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quarta-feira, 31 de julho de 2019

O PACTO DE MONCLOA BRASILEIRO E A REVOLUÇÃO QUE VEM DO NORDESTE, POR LUIS NASSIF

Nessa nova etapa, com o governo Bolsonaro se apresentando como a maior possibilidade de retrocesso já ocorrida na história, o país começa a buscar pontos de construção.
O cientista político José Luiz Fiori estava na Espanha no período do Pacto de Moncloa, que uniu o país no pós-franquismo.
O pacto foi conduzido por três personagens centrais. O presidente Adolfo Suárez, o primeiro ministro Felipe Gonzales e seu braço direito Alfonso Guerra, o braço guerreiro de Gonzales.
O pacto reuniu partidos políticos, associações empresariais e sindicatos, visando dois objetivos: preparar o país para a democracia e debelar uma profunda crise econômica.
O que seria o Pacto de Moncloa brasileiro, segundo Fiori?
O primeiro ato, essencial, seria a libertação de Lula. Depois, a composição da tríade espanhola.
Para presidente, poderia ser Fernando Henrique Cardoso, não fossem seus defeitos insanáveis de caráter. Olhando no devastado horizonte político brasileiro, Fiori enxerga esse papel para o senador Tasso Jereissatti. Para primeiro ministro, ele imagina Fernando Haddad. Para o papel de Afonso Guerra, Ciro Gomes.
É um desenho perfeitamente factível.
Aliás, o fator Bolsonaro está abrindo espaço para o que se configura o início de um processo profundo de busca de novas saídas e novas experiências.
Em momentos de transição, abre-se espaço para a incorporação de novos atores e novas ideias na construção de políticas públicas. Esse movimento ocorreu no início do governo Fernando Henrique Cardoso, com uma profusão de propostas de intelectuais socialdemocratas, desperdiçadas pela falta de vontade do presidente.
O movimento de renovação passou pelo Paraná de Jaime Lerner, por uma renovação relevante das Federações de Indústrias dos três estados do Sul, pela visão internacionalista assumida pela CUT.
Ocorreu também em dois momentos importantes da vida política paulistana, nos governos de Luiza Erundina e Martha Suplicy, assim como no início do governo Lula. Posteriormente, Fernando Haddad desenhou algumas das mais bem concebidas políticas públicas brasileiras, como Ministro da Educação e como prefeito de São Paulo, mas, aí, com uma visão de gabinete.
Nessa nova etapa, com o governo Bolsonaro se apresentando como a maior possibilidade de retrocesso já ocorrida na história, o país começa a buscar pontos de construção.
No Sudeste, o ciclo de renovação da política estacionou há muito tempo. São Paulo e Rio de Janeiro se tornaram o túmulo da política. Os partidos envelheceram, a participação social mirrou, as experiências inovadoras ficaram para trás.
Nesse mesmo período, houve uma renovação política no Nordeste, com as velhas oligarquias sendo ultrapassadas e sendo gradativamente substituídas por uma nova geração, aberta às inovações. Começa lá atrás pelo Ceará de Tasso e Ciro, passa por Pernambuco de Eduardo Campos, entra pela Bahia de Jacques Wagner, pelo Piauí – um estado que mereceria um estudo à parte -, até chegar ao Maranhão de Flávio Dino, derrubando a mais longeva das dinastias políticas brasileiras, a dos Sarney, e consolidando um modelo de gestão participativa que irá se espalhar por toda a região.
O lançamento do Consórcio do Nordeste, anunciado ontem, e juntando os 9 governadores da região, é o fato político mais importante do ano. E coloca o NE como o projeto piloto do grande Pacto de Moncloa que começa a se desenhar, na mesma proporção em que se desmancha o governo tenebroso de Bolsonaro.
É questão de tempo para que os empresários se deem conta de que esse desmonte do Estado brasileiro não obedece a nenhuma lógica liberal, mas a um ideologismo irresponsável; para que os militares entendam que não se pode construir um projeto de país sem paz social, e não existe paz social sem se abrir espaços de respiro para o pensamento dissidente.
Do GGN

terça-feira, 6 de março de 2012

Tecnologia aumenta produção do agronegócio no Norte e Nordeste

Agricultores em TO e BA conseguem produzir mais do que média nacional.

Uso de GPS e softwares pode ampliar ainda mais a produção.

Em busca de “se tornar um produtor rural de verdade”, Edmar Correa deixou a pequena propriedade de 30 hectares em Minas Gerais e migrou para o Tocantins há 17 anos. Hoje, ele é pioneiro na integração de pecuária e agricultura no Brasil e, em 1100 hectares, consegue uma produção de gado até quatro vezes maior que a média nacional.

“A oportunidade que tenho aqui eu não teria em Minas Gerais”, diz Correa. “Com essas tecnologias, estamos conseguindo produzir bem”, diz Correa.

Os ganhos de produtividade obtidos por produtores como Correa contribuíram para que a agropecuária brasileira registrasse uma expansão de 3,9% em 2011, segundo dados divulgados nesta terça-feira (6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE) – apesar da crise econômica mundial, que reduziu a demanda por alimentos no exterior.

Edmar Correa é retrato do aumento da produção agropecuária na nova fronteira agrícola do Brasil, os estados de Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia, apelidados de “região Mapitoba”. Eles tiveram um crescimento do PIB entre 2000 a 2009 maior que a média nacional, e sua produção agropecuária deve aumentar 50% nos próximos dez anos, segundo o Ministério da Agricultura. Já no Brasil, a projeção é de um crescimento de 21% -- menos da metade.
De acordo com José Gasques, coordenador de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura, a aplicação de tecnologias tem provocado o avanço na produção agropecuária da região do Mapitoba. “Nessas áreas novas [de expansão da agropecuária], a tecnologia é mais avançada que nas áreas tradicionais”, afirma.

“Assim, é possível produzir lavouras anuais em áreas em que chove menos e em que antes só havia pastagem”, complementa André Nassar, coordenador da RedeAgro, formada por instituições e empresas do setor agropecuário.

Agricultura de precisão
A aplicação de tecnologia de ponta não é homogênea na região, pondera o pesquisador do Ipea, José Eustáquio Vieira Filho. Produtores que detêm alto nível tecnológico convivem com agricultores que usam técnicas muito simples. Já em regiões de agropecuária tradicional, como o Sudeste e o Sul, essa lacuna não é tão grande.

Uma das tecnologias de ponta com alto potencial de crescimento é a chamada “agricultura de precisão”, que usa tecnologias da informação, como GPS e softwares, para determinar os procedimentos necessários em uma porção específica da lavoura. Assim, a quantidade de fertilizante, por exemplo, varia de acordo com a qualidade do solo em cada área da propriedade.

Em Pernambuco, estudos da Embrapa Semiárido já mostraram que é possível reduzir custos da irrigação com o uso de equipamentos e softwares. Em uma fazenda de uva em Petrolina, os pesquisadores da empresa usaram agricultura de precisão para detectar áreas que armazenavam mais água e que precisavam de menos irrigação. Assim, os custos são reduzidos e a produtividade aumenta.

“O risco climático é relativamente elevado na região [do Mapitoba] e a agricultura de precisão pode reduzir períodos de plantio e colheita”, aumentando a produtividade, afirma Gasques.

Integração pasto lavoura
Os bons resultados do produtor Edmar Correa, em Pedro Afonso (TO), foram obtidos através da técnica de integração pecuária e agricultura. Ele planta soja em 75% da propriedade e deixa os 25% restantes para pastagens. Todos os anos, os pastos são deslocados para áreas de soja, que recebiam fertilizantes, em um processo de rotação.

Desse modo, o capim é mais produtivo e Correa consegue obter até 1.800 kg de gado por hectare. Na pecuária tradicional, gira em torno de 400 kg. “Nós consideramos o capim como lavoura. Precisamos cuidar dele como cuidamos da soja, do milho”, diz ele.

Os ganhos de rendimento e produtividade não poderiam ser obtidos apenas com a adubação do capim, justifica o produtor, já que o processo seria muito caro. Já com a combinação com a soja, os gastos com tecnologia valem à pena. Outra tecnologia usada é a rotação dentro do próprio pasto, que fica cerca de um mês descansando depois de receber o rebanho.

De acordo o coordenador de desenvolvimento animal Secretaria de Agricultura de Tocantins, a produção de gado do estado entrou em um novo patamar com a migração de agricultores do Sul e Sudeste e a aplicação de tecnologias de integração pasto e lavoura.

“O Tocantins é tradicionalmente um estado pecuarista, mas os produtores não tinham tradição de recuperar as pastagens degradadas. A agricultura ajuda nesse processo, até porque os agricultores já têm maquinário”, afirma.

Soja
O oeste da Bahia é outro exemplo. Enquanto a média da produção de soja nacional foi de 52 sacas por hectares, na região o valor chegou a 56 – maior que o de produtores tradicionais, como Mato Grosso (53), Mato Grosso do Sul (48) e Paraná (55), segundo a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia. Antonio Grespan, que migrou do Paraná para Barreiras (BA) há 22 anos, obteve resultados ainda melhores: 66 sacas por hectare.
O segredo do sucesso, segundo Grespan, é a junção de práticas e tecnologias que tornam o cerrado do oeste baiano fértil e competitivo. “O diferencial de produtividade se deve à tecnologia que foi gerada e a cultivares mais produtivas. Aqui, o produtor não sobrevive com baixa tecnologia. No Paraná, por exemplo, regiões agrícolas foram abertas com baixa tecnologia, porque a região é muito fértil”, compara.

Para tornar a área fértil, Grespan realizou correção do perfil do solo, aplicando calcário até 40 cm de profundidade e usando a tecnologia de gessagem (uso de gesso). “O cerrado é um ambiente de solo naturalmente muito pobre, que se torna apto com a correção do perfil”, explica.

Fonte: g1.com.br