miliciano porque Jefferson não está fazendo molecagens sozinho.

Celular lançado no Paraibuna por um “transeunte” nem a velhinha de Taubaté engole.

Tijolaço.

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

O EX-MANIFESTO DO EX-PATO DA FIESP, QUE VIROU PINTO. POR FERNANDO BRITO

Foi o governo dar um rosnado e o pato amarelo da Fiesp correr a esconder um manifesto empresarial que, nem sendo piado de pinto, Bolsonaro cismou que era pretensão cantar de galo no seu terreiro.

De fato, pela minuta divulgada por Mônica Bergamo, o texto parecia uma mistura amenizada de Rodrigo Pachego, Luiz Fux e o velhissimo Conselheiro Acácio, espalhando-se em tautologias como “o momento exige do Legislativo, do Executivo e do Judiciário aproximação e cooperação” e ser “primordial que todos os ocupantes de cargos relevantes da República sigam o que a Constituição nos impõe”.

Nem de longe o “nós não vamos pagar o pato” de alguns anos atrás, quando os grandes empresários diziam horrores do governo e financiavam filé para os maniestantes de oposição.

O fato é que o resmungo fez os bacanas abolirem o texto público e o vazarem como um murmúrio suplicante.

Virou o Engolifesto da Fiesp e dos bancos.

E dá para dizer que a defesa da institucionalidade que dizem fazer no texto não é uma exigência desta elite mas algo que, se for possível, se não incomodar muito, gostaríamos que houvesse.

O comportamento do empresariado brasileiro não dá a medida de sua covardia política diante de um governo autoritária, mas sua incapacidade como liderança do país.

Tijolaço.

sábado, 28 de agosto de 2021

VAI TER “PEDALADA JUDICIAL” PARA O “CALOTÃO DOS PRECATÓRIOS”? POR FERNANDO BRITO

A confirmar-se a informação do site Poder360, de que Luiz Fux – presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, Luiz Fux, dará o seu aval a uma maracutaia a que teria sido arranjada pelo ministro Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União para aliviar o governo Bolsonaro, num ano eleitoral, de pagar mais da metade dos precatórios devidos pelo governo federal, o Brasil vai estar diante, literalmente, da maior “pedalada fiscal” de sua história.

Sim, é isso mesmo: dos R$ 89 bilhões de precatórios mandados pagar pela Justiça, por sentenças com trânsito em julgado, uma “resolução” do TCU faria com que fossem pagos apenas cerca de R$ 39,9 bilhões, deixando para o próximo governo, em 2023, o pagamento dos restantes R$ 49,2 bilhões. Mais, claro, os precatórios emitidos por novas decisões judiciais.

O curioso é o argumento que se arranja para esta vergonha: o de que não se poderia romper o “teto de gastos” desta rubrica de despesas. O limite seria o volume de precatórios de 2017, corrigido pela inflação.

E como é que se pode fazer isso e mandar o governo que o Brasil tiver em 2023 arrebentar este teto com um volume de pagamentos que vai mais que dobrar os de 2022?

São, na maioria, dívidas previdenciárias e “esqueletos” que ficaram de repasses relativos a dívidas do Fundo da Educação Básica (Fundeb) a menor para vários estados, desde o governo Fernando Henrique.

A solução é pior, muito pior que a tal PEC dos Precatórios, com que o governo pretendia dar uma “entrada” no pagamento destas dívidas e parcelar o restante por uma década.

Não é possível que isso se consume e é bom que a oposição bote logo a boca no trombone, porque isso, para que você possa materializar o alcance, seria tirar do novo governo brasileiro que tomará posse em 2023 nada menos que duas vezes o Bolsa-Família.

Tijolaço.

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

LARANJA IMOBILIÁRIA? POR FERNANDO BRITO

E lá vai a família Bolsonaro se meter em outro escândalo mobiliário, agora com a revelação dos repórteres Juliana Dal Piva e Eduardo Militão, do UOL.

Desta vez o aluguel – estimado em R$ 15 mil – de uma mansão no Lago Sul de Brasília, com “quatro suítes, com fino acabamento e todas com closet. Escada em mármore. Suíte master ampla com cerca de 100 m², abre para grande terraço com potencial para jardim, espaço fitness, solarium e outros. Closet amplo na suíte master, com excelentes armários planejados”, segundo o anúncio que a vendia, em maio deste ano, que ainda dizia oferecer “ampla vista para o lago.

A mansão foi alugada à ex-mulher do presidente, Ana Cristina dos Siqueira Valle e ao “Filho 04”, Jair Renan Bolsonaro que, em tese, nas normas do mercado imobiliário, deveriam somar uma renda acima de R$ 45 mil, para ficar dentro dos 30% praticados como mínimo nas locações.

Ana tem renda de R$ 6,2 mil, em seu cargo na Câmara dos Deputados; Renan, valor desconhecido com as atividades também desconhecidas de sua empresa Bolsonaro Jr Eventos e Mídias.

O proprietário da casa – na escritura, ao menos -, Geraldo Antonio Machado, mora numa casa muito mais modesta, na também modesta localidade de Vicente Pires, que não está em seu nome, assim como não estão em seu nome outros imóveis que diz ter e não foram localizados em nenhum cartório da capital federal.

Como os Bolsonaro têm uma incrível atração por negócios imobiliários e o irmão Flávio comprou, não faz muito, outra mansão na mesma valorizada região, o cheiro de laranja atraiu a reportagem.

Na família Bolsonaro, o dinheiro aparece, assim, do nada.

Tijolaço.

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

CRISE DA LUZ APAGOU VALENTIA DE BOLSONARO. POR FERNANDO BRITO

Eu estava escrevendo o último post e só quando terminei vi que Jair Bolsonaro, finalmente, na sua live, entregou os pontos diante da crise energética e pediu às pessoas que economizassem luz:

“Fazer um apelo para você que está em casa. Tenho certeza de que você pode apagar um ponto de luz na sua casa agora. Peço esse favor a você, apague um ponto de luz agora”.

Uau! “Apelo”? “Peço este favor”?

Que evolução para quem, um mês atrás, descartava a possibilidade de apagões e debochava da política de Dilma Roussef de, com geração eólica, “estocar vento” com a economia de água dos reservatórios. Ontem, as usinas eólicas, implantadas e incentivadas nos seus governos, produziram 16,1% de toda a energia consumida no Brasil.

Sem elas, já estaríamos no escuro.

Não estamos, mas vamos ficar. E o melhor indicativo disso é o fato de que o nosso arrogante presidente está apelando e pedindo “por favor” às pessoas que economizem eletricidade.

Isso seria racional e lógico para uma pessoa normal, mas não se aplica a Bolsonaro.

Ele não pediu às pessoas que usassem máscaras contra a Covid, nem que evitassem aglomerações, nem que se protegessem, quando estava em jogo a própria vida de milhões de pessoas.

Pede agora, porque sabe que apagões eventuais e altas tarifas elétricas contínuas podem matar seus planos continuístas.

E é isso o que teremos, e talvez tenhamos dos dois.

Mais ainda, porque não é o consumo doméstico, mas os produtos, sobretudo alimentos, que dependem de uma cadeia de refrigeração em todo o seu trajeto, entre a produção de comercialização, como carnes e lácteos, vão sofrer aumentos. Idem o aço, cerâmicas, vidros, fios e cabos, alumínio e muitos outros materiais de uso intensivo de eletricidade. E o comércio e os serviços…

E, talvez não saiba Jair Bolsonaro, imerso em sua fartura de churrasco de picanha de R$1.800 o quilo, mas com a mente de classe média afluente, para a maioria dos brasileiros, “apagar um ponto de luz” é algo impossível, porque as noites têm apenas a luz da televisão e a roupa já nem é passada a ferro, para que a conta de luz não os impeça de comprar comida.

Um mérito há nisso, porém: o valentão partiu para a defensiva.

Tijolaço.

MINISTRO PAULO GUEDES, O CÍNICO. POR FERNANDO BRITO

Respondo, senhor Ministro, à sua pergunta sobre ” ‘Qual problema de a energia ficar um pouco mais cara?’

O preço de uma conta de luz “um pouco mais cara”, para metade dos brasileiros, é tomar banho frio no inverno e não poder ligar o ventilador no verão.

É não poder ver televisão. É não poder acender a luz e ter de apelar para velas e, eventualmente, incendiar seu barraco precário.

Uma família de baixa renda, para fazer jus à tal “tarifa social” não pode ter aqueles mínimos confortos. Há milhões de famílias com a conta atrasada e fugindo do corte até o mês que vem porque estão proibidos os cortes de fornecimento até setembro.

Mas setembro já está aí.

O preço de uma conta de luz “um pouco mais cara” é ficar sem luz por não pagar.

É o racionamento pela inadimplência, catando de parentes e amigos para livrar-se de, ao menos, uma das contas, deixando um “pendura” de outra, que ainda não está no prazo de cortar.

Será que Paulo Guedes, uma vez na vida, recebeu os homens do ‘corte’ e sentiu a humilhação de esticar uma extensão no vizinho, para a geladeira não descongelar?

Ou se comporta como uma Maria Antonieta energética, perguntando ao povão porque, se não tem luz, não acende candelabros?

Tijolaço.

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

60 ANOS DEPOIS, A HISTÓRIA DE UMA LUTA DE AGORA: A LEGALIDADE, POR FERNANDO BRITO

Há 60 anos, num 25 de agosto como este, Janio Quadros, um fenômeno eleitoral surpreendente como foi Jair Bolsonaro, sacudia o país, com uma “Carta de Renúncia” de 14 linhas e um mero bilhete “Ao Congresso Nacional”, deixando o governo que assumira apenas estes meses antes, em 1° de fevereiro de 1961.

Em nenhuma das duas, apresentava qualquer razão para um gesto, embora todos o tratassem como uma tentativa de causar uma comoção que o levasse de volta ao Governo, com poderes excepcionais, numa semiditadura.

Era o início de uma das maiores crises político-militares do país, na qual uma “junta militar” – formada pelo marechal Odílio Denys, da Guerra, comandante do Exército, o vice-almirante Sílvio Heck, da Marinha, e brigadeiro Gabriel Grün Moss, da Aeronáutica – assumiu o poder e negou a posse do vice-presidente – eleito em separado, à época – João Goulart.

Foram duas semanas de tensão e escaramuças civis e militares, a partir da resistência de governadores dois únicos Estados: o Rio Grande do Sul, com Leonel Brizola, e Goiás, com Mauro Borges, história que recordo e descrevo em vídeo que produzi há 20 anos.

Hoje, Amir Labaki, criador e curador do Festival Internacional de Documentários – “É tudo Verdade”, publica um interessante artigo na Folha de S. Paulo, onde delineia o paralelo entre aquele momento e os turbulentos dias que vivemos.

Labaki compara Jânio Quadros e Jair Bolsonaro, ressaltando-lhes as diferenças mas, sobretudo, as dúvidas de que se possa resistir às rupturas com que os dois ameaçaram e ameaçam o país. E se a Constituição de 1988 sobreviverá à fúria dos que querem rasgá-la.

Lembrai-vos de 1961

Amir Labaki

Tanto Jânio Quadros (1917-1992) quanto Jair Bolsonaro chegaram à Presidência vencendo campanhas eleitorais em que se apresentavam como candidatos antiestablishment e paladinos da luta contra a corrupção. Ambos vinham de carreiras políticas sem maior vínculo partidário e, logo empossados, se afastaram do partido que os levou ao Planalto —UDN, principalmente, no caso de Jânio, e PSL, no de Bolsonaro.

Podem os dois serem caracterizados como lideranças carismáticas segundo a fórmula de Weber, com seus seguidores lhes atribuindo qualidades excepcionais que os ungiriam como líderes. Podem também ser definidos como dois demagogos de sucesso, baseados na facilidade de falar com suas bases a partir de formulações coloquiais e slogans genéricos, sendo Bolsonaro muito mais ignorante do que Jânio.

Outra diferença é essencial: Jânio tinha muito mais experiência executiva do que Bolsonaro. Jânio fora prefeito de São Paulo (1953-55) e governador paulista (1955-59); Bolsonaro nunca ocupara antes cargo executivo e foi um deputado federal medíocre por quase 30 anos (1991-2018). Outra distinção importante: também Jânio tinha vocação cesarista e discurso moralista, mas não espalhava “fake news” para minar as instituições democráticas —como Bolsonaro fez, por exemplo, em suas críticas à lisura do voto eletrônico e nas mentirosas acusações de fraudes nos dois últimos pleitos presidenciais.

Em 25 de agosto de 1961, Jânio, ao que tudo indica, tentou pela renúncia —um ato de retirada— catalisar uma crise que o traria de volta nos braços do povo e lhe permitiria concentrar maiores poderes no Executivo federal por meio de uma hipotética “reforma institucional”. Por seu turno, Bolsonaro vem concentrando poder por atos de intrusão, como o aparelhamento da máquina estatal e de parte das forças de segurança e pelo estímulo à formação de milícias antidemocráticas privadas. Bolsonaro sonha com uma marcha sobre Brasília, após as eleições de 2022, que seja eficiente como a Marcha sobre Roma, de Benito Mussolini, em outubro de 1922, e não uma que fracasse como a marcha sobre Washington estimulada por Donald J. Trump, em janeiro de 2021.

O ano de 2022 pode repetir 1961 se houver nova tentativa de veto militar ao respeito à Constituição quanto à dinâmica da sucessão presidencial. Em 1961, os ministros militares (Silvio Heck, da Marinha; Odylio Denys, da Guerra; e Gabriel Grün Moss, da Aeronáutica) tentaram impedir a posse do vice-presidente eleito, João Goulart (1919-1976), por meio de notas explícitas e da mobilização de tropas. Bolsonaro tenta engajar as lideranças militares e provocar uma brigada bolsonarista em sua tentativa de, no caso de ser mesmo derrotado na busca da reeleição, como hoje parece mais que provável, impedir a posse de seu opositor nas urnas —ao que tudo indica, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A crise de 1961 foi o último teste de resistência vencido democraticamente pela Constituição de 1946, ainda que às custas de um remendo emergencial: a aprovação relâmpago pelo Congresso da emenda constitucional adotando o regime parlamentarista. A potencial reação às eleições de 2022 poderá detonar o maior teste de resistência da Constituição de 1988.

O golpe de 1961 foi derrotado por reações tanto na esfera civil quanto militar. No campo civil, governadores como Leonel Brizola (RS) e Mauro Borges (Goiás) e parlamentares dos principais partidos (PSD e PTB à frente) resistiram e desmontaram o pior da quartelada. Na área militar, lideranças da ativa, como o general José Machado Lopes (1900-1990), comandante do poderoso 3º Exército, e referências já recolhidas à reserva, como o marechal Henrique Lott (1894-1984), concretizaram a cisão nas Forças Armadas, não apenas em retórica, mas também em fuzis, criando ativamente uma barreira armada à tentativa de ruptura institucional.

A dúvida que paira sobre 2022 é se, no front civil, haverá uma maioria de governadores, de congressistas, de juízes e da sociedade civil se empenhando, caso desafiados, na defesa do regime democrático e se, no campo militar, as Forças Armadas como um todo, ou mesmo apenas majoritariamente, também exigirão o rigoroso respeito à Constituição. Só assim será possível, como foi há 60 anos, impedir uma nova aventura autoritária.

Tijolaço.

terça-feira, 24 de agosto de 2021

O CAPITÓLIO PARAMILITAR DE BOLSONARO ESTÁ PREPARADO, POR FERNANDO BRITO

O editorial do Estadão é preciso: o que está sendo feito por paramilitares – oficiais da reserva e da ativa das PM que rasgam as proibições legais de politização – é, de fato, uma “convocação do golpe“, com a chamada explícita que se invada o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, tal como os adoradores de Donald Trump invadiram o Capitólio, para subverter os resultados das eleições presidenciais dos EUA.

Perante esse quadro, não basta a existência de um inquérito no STF para investigar organizações criminosas de ataque à democracia. É urgente que o Congresso reaja e que o Ministério Público acione a Justiça, de forma a impedir a ação criminosa contra as instituições.

 Impõe-se o realismo. Depois de tudo o que já foi divulgado, eventual tentativa de golpe no dia 7 de setembro não será nenhuma surpresa. Será a estrita realização das táticas e objetivos anunciados, repetidas vezes, por bolsonaristas.

 A quem reclama de falta de liberdade de expressão, caberia sugerir que experimente fazer na Alemanha ou na Inglaterra o que os bolsonaristas estão fazendo aqui, anunciando a invasão e o fechamento da Corte Constitucional e do Legislativo.

A comparação seria perfeita se, como em Washington, Londres ou Berlim, houvesse dúvidas sobre a fidelidade do Exército à lei.

É claro que as ameaças fazem parte da guerra psicológica do golpismo mas também é bom lembrar que chega um momento que o terror virtual põe os chifres de búfalo à cabeça investe contra as instituições. E os pronunciamentos bélicos de vários oficiais bandidos das PM são preditores mais que evidente de que este risco é real.

E que não tem daquelas instituições, respostas à altura, altivas, mas apenas balbucios fracos e abstratos, que fingem que as feras estão quase à sua porta e chamam o chefe das matilhas ao diálogo, como se rendas e dentes pudessem ter um encontro suave.

O que cabia a elas – aos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e do STF, Luiz Fux – era dirigir-se ao Ministro da Defesa e ao Presidente da República para, nos termos das atribuições da Inspetoria Geral das Polícias Militares, o primeiro, e do artigo 142, tomar as providências para o cumprimento dos regulamentos pelos policiais militares e ao chefe do Executivo nos termos do Artigo 142, tão invocado pelos bolsonaristas, garantir com as Forças Armadas a incolumidade dos prédios diante das ameaças explícitas que estão sofrendo.

A hora é agora, porque aquelas turbas não têm apoio algum: nem o da imprensa, nem o do poder econômico, nem da sociedade civil e, ao menos formalmente, ainda não têm o apoio das cúpulas das Forças Armadas, ainda que uma camada de ambiciosos as usem como cacife palaciano.

É preciso lancetar este tumor enquanto ele não toma totalmente o ambiente militar e fazer as Forças Armadas protegerem também os dois outros poderes da República.

Exigir o respeito, antes de qualquer conversa, aliás, inócua, pois as atribuições de cada poder estão descritas na Lei e não nos arranjos que seus chefes possam fazer.

Do contrário, aceitaremos que seja um coronel de Sorocaba ou um bombeiro do Ceará, no delírio de seus fanatismos, sejam de fato os comandantes das armas no Brasil.

Tijolaço.

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

‘DIÁLOGO’ DE GOVERNADORES E O ‘ME ENGANA QUE EU GOSTO’ DE BOLSONARO, POR FERNANDO BRITO

Bolsonaro, está mais que claro, foi quem deu as ordens, direta ou indiretamente, para que seus agitadores pusessem a cabeça fora da terra.

Os coronéis de Polícia Militar de São Paulo, ue de bobos não têm nada, não colocariam seus pescoços ao alcance da lâminas administrativas do governo estadual por nada. Muito menos o coronel dos Bombeiros do Ceará que divulgou vídeo dizendo que militares reformados comandarão “ondas” de grupamentos de fileiras de 100 homens para “adentrarmos ao STF e ao Congresso” e “atropelar” qualquer reação à invasão dos prédios.

Os “blackblocs” de Mito estão na ponta dos cascos e prontíssimos, se não houver obstáculos sérios, a tentar fazer um “Capitólio’ tupiniquim.

Mas os governadores, todos eles ameaçados pela indisciplina bolsonarista que grassa em suas polícias militares, que se autoconvidam para, a paisana, para ele, em lugar de lançarem uma advertência e garantirem que a ordem pública será mantida sem concessões a arruaceiros presidenciais, preferem pedir “diálogo” e uma reunião com Bolsonaro…

Chega a ser ridículo que chefes de poderes – Legislativo, Judiciário e os estaduais, estejam a pedir “por favor, por favorzinho” que a regras legais sejam obedecidas e que não se façam violências contra as instituições públicas e não se junte paramilitares para invadi-los.

Pode ser, até, que Bolsonaro, na sua já conhecidíssima estratégia de avançar, fingir recuar e, em seguida, avançar mais sugira que vai amenizar a força da mordida. O que todo mundo sabe ser mentiroso.

Prometeu a Arthur Lira sossegar se pusesse em votação a PEC da contagem manual de votos e, sem a menor vergonha, ainda hoje voltou a atacar a lisura das eleições. Sugeriu a Luiz Fux, via Ciro Nogueira, que amenizaria as pressões sobre o Supremo e, logo que o presidente do STF voltou a miar por um “diálogo’ apresentou um pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes e, diz-se, prepara outro para Luís Roberto Barroso.

Agora, os senhores governadores – já naturalmente sem nenhuma unidade, pelas suas diferentes naturezas e posições políticas, vão ficar brincando de pedir audiência e de montar uma pauta para servirem absolutamente para coisa alguma, porque todos sabem que Bolsonaro está fazendo aquilo que ele deseja e planeja, não lidando com uma crise política.

É evidente que o presidente voltará esta questão para culpar os governadores, sejam pelos “lockdowns” seja para atribuir-lhes, pelos impostos, a “culpa” pela inflação.

O excesso de esperteza, para “não parecer que a culpa da crise institucional é dos governadores” vai, é claro, engolir os “espertos”.

Tijolaço.

domingo, 22 de agosto de 2021

BOLSONARO FICOU CARO PARA A TURMA DO DINHEIRO FÁCIL, POR FERNANDO BRITO

O Brasil vive, enfim, a tal “enxurrada de dólares”, tão prometida pelos que se dedicaram, a todo custo, a demolir qualquer pretensão do país ao progresso econômico social.

A Folha, neste domingo. dedica duas reportagens à análise das pioras que o país sofreu no Governo Bolsonaro, a mais completa delas a de Fernando Canzian mostrando que o ”Custo Bolsonaro’ cobra fatura com dólar, inflação, juros e miséria em alta“, de onde reproduzo o gráfico daí de cima expondo a redução violentíssima dos investimentos estrangeiros no país: apenas um terço em um ano (considerado o acumulado em 12 meses).

E não se diga que é a pandemia – o que certamente influiu no início de 2020 – porque a velocidade de retração das inversões externas acelerou-se este ano, quando o cenário econômico internacional já era de reaquecimento.

A análise é ampla e passa por muitos pontos já abordados aqui: inflação e juros em alta, renda em baixa, dólar sobrevalorizado e degradação da condição de vida dos brasileiros, com a entrada de 34 milhões de pessoas nas classes D e E.

Fiquemos só nas origens políticas deste desastre: temos um governo absolutamente carente de credibilidade, previsibilidade, estabilidade e, cada vez mais, legitimidade.

Temos, numa palavra, algo pior que um desgoverno: um não-governo.

Explico: mais do que turbulência, carecemos de rumo e estamos submetidos às flutuações do varejo da política sem chance de controlá-las pela absoluta falta de Norte, de horizonte a se perseguir.

“É uma grande frustração para quem esperava alguma coisa com pé e cabeça do governo Bolsonaro e sua equipe”, diz José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Fator.

Mas quem esperava isso de um sujeito que, afora apontar como “Posto Ipiranga” um neoliberal furioso, despreparado e ultrapassado até para as políticas conservadoras, era um sociopata sem pé nem cabeça, com propostas alucinadas como a de “metralhar os petralhas”, industrializar bijuterias de nióbio, liberar o garimpo e a grilagem e distribuir um arsenal de pistolas e carabinas a seus eleitores?

Até certo ponto, para a turma que tem dinheiro e, por isso, parece precisar menos de governo, pois já manda, pouco se lhe importava a incapacidade do governo, desde que ele fosse capaz de não deixar que se aproximasse do leme quem queria dar rumo ao Brasil.

Mas o cara extrapolou e passou a ameaçar até a flutuação do barco e de seus tesouros. Precisam arranjar outro, mas o motim que fizeram para colocá-lo ao timão arruinou os quadros com que achava poder contar.

É por isso que se descabelam atrás de quem possa fazer este papel, trazendo uma novidade por mês, sem que nenhuma emplaque.

A velha máxima de que em política não há vácuo está operando, com o favoritismo de Lula a caminho de tornar-se irreversível.

Tijolaço.

XADREZ DA TEMPESTADE PERFEITA QUE SE FORMOU CONTRA BOLSONARO, POR LUIS NASSIF

Aparentemente, o pesadelo bolsonarista entra na fase agônica. Em breve, será substituído por outros pesadelos, de um país que abdicou do senso civilizatório.

Forma-se a tempestade perfeita. E, desta vez, contra Bolsonaro. Aparentemente, o pesadelo bolsonarista entra na fase agônica. Em breve, será substituído por outros pesadelos, de um país que abdicou do senso civilizatório.

O jogo é simples de entender.

Em qualquer organização criminosa, a coesão depende da capacidade do chefe de se mostrar poderoso.  Quando começa a vacilar, ocorre o desembarque dos aliados de ocasião e, principalmente, daqueles envolvidos em ações criminosas.

Era essa a percepção de Bolsonaro, quando ampliou-se seu conflito com o Supremo Tribunal Federal (STF). Gradativamente, seus principais seguidores foram sendo engolfados por denúncias e ações judiciais – os irmãos Weintraub, Ricardo Salles, general Pazuello. A CPI do Covid acelerou o processo, denunciando os militares envolvidos na esbórnia da saúde.

Montou-se um cabo de guerra, tendo de um lado Alexandre de Morais, MInistro do STF, e de outro Bolsonaro. Entende-se por aí o desespero de Bolsonaro. Se ele não enfrentasse e vencesse a contenda, haveria a debandada de seu grupo.

No desespero, tentou de tudo. Apelou para as Forças Armadas, blefou o quanto pôde, fez paradas de motos, convocou seguidores para manifestações, valeu-se o quanto pôde do Gabinete do Ódio. Nada deteve a marcha do STF.

E aí revelaram-se dois Bolsonaros, o da realidade virtual e o do mundo real.

O da realidade virtual tem a assessoria profissional de Steve Bannon, no objetivo único de animar seguidores. O do mundo real é cercado de uma mediocridade ampla e irrestrita, de generais da reserva oportunistas, sem lastro intelectual e sem conhecimento político. Só um completo analfabeto político faria como o Ministro da Defesa, Braga Netto, de blefar na ameaça ao Congresso, e não ter mais nenhuma carta à mão quando Congresso e STF pagaram para ver.

Paralelamente, o governo Bolsonaro passou a ser totalmente desacreditado no front econômico. No início, Guedes se sustentou com sua conversa de vendedor de biotônico e sua disposição de entregar ao mercado os grandes negócios da privatização. Era uma maneira de disfarçar sua gritante anomia em relação aos problemas reais da economia.

Gradativamente, as magias de Bolsonaro e Guedes foram cansando por falta de inovação. Sempre a mesma coisa, Bolsonaro criando eventos para chocar e Guedes manipulando conclusões econômicas falsas. O avanço inexorável da realidade esvaziou ambos os discursos.

Agora se tem a derrota plena de Bolsonaro nas seguintes frentes:

1.   perdeu a batalha para o STF, depois de uma tentativa desastrada de tentar individualizar os alvos – Luis Roberto Barroso e Alexandre de Moraes. Conseguiu a unanimidade do Supremo em defesa dos seus.

2.   O blefe do impeachment de ambos os Ministros. Teve que voltar atrás na forma mais atabalhoada possível: em uma mesma live, dizendo-se aberto para rever a ambos e, ao mesmo tempo, reiterando as críticas. Um bufão!

3.   O blefe da intervenção militar, claramente exposto pelo cantor Sérgio Reis. Bolsonaro só conseguiria mobilizar as Forças Armadas no bojo de grandes movimentações populares em defesa do golpe. Não conseguiu uma coisa nem outra. Já Sérgio Reis conseguiu um processo do qual não irá se livrar facilmente.

4.   O blefe da ameaça de Braga Netto ao Congresso. Teve que aceitar uma convocação para uma audiência na qual ouviu de um deputado da oposição – Paulo Teixeira, do PT – que, se não acatasse a Constituição, seria preso.

5.   A total desarticulação de Paulo Guedes com a reforma tributária, e tentando se equilibrar entre o auxlio-emergência – essencial para a recondução de Bolsonaro – e a Lei do Teto.

6.   As declarações do presidente do Senado, que desceu do muro para atacar as ameaças às eleições.

7.   O cerco implacável ao Procurador Geral da República Augusto Aras, obrigando-o a atuar com firmeza na denúncia dos quadros bolsonaristas que ameaçavam manifestações no dia 7 de Setembro.

8.   Derretimento gradativo de sua popularidade.

Agora, o primarismo de Bolsonaro, que o habilita no máximo a jogos de porrinha, terá que enfrentar um xadrez complexo.

Se avançar mais, será impichado.

Se não avançar, perderá sua base.

Não tem a menor condição de propor um pacto naciona., por não ter dimensão política, nem credibilidade.

O pior é que, para ele, não há empate. Sendo apeado do poder, será julgado, condenado e amargará prisão por seus crimes. Não apenas ele como todos seus filhos.

Ele não tem nem dimensão política para negociar uma lei da anistia, igual àquela que preservou da Justiça militares sanguinários, que voltaram ao poder com ele.

GGN.

sábado, 21 de agosto de 2021

O IMPEACHMENT DE MOARES É JOGO PARA PLATEIA DE BOLSONARO, POR FERNANDO BRITO

Porque Jair Bolsonaro apresentou o pedido de impeachment apenas contra Alexandre de Moraes e não também, como havia prometido, contra Luiz Roberto Barroso?

É simples: porque dentro em pouco Moraes será o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, posto ocupado hoje por Barroso.

O atual presidente não tem a menor ilusão de que seu pedido venha a prosperar, mas atende ao seu desejo de manter o conflito aceso.

Luiz Fux, presidente do Supremo, e Rodrigo Pacheco, presidente do Congresso, nutriam a ilusão que o presidente entraria numa temporada de “mansidão”, com um rosnado aqui e outro ali, mas não o cravar os dentes nas instituições.

O Supremo reagiu com uma nota, até enérgica; o Senado com água morna.

Ilusão que, anteontem, já se apontava aqui, no blog, sem nenhum dote de visionário, porque, sabe-se, qualquer moderação de Bolsonaro é apenas um falso recuo para avançar mais em seu projeto golpista.

Seu objetivo único é tornar questionável o processo eleitoral do ano que vem e, por isso, não são a prisão de Roberto Jefferson ou as restrições impostas a Sérgio Reis e ao deputado obscurantista Otoni de Paula por suas ameaças ao Supremo.

Não só não há perspectivas de um armistício entre Bolsonaro e o Supremo como é visível que seu conflito irá se expandir para a presidência do Senado e, talvez, até à própria Câmara, quando esgotar a cota de doces que Arthur Lira pretende abocanhar.

Bolsonaro faz mais um avanço, que é respondido, pelo Legislativo, com um mimimi eunuco. Rodrigo Pacheco, o Rolando Lero senatorial deu conta de que apenas dará um encaminhamento ordinário, daqueles em que se exigem três cópias carbonadas e a apresentação das “taxas e emolumentos” correspondentes.

“Deu um desconto” de 50% não atacando Barroso, mas conservou o fogo sobre o “culpado” de sua derrota eleitoral – Moraes, o presidente do TSE.

Mau negócio: Barroso reage com declarações; Moraes, com atos.

Tijolaço.

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

AGORA SE PERCEBE O DESASTRE QUE BOLSONARO FEZ COM A IMAGEM DOS MILITARES, NÃO POR FATA DE AVISO, POR FERNANDO BRITO

Os oficiais generais das Forças Armadas brasileiras, em lugar de deixarem que se produzam patéticas operações de intimidação, como aquela dos tanques fumacentos da semana retrasada, deveriam olhar a pesquisa que hoje publica o site Poder360 sobre o que está acontecendo com a imagem dos militares brasileiros.

Pela primeira vez no pós-64, que eu me lembre, nunca foi tão rejeitada a sua participação no governo, depois de 30 anos de reconstrução do prestígio das Forças.

Mais da metade dos brasileiros acham que sua presença no governo e na política é ruim para o país e disparou a quantidade de pessoas que consideram “ruim” ou “péssimo” o desempenho das próprias Forças Armadas como instituição. E ainda pior entre os mais jovens, onde a participação dos militares no governo é repelida por 62%.

É óbvia a ligação entre esta piora veloz da imagem militar está diretamente ligada a cada vez maior identidade do comando militar a Bolsonaro e suas falanges.

Generais que conduzem seus exércitos para a desmoralização os conduzem para a derrota e o enfraquecimento.

Tijolaço.

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

JUROS E INFLAÇÃO, AQUI E LÁ FORA, ATRAPALHAM PLANO DO “JAIR NOEL”, POR FERNANDO BRITO

O Estadão abre a manchete do seu site para o alerta do mercado financeiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que o cenário econômico está se deteriorando muito rapidamente.

E é só olhar os indicadores para ver que isso está, mesmo, acontecendo.

Dólar fechando a R$ 5,37 – R$ 5,38 na liquidação dos negócios pós-market -. Bolsa amargando queda de 4,23% no mês, índices de preço mantendo os tristes patamares de julho, quando a inflação chegou a 1%, a maior taxa para o mês em 20 anos e voltando a ter como “puxa fila” a inflação dos alimentos.

Lá fora, o cenário não é de flores. A ata do Federal Reserve divulgada hoje assinala a retirada dos estímulos monetários nos EUA e a preocupação também alta por lá – o dobro da estimada no início do ano – podem ser o início de uma alta de juros por lá.

A China, nosso maior comprador, também sinaliza uma desaceleração e o preço do minério de ferro caiu ao menor nível em seis meses.

Tudo completa-se com o front político nacional: cresce a certeza de que, para implementar seu programa de “bondades” eleitorais, Bolsonaro não vai demorar a “chutar a santa” do teto de gastos, a nova divindade que substitui o velho “tripé macroeconômico” dos liberais do inicio deste pequeno século.

Na reportagem, registra-se que os emissários do dinheiro disseram a Campos Neto que esperam mais juros como resposta: já se fala numa taxa Selic de até 8,5%.

Temos um governo desacreditado, em confronto com o Judiciário, com um ministro da Economia absolutamente patético e, agora, também com dificuldades na Câmara, que parecia estar “controlada”.

Jair Bolsonaro diz que com “fé e crença” se superarão os problemas econômicos:

O povo tem sofrido com isso: tem inflação, tem desemprego. Tem dias, realmente, angustiantes. O que posso dizer aos senhores? Com fé, com vontade, com crença, nós podemos superar esses obstáculos”

Os caras do dinheiro, aqueles que entrariam no céu depois de um camelo passar pelo buraco de uma agulha, vão acreditar, sim…

É capaz de sugerirem Silas Malafaia para o Banco Central.

Tijolaço.

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

QUANTO TEMPO DURA A ‘CALMA’ ANIMAL DE BOLSONARO? POR FERNANDO BRITO

O que se disse ontem aqui sobre Jair Bolsonaro ter entrado em modo stand by em seu golpismo furioso foi percebido por muitos, mais bem informados por fontes em Brasília.

Ricardo Noblat diz que os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, e o recém-ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira teriam dito ao presidente, na últimas horas, “que sua situação está ficando cada vez mais difícil dentro e fora do Congresso”.

E ontem, ao adiar-se novamente a votação das mudanças tributárias na Câmara, viu-se que nem com o boideiro-presidente e com medidas simpáticas como o aumento da isenção do Imposto de Renda, a coisa não está fácil no mais sólido reduto bolsonarista.

Ao contrário do que se esperava, o último mês de rugidos presidenciais pode ter gerado mais agitação em suas falanges, mas não lhe agregou um pingo de recuperação do apoio, ao contrário.

Gilberto Kassab, no Poder360 exagera ao dizer que “se [Bolsonaro] continuar assim, não disputa nem a (re)eleição”.

Bolsonaro, certamente, tenta fazer ajustes táticos, mas não estratégicos, porque, como descreve hoje em O Globo o jornalista Bernardo Mello Franco, ele “se alimenta do confronto permanente”.

Precisa fabricar crises para agitar a militância e manter a fantasia de outsider. Apesar da aliança com o Centrão, parte do eleitorado ainda acredita que o presidente luta contra o sistema. Ele depende dessa ilusão para se manter no páreo.

Ilusões, Bolsonaro planta muitas – o país está para cair sob o domínio de uma ditadura sinoateia, drogada e abortista que vai incendiar as plantações de soja.

Mas não tem políticas para a realidade de estagnação (traduzida por Paulo Guedes como “recuperação em V”) e por uma inflação que é muito mais sentida no bolso que nos índices oficiais.

Portanto, não é uma questão de crer que os arroubos golpistas não minguar e desaparecer, É apenas uma questão de quando e como reaparecerão.

Se querem um palpite, será logo e mais fortes.

Tijolaço.

terça-feira, 17 de agosto de 2021

A BOIADA DOS IMPOSTOS DEVE PASSAR. MAS PARA ONDE? PARA O LADO MAIS FRACO? POR FERNANDO BRITO

Arthur Lira tentará – com grandes chances de conseguir – abrir mais uma porteira para sua boiada, com a votação de um arremedo de reforma tributária que, em troca de uma pequena bondade – o reajuste de quase nada na tabela o Imposto de Renda, transformar os impostos brasileiros numa “salada” completamente imprudente, da qual não se tem a menor ideia do que sairá, emendada e remendada para que possa superar as resistências que lhe vem de toda parte.

Lira esmerou-se no arranjo: colocou um relator bolsonarista à testa do projeto, bloqueou a discussão do tema pela sociedade e acelerou uma aprovação a toque de caixa com o argumento insólito de que “tem de votar na terça-feira”, como se votar uma mudança – que só passa, em parte, a valer em janeiro (e depois disso, para a aplicação de outras alíquotas) – hoje, amanhã ou semana que vem fizesse alguma diferença prática.

Faz diferença, sim, e isso motiva a intransigente pressa de Lira, mas na política.

É provável que ele, com seu conhecimento dos humores da maioria dos deputados pressinta que o processo de deterioração da base governista esteja em curso mais rápido do que imaginava e que, daqui a algum tempo, a Câmara esteja em posição de bloqueio ao governo Bolsonaro como já está o Senado, onde há medo de se por em votação até mesmo a antes tranquila indicação de André Mendonça para o Supremo.

Então, é preciso tocar rápido a boiada, para que o pisoteio das regras públicas e a consumação do pacto corrupto de destinação dos recursos públicos, com quase exclusividade, aos interesses eleitorais paroquianos dos parlamentares, num remake da fórmula do Centão mais realista: é recebendo que se dá.

A rigor, ninguém sabe o que vai sair disso. As fontes de compensação das perdas de receita dificilmente passarão ilesas pelo plenário, pois a aprovação do texto-base – cuja versão final nem sequer foi apresentada – serão fortemente “depenadas” na votação de dezenas de destaques, sobre os quais não há acordos.

Será, também, inevitável uma tempestade de questionamentos judiciais. E, a esta altura, disputas judiciais não têm a menor tendência de resultarem em decisões favoráveis ao Governo.

As tais segurança jurídica e estabilidade tão reivindicadas pelo empresariado, pelas mãos de seu escolhido político, estão indo, solenemente, para o brejo.

Tijolaço.

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

UMA OPERAÇÃO QUE NEM DE LONGE É “FORMOSA”. POR FERNANDO BRITO

A triste escolha de algo parecido com a trilha da velha série de TV – e depois franquia cinematográfica – Missão Impossível para “dar emoção” a uma modestíssima (sejamos gentis) exibição de força militar da tal Operação Formosa, com direito a Jair Bolsonaro e a um desajeitado Ciro Nogueira disparando canhões foi uma espécie de “Parte 2” da patética “tanqueciata” da semana passada na Praça dos Três Poderes.

Nem se fale do fato de que, como exercício militar basicamente de Fuzileiros Navais – cujo emprego é bem diferente do desempenho de missões em campo aberto de áreas de cerrado, muito mais propício a ações de blindados e de aviação de ataque ao solo – já seja uma exibição da carência e da inadequação do material e do treinamento das Forças Armadas brasileiras.

Uma visita presidencial a operação de treinamento militar deveria ser, é claro, ao posto de comando, para observar a precisão e alcance dos disparos de artilharia, em lugar de disparar cenográfica e desajeitadamente uns poucos canhões de calibre mediano, absolutamente inservíveis para o “fogo de saturação” que o locutor dizia estar sendo treinado.

O único “alvo” exibido, uma casinha de bonecas, feita de madeirite, explodida com uns “traques” de São João, francamente, não contribui em nada para que se dê relevância a um exercício bélico com explosivos.

O que nossos chefes militares querem fazer da imagem de nossas Forças, tão obsoleta nas armas quanto na política de sustentar golpes antidemocráticos?

Nos governos tão odiados por parte das cúpulas militares é que se retomou a modernização de nossa estrutura militar: mísseis para o Exército, ainda que maietados por acordos da era FHC que limitam seu alcança em 300 km – o que é um “cuspe” considerando as dimensões brasileiras -, submarinos (inclusive o primeiro nuclear, o que empresta valor estratégico, pela “invisibilidade” dada pelo tempo de submersão contínua) e caças de 4ª geração com capacidade de construção nacional, única forma de tê-los em quantidades “não decorativas”, porque duas dezenas de aeronaves não existe em matéria de proteção a 8,4 milhões de quilômetros quadrados.

Esta geração de oficiais superiores não absorveu que a requalificação e nacionalização do material bélico brasileiro esteve completamente ligada ao fim do “alinhamento automático” do Brasil e de suas Forças Armadas dos Estados Unidos, o que nos permitiu avançar na capacidade de vender ao mundo a escala do que era necessário pra nós mesmos.

Muitos de nossos generais parece que não se importam com isso e parecem focados na função de nosso poderio militar expressado em soldos vitalícios e tropas para funções repressivas, com base num delírio sobre o “poder moderador” que lhes daria o tal artigo 142 da Constituiçao, que nem perto disso passa.

E, para isso, é mais imortante dar ao presidente da República o poder de “puxar a cordinha” do canhão que talvez valesse algo em Tobruk ou nas Ardenas, não no século 21.

Tijolaço.