Lanço aqui um desafio para os leigos em Direito e para
qualquer procurador da República sobre a alegada existência de conexão que
prorrogue a competência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgar crimes que
teriam sido praticados em São Paulo, todos da competência da Justiça Estadual.
Vamos lá:
Que hipótese de conexão do artigo 76 do Código de Processo
Penal existe entre o crime de lavagem de dinheiro, praticado pelo doleiro
Alberto Youssef, através do Posto Lava Jato, sito no Paraná, e os crimes
atribuídos ao ex-presidente Lula, que teriam sido praticados em São Paulo?
Código de Processo Penal.
Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar
em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for
praticado o último ato de execução.
Art. 76. A competência será determinada pela conexão:
I – se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido
praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas
em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas
contra as outras;
II – se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para
facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em
relação a qualquer delas;
III – quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas
circunstâncias elementares influir na prova de outra infração.
O juiz Sergio Moro não diz, não explica, não demonstra. Ele
apenas assevera que os processos contra o ex-presidente Lula são da sua
competência, porque conexos com aquele processo originário e outros mais. Meras
afirmações, genéricas e abstratas.
A Constituição da República dispõe, expressamente, em seu
artigo 5, inciso LIII, que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela
autoridade competente”.
Trata-se pois de incompetência absoluta, que acarreta
nulidade absoluta de todo o processo, na medida em que estamos diante de um
direito fundamental tutelado pela Constituição Federal.
Ressalto que a prevenção é critério de fixação da competência
entre órgãos jurisdicionais que sejam todos já genuinamente competentes. A prevenção
não é critério de modificação da competência!
Como uma incompetência tão flagrante e acintosa pode perdurar
em um país sério?
Note-se que aqui sequer estamos pondo em questão a própria
competência (ou incompetência) do juiz Sergio Moro para aqueles processos
originários, que teriam “atraído” os demais crimes para a 13ª Vara Federal de
Curitiba.
De qualquer forma, é importante notar, tendo em vista o
artigo 109 da Constituição Federal, que:
a) A Petrobras é uma sociedade empresária de direito privado (economia
mista);
b) A competência da Justiça Federal é prevista,
taxativamente, na Constituição Federal, que leva em consideração o titular do
bem jurídico violado pelo delito e não a qualidade do seu sujeito ativo. Aqui,
o importante é o bem jurídico atingido pelo crime, e não a qualidade do autor
do delito.
c) A prevenção não é fator de modificação ou prorrogação de
competência, mas sim de fixação entre foros ou juízos igualmente competentes.
Relevante salientar ainda que, no processo penal, a conexão
ou continência se dá entre infrações penais e não entre processos.
Ademais, importa ressaltar que a conexão pode modificar a
competência de foro ou juízo, mas não a competência de justiça, prevista na
própria Constituição Federal. O Código de Processo Penal não pode ampliar e nem
derrogar a competência prevista na Lei Maior, salvo quando ela expressamente o
admite, como nos crimes eleitorais, pois ela menciona expressamente os “crimes
eleitorais e comuns conexos”.
Por derradeiro, a conexão pode modificar a competência, como
acima dito, para que haja unidade de processo e julgamento, evitando dispersão
da prova e sentença contraditórias. (“Art. 79. A conexão e a continência
importarão unidade de processo e julgamento, salvo: …”)
No caso em tela, que contradição poderia haver entre a
sentença do caso originário do doleiro e a sentença relativa ao triplex do
ex-presidente Lula? Fica aqui mais um desafio: apontem uma possível contradição
entre as duas sentenças.
De qualquer sorte, se um dos processos já foi julgado, não
haverá por que modificar a competência originária, pois não haverá mais
possibilidade de um só processo e uma só sentença.
Neste caso, diz a lei que eventual unificação e soma de penas
se fará no juízo das execuções penais. Vejam o que diz o artigo 82: “Se, não
obstante a conexão ou continência, forem instaurados processos diferentes, a
autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram
perante os outros juízes, salvo se já estiverem com sentença definitiva. Neste
caso, a unidade dos processos só se dará, ulteriormente, para o efeito de soma
ou de unificação das penas)”.
Saliento, mais uma vez, que a prevenção é critério de fixação
da competência entre órgãos jurisdicionais que já sejam todos genuinamente
competentes. Vale dizer, a prevenção não modifica a competência, mas
“desempata” entre foros ou juízos igualmente competentes.
Assim, se um determinado órgão jurisdicional pratica uma
medida cautelar sem competência para tal, ele não passa a ser competente para
as infrações conexas. A sua incompetência originária não é sanada, mas sim
ampliada.
A toda evidência, a regra do artigo 70 do Codigo de Processo
Penal está sendo desconsiderada de forma absurda. Tal dispositivo legal é
expresso ao dizer, de forma cogente, que a competência de foro é fixada pelo
lugar em que se consumou a infração penal e, no caso de tentativa, pelo lugar
em que foi praticado o último ato de execução.
Destarte, não havendo conexão entre infrações praticadas em
foros distintos ou não havendo mais a possibilidade de um só processo e um só
julgamento, não há justificativa para a modificação da competência do foro
originário.
Desta forma, verifica-se que o ex-presidente Lula não está
sendo julgado por um órgão jurisdicional competente. Na realidade, o juiz
Sergio Moro escolheu o seu réu e, com o auxílio entusiasta do Ministério
Público Federal, foi buscar um determinado contexto insólito para “pinçar”
acusações contra o seu “queridinho réu”.
Vale dizer, a garantia do “juiz natural” foi totalmente
postergada. Por isso, muito antes da sentença condenatória, todos sabiam que o
ex-presidente Lula seria condenado por seu algoz!
Do DCM