O
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE),
em conjunto com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), divulgou um comunicado
no qual faz uma crítica à comemoração do governo pela baixa inflação.
"Não há
nada para se comemorar quando a taxa baixa de inflação é resultado de uma forte
depressão", diz trecho da nota, que explica que "a deflação (variação
negativa dos preços) de 0,23% registrada no IPCA de junho, a primeira desde o
mesmo mês de 2006, é resultado da profunda crise que o país atravessa. É uma
amostra clara e robusta de como a economia brasileira está imersa num lodo no
fundo do poço sem qualquer perspectiva de saída no curto prazo".
Leia a íntegra:
Deflação e crise econômica no Brasil
Não há nada
para se comemorar quando a taxa baixa de inflação é resultado de uma forte
depressão.
A deflação
(variação negativa dos preços) de 0,23% registrada no IPCA de junho, a primeira
desde o mesmo mês de 2006, é resultado da profunda crise que o país atravessa.
É uma amostra clara e robusta de como a economia brasileira está imersa num
lodo no fundo do poço sem qualquer perspectiva de saída no curto prazo.
Ao contrário
de vários outros países, o Brasil trabalha no regime de metas de inflação a
partir do "índice cheio" do IPCA, ou seja, considera a variação
completa do índice, que inclui tanto preços administrados (gasolina, energia
elétrica, água), como os sazonais (alimentos, passagens aéreas e despesas com
educação) ou ainda os vinculados ao "mercado livre" e concorrenciais
(cabeleireiro, serviços em geral) e de produtos.
Nos EUA, a
taxa é um núcleo da inflação que inclui apenas os preços concorrenciais. Essa
distinção é importante porque quando se considera os diferentes tipos de preços
de forma separada torna-se mais efetivo o diagnóstico de inflação típica de
demanda, onde uma política monetária de aumento de juros poderá ser mais
eficiente a um custo menor.
Como no
Brasil trabalhamos com um índice cheio dentro de um ano calendário (janeiro a
dezembro), em um sistema de metas de inflação, os únicos instrumentos de
política monetária são os vinculados ao combate de uma inflação de demanda,
mesmo que o aumento do índice não seja vinculado a esse tipo de aumento inflacionário.
Ou seja,
forma-se há um "tarifaço" (aumento de preços administrados), como
ocorreu no início de 2015, ou ainda uma crise climática que eleva os preços dos
alimentos, somente "sobra" para a política monetária atuar os preços
livres, mesmo que estes, efetivamente não estejam promovendo o "choque
inflacionário" e não sejam as fontes primárias dos aumentos de preços.
Um aumento
de juros tem efeito direto na demanda interna (afetando diretamente os
"preços concorrenciais") além de promover uma possível valorização do
câmbio, efeito indireto que diminui o preço dos insumos importados
("populismo cambial") e auxilia a reduzir a pressão inflacionária.
A calibragem
dos juros no Brasil precisa ser muito mais potente porque considera todos os
preços, porque a queda de preços livres precisa compensar também a aceleração
dos preços nos mercados administrados e sazonais, mesmo porque não se pode
normalizar o regime de chuvas com aumento de juros. Não pode haver controle
desses preços pelos juros.
Por isso,
mesmo com uma recessão brutal, a lógica de manutenção da política de juros
altos reais (descontado a inflação) permanece. E juros altos reais neste caso
(os mais altos do mundo), além de ter efetividade questionável no combate à
inflação, por outro lado gera desemprego, aumento da dívida pública e reduz o
consumo e o investimento.
Deflação é deterioração econômica
No caso
brasileiro, a deflação é uma combinação de elementos, todos apontando o cenário
de deterioração econômica em que nos encontramos.
Senão,
vejamos: Enquanto em 2015 a inflação foi mais em função dos preços
administrados (energia elétrica e gasolina) e sazonais (alimentos), fatores
exteriores ao mercado de "preços livres" e, portanto indicando que
não se tratava de uma inflação de demanda que poderia justificar uma política
monetária austera, o índice desse mês – livre das influências dos preços
administrados e dos sazonais – demonstrou claramente o tamanho da crise,
registrando uma deflação, ou seja, um movimento já de redução de preços dada
demanda enfraquecida.
A deflação
comprova a grave recessão que vivemos, mostra um completo desbalanceamento das
políticas monetárias ao manter os juros reais nas alturas mesmo nesse cenário
(aprofundando a recessão e o desemprego) e mostra o completo distanciamento de
Temer e sua equipe econômica comandada por |Henrique Meirelles e Temer com a
realidade da população brasileira.
GGN, Subseção
DIEESE/CUT Nacional, 07 de junho de 2017