Um
dos grandes dilemas dos modernos sistemas de controle do crime organizado, é a
estrutura de comando, as maneiras de coordenar uma corrente que tem como elos
principais o Judiciário, o Ministério Público Federal e a Polícia e na qual as
relações hierárquicas não são suficientemente claras.
São
conhecidos os arrufos periódicos entre MPF e PF acerca das atribuições de cada
um. O MP questiona o monopólio da investigação pela PF que, por sua vez,
rebela-se contra o controle externo da PF, a ser exercido pelo MP. É um
conflito que se estende também aos MPs estaduais.
Trata-se
de convivência complicada, cheia de resistências de lado a lado.
A
opinião pública sempre deu status maior ao procurador que ao delegado – embora
ambos tenham sido aprovados em concursos igualmente exigentes. O delegado
sempre é confundido com o policial de porta de cadeia, mesmo a PF sendo dotada
de áreas técnicas e de um enorme corpo de funcionários com curso superior.
Na
Lava Jato, no entanto, métodos científicos foram deixados de lado, as
investigações minuciosas – que consagraram a PF na última década – abandonadas
em favor dos absurdos mais renitentes. Ou então do exibicionismo desenfreado,
de policiais vestidos para a guerra, com uniforme de Swats, armados até o
pescoço, cumprindo missões arriscadíssimas de... invadir residências de pessoas
desarmadas.
Nos
últimos anos, a imprensa colocou um poder sem paralelo nas mãos de delegados e
procuradores em missões com desdobramentos político-partidários.
Peguem
jovens delegados malhados, sentindo-se os próprios Rambos, com salários
iniciais altíssimos, com o status de autoridade e coloquem sobre eles os
holofotes da mídia. Dá nisso.
Deslumbrados
e despreparados, julgaram que A Força jamais os abandonaria. Não se deram conta
de que, depois de entregue o trabalho que a mídia almejava, seriam descartados
como carne fraca ao mar. E, pior, não se deram contas de que representavam a
própria corporação que
os acolheu.
O
crime do colarinho branco não implica em riscos físicos para os investigadores,
da mesma maneira que as investigações sobre o tráfico. Exigem menos músculos, e
mais inteligência. Os delegados da Lava Jato decidiram usar apenas os músculos
em uma operação que exigia cérebro.
Agora,
se aproxima a hora da verdade.
O
repórter Marcelo Auler (https://goo.gl/Aj73oE) vem
denunciando sistematicamente os abusos cometidos por esses garotões
deslumbrados. Primeiro, os grampos ilegais colocados em celas de investigados.
Depois, uma investigação fajuta, visando esconder a autoria dos grampos.
Finalmente, em conluio com os procuradores da Lava Jato, a perseguição
implacável aos colegas que resolveram levar as investigações a sério.
Se
o legalismo da procuradora Raquel Dodge for mantido intacto, não haverá como
não cuidar de dois desafios complicados:
1.
Apurar os crimes cometidos por esses irresponsáveis e processá-los de acordo
com a lei.
2.
Impedir que o desvendamento dos crimes comprometa investigações da Lava Jato.
Sua
pena maior, no entanto, será quando a corporação da Polícia Federal se der
conta dos males que esse exibicionismo desenfreado causou à corporação, aos
policiais eficientes que vestem a camisa, correm riscos de vida e não são
propensos ao exibicionismo.
A
atuação aloprada da Polícia Federal do Paraná, na Operação Lava Jato, abriu
espaço para que o MPF reforce seu papel de controle externo da PF. E esse
prejuízo será debitado na conta dos aloprados do Paraná.
GGN