A reportagem
tem 19 parágrafos, sendo que os repasses da JBS ao IDP de Gilmar Mendes ocupam
10 deles. Os outros 9 são destinados à acusação aparentemente frágil de Joesley
Batista ao escritório de Marco Aurélio Garcia, envolvendo um contrato assinado
quando o advogado ainda não era sócio de José Eduardo Cardozo. Mas quem a Folha
escolhe para emprestar o nome a um título explosivo? O ex-ministro da Justiça e
advogado de Dilma Rousseff (PT)
A reportagem
"Joesley diz que fez contrato fictício com sócio de Cardozo",
publicada pela Folha de S. Paulo na tarde desta segunda-feira (11), é caso
exemplar da seletividade da grande mídia.
A reportagem
tem 19 parágrafos, sendo que os repasses da JBS ao IDP de Gilmar Mendes ocupam
10 deles. Os outros 9 são destinados à acusação aparentemente frágil de Joesley
Batista ao escritório de Marco Aurélio Garcia, envolvendo um contrato assinado
quando o advogado ainda não era sócio de José Eduardo Cardozo. Mas quem a Folha
escolhe para emprestar o nome a um título explosivo? O ex-ministro da Justiça e
advogado de Dilma Rousseff (PT).
Folha
começou tratando do caso Gilmar nos paarágrafos 5, 6 e 7, mas fazendo questão
de esclarecer que, para a JBS, os patrocínios ao IDP é uma questão
completamente legal.
Enquanto
isso, em parágrafos anteriores, os pagamentos feitos ao escritório de Marco
Aurélio, por meio de supostos "contratos fictícios", são tratados
como um meio de manter "boa relação" com José Eduardo Cardozo.
O que
justifica Cardozo ser o centro da matéria negativa é o mais novo depoimento de
Joesley Batista à Procuradoria Geral da República, tomado após a prisão do
empresário. Nele, Joesley contraria o que diz no passado e afirma que o
contrato fictício abastecia Cardozo, embora nunca tenha perguntado se parte do
dinheiro - mensalidades de até R$ 80 mil - chegava, de fato, ao ex-ministro.
O problema
nessa narrativa é que, segundo Marco Aurélio, Cardozo não era seu sócio quando
o escritório fechou o contrato com a JBS.
Cardozo
enviou uma nota (veja a íntegra aqui)
à imprensa com 9 parágrafos, mas Folha deu atenção mínima ao lado do
ex-ministro, chegando a omitir este trecho: "No que diz respeito a
anterior contrato de prestação de serviços mantido, no passado, pelo meu atual
sócio, Dr. Marco Aurélio Carvalho, observo que este se referia a outro
escritório de advocacia, distinto do atual que integro hoje, com composição
societária completamente diversa."
Além disso,
segundo Marco Aurélio, os serviços à JBS foram prestados e há facilidade de
comprovar isso, ou seja, de desmontar a narrativa de "contrato
fictício".
"Creio
que trata-se de engano que será facilmente esclarecido. Houve e há farta
prestação de serviços na área tributária e consultiva em relação ao contrato
que celebrei com a empresa através de minha antiga pessoa jurídica, da qual
nenhum de meus sócios atuais faz parte. Com emissão de notas fiscais e
recolhimento de tributos", disse Marco Aurélio.
Enquanto
isso, a parte da matéria que compete ao IDP de Gilmar só ganha extensão a
partir do 13º parágrafo.
Se o leitor
chegou até lá, descobriu que a funcionária do IDP que fechou os contratos com a
JBS foi demitida no mês passado. Em maio deste ano, o Instituto decidiu romper
a parceria com o grupo investigado. A rescisão, para a Folha, veio tarde, já
que a empresa de Joesley Batista é investigada desde 2016, quando o contrato
estava na metade.
Segundo o
IDP, a JBS chegou a desembolsar R$ 1,5 milhão em patrocínio ao instituto do
ministro do Supremo Tribunal Federal. As saídas começaram em junho de 2015. Em
maio, quando houve o IDP abriu mão do negócio, R$ 650 mil foram devolvidos.
Ao contrário
do que aconteceu com Cardozo, a defesa do Instituto é soberana na matéria
da Folha.
PETISTAS NA MIRA NOVAMENTE
O novo
depoimento de Joesley Batista tentando arrastar Cardozo para o olho do furacão
é previsível. No pedido de prisão do empresário, o procurador-geral Rodrigo
Janot já havia sinalizado que quer uma apuração sobre uma gravação que Joesley
fez de Cardozo. Na semana passada, a imprensa havia divulgado que, no áudio, os
delatores JBS fazem uma proposta ilícita a Cardozo, mas o ex-ministro nega.
A delação da
JBS também surtiu grande impacto sobre Dilma e Lula, pois o empresário havia
afirmado aos procuradores que manteve no exterior duas contas por onde passaram
150 milhões de dólares aos dois ex-presidentes. Mas a delação vem se
desmontando a cada diz, não só porque não há provas de que Lula e Dilma
tivessem conhecimento desse possível fundo para o PT, mas porque Joesley era o
único com acesso aos recursos. E eles foram gastos, segundo a jornalista Mônica
Bergamo, com compras luxuosas: festa de casamento, dois barcos e um apartamento
em Nova York para o empresário.
GGN