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quinta-feira, 9 de novembro de 2017

A história da ex-contadora de Youssef que complica a Lava Jato em Curitiba, por Cíntia Alves para o Jornal GGN

Vídeo mostra que delegado Anselmo prometeu imunidade processual à ex-contadora de Youssef, Meire Poza, e depois voltou atrás. Mas somente após a Lava Jato ser investigada pelo ex-ministro Eugênio Aragão e Meire começar a revelar os bastidores da atuação da equipe de Dallagnol ao MPF em São Paulo
Passou batido na grande mídia, mas nesta semana o juiz Sergio Moro ouviu o depoimento do delegado que presidiu os primeiros inquéritos da Lava Jato em Curitiba, Marcio Anselmo. O vídeo, divulgado pelo canal do Estadão no Youtube, mostra o delegado sendo questionado por ter prometido imunidade processual à ex-contadora de Alberto Youssef, Meire Poza. E o descumprimento da promessa esconde mais um potencial escândalo envolvendo a força-tarefa de Curitiba e as raízes de toda a operação. 
Meire Poza procurou a Lava Jato ainda em 2014, quando a primeira fase da operação foi deflagrada tendo Youssef como alvo. Ela colaborou com documentos e relatos que o delegado Anselmo reconhece, diante de Moro, que foram essenciais às investigações.  
Segundo Anselmo, à Meire foi oferecido um acordo de delação premiada, rejeitado por ela. A defesa de Meire diz insinua outra coisa: que Meire não viu necessidade de acordo e, inclusive, foi orientada pela força-tarefa a não busca advogado enquanto colaborava informalmente. E assim ela fez, porque teria a palavra de Anselmo, que prometeu que ela não seria processada. 
Parte das provas que Meire tem em relação a este fato foi exposta no blog de Marcelo Auler. (Veja aqui). 
Ocorre que depois de ter sido usada pela Lava Jato, Meire sentiu-se abandonada quando seu escritório foi objeto de um incêndio possivelmente criminoso. Temendo pela segurança de sua família, procurou a força-tarefa, que nada fez.  
Em 30 de maio de 2016, com ajuda do jornalista Marcelo Auler, decidiu contar a um procurador de São Paulo os bastidores de sua colaboração em Curitiba. E, curiosamente, cinco meses depois, ela foi denunciada pela equipe de Deltan Dallagnol. 
"Portanto, não há como apontar nas suas queixas uma represália à denúncia em si que só ocorreu meses depois. Já o contrário pode ter acontecido: o depoimento ao procurador ter provocado a denúncia", escreveu Auler. 
Outro fator que complica ainda mais essa história é o fato de que o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão mandou investigar se a Lava Jato de Curitiba usou Meire como "informante infiltrada" para abastecer dezenas de inquéritos, inclusive para embasar ações que deveriam ter passado pelo Supremo Tribunal Federal e não passaram. 
As notícias dando conta de que a conduta dos delegados e procuradores estrara no radar de Aragão são do iníco do mesmo mês em que Meire decidiu falar com o Ministéiro Público Federal em São Paulo, onde reside. 
No depoimento a Moro, Anselmo foi surpreendido com uma pergunta que demonstra que Meire tem provas de que a Lava Jato ofereceu proteção a ela e mudou de ideia somente após a ex-contadora procurar o MPF paulista para contar detalhes que podem colocar a operação em risco. 
Por volta dos 18 minutos, um dos advogados pede que Anselmo confirme se enviou à Meire a seguinte mensagem, em 25 de maio de 2015: "Se te denunciaram, me coloca de testemunha que vou pedir o perdão judicial."  
Anselmo respondeu que se recorda se falou com Meire nesses termos e ainda pediu que o celular dela seja periciado para afastar a hipótese de fraude.  
"Sobre mensagens específicas, se for o caso de questionamento, eu não tenho como afirmar textualmente. se for o caso, acredito que ela deva apresentar o celular dela para extração e perícia para evitar montagem ou qualquer coisa do gênero. mas eu me recordo que a gente chegou a falar sobre eventual situação processual dela, não sei se exatamente nesses termos", disse. 
Não ficou por menos. Um segundo advogado, ainda na audiência com Moro, fez uma pergunta que insinua que há provas de que Anselmo orientava o que Meire deveria dizer às autoridades em inquéritos policiais e também à CPI da Petrobras. Ele negou que se recorde desses fatos. 
Meire foi acusada de lavagem de dinheiro por ter vendido um imóvel de propriedade de Alberto Youssef. Para justificar o processo, Anselmo disse a Moro que a ex-contadora até chegou a comentar sobre a transação com a força-tarefa, mas de maneira "reticente", o que teria complicado sua situação e motivado os procuradores a apresentar a denúncia. 
Já a contadora diz que a força-tarefa foi informada sobre a comercialização do imóvel de Youssef, sem reagir com ameaça de processo. 
"Como eu disse, num primeiro momento havia discussão sobre se ela ia virar colaboradora, e ela não quis. Tinha uma empresa investigada que ofereceu advogado para ela, e ela recusou. É só disso que me lembro. Mas sempre foi implicito nessa relação que a partir desse momento em que estivesse colaborando, ela não deveria praticar novos atos." 
Anselmo também disse que Meire "se mostrava preocupada com a situação processual dela e a gente conversou em algumas oportunidades. Mas a conversa foi que isso [a promessa de imunidade] seria decidido ao longo do processo dependendo do que ocorresse nesse período." 
Ainda em 2016, CartaCapital publicou que a defesa de Meire pretende pedir à Procuradoria-Geral da República e ao Ministério da Justiça algum tipo de proteção, e perdão judicial ao Supremo Tribunal Federal. 
Na gestão de Eugênio Aragão, havia a suspeita de que "ela foi usada como uma 'agente infiltrada' pela PF, que aproveitou os documentos e informações dados à força-tarefa para forjar diligências e até para grampear parlamentares sem autorização do Supremo. E é isso o que o ministro da Justiça quer que seja investigado." 
Por causa da conduta da Lava Jato, que orientou Meire a não procurar um advogado para se defender, a nova defesa peticionou a Moro a anulação de tudo o que foi feito com base na colaboração da ex-contadora. 
Não é pouca coisa: além de fornecer documentos que ferem o direito a não se auto-incriminar, Meire ajudou a fundamentar inquéritos que atingiram deputados, senadores e empresários. 
Meire também convocou Dallagnol e outros membros da força-tarefa como testemunha de defesa. Pela lei, eles não podem recusar.
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GGN