Imperdível o artigo de Bernardo de Mello Franco, hoje, em O
Globo. Imperdível e irrespondível, demonstrando que, na Polícia Federal e na
Procuradoria Geral da República, pau que dá em Chico não dá em coronel.
Ninguém escreve ao coronel, Bernardo de Mello Franco, em O
Globo.
O novo depoimento de Ricardo Saud jogou mais luz sobre um
personagem que o governo se esforça para manter nas sombras. Trata-se do
coronel João Baptista Lima, homem de confiança de Michel Temer.
Ex-oficial da PM, Lima costuma ser citado como “amigo” do presidente.
Puro eufemismo. Investigações da Polícia Federal indicam que ele atuava desde
os anos 80 como faz-tudo do chefe. Arrecadava dinheiro, negociava com
empresários e fazia pagamentos.
O coronel despontou no noticiário em abril de 2016, quando um
empreiteiro o acusou de intermediar o repasse de propina nas obras de Angra 3.
Temer ainda era vice-presidente, e a Lava Jato parecia mais interessada em
outros alvos.
Em maio passado, Lima reapareceu na delação da JBS. Foi
acusado de receber R$ 1 milhão por “indicação direta” do presidente. No seu
escritório, a PF apreendeu recibos de despesas da família Temer. Em áudio
entregue à polícia, Rodrigo Rocha Loures, o deputado da mala, informava: “O
coronel não pode mais”.
Uma semana antes da delação-bomba, o MST ocupou uma fazenda
em nome de Lima em Duartina (SP). O movimento justificou a ação como um
protesto para “denunciar as conspirações golpistas de Temer”.
Discurso político à parte, os sem-terra levantaram uma lebre
valiosa. No novo depoimento à PF, Saud afirmou que a propriedade é de Temer,
que usaria o coronel como laranja. O Planalto nega todas as acusações.
Há oito meses, os investigadores tentam ouvir Lima em
inquéritos que envolvem o presidente. Ele apresenta atestados de médicos
particulares e não aparece para depor.
A blindagem do coronel também parece contar com o aval de
autoridades nomeadas por Temer. O diretor-geral da PF, Fernando Segovia, já
ameaçou punir o delegado que citou Lima em perguntas enviadas ao presidente.
Agora sabe-se que a procuradora Raquel Dodge tem evitado
opinar sobre medidas pedidas no mesmo inquérito. Ela recebeu o ofício antes do
Natal. O carnaval acabou e a doutora ainda não enviou os papéis ao Supremo. O
relator do caso é o ministro Luís Roberto Barroso, que já denunciou a existência
de uma “Operação Abafa” para sepultar a Lava Jato.