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sábado, 29 de julho de 2017

O Estado Social como ponta de lança contra o golpe, por Ion de Andrade do Jornal GGN

Preparemo-nos para as manifestações monstruosas que devem vir com bandeiras amplas como a de plebiscitos revogatórios das Reformas.
Se há algo nessa crise política que é uma chance para o Brasil é o fato de que as decisões tomadas pelo governo golpista são a um tal ponto ilegítimas que, mesmo que não venham a ser facilmente devolvidas ao lixo da história, deverão ser o objeto de algum processo de legitimação futura por exigência do próprio processo democrático.
Isso é verdade pois o projeto que está sendo implantado não é o que foi aprovado nas urnas, o processo de impeachment não sustenta cinco minutos de análise isenta, os Poderes viraram covis de bandidos que agem à luz do dia, a imparcialidade republicana virou uma piada, as Reformas prejudicam profundamente a maioria que é explicitamente contrária e a base social do golpismo se desfez, o que só não se manifesta mais explicitamente porque esses setores vivem do luto a fase da negação. A inação desses setores é apenas o prelúdio de uma reação mais forte, quando a realidade dos fatos lhes ceifar renda, emprego e oportunidades. Então essa ilegitimidade latente se tornará, em algum momento, explosivamente manifesta.

Dois fatos do momento recente ilustram a dinâmica do processo: (1) em Natal um movimento grevista de médicos aspira a “concursos públicos” num contexto de Estado mínimo, de Reforma trabalhista e de terceirizações aprovadas e vigentes... e (2) o aumento dos combustíveis, segundo informou uma liderança do movimento dos caminhoneiros, só não gerou protestos para não beneficiar o PT (talvez também para evitar o vexame...). A verdade é que há cada vez mais setores que começam a suspeitar fortemente que foram feitos de otários.

Então há na Sociedade como um todo, à direita e à esquerda do espectro político, uma insatisfação profunda com o que está sendo feito com o país, porém em graus diferentes de maturidade e de consciência; uma energia estática em dois compartimentos (a base “traída” do golpe e a oposição democrática) que poderá ser convertida num caudal único e produzir, uma descarga colossal enquanto manifestação de caráter Nacional.

Sob esse prisma enxergo que a pauta de consenso mais facilmente absorvível por esse conjunto heterogêneo de forças será a da retomada do Estado Social, que emergirá aos olhos da nação como incontornável.

Embora tenhamos a tendência de desprezar os setores que por preconceito contra a esquerda apoiaram o golpe, apesar dos inúmeros avisos de que iriam se dar mal, eles hoje vivem uma orfandade política impossível de antever há apenas um ano e devem ser politicamente convencidos a exprimir as suas reinvindicações por meio da institucionalidade democrática e não contra ela.

Penso também que seria benéfica para a democracia a existência no tabuleiro, do lado de lá, mas compondo o campo democrático, de algum partido conservador que pudesse exprimir indignação com o que está em andamento no Brasil e que abrace o compromisso com a restauração do Estado Social. Há um cavalo selado passando para quem possa, nesse espectro político e em nível nacional, assumir as bandeiras do Estado Social, sem o alinhamento com a esquerda que produz a alergia desses arrependidos, trazendo-os para a institucionalidade.

O PSDB, apoiador de primeira hora dessas reformas caminha para uma campanha que em muito se assemelha a um precipício e se vier a capitalizar algo em 2018 será o sentimento difuso de traição nacional. É verdade que até aqui essa insatisfação latente da direita “traída” pelo golpe está se avolumando em torno da candidatura de Bolsonaro, mas essa candidatura não espelha as nossas tradições de pluralidade e tolerância, que são valores nacionais e traria ainda mais turbulência à vida nacional.

Ora, é sobre o Estado Social que se ergue o Estado democrático e o que vemos é que usurpado o segundo, perdemos também o primeiro. Se alguém na direita se sublevar contra o golpe e as Reformas e der voz aos “arrependidos” e “traídos” em nome da Restauração do Estado Social, é também o Estado democrático que sairá ganhando. A ver se serão capazes.

Preparemo-nos, de toda sorte, para as manifestações monstruosas que previsivelmente virão com bandeiras amplas e supra partidárias que digam respeito aos interesses da nação tais como a de realizarmos plebiscitos revogatórios da PEC55, das terceirizações, da Reforma Trabalhista, em favor do uso dos royalties do pré-sal para a Educação e a Saúde e dos setores econômicos que fortalecem a Soberania Nacional, como a indústria naval e a de defesa.

Em suma, como forças condutoras que devemos ser, ter foco no Estado Social e no Brasil nos renderá uma capacidade de mobilização previsivelmente incalculável, certamente muito maior do que a nossa base histórica.

Do GGN