Os
ataques eram conduzidos por um blog de Curitiba, que se apresenta como defensor
da Lava Jato.
Há
pelos menos três anos juntamos um conjunto de indícios que mostram que a
mudança inesperada do comportamento de alguns Ministros do Supremo Tribunal
Federal (STF) poderia estar ligado a chantagens cometidas através das redes
sociais.
Os
ataques eram conduzidos por um blog de Curitiba, que se apresenta como defensor
da Lava Jato. A mudança de comportamento de Barroso ocorreu dias depois do blog
republicadecuritiba.net disseminar um conjunto de informações particulares
dele, e as notícias serem reproduzidas pelos blogs de Veja, no auge do
jornalismo-esgoto praticado pela revista.
A
informação de Gilmar Mendes, de que haveria Ministros do STF sendo
chantageados, reacende as suspeitas.
Aqui, o
Xadrez publicado originalmente em 12/06/2017
Peça 1 – o iluminista e o
negro de primeira linha
A
intenção era criar um momento de paz, indicar publicamente que as desavenças no
Supremo Tribunal Federal se resumiam ao campo jurídico. Daí a ideia de
inaugurar dois retratos de ex-presidentes – Joaquim Barbosa e Ricardo
Lewandowski – e incumbir dois colegas de saudá-los.
Quando
se optou por Luís Roberto Barroso para saudar Joaquim Barbosa, ficou no ar a
suspeita de que algo poderia dar errado. Barroso é mestre na arte de se auto
louvar, permanentemente atrás dos holofotes e do protagonismo, das declarações
reiteradas de bom-mocismo. Teria o desprendimento de focar o elogio na
celebração de um colega?
Mas,
enfim, foi convidado dois dias antes da cerimônia e, portanto – pensavam os
anfitriões – com bom tempo para preparar o discurso e retirar eventuais
inconveniências.
Mal
começou o discurso, um frêmito perpassou os demais Ministros e um frio na
espinha acometeu a organizadora do encontro.
Barroso
lembrava a primeira vez que conheceu Barbosa, na França. Ou na UERJ
(Universidade Estadual do Rio de Janeiro), quando Barbosa prestou concurso e
ele, Barroso, já era chefe de departamento. E o grande Gatsby não parou mais.
Joaquim Barbosa tornou-se um mero álibi para a pregação salvacionista do
vingador, bradando seu patriotismo, sua cruzada em prol da moralidade e da
erradicação de toda corrupção.
Vez
ou outra, lembrava rapidamente a relatoria de Barbosa na AP 470 e voltava à
catilinária inicial, sua intenção de limpar a pátria, acabar com a corrupção,
jogando os corruptos no fogo do inferno.
Um
Ministro mais sarcástico virou-se para um colega e murmurou:
–
O “Iluminista” está impossível!
Referia-se
ao apelido que lhe foi pespegado pelo blog, quando seus acessos de humildade
fora de série o faziam se declarar um arauto do Iluminismo e um par dos grandes
juristas que atuaram na vida política nacional, como Joaquim Nabuco, Ruy
Barbosa e San Thiago Dantas.
Até
que o “iluminista” soltou a pérola máxima, saudando Barbosa, “um negro de
primeira linha”.
Mal
terminou a auto louvação, os repórteres cercaram Joaquim Barbosa perguntando o
que achou de ser qualificado como “negro de primeira linha”, uma versão
capciosa do “negro de alma branca”. E Barbosa, impassível:
–
Sem comentários.
No
mesmo instante, portais e blogs, acostumados com as platitudes do ministro
“iluminista”, espalharam manchetes de home com a frase que expunha o
dandy deslumbrado e preconceituoso.
Naquele
dia, uma transexual fez um discurso histórico no Supremo Tribunal Federal em
defesa do direito de identidade, um homossexual assumido enfrentou as verrinas
machistas-cafajestes de Gilmar Mendes (https://goo.gl/bwYya6)
com a dignidade das grandes figuras jurídicas que hoje escasseiam, sem se
intimidar por um minuto com as armas do preconceito.
No
Supremo, um negro combativo, polêmico, vencedor, impávido como Mudammad Ali
frente a um lutador bailarino e cheio de firulas, apenas olhou duro e deu um
jab de direita com o seu “sem comentários”. E o jurista, socialmente
preconceituoso, mas, de qualquer modo, responsável por alguns dos avanços
morais ocorridos nos últimos anos, escorregou na própria verborragia
incontrolável.
No
dia seguinte, o “iluminista” subiu ao púlpito do Supremo se desfazendo em
lágrimas, se desculpando pela demonstração involuntária de preconceito.
Interrompeu várias vezes a penitência com voz embargada.
Peça 2 – os negócios de
família
Fiz
o preâmbulo não para condenar Barroso por um caso típico de má expressão, mas
para expor sua vulnerabilidade, de se desmanchar nas lágrimas da auto-compaixão
meramente ante a cobertura da mídia, expondo seu escorregão.
Barroso
nunca foi considerado um progressista, na acepção do termo. Mas também nunca
foi o juiz vingador, selvagem, o pregador prometendo fuzilar os ímpios com os
raios de Poseidon.
Parte
do clima persecutório atual, com reputações sendo assassinadas, prisões
desnecessárias sendo implementadas, em nome de uma genérica luta contra
corrupção, a suspeita espalhando-se por todo o país, os receios com grampos, a
derrubada da auto-estima nacional deve-se a ele, o Ministro do Supremo que mais
assumiu o papel de vingador.
Se
Barroso se desmanchou apenas com as críticas ao seu “negro de primeira linha “,
o que ocorreria se a imprensa passasse a explorar os episódios abaixo, se ele
se tornasse vítima da mesma sanha macarthista que estimula?
O caso BHS
Trata-se
de uma construtora de propriedade de Detta Geertruce Van Brussel Telles, sogra
de Barroso, de nome BHS/Beehive.
A
construtora é especializada em reformas de prédios, na construção de mansões e
tem algumas construções de edifícios.
Com
esse histórico, trabalhou para a ICN- Itaguaí Construções Navais braço do
Grupo Odebrecht para o programa PROSUB, do submarino nuclear e para o BTG
Pactual.
Detta
entrou para a sociedade da empresa em 2012, junto com Sandra Murat.
Atualmente mora em Brasília, na casa onde morava Valdemar Costa Neto, na
época do mensalão. A casa pertence a Antonio Carlos Osório Filho, dono da
Capital 1, grande tomador de financiamentos da Caixa Econômica Federal.
A offshore em Miami
Tereza
Cristina Van Brussel Barroso, sócia e esposa de Luís Roberto Barroso, em 9 de
junho de 2014 abriu a offshore Telube Florida LLC em seu nome de solteira. Quem
montou a offshore foi um conhecido operador brasileiro em Miami, com problemas
na justiça brasileira, de codinome Barbosa Legal.
O
imóvel fica na Ilha Key Biscayne, avaliado em US$ 3 milhões e é o sonho de todo
brasileiro deslumbrado com Miami.
Com
o nome de casada, Tereza é sócia do marido na LRBT Empreendimentos e na Chile
230 Participações.
Além
disso, Barroso responde ainda por duas empresas, a Casa da Cultura Jurídica do
Rio de Janeiro e o Instituto de Direito do Estado e Ações – Ideias.
Peça 3 – os assassinatos
de reputação
Desconsidere
as acusações acima. Provavelmente as operações do Ministro e seus familiares
estão dentro dos limites flexíveis dos negócios privados. A offshore é apenas
uma maneira esperta de defesa contra o fisco, típica do pensamento de Barroso e
seu meio social – embora ele costume apresentar como prova da malandragem
brasileira a empregada doméstica de um amigo, que não quis o registro para
poder acumular os benefícios do Bolsa Família.
Pode
causar dúvida o fato da offshore estar no nome de solteira de sua esposa e
sócia. Como o fato do pai ser advogado de um processo milionário da
Eletronorte.
Mas,
provavelmente, se fosse dada a palavra ao Ministro, haveria explicações
plausíveis para cada acusação, inclusive a informação se a esposa registrou
todos os repasses à offshore no Banco Central. “Acusações”, como o nome do
proprietário da casa em que reside a sogra de Barroso, não teriam a menor
relevância ou significado.
Essas
acusações foram veiculadas por sites de direita – coincidentemente sediados em
Curitiba – com algumas informações obtidas diretamente do site da Receita
Federal – e repercutidas em blogs da revista Veja, na fase mais expressiva do
jornalismo-esgoto da revista e quando Barroso ensaiava alguns voos de
independência jurídica.
A
intenção política era óbvia. A notícia do site curitibano era encimada por uma
foto do Ministro e pelos versos:
“Meu boi Barroso,
Meu boi Pitanga,
O teu lugar
É lá na canga”
Na canga do PT
Como
uma pessoa tão frágil, que se desmancha em lágrimas devido às críticas
recebidas por uma expressão descuidada, resistiria a uma campanha pesada, da
mesma maneira de outras campanhas produzidas pela Lava Jato-mídia-blogs de
direita, em que basta juntar registros comerciais, informações da Receita e
algumas coincidências, para destruir uma pessoa?
Logo
em seguida à divulgação dessas “denúncias”, Barroso votou pela prisão após
condenação em segunda instância, tornou-se um templário implacável contra a corrupção
e em defesa da flexibilização do estado de direito, o principal alimentador –
por seu cargo de Ministro do Supremo – da sanha persecutória que tomou conta do
país. O Barroso dos primeiros tempos, contra o clamor das ruas e da mídia,
acabou.
Que
ele tenha se atemorizado, desculpa-se: a maior ou menor resistência a pressões
depende da têmpera de cada indivíduo. E, desde seus tempos de UERJ
(Universidade Estadual do Rio de Janeiro), Barroso era reconhecido como o
advogado brilhante, mas de têmpera frágil. Ministros como Marco Aurélio de
Mello, Ricardo Lewandowski e o próprio Gilmar Mendes jamais se atemorizaram com
tentativas de assassinato de reputação – ainda que Gilmar por razões distintas.
O
que não se perdoa foi a maneira como negociou seu salvo-conduto. A fim de ser
poupado dos ataques desqualificadores do macarthismo caboclo, optou por
aliar-se aos vingadores, tornando-se seu principal avalista.
A
história não o perdoará. E não será por conta do “negro de primeira linha”.
GGN