O
primeiro ponto relevante é o esvaziamento da Lava Jato, tal como a opinião
pública testemunhou até agora. Ou seja, vazamentos abusivos, uso intensivo do
tribunal da mídia, coerção sobre réus para que incluíssem na delação o que os
procuradores desejavam, as inovações teóricas a fórceps de Deltan Dallagnol
para conseguir viabilizar denúncias.
Os
fatos relevantes são os seguintes:
Fator
Raquel Dodge
Não
estranhe o fato de os jornais, após consumada a indicação de Raquel Dodge para
a Procuradoria Geral da República, começarem a enaltecer sua biografia.
Até
então, permitiram que o PGR Rodrigo Janot armasse uma acusação injuriosa contra
ela, no episódio do Conselho Superior do Ministério Público, no qual Raquel
quis incluir uma cláusula que limitasse em 10% o número de procuradores de cada
unidade que poderiam ser convocados para tarefas especiais.
A
imprensa em Brasília endossou rapidamente a tese para garantir o acesso aos
vazamentos, com os quais o Ministério Público Federal cativa os jornalistas.
Nenhuma das pessoas que, hoje, saem em defesa de Raquel – incluindo o
presidente da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República) – moveu
uma palha quando das acusações de que foi alvo.
Com
Raquel Dodge na PGR, provavelmente mudará apenas o show midiático da Lava Jato.
Acabarão os vazamentos que faziam o gozo dos linchadores e a vergonha dos
operadores do direito e das pessoas com um mínimo de visão de país. Acabará a
superexposição de procuradores fazendo a vida com palestras.
As
investigações em si provavelmente ganharão mais eficiência, já que Raquel fez
sua carreira na linha de frente do combate ao crime, ao contrário de Janot que
cresceu dentro da burocracia do MPF.
Fator
TRF 4
É
publicada notícia com um balanço dos julgamentos da Lava Jato pelo TRF 4 – o
Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Segundo o balanço, o TRF 4 reformou
todos os casos em que as acusações vieram respaldadas unicamente em delações,
sem as provas.
São
duas informações trazidas pela notícia. A primeira, é a de que o TRF 4 não
abdicou do estrito controle da legalidade, ao contrário das manifestações
iniciais a favor do relaxamento do estado de direito. A segunda, o incrível
déficit de informação do país. Do lado da velha mídia, pelo fato de só
privilegiar notícias de condenações. Do lado da nova, pela incapacidade de um
acompanhamento meticuloso dos casos.
Até
o Estadão descobriu os princípios básicos de direitos individuais e hoje, em
editorial, ataca as condenações baseadas exclusivamente em delações. Para
salvar Michel Temer, o Estadão precisou dar uma colher de chá para Lula.
Com
esses dados, dificilmente a condenação de Lula, no processo triplex, por Sérgio
Moro, será confirmada pelo TRF 4 porque baseada exclusivamente em declarações
premiadas de delatores.
Confirma-se
o que vimos denunciando há tempos, que o valioso instituto da delação premiada
foi comprometido pela sanha persecutória e midiática da equipe de Curitiba.
Fator
JBS
O
atabalhoamento de Rodrigo Janot coloca em risco a delação da JBS.
Numa
ponta, o procurador Ângelo Goulart Vilela, detido na operação sob suspeita de
receber da JBS, se dispõe a dar depoimento para a CPI que se instalará.
Nela,
provavelmente relatará que sua aproximação com a JBS se deveu à tática de
Janot, de conquistar a empresa para a delação.
Na
outra ponta, o ex-procurador Marcelo Miller, que largou o MPF para trabalhar no
escritório que cuidou da delação da JBS, escorregou na casca de banana jogada
por Michel Temer.
Temer
acusou-o de ter ficado milionário com a contratação pela Trench Rossi Watanabe.
Hoje, Miller informa seu salário. Diz que é de R$ 25 mil. Com bônus, vai para
R$ 110 mil. Ou os US$ 450 mil antecipados aqui pelo GGN.
Bastará
alguém solicitar à empresa informações sobre o bônus. Recebe o bônus(ou
referral fee, no linguajar do setor) quem leva clientes para o escritório. O
cliente que Miller levou foi justamente a JBS.
Conclusões
Sem
fato novo, sobressaem três conclusões:
1 Reduz sensivelmente a possibilidade de
Lula ser condenado em 2a instância.
2 Aumenta a possibilidade de, até 2018, o
país continuar sendo governado de forma humilhante por Michel Temer.
3 Raquel Dodge inicia a pesadíssima missão
de salvar o MPF da armadilha em que foi colocado pela falta de comando de Janot
e pela falta de limites dos procuradores de Curitiba. A cada dia ficarão mais
claros os alertas a respeito das consequências desastrosas para o MPF das
estripulias de procuradores deslumbrados e sem nenhuma espécie de comando ou
coordenação.
Do GGN