Rodrigo
Janot, destituído do comando da Procuradoria Geral da República nesta segunda
(18), recebeu o primeiro ataque, agora que não tem mais "flechas nem
bambus", do procurador Angelo Villela, preso na operação Patmos. Em
entrevista exclusiva à Folha, publicada no dia da posse de Raque Dodge, Villela
afirmou que Janot fez um acordo de delação com a JBS às pressas achando que
iria derrubar Michel Temer e conseguir vetar o nome da procuradora para a
PGR.
Segundo
Villela, Janot ainda o implicou na Patmos por questão pessoal e
"política", e usou sua prisão como uma carta de isenção para se sair
bem diante da opinião pública, sabendo do impacto negativo que teria a delação
da JBS com todos os benefícios concedidos para Joesley Batista e aliados.
"Não
quero aqui entrar no mérito das acusações, mas apenas destacar que a motivação
de Rodrigo, neste caso, conforme cada vez mais vem sendo relevado, foi
eminentemente política. O Rodrigo tinha certeza que derrubaria o
presidente", disparou.
"Considero
que Rodrigo, valendo-se da informação que estava no Congresso no sentido de que
a indicação de Raquel era dada como certa, viu na JBS a oportunidade de ouro
para, em curto espaço de tempo, derrubar o presidente da República e assim
evitar que sua principal desafeta política viesse a ocupar a sua cadeira",
completou.
Segundo
o procurador, a oposição de Janot a Dodge era conhecida dentro do Ministério
Público Federal há muito tempo. Ele afirma ter provas, por exemplo, de que a
procuradora era chamada de "bruxa" por Janot em um grupo de WhatsApp
que reunia apenas membros do antigo gabinete da PGR.
Villela
afirmou ao jornal que era amigo íntimo de Janot e frequentava sua casa. A
relação mudou quando o então PGR rompeu laços com o ex-ministro da Justiça
Eugênio Aragão. Villela relatou que, como também tinha muito apreço por Aragão,
decidiu manter-se "neutro" e acabou afastando-se um pouco de Janot.
Além disso. O resultado foi a interpretação de que Villela havia mudado de
lado. A situação piorou quando Janot concluiu que Villela apoiava Dodge para o
comando da Procuradoria.
"Isso
[a prisão na operação Patmos] tem uma motivação bem clara. Janot interpretou
que eu havia mudado de lado também para apoiar a Raquel Dodge, a principal e
mais importante adversária política dele."
"No
Encontro Nacional de Procuradores da República, em outubro do ano passado,
início de novembro, o Janot soltou uma frase que me chamou a atenção. Estavam
eu e mais alguns colegas, poucos, e ele falou: 'A minha caneta pode não fazer
meu sucessor, mas ainda tem tinta suficiente para que eu consiga vetar um
nome'. E ele falava de Raquel, todo mundo sabia", acrescentou Villela.
Segundo
o procurador, Dodge não terá poder para mudar a Lava Jato, mas todos esperam
que ela conduza a apuração com mais "responsabilidade e profissionalismo,
evitando vazamento seletivos, evitando assassinato de reputações. Hoje,
prende-se para investigar. O ônus da prova é do investigado, eu que tenho que
demonstrar que sou inocente."
SOBRE MILLER
Villela
ainda complicou a situação de Janot no caso de Marcelo Miller. O ex-procurador
da República foi acusado de ter beneficiado a JBS no acordo de delação de
maneira irregular. Alvo de um pedido de prisão, Miller tenta que Janot seja
convocado pelo Supremo para dar explicações. Ele alega que se cometeu
ilicitudes na delação da JBS, seria impossível Janot não saber.
À
Folha, Villela endossou a versão de Miller. "(...) não quero crer que o
PGR fosse uma rainha da Inglaterra na condução dessa investigação. É evidente
que ele tem assessores de extrema confiança e esperava que eles fizessem o
"report". Não acredito que o Miller teria feito tudo isso sem
conhecimento, ainda que parcial, de pelo menos algum membro da equipe de
Rodrigo."
Leia
a entrevita completa aqui.
GGN