Conforme vaticinei há meses aqui na AEPET, no Petronícias e
na Carta Capital, a Equinor fez, segundo o site Brasil Energia Petróleo, o
comunicado à ANP sobre indícios promissores de hidrocarbonetos no Bloco BM-S-8,
o mesmo da acumulação Carcará. Por enquanto, diz a Equinor, apenas indícios,
que significam mais que uma indicação de que há óleo no Bloco, num outro
prospecto, Guanxuma, não significando ainda descoberta comercial, pois
esta tem que ter notificação própria. Porém e muito porém, intuo, a notícia já
deve significar uma grande descoberta, pelas seguintes razões:
1- Nas seções sísmicas, as imagens do prospecto são típicas
das que indicam a presença de petróleo, e muito parecidas com as do vizinho
Carcará;
2- Em poços perfurados no pré-sal, por cautela, para se
evitar o risco de se perder o poço durante a perfuração, principalmente ao se
atravessar as camadas de sal ou de pressões anômalas, todas as empresas
minimamente cautelosas, como é o caso da Equinor, usam ferramentas LWD (Logging
While Drill - Perfilagem Durante a Perfuração) ou seja, ferramentas que
confirmam a presença ou não de petróleo, paripassu com a perfuração, quantificando
assim, previa e preliminarmente o seu volume, através dos perfis
aferidores de rocha (Raios Gamma), de porosidade (Densidade, Neutrão e/ou
Ressonância Magnética) e do tipo de fluidos que saturam os reservatórios
(Resistividade e/ou Ressonância Magnética), podendo comprovar até, se utilizado
os perfis de ressonâncias, a identificação das rochas atravessadas com
base na espectometria de massa. Em outras palavras a Equinor, interpreto, já
sabe que tem petróleo no poço, qual é o seu volume parcial ou mesmo total
através da porosidade dos reservatórios, como também que os espaços porosos
estão preenchidos por petróleo;
3- Adicionalmente, pelo tempo de início do poço, há mais de
dois meses, a sonda já deve ter atravessado expressiva coluna de hidrocarbonetos
e, assim, a Equinor já deve saber também da presença reservatório
microbial cheio de petróleo, e quais são as espessuras dos reservatórios
que, por sísmica, devem ser menores que as dos de Carcará (elevações sísmicas
relativas menos proeminentes) e também a sua profundidade (o topo dos
reservatório), que deve estar mais enterrado, estimo, cerca de 450m a 500m
abaixo da de Carcará, com base do que me recordo quando interpretei a área.
Isso tem dois importantes significados : a- que deve haver uma nova e relevante
descoberta, o que valoriza sobremaneira o Bloco BM-S- 8; e, b- se os fluidos
perfurados têm alinhamento de gradiente e continuidade hidráulica com as mesmas
propriedades das dos fluídos de Carcará, então, também concluo, a coluna de óleo
de Carcará, vizinho, é muito maior, em pelo menos 50 m que a lá
constatada (> 450m), como aliás, já estava implícito pelas análises de
gradiente dos fluidos e no de pressão de Carcará, ou seja - os volumes em
Carcará são muito superiores aos 1,3 bilhões de barris de óleo equivalentes
(boe) ditos pela Equinor por ocasião da compra do ativo, como também é
muito maior que os 2 bilhões de barris, dito depois, em outra publicação da
Equinor, e que eu também tinha calculado, além dos volumes -. Por consequência,
os volumes do Bloco BM-S-8 são substancialmente maiores que os calculados até
agora como confirmado pela descoberta ora anunciada, confirmando nossos
vaticínios prévios.
Quais as consequências práticas disso, apesar de nefastas
para a Petrobras: as áreas de Carcará e Carcará Norte encerram volumes de
petróleo recuperáveis maiores que os 4 bilhões boe expectados (2 bilhões de
cada); o Bloco BM-S-8, sozinho, encerra, pelo menos, só no reservatório
principal, os microbiais, cerca de 2,6 bilhões boe, sendo 2 bilhões de
Carcará e 0,6 bilhões de Guanxuma (intuo e muito provavelmente a Equinor sabe
quanto é). Isso sem contar com o petróleo encerrado nas rochas inferiores,
erroneamente denominadas de exclusivamente vulcânicas, onde devem ter volumes
adicionais de petróleo e de montante ainda não estimado, num outro play
exploratório mais profundo, que os geólogos chamam de reservatórios da fase
rifte, ou seja, algo como todos os reservatórios que produzem na Bacia do
Recôncavo, com as devidas ressalvas as idiossincrasias de cada bacia. Ainda não
se conhece o limite vertical inferior da ocorrência de petróleo no Bloco
BM-S-8, pois nele ainda não foram detectadas a presença de água.
Tudo isso corrobora as nossas assertivas passadas que venda
do Bloco BM-S-8, com Carcará incluído, foi feita a preço de banana e que,
também, o não exercício do direito, na área de Carcará Norte, decidida pelos
senhores Pullen Parente e séquito, foi um terrível, crasso e abominável
erro na gestão de ativos valiosos. Não faltaram alertas prévios em diversas
matérias que eu e outros publicamos sobre este assunto. Tem mais: se for
confirmada, em Guanxuma, as pressões anormalmente elevadas exibidas em
Carcará, o mesmo gradiente do óleo e igual razão de solubilidade, esta será uma
das maiores (senão a maior) províncias gaseíferas do Brasil. Tudo isso
sem contar com quaisquer fluidos porventura existentes no Bloco Uirapuru,
recém adquirido pelo consórcio e de mesmo contexto, onde a Petrobrás
acertamente exerceu o seu direito aos 30%, após a sua proposta consorciadas ter
sido perdedora no leilão. Tudo isso nos leva a outra certeza de
que, como também alertado antecipadamente, a venda da transportadora NTS foi
uma atitude igualmente irresponsável e que levará a Petrobrás a pagar
caro, valores absurdos mesmo, e somente por aluguel, desmistificando
assim o selo que os oportunistas tentaram nos colar de sermos apenas
ideológicos, e que queríamos somente obstar as decisões de venda de
ativos com viés exclusivamente político, os ativos que
considerávamos como vendas deletérias. A História com H maiúsculo sempre repõe
a verdade e, curiosamente, também nos mostra que a famosa alavancagem de 2,5,
dita como saudável, poderá ser obtida até o final do ano sem a venda
deletéria e açodada dos ativos ou seja, apenas com mudança
internacional e conjuntural dos preços internacionais do petróleo, aliada ao
aumento da cotação do dólar e ao alongamento dos prazos de dívida. Isto é uma
prova contundente que estávamos absolutamente certos nas nossas assertivas,
conforme as análises de cada tópico feitas separadamente, pela AEPET e todos
nós que nos expomos e fomos severamente criticados.
Outra constatações que podemos extrair da descoberta de
Guanxuma (indícios por enquanto anunciados) é o papel que têm as imagens dos
atributos da sísmica obtidos, de excelente qualidade (amplitude e outros)
como identificadores de petróleo no pré-sal. Na linguagem de negócio isso
significa mitigação de riscos exploratórios por exibirem excelente acuidade em
se achar novas descobertas, vis-à-vis as mesmas características exibidas
em outras áreas alhures às do pré-sal.
Quando alguém fala ou escreve que óleo enterrado no sub-solo
não tem valor, eu fico irritado e faço uma pergunta simples. Por que então se
investe tanto em exploração? Lógico que tais afirmações não passam
de galhofas. Só pode! Tais áreas exploratórias têm muito valor valor
sim, lógico que menor que uma área já perfurada onde o petróleo visual
vira real, e esta, menor que uma área já delimitada e, todas citadas, muitp
menor que um campo de petróleo com infraestruturas de produção,
escoamento, etc., prontas. Ademais, nas áreas de contexto ainda
exploratório do pré-sal, como já está provado, a sísmica mitiga e muito o risco
e, por isso, elas ganham maior valor nas negociação, a exemplo de Guanxuma,
pois a estatística é uma ferramenta de tabulação e constatação de
probabilidades, calcadas nas ocorrências de todos os valores transformados
depois em probabilidades. E nas outras áreas exploratórias como isso
deveria funcionar? Onde isto ficou expresso, nas negociações e leilões até
então realizadas contemplando tal vantagem relativa de mitigação de risco? Ouso
dizer que em nenhuma! Assim chamo a atenção também à ANP que deve estabelecer
valores elevados e adicionais relativos à mitigação de riscos, nos futuros
leilões de áreas do pré-sal. Está é a principal razão do índice exploratório de
quase 100% na área do pre-sal, mui diferente e quase 10 vezes superior a taxas
de risco exploratório antiga da ordem de 10%.
Em recente visita a Associação de Engenheiros da
Petrobrás (AEPET,) o senhor Ivan Monteiro e pequeno séquito, reafirmou,
que venda de Carcará e da NTS, como também não participação na
licitação da área de Carcará Norte foram bons negócios. Pergunto a
vocês: Foram? Apenas concordamos com a aquisição dos 30% do bloco Uirapuru, por
força da lei da partilha que o senador José Serra e o deputado Aleluia (o
último na venda do petróleo da cessão onerosa e doses excedentes bastante
prejudiciais a nação brasileira) modificam a qualquer preço.
Para finalizar ainda temos que lembrar da vantagem relativa
do petróleo das áreas acima comentadas, sem os contaminantes CO2 e H2S. De um
jeito ou de outro tais contaminantes, muito poluentes, são comuns nas demais
áreas do pré-sal e eles têm que ser sequestrados por ocasião da
produção. Primeiro, reinjetando-os nos reservatórios já produzidos para repor
as suas energias perdidas. Acontece que nas áreas com pressões de reservatórios
anormalmente elevadas como Carcará e similares, a reposição de
energia só será necessária numa fase mais tardia. Assim, os contaminantes
têm que ser armazenadas em sub-superfície, e os melhores locais parecem
ser vacuidades a serem criadas nas espessas camadas dos sais existentes e tal
assunto já é objeto de estudos pela Petrobrás, apesar da perda de recursos
alocados para o seu centro de pesquisas (CENPES) e nos convênios com as
Universidades. Para se fazer vacuidades nas tais de camadas de sais existentes
ou seja para edificá-las, os sais lá existentes têm que ser
produzidos, principalmente os mais solúveis, os de potássio, que
afortunadamente são os fertilizantes que o Brasil, tal potencia agrícola,
é importador em montantes elevados. Se bem elaborados, os projetos do pré-sal
precisam estar bem integrados contemplando uma extensa cadeia que, por exemplo,
também tornar o Brasil auto-suficiente em fertilizantes que abundam no
pré-sal. Isto a Petrobrás sempre fez por ser uma empresa integrada e
verticalizada, do poço ao posto, passando pela agricultura. Vender ativos que
compõem um ou mais elo da cadeia compromete os projetos, sempre com aumento, as
vezes exponenciais nos custos, perdendo-se assim vantagens relativas e
comporativas. Não sou contra recebermos investimentos estrangeiros na atividade
petróleo. O que não concordamos é a venda e compra de ativos já sem riscos e
por preço subestimados como vem ocorrendo. Também o discurso de que o monopólio
de fato e não de direito atrapalha é falacioso, pois quem tem competência se
estabelece. Tem exemplos de sucessos em nichos nacionais que deveriam ser
imitados pelas majores, verdadeiramente investindo no risco mitigado ou não,
pagando preço justo.
Fico curioso em saber das razões porque notícias como esta,
os indícios, em Guanxuma, não são nem propagadas à exaustão e nem ao menos
analisadas de forma integrada e cuidadosa como boas perspectivas,
principalmente em ano eleitoral, onde deveríamos estar discutindo o papel do
gás como gerador substituto de energia, o que fazer no Brasil com a renda
do petróleo abundante do pré-sal, como agilitar os projetos, e como
enfrentaremos a mudança da matriz energética poluidora em energia ecológica
como a solar, nuclear e eólica, etc., ou seja como transformarmos
verdadeiramente a Petrobras numa empresa de energia, como planejado na sua
fundação e como fazem as empresas da pequena e rica Noruega, onde vemos as suas
empresas pujantes atuarem do seus midstream e downstream e nos dos outros
como no nosso e em outos países. Enquanto isso nossos deputados federais,
capitaneados pelo baiano Aleluia, fazem leis que enfraquecem a Petrobrás e
esta se torna cada vez menos pujante e acéfala. Quando alguns a defendem
com vigor e à nossa indústria nacional, são chamados de ideológicos e de
viés político contrario. Pior,o desmonte da nação é referendado pela maioria
dos tribunais e dos seus componentes , os do legislativo (TCU) e os do
judiciário, que liberam as mudanças de leis que aprovam os
desinvestimentos e privatizações absurdas, no conteúdo e no preço, sem pensar
num projeto de um País Brasil ,e no futuro dos próprios filhos, netos. Pior é
que minguando o Estado, os seus salários, alguns absurdamente inchados por
penduricalhos, um dia se tornaram absolutamente pífios por falta de provimentos
no erário público. Acho que morrerei procurando as razões e as lógicas
disso, fora as pessoais e até as de ignorância, intuo, as intestinas
(deles) e de curto prazo, as pessoalmente urgentes e pouco importantes na
toada o Brasil que se dane!
Como não vou conseguir o País que eu quero, principalmente
sob os auspícios da grande mídia, como está na moda, acho que vou pedir
cidadania norueguesa, pois os atos deles são mais condizentes com o que penso
(como norueguês) para o Brasil, incluíndo também a perspicácia de realizar “bons
negócios” negociando com os brasileiros “patriotas”. Aprenderei como diminuir,
então, a desigualdade social e distribuir renda no meu Brasil varonil, lá de
fora, claro, pois os feudos daqui pertencem apenas aos moradores do andar de
cima e, circunstancialmente, cabe a classe média ludibriada, que pensa
compartilhar do paraíso efêmero e fugaz e que está dando um passo ascendente. O
andar de cima apesar de imenso, é mui pequeno para mais um. Os excedentes serão
expulsos quando for conveniente.
AEPET/GGN