Lula:
"O que me mantém vivo, e é isso que eles têm que saber, eu tenho um
compromisso com este país, com este povo".
“Suas
mãos tremem um pouco quando começa a ler. Seu rosto fica vermelho olhando para
o texto que traz um rosário de críticas contra seus julgadores. ‘Sei muito bem
qual lugar que a história me reserva. E sei também quem estará na lixeira.’ Lula
critica o ex-juiz Sergio Moro, responsável pela sua condenação, a operação Lava
Jato, e o procurador da Deltan Dallagnol. ‘Reafirmo minha inocência, comprovada
em diversas ações’. O silêncio é absoluto, apesar da presença de delegados da
Polícia Federal e de três oficiais armados, todos a serviço da PF, que está sob
o guarda-chuva do Ministério da Justiça, conduzido por Sergio Moro.”
Esse
é o primeiro parágrafo da reportagem de Florestan Fernandes, ao El País Brasil,
com a entrevista do ex-presidente Lula, após uma batalha jurídica, na manhã
desta sexta-feira (26). A narrativa de Florestan é desde as palavras e gestos
de Lula, mas também a partir de perspectiva pessoal do jornalista nos fatos que
rodeavam aquele momento: “Lula está engasgado e sabe que esta entrevista é a
oportunidade para falar depois de um ano silenciado pela prisão em abril de
2018”, continuou.
“É
o Lula de sempre. Ele está igual. Quem esperava vê-lo envelhecido ou derrotado,
se frustra. Ele tem fúria”, descreve o jornalista.
Foi
ao comentar a morte de seu neto, Arthur Araújo Lula da Silva, de 7 anos, que
Lula desabafou: “Eu às vezes penso que seria tão mais fácil que eu tivesse
morrido. Porque eu já vivi 73 anos, eu poderia morrer e deixar meu neto viver.”
E
ao narrar as motivações que o mantêm firme, mesmo ainda dentro da prisão, Lula
criticou o “messianismo ignorante” daqueles que o condenaram, que “forjaram uma
história”. “Eu tenho muitos momentos de tristeza aqui. Mas o que me mantém
vivo, e é isso que eles têm que saber, eu tenho um compromisso com este país,
com este povo”, declarou.
Leia
aqui a primeira matéria de Florestan Fernandes, uma introdução da sequência de
outros trechos da entrevista de Lula aos jornalistas, que serão publicadas ao
longo do dia pelo jornal. Nessa primeira parte, Florestan assegura: “É o Lula
de sempre. Ele está igual”.
Acompanhe
também alguns trechos da entrevista: Não vou descansar enquanto não desmascarar
Moro, Dallagnol e sua turma, diz Lula
A mídia ganhou nos últimos anos um poder de manipulação que
consequentemente matou sua capacidade de mediação.
O País tem assistido a uma disputa de narrativas que é uma
das coisas mais nonsense de sua história. Veja o episódio da saída dos médicos
cubanos.
Bolsonaro queria mudar pagamento ao governo cubano e impôr a
revalidação do diploma, um conjunto de exigências que acabaria com o programa
Mais Médicos.
Hoje, com Cuba anunciando sua retirada da parceria, Bolsonaro
diz a seus seguidores que libertou os médicos da escravidão e os devolveu a
seus familiares. Mas como deputado, Bolsonaro tentou proibir, por exemplo, a
vinda dessas mesmas famílias ao Brasil.
É um caso que mostra que estamos lidando com um mentiroso
clássico, que foi eleito presidente da República.
De um lado teríamos o pessoal do Bolsonaro dizendo que os
cubanos foram libertados e, de outro, aqueles que dizem que a saída dos
cubanos, com todos os reflexos sobre 600 municípios que ficarão sem médico, é
culpa das declarações do presidente eleito.
Quem que faz a mediação da opinião pública? Deveria ser a
mídia, os chamados jornais da grande mídia, aqueles que definem a opinião. Mas
você não tem mais essa imprensa aqui.
Desde o impeachment Collor há um jornalismo de guerra que
consiste em sempre dar as versões que interessavam, que dão manchete mesmo em
cima de avaliações erradas e sensacionalistas. O importante é ter volume de
leitura.
De 2005 para cá, quando Roberto Civita montou a cartelização
da mídia e implementou defitivamente o jornalismo de guerra, qualquer história
de mediação veio por água abaixo.
No jornalismo de guerra, o que importa é ganhar a narrativa
considerando alguns interesses, como o do mercado.
Há inúmeros exemplos de narrativas erradas que ganham a
opinião pública nos últimos anos. A história que Bolsonaro repete, de que há um
número gigante de estatais e por isso tudo deve ser privatizado, é uma delas.
Que a Petrobras foi quebrada pela corrupção, é outra narrativa manipulada.
O que levou a uma redução de valor da Petrobras foi a queda
do preço do barril de petróleo no ambiente internacional. Os ajustes contábeis
decorrentes desse fato foram todos tratados pela imprensa meramente como valor
da corrupção.
Há décadas, diariamente, a mídia viciou o organismo da
opinião pública em toda sorte de manipulação. E soma-se a isso a arrogância que
acompanhou a imprensa desde o impeachment do Collor, como se ela fosse o poder
maior. Tudo isso matou a capacidade de mediação da mídia.
Então, agora, quando chega um novo governo com um chanceler
que fala os absurdos que fala, com os filhos do presidente e outros membros do
núcleo duro moldando discursos com base numa visão religiosa fundamentalista,
sem conhecimento técnico e científico sobre vários assuntos, prevalecem as
mentiras deslavadas, como essa do Mais Médicos, porque a mídia já não consegue
fazer a mediação.
A mídia ganhou nos últimos anos um poder de manipulação que
consequentemente matou sua capacidade de mediação.
A queda na qualidade jornalística comprometeu a
informação, que é fundamental dentro de um ambiente democrático e de mercado.
Através da informação é que se forma a opinião, e através da opinião você forma
os pactos jurídicos, políticos, constitucionais, e dali derivam as leis.
O que aconteceu foi que o desmonte da credibilidade da
informação se deu ainda no período de predomínio da mídia, e agora as redes
sociais bagunçam mais ainda a guerra de narrativas. Não adianta mais a imprensa
dizer que a culpa dos Mais Médicos é do Bolsonaro porque o pessoal vai
acreditar no que ele diz nas redes.
O grande problema, acima de tudo, são os filtros, a falta de
canais de controle. Trump tem seus canais de controle dentro do próprio
governo. É o que está impedindo que as maluquices dele tenham consequencias
maiores. Lá, por trás de tudo, você tem uma mídia de opinião que faz a cabeça
dos técnicos que seguram os abusos. Fazem a cabeça gerando debate na imprensa a
partir de várias opiniões técnicas. Isso não tem no Brasil. O que a mídia criou
dentro das corporações públicas, nesse período, foi uma militância antipetista
que se sobrepôs ao debate técnico e aos mecanismos de controle.
Não importa mais se a consequência é que vamos deixar milhões
sem médicos. O que importa é que vamos tirar esses comunistas daqui. Vence o
discurso que não se submeteu à mediação.
O padrão de mediação da mídia, em relação a qualquer governo,
deveria ser o de elogiar o que tem de ser elogiado, e criticar o que tem de ser
criticado, para que o leitor entenda o peso. Mas esse padrão não foi
estabelecido.
Hoje temos um País em que todas as barbaridades, no plano das
discussões das ideias, ganham força. Tudo vira guerra de narrativas.
Infelizmente a imprensa tenta agora de algum modo recuperar a
credibilidade perdida, mas foram muitos anos de demonstração de poder, de usar
a influência midiática para promover badernas e derrubar presidentes, e hoje o
mercado de opinião está a mercê de qualquer cultivador de teorias de disco
voador.
Assista o comentário de Luis Nassif, na íntegra, abaixo:
Entre as
provas anexadas na delação premiada da esposa de João Santana estão:
senha de Wifi, passagem de avião, agenda onde consta "compromisso com a
tia", arquivo de Word e uma conta de Gmail de onde e-mails nunca foram
disparados.
Para tirar a
Lava Jato de seu encalço, Mônica Moura contou a seguinte história sobre
Dilma em sua delação premiada:
Episódio 1
Em novembro
de 2014, a então presidente teria sido avisada por José Eduardo Cardozo,
ex-ministro da Justiça, que a Lava Jato já sabia das contas de Eduardo Cunha na
Suíça e estava avançando rapidamente sobre a Odebrecht.
Dilma, preocupada
com o elo da Odebrecht com sua campanha, teria convocado Mônica Moura, que
estava de férias em Nova York, para ir ao Palácio da Alvorada, em Brasília,
discutir o assunto.
Mônica diz
que o assessor Giles Azevedo a buscou no aeroporto em um "carrinho
vagabundo" e, caminhando pelo jardim de Alvorada, Dilma teria perguntado
se a conta de João Santana no exterior era "segura". Mônica respondeu
que era, na medida do possível.
Dilma,
então, disse que elas precisavam conversar com mais assuidade, mas de maneira
segura. Foi quando, na presença de Giles, Mônica pegou o computador de Dilma e
criou a conta "iolanda2606@gmail.com". Iolanda foi o nome sugerido
pela petista, em referência à esposa do ex-presidente Costa e Silva. Elas
combinaram que fariam a comunicação pelo rascunho do Gmail, sem fazer mensagens
circular na web.
A prova
desse episódio, segundo Mônica, são: (1) uma ata criada por sua defesa com o
print do único rascunho que ficou salvo no Gmail (ver episódio 2), (2) a
passagem aérea que atesta o bate e volta de Nova York a Brasília, (3) a agenda
onde constou reunião com a "tia" e (4) o registro de que seu
computador pessoal gravou a senha do wifi do Alvorada (o que não significa nada
tendo em vista que o casal esteve lá a trabalho diversas vezes).
Aqui aparece
a primeira incongruência, ainda que de grau mínimo, entre o que Mônica contou
aos procuradores da Lava Jato e o que entregou como prova contra Dilma: o
endereço de e-mail correto seria "2606iolanda@gmail.com", diz a ata
registrada em cartório e anexada à delação.
A segunda
nebulosidade no depoimento de Mônica surge em função dessa mesma evidência.
Episódio 2
Mônica disse
que, ao longo de 2015, Dilma - que queria manter a comunicação frequente - só
enviou duas ou três mensagens "codificadas", mas sem teor alarmante.
Neste mesmo ano, em um dos encontros com os marqueteiros, Dilma teria pedido
que João Santana movesse sua conta da Suíça. Ele negou argumentando que isso
seria admitir o crime eleitoral.
Pulamos para
2016, quando o casal estava em campanha na República Dominicana.
Mônica disse
à Lava Jato que, em 19 de fevereiro, Dilma usou o rascunho do Gmail para deixar
a seguinte mensagem: "O seu grande amigo está muito doente. Os médicos
consideram que o risco é máximo. E o pior é que a esposa dele, que sempre
tratou dele, também está doente. Com risco igual. Os médicos acompanham dia e
noite."
"Médico,
aqui, era o Zé Eduardo Cardoso...", disse a delatora.
Essa e todas
as demais mensagens supostamente escritas por Dilma foram deletadas por Mônica
do Gmail. Ela só arquivou essa no Word porque, desesperada com seu conteúdo,
quis mostra a João Santana. O arquivo foi entregue à Lava Jato como evidência
(5).
Mônica disse
ao MPF que respondeu Dilma com uma mensagem mais ou menos assim: "Existe
alguma forma desses médicos nos ajudarem? O médico vai ajudar nosso
amigo?"
Mas, como se
vê no print acima, a mensagem foi outra: "Vamos visitar nosso amigo
querido amanhã. Espero que não tenha nenhum espetáculo nos esperando. Acho que
pode nos ajudar nisso né?"
Que seja
mais uma incongruência de peso menor.
A questão é
que a data que consta no rascunho (22 de fevereiro) não bate com os relatos que
vieram depois.
Mônica disse
que ficou nervosa porque Dilma não lia nem respondia o rascunho. "O
rascunho ficou lá o tempo todo, e ela não apagava." A delatora, então,
entrou em contato, por celular, com uma pessoa a quem chamou de Anderson, mas
não deixou claro se era assessor da Presidência. Anderson também não respondia,
então ela enviou mensagem e foi respondida pela esposa dele. Essas mensagens
foram preservadas e entregue como evidências (6).
Ocorre que,
segundo Mônica, Dilma ligou para um telefone fixo no escritório de João Santana
na República Dominicana, na noite de 21 de fevereiro, avisado que "foi
visto um mandado de prisão" contra o casal em cima da mesa de um agente da
Polícia Federal. Santana teria ficado desesperado e perguntado se nada poderia
ser feito. Dilma negou qualquer tipo de ajuda.
A questão é
que faz pouco sentido que Mônica tenha feito o rascunho do dia 22 se Dilma fez
a ligação no dia 21. Mesmo que o rascunho tenha sido feito antes do dia 22, por
que, então a delatora não deletou, como era de praxe? E se não foi a data em
que escreveu, por que foi conferir a mensagem no dia 22, após o telefonema de
Dilma?
Certo é que
a Operação Carajé foi deflagrada em 22 de fevereiro - com direito a um grande
"espetáculo" midiático, como citado no rascunho - e o casal chegou ao
Brasil para se entregar à Lava Jato, em Curitiba, no dia 23 de fevereiro.
Episódio 3
Ainda
houve um terceiro episódio relatado por Mônica Moura contra Dilma.
Em meados de
2015, pouco antes de ser preso, Marcelo Odebrecht teria levado Mônica a sua
residência, em um bairro nobre de São Paulo, para conversar sobre a Lava Jato.
Em síntese,
Marcelo fez um apelo para que Mônica convencesse João Santana a conversar com
Dilma, para que algumas provas da Lava Jato que vieram da Suíça fossem
anuladas. O argumento é público: a parceria teria ocorrido sem a participação
do Ministério da Justiça, como determina a lei de cooperação internacional.
"Marcelo queria que João conversasse com Dilma para que Zé Cardozo
entrasse com isso."
"Ele
[Marcelo] dizia que Dilma não ouvia ninguém, que diziam para ela que a Lava
Jato ia chegar nela e ela dizia que não tinha nada a ver com isso. Ela sempre
se esquivava", comentou Mônica.
Mônica diz
que João Santana se negou a entrar nesse assunto com Dilma. Mas a delatora
aproveitou uma oportunidade em que estava em Brasília a trabalho e abordou a
ex-presidente. Dilma tería dado uma "resposta ríspida". "Eles
são loucos, eu não posso me meter nisso. Não posso fazer nada. Como vou mexer
nisso?"
Não há, no
vídeo da delação, registro do que foi entregue para atestar a veracidade disso. Confira.
Moro teme
que circo que armou para Lula pegue fogo
Sergio Moro
divulgou vídeo no perfil que sua mulher criou no Facebook para cultuá-lo no
qual pede a seus fãs que não compareçam a disputa que o magistrado mesmo marcou
quando decidiu tomar o depoimento de Lula na sede da Justiça Federal em
Curitiba.
Para quem
não assistiu a essa fala de Moro, vale a pena ver no vídeo abaixo a edição que
o Blog da Cidadania fez do pronunciamento do magistrado.
Alguns estão
dizendo que Moro está com medo de perder de Lula em número de manifestantes ou
até de não haver manifestantes do seu lado. Na análise desta página, porém, não
é isso o que move o magistrado. Assista aqui.
Não dá para
subestimar o antipetismo dos curitibanos. Movimentos fascistas como o MBL,
financiados pelo governo Temer, certamente iriam, em caravana, somarem-se ao
antipetismo da Morolândia.
E não acho
que os fascistas irão desistir de irem brigar com os “comunistas” que lhes
tiram o sono.
O mais
provável, portanto, é que ocorra um grande trauma no centro de Curitiba em um
dia útil, com uma guerra campal entre simpatizantes do ex-presidente Lula e do
juiz Moro, caso os fãs do magistrado não o escutem.
Moro teme as
consequências de sua insensatez ao alardear aos quatro ventos que ouviria Lula
pessoalmente em Curitiba.
O que ele
podia ter feito para evitar choques que podem vir a ter consequências trágicas?
Muita coisa. Em primeiro lugar, poderia ter marcado um depoimento sigiloso.
Ou ouvir
Lula por teleconferência.
Ou escolher
local que não fosse tão fácil de manifestantes acessarem.
Moro está
fazendo a mesma coisa que na condução coercitiva de Lula, em 4 de março do ano
passado. Marcou depoimento de Lula em um aeroporto, local de fácil acesso, e
deu ampla publicidade.
O que fica
parecendo é que o magistrado não esperava tal mobilização em torno de Lula, mas
a inteligência da ditadura vigente já o informou do que ele não sabe, que Lula
é o maior líder político deste país e ninguém permitirá que seja massacrado por
hordas fascistas.
O juiz
Sergio Moro deveria desmarcar esse depoimento público e realizá-lo de novo em
local, dia e hora não divulgados. Poderia evitar uma tragédia. Não adianta ele
se dirigir aos descerebrados que o seguem. São fascistas e fascistas querem
confronto.