Previsto
para amanhã, em Curitiba, o depoimento do ex-presidente Lula ao juiz federal
Sergio Moro tem sido cercado por luta política. O caso ilustra a confusão
de papéis vivida por integrantes do Ministério Público e do Judiciário em
relação aos políticos.
Não cabe a
um juiz divulgar vídeo nas redes sociais, como fez Moro, dizendo quem deve ou
não comparecer a manifestações políticas.
Quando age
assim, ele dá razão aos que o criticam por incorporar o papel de líder de um
lado – no caso, dos apoiadores da Lava Jato. Juiz não deve ter atuação
política, mas ser e parecer imparcial. Um magistrado não pode ser político
porque ele tem uma caneta na mão que manda prender e manda soltar. Detém um
poder tremendo.
Já o
ex-presidente Lula é um político e tem direito de agir como tal. Deve dar
explicações à Justiça como qualquer cidadão, mas tem o direito de apontar
perseguição política se considerar que isso está acontecendo.
O pedido de
adiamento do depoimento faz sentido diante de uma quantidade enorme de novos
documentos que foram incluídos no processo. A tese do Ministério Público é que
dinheiro de propina da Petrobras irrigou as finanças pessoais de Lula,
inclusive no caso do apartamento do Guarujá.
Ora,
recentemente, o ministro Gilmar Mendes decidiu que a Polícia Federal não
poderia interrogar o senador Aécio Neves apresentando documentos ou provas que
ele desconhecesse. No caso de Lula, será difícil a defesa ter ciência de tudo o
que consta desses documentos da Petrobras.
Não é boa a
imagem em que um juiz aparece como boxeador de uma luta, retrato feito por uma
revista semanal a respeito de depoimento de Lula. Quando envereda pela
política, Moro enfraquece a Lava Jato e fortalece Lula, que ganha argumentos a
favor do seu ponto de vista.
Do Tijolaço